Primos?

02- Primos?

02 de Setembro de 1976.

Tonks abriu os olhos lentamente, ao ouvir o som de algo batendo contra a vidraça da janela. Cobriu a cabeça com as cobertas e tentou conciliar o sono perdido. Esforço feito em vão.

-Esse Potter é um idiota mesmo!

A metarmorfamaga ouviu o som distante de conversas que pareciam penetrar em sua mente, impedindo-a de dormir outra vez.

-Lilly, sinceramente, às vezes eu não te compreendo! - Uma outra voz respondeu, com um tom exasperado na voz. -Não consigo entender como você muda de atitude tão fácil, só por causa do James. Convenhamos, ele mexe com você. E muito!

-Ah, não, nem vem Alice!

Vendo que não iria conseguir dormir mesmo, Tonks abriu o dossel de sua cama e viu a Monitora da Grifinória, que se chamava Lilly Evans e uma outra garota de cabelos loiros e rosto rosado sentadas em uma cama, conversando.

Lilly, que tinha uma brilhante cabeleira ruiva, agitava as mãos nervosamente e só agora Tonks se dava conta que o barulho que a despertara era o de uma coruja que dava bicadas insistentes contra a vidraça da janela. Alice até ameaçou ir até a janela e deixar a coruja entrar, mas a ruiva lançou um olhar tão irritado, que até inibiu a ação da garota.

Tonks se levantou, espreguiçando-se, ainda sonolenta. Foi em direção à janela e pegou o bilhete que a coruja trouxera. Deu uma olhada desinteressada no envelope e entregou nas mãos de Lilly, indo em seguida para o banheiro. Isso tudo sem dar uma única palavra.

“Eu, hein, tudo isso só por causa de uma coruja”

Após jogar um jato de água fria no rosto, a realidade começou a desabar na cabeça de Tonks. Ela ainda estava no passado. Ainda teria que conviver com Sirius e Narcisa Black, Severus Snape (nesse ponto, ela fez uma careta de desgosto), James Potter...

-Peraí... - Tonks arregalou os olhos e começou a balbuciar para si própria. - James Potter é o nome do pai do “menino-que-sobreviveu”. Será que a Monitora, a Lilly, é a mesma Lilly que... ai meu Merlin!

Ela ficou petrificada. Aquilo tudo era muito estranho, muito louco. Não soube quanto tempo ficou ali, estática, tentando organizar os pensamentos.

-Tonks, você vai demorar muito aí dentro? - Lilly chamou do lado de fora. -Desse jeito vai chegar atrasada pro café-da-manhã!

-Eu...eu já estou saindo. - Ela gritou de volta, terminando de se trocar. Optou por cabelos castanhos e cacheados naquele dia, uma aparência relativamente discreta para os “padrões Tonks de ser”.

Quando chegou na Sala Comunal, viu os Marotos reunidos num canto, rindo abertamente, exceto James que parecia desapontado com algo. Tonks se aproximou deles e deu um bom dia animado. Os rapazes pararam de rir imediatamente e olharam para Tonks com surpresa.

Tonks revirou os olhos, visivelmente entediada.

-Sou eu, a Tonks! - Ela deu um giro completo, com os braços abertos. - Eu só estou um pouco diferente!

-Tonks?! - Sirius a encarava com curiosidade. - Nossa, você deve ser muito boa em Transfiguração pra poder mudar de aparência tão fácil.

A garota abriu um sorriso maroto. - Não tão boa assim, bobinho, na verdade, eu sou uma metarmorfamaga!

-Uma o que? - Rabicho indagou, franzindo as sobrancelhas.

-Uma metarmorfamaga. - Lupin respondeu tranqüilamente. - metarmorfamagos são bruxos que conseguem mudar a sua aparência física sem precisar fazer encantamentos ou feitiços.

-Muito bem, Senhor Lupin, cinco pontos para a Grifinória. - James se empertigou, imitando a voz enérgica e a postura firme da Profº McGonagall.

Tonks e os rapazes riram gostosamente, enquanto Lupin fingia uma expressão falsamente pomposa, para logo em seguida cair na gargalhada também.

-Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, mas a gente tem que descer pro café-da-manhã. -Remus falou, puxando Sirius e James pela manga das vestes.

O pequeno grupo saiu pelo buraco do retrato da mulher gorda, conversando animadamente.

-Do que vocês estavam rindo tanto antes de eu chegar? - Tonks perguntou para Sirius.

-Ah, só do hmm...milionésimo fora que o Pontas levou da Lilly. - O maroto respondeu, abrindo um sorriso debochado para James, que estava ao lado dele.

-Pra você é Evans, Sirius. - James protestou. - Só eu posso chamar ela de Lilly.

-Nossa, ela tava bem irritadinha hoje de manhã - Tonks comentou. - Tudo por causa de uma coruja. Se não fosse eu, a pobrezinha estaria até agora batendo na janela.

-Era o meu bilhete. - James ajeitou os óculos.- Só queria desejar um bom ano letivo pra minha ruivinha.

-Sei...desejar um bom ano letivo e pedir pra que ela saísse com você, não é? - Lupin completou ironicamente.

-Puxa, Aluado, não custa nada tentar, né?

Lupin balançou a cabeça.

“Esse aí é um caso perdido”

-Senhorita Tonks! - Uma voz enérgica ecoou no corredor onde eles estavam. Era a Profª McGonagall. -Preciso conversar com a Senhorita por um momento.

Tonks lançou um olhar nervoso para os garotos e foi em direção à Professora.

-Vocês podem ir descendo. - Tonks falou enquanto andava. - Daqui a pouco eu chego lá, ok?

Os rapazes acenaram e continuaram no seu caminho. Tonks entrou numa sala de aula vazia, onde a Profª Minerva a aguardava.

-Então, Professora, já conseguiram arrumar um jeito de me levar pra minha própria época? - A garota perguntou esperançosa, sentando-se numa carteira.

-Infelizmente não, Senhorita. -McGonagall comentou, mas seu tom de voz já não era tão severo. - Creio que isso ainda vá levar algum tempo, mas vamos pesquisar arduamente para conseguir encontrar uma solução. Fique tranqüila. Eu chamei a Senhorita aqui, é sobre o programa educacional deste ano. Quais as matérias que a Senhorita iria cursar no seu sétimo ano?

-Hmm, deixa eu ver... DCAT, Feitiços, Transfiguração, Poções... - A garota olhou para o alto, pensativa. - Ah, e Herbologia!

-Qual a carreira que a Senhorita pretende seguir?

-Eu quero ser Auror. - Tonks respondeu, cheia de orgulho.

-Tem certeza? - A Profª parecia surpresa. - É uma profissão bem arriscada. Não, que eu ache a Senhorita incapaz, mas eu realmente fiquei surpresa com isso. De qualquer forma, vou providenciar para que tudo seja ajeitado e você possa cursar o ano letivo normalmente, sim?

-Ok! - Tonks sorriu. - Mais alguma coisa?

McGonagall analisou a garota por cima dos seus óculos retangulares.

-Senhorita...os seus cabelos estão...diferentes!

-Ah, isso. - Tonks apontou para a cabeça. - Sou uma metarmorfamaga.

E pela primeira vez naquele dia, McGonagall sorriu. -Então isso vai facilitar as coisas. Bem, é melhor descermos, senão vamos nos atrasar para o café da manhã.

Enquanto rumavam para o Salão Principal, Tonks começou a tagarelar sobre as dificuldades que teve quando criança, por causa do seu dom natural. Tomou todo o cuidado possível para não falar nada comprometedor sobre o futuro, afinal, isso poderia dar em resultados catastróficos. Só o fato de vir a ser colega de classe do futuro casal Potter, que anos mais tarde entrariam para a história da bruxidade, por serem pais do “menino-que-sobreviveu”, já foi o suficiente para deixar a garota mais atenta.

Quando chegou no salão principal, os alunos já estavam na metade do café-da-manhã. Procurou com os olhos pelos marotos, e os encontrou sentados no meio da mesa destinada à Grifinória.

O fato de Tonks ser uma pessoa alegre e comunicativa foi o suficiente para que ela se enturmasse com os marotos e isso ocorreu de forma tão natural, que era como se ela já os conhecesse desde o seu primeiro ano. Sentou-se com os rapazes, evitando tocar no assunto que ela conversara com a Profª de Transfiguração.

Aquela primeira refeição do dia transcorria de maneira normal, até que o professor Dumbledore se levantou e chamou a atenção de todos os alunos.

-Meus caros alunos, eu sei que vocês já ouviram o discurso enfadonho do começo do ano, mas acho que com a idade, a gente sempre acaba esquecendo alguma coisa. - Dumbledore sorriu, mas a Profª McGonagall parecia exasperada com o tom brincalhão do velho diretor. - Gostaria de apresentar a aluna do intercâmbio que chegou ontem junto com vocês. - O diretor olhou na direção da mesa da Grifinória, e todos os olhares se voltaram para lá. - A Senhorita Tonks, que veio da Academia McKennitt de Magia da Irlanda.

Os olhares que estavam voltados para a mesa da Grifinória concentraram-se totalmente na garota. Ela sentiu as faces corarem e desejou fervorosamente que isso fosse a única coisa que mudasse nela.

-A Senhorita Tonks vai assistir às aulas junto com a turma da Grifinória e espero que ela seja acolhida como se estudasse aqui com vocês desde o primeiro ano. - Tonks deu um aceno tímido para o diretor, que lhe sorriu novamente. - Sem mais nada a acrescentar, vocês estão liberados para a primeira aula do dia.

Lupin trouxe o horário das aulas para os amigos e Tonks, que ficou satisfeita em saber que iria cursar as mesmas matérias que Sirius, James e Remus. Apenas Rabicho não iria ter todos os períodos com eles, já que levara bomba em Poções.

Naquele dia teriam aula dupla de Poções de manhã e Feitiços no período da tarde. Realmente, escola é sempre escola, e Tonks já se viu abarrotada de coisas pra fazer e matérias para estudar.

Ter aulas com o Profº Slughorn, com certeza era melhor do que ter de estudar com o “Morcegão do Snape”, mas ela quase teve um ataque. Estava tudo lindo e maravilhoso nas masmorras (exceto pelo fato de que o Snape-adolescente ainda estava lá, e ainda estava irritado pela azaração de Tonks), até que Slughorn resolveu fazer a chamada. Ser chamada de Nymphadora na frente de um punhado de alunos, principalmente os seus novos amigos foi algo um tanto traumatizante para a moça.

A vontade dela era se enfiar embaixo da mesa ou então azarar aquele professor sem-noção, como Tonks passou a chamá-lo. Mas ele pareceu não notar. Na verdade, estava bem encantado com Tonks. A notícia sobre o raro dom dela já havia se espalhado pela escola rapidamente.

O pior de tudo foi a reação dos seus colegas: Remus parecia divertido, mas foi discreto o suficiente para não falar nada; James ria abertamente, enquanto Sirius fazia uma expressão intrigada. Isso já foi o suficiente para deixá-la nervosa. Uma Tonks nervosa, tendo um caldeirão borbulhante à sua frente, só pode resultar em uma coisa: acidentes extravagantes.

Por sorte o sinal havia tocado no momento em que Tonks estragava a terceira poção naquela aula. Os poucos alunos que prestavam os NIEM’s de Poções saíram para o almoço, enquanto Tonks permanecia na sala, terminando de limpar a bagunça feita por ela.

-Ah, minha cara! - Slughorn se aproximou da mesa de Tonks, sem notar o olhar desamparado da moça. - Nesta sexta-feira estava pensando em organizar uma reuniãozinha na minha sala, coisa simples, só para colocar a conversa em dia com alguns dos meus alunos. Ficaria encantado em ter a sua presença.

-E-eu? - Tonks se ergueu de uma vez, espantada. Não estava acostumada a ser tratada com gentileza pelo o seu outro Professor de Poções.

-Sim, a Senhorita mesmo! - Slughorn sorriu por cima de seu enorme bigode. - Às oito horas, aqui nas masmorras, certo?

Tonks retribuiu o sorriso. Terminou de arrumar a sujeira (Sangue de salamandra e algo que lembrava meleca de trasgo), e saiu.
“É, apesar de ter me chamado com ‘aquele’ nome, até que ele não é tão ruim assim”

05 de Setembro de 1976.

Deveres. Deveres. Deveres.

Tonks nunca imaginou que as matérias para os NIEM’s fossem tão exaustivas. Além do conteúdo novo de cada disciplina, ainda havia as revisões de tudo o que fora passado nos anos anteriores. Não havia vantagem nenhuma em terem menos matérias. O trabalho era dobrado.

Mas finalmente a sexta-feira havia chegado e a perspectiva de ter um fim-de-semana livre para descansar, era realmente animadora.

Dos marotos, o que Tonks havia se identificado mais, era Sirius. Eles estavam sempre conversando, mas na maioria das vezes era sobre coisas bobas, principalmente Quadribol. E isso já foi o suficiente para que Tonks se tornasse uma das garotas mais odiadas da escola, sendo vencida apenas por Narcisa Black. Garotas enciumadas e neuróticas olhavam com desprezo para Tonks, todas achando que ela era a mais nova “aquisição” de Sirius Black.

“Tolinhos”

Tonks não era o tipo de garota que se tornava uma “aquisição”. Nunca mesmo.

E a situação se agravou mais ainda, depois de Sirius ter chamado Tonks para ir com ele, à reunião nas masmorras de Slughorn. Mas, no fundo, Sirius havia feito isso só pra provocar a sua legião de fãs, já que James também iria com eles.

-Olha, a gente vai explicar pra você como funciona essas festinhas do Slughorn. - James começou a falar, quando ele, Sirius e Tonks se encaminhavam para as masmorras.

-O Profº Slughorn só chama os alunos que ele considera especiais ou interessantes de alguma maneira. - Sirius completou. - Eu, porque tenho o nobre e puro sangue dos Black correndo em minhas veias. - Sirius ironizou, fazendo uma careta. - O Pontas, por causa da família dele. Os Potter são uma família de bruxos puro-sangue bem tradicional.

Tonks olhou para James, que deu de ombros, como se dissesse que aquilo não era grande coisa.

-Bem, mas diferente dos Black, os Potter não ligam para essa besteira de puro-sangue. - Sirius continuou falando. -Acho que é por isso que eu gosto tanto da sua família, Pontas.

-Nossa família, Almofadinhas! - James replicou, dando um tapinha nas costas de Sirius. - Mamãe ficaria aborrecida se soubesse que você não se considera da família.

Tonks sorriu para os dois rapazes.

-Quem mais vai estar na reunião? - A garota indagou, enquanto eles desciam mais um lance de escadas.

-Narcisa Black... - James falou.

-...indicada para ser a futura Miss Magia da Grã-Bretanha! - Sirius falou num tom de voz cômico.

Os três se encararam, fizeram uma careta de quem estava tendo ânsias e caíram na gargalhada.

-Hmm... Provavelmente o mané do meu irmão, o Régulos. Também por causa da família.

-O ranhoso - James acrescentou.

-Quem? - Tonks perguntou risonha.

-O Snape. A gente o chama assim carinhosamente. - Sirius comentou com voz afetada.

“Caramba. Imagina se algum aluno dele soubesse desse apelido no futuro!”

-Lilly!

-É, a Lilly, também vai. -Sirius concordou. - Ela tem notas boas em poções e o professor adora ela e...

Sirius parou de falar, após receber um cutucão de Tonks. Eles já estavam na porta da sala de Slughorn, e quando James havia falado o nome de Lilly, não estava apenas mencionando o nome dela. A garota ruiva estava parada num canto, conversando com o Professor de Poções.

-Tonks, prepare-se para o espetáculo. - Sirius falou, apontando para James que se aproximava do lugar onde Lilly estava.

-Ele gosta dela, não gosta? - Tonks perguntou casualmente, sendo que já poderia imaginar a resposta.

-É... Mas a garota é jogo duro, e o Pontas ainda tem esperanças. - Sirius revirou os olhos. - Patético!
-Bem, deixa o cara, né? Cada louco com as suas manias.

A conversa de Sirius e Tonks foi interrompida, quando viram o Profº Slughorn se aproximar, com um sorriso amplo no rosto.

-Ah, meus caros, como vão? - Slughorn deu tapinha nas costas de Sirius. O Maroto fez uma cara de tédio, quando o professor puxou ele e Tonks para uma roda de alunos que pareciam tão ou mais entediados do que ele.- Juntem-se a nós, a nossa querida Tonks não conhece os demais, conhece?

Tonks ensaiou um sorriso simpático, mas ao ver quem Slughorn queria apresentar a ela, a sua simpatia sumiu na hora.

-Bem, temos aqui o nosso caro Severus Snape (“caro não sei aonde”, Tonks pensou), Narcisa e Régulos Black.

O último era como se fosse uma caricatura mal feita de Sirius. Obviamente os dois eram parecidos, já que eram irmãos, mas faltava um charme peculiar, que só o Sirius era capaz de ter.

-Oi... - Tonks forçou os músculos do seu rosto o máximo possível. Ela não achava nada agradável ficar numa rodinha de conversa com seu futuro professor de poções e sua tia Narcisa.

“Merlin, isso ainda vai dar problemas”

E a imagem boa que Tonks tinha criado a respeito daquele professor desmoronou rapidamente e ele voltou a ser apenas um “professor sem-noção”.

Narcisa olhava de cima para Tonks, analisando a garota como se estivessem num concurso de beleza. Tonks nunca foi muito encanada com aparência e naquela noite usava as suas botas de cano longo e uma meia-arrastão cor-de-rosa, além de uma discreta saia jeans e uma blusinha combinando a meia. E isso para Narcisa era o fim, já que ela se portava com uma princesa saída de um conto de fadas.

-Se vocês me derem licença, a gente vai pegar algo pra beber. - Sirius sibilou, lançando um olhar de desprezo para o trio sonserino. Saiu arrastando Tonks pelo braço e foram para o outro lado da sala.

James e Lilly haviam sumido e Sirius deduziu que James havia feito alguma besteira e a ruiva o tinha azarado em algum corredor vazio.

“É, pelo menos isso está normal.”

Se tinha uma coisa que Sirius estava longe de ser, era burro e desatento. Desde que Tonks chegara em Hogwarts, ele notou que às vezes, a garota agia de modo estranho. Não só pela sua maneira de ser, mas como reagia diante de algumas coisas. Se Tonks era aluna de intercambio, com certeza não conhecia ninguém de Hogwarts, então, porque ela agia como se já conhecesse algumas pessoas?

“Estranho”

Mas tinha um detalhe. Um detalhe que passara despercebido pela maioria das pessoas, mas que Sirius havia notado rapidamente.

-Ai, Sirius, tá um saco essa reunião. - Tonks reclamou, tomando um gole de cerveja amanteigada. - Porque vocês vêm pra cá?

Sirius abriu um sorriso maroto, enquanto afastava uma mecha de seu cabelo negro que lhe caia sobre o olho.

-Tonks, você acha mesmo que eu vou ficar na sala comunal da grifinória, com o Aluado pegando no meu pé pra estudar, sendo que eu tenho uma boa desculpa pra ficar vagando pelo castelo?

A garota riu gostosamente.

-Coitado do Remus, viu, a orelha dele deve tá queimando há essas horas.

-Não defende ele, não. - Sirius replicou. - O Aluado quando quer, sabe ser bem assustador. Digamos, que é um lobo em pele de cordeiro.

-Sei... Porque ele não veio com vocês?

-O Aluado? Ah, ele não curte muito essas coisas, é um pouco certinho demais. Mas o professor não é muito chegado nele.

-Ué, porque não? - Tonks franziu as sobrancelhas. - O Remus é inteligente que nem você e o James, é Monitor que nem a Lilly. Porque ele não foi chamado?

-Er...bem, acho que é porque o Remus é mestiço! - Sirius inventou a desculpa na hora, querendo ocultar o fato de que por mais que Lupin fosse esforçado, alguns professores ainda o olhavam torto por causa de seu problema.

-Nada a ver isso. - A garota protestou. -Eu também sou mestiça e ele me chamou do mesmo jeito!

-É, mas você é Metarmorfamaga, e isso é um dom raro. Claro, que o Slughorn ia querer uma bruxa assim no “clube” dele.

Tonks bufou. Aquele papo de ser diferente às vezes enchia o saco. Claro que ela gostava do seu dom, mas achava ridículo, as pessoas a rotularem e exibirem como se ela fosse um animalzinho de circo.

-Você já tá achando isso aqui uma chatice, né? -Sirius perguntou, vendo a expressão entediada da moça. - Vem, vamos dar uma volta.

Sirius puxou Tonks pela mão e com um aceno da cabeça se despediu do Profº Slughorn, que parecia levemente decepcionado com a saída deles. Tonks sentiu o olhar de algumas garotas que estavam ali perfurar as suas costas, com o mais profundo desprezo, mas antes que dissesse alguma coisa, eles já estavam fora da sala.

-Aonde nós... - Tonks interrompeu sua pergunta, ao ver Sirius tirar algo de dentro do bolso da calça. Era um pergaminho velho e amarelado.

Aquilo deixou Tonks curiosa.

O rapaz também tirou a varinha e deu uma leve pancada no pergaminho e murmurou. - Juro solenemente não fazer nada de bom!

A garota arregalou os olhos de surpresa, ao ver que linhas negras surgiram no ponto onde Sirius havia tocado sua varinha e que se espalhavam ao longo deste, formando desenhos.

-Tonks, você vai ter que me prometer que não vai sair espalhando isso pra ninguém, ok?

-Não, não, claro que não vou falar. - Ela deu uma espiada no pergaminho. - O que é isso?

Sirius abriu o seu típico sorriso brejeiro. - Isso, minha cara, é um dos segredos do sucesso dos marotos. É um mapa completo de Hogwarts.

-Uau. - Tonks pegou o pergaminho e viu que tinha alguns pequenos pontos que se movimentavam. Ficou surpresa ao ver que tinha um com o seu nome, exatamente no local onde ela estava.

Sirius tomou o mapa das mãos de Tonks e deu uma olhada nele.

-Hmm, eu tinha mesmo razão. A Lilly está no dormitório feminino. - Apontou para o local onde estava o local destinado aos alunos da grifinória. - E o James na sala comunal com o Remus. Outro fora pra coleção...- Sirius dobrou o mapa e guardou no bolso. - O caminho está livre. Vem!

Os dois começaram a caminhar pelos corredores, subindo lances e mais lances de escada.

-Sirius, onde você está me levando?

-Pra um lugar sossegado onde a gente possa conversar. - O rapaz respondeu misteriosamente.

Se fosse em outras circunstancias, Tonks até que aproveitaria bem a situação. Mas aquele era o seu primo, e ela pretendia não fazer nenhuma besteira.

“Se bem que... Até que o Sirius é bem bonitinho”

Eles subiram mais alguns lances de escada, e quando Tonks se deu conta, eles estavam na torre de astronomia. Sirius se sentou perto de uma das janelas do observatório e Tonks o acompanhou.

-Sabe, na minha família as pessoas recebem o nome de estrelas. - O rapaz começou a falar. - Eu, o meu irmão, meus pais, primos...

Sim, Tonks sabia daquela tradição. Sua mãe contava pra ela, quando Tonks era apenas uma criança. E a garota se perguntava se era de lá, que a mãe havia tomado gosto por nomes esquisitos.

-Você está vendo aquela constelação ali? - Sirius apontou para o céu. - Aquela ali é a Andrômeda.

Tonks abriu um sorriso.

-Eu tenho uma prima com esse nome, ela é a minha favorita, sabe. Tanto a prima, quanto a constelação. - Sirius que sempre tinha um sorriso galante no rosto estava sério. - Digamos, que eu e ela somos as ovelhas brancas da família Black.

É, Tonks também conhecia aquela história. E como conhecia.

-E onde você quer chegar com essa história? - A garota perguntou desinteressadamente.

-Que eu fico feliz em saber que a Andie vai ter uma filha tão legal. - Tonks arregalou os olhos, mas Sirius não se abalou.- Tonks é um sobrenome trouxa bem comum, mas o seu primeiro nome...bem Nymphadora não é nada comum.

-Sirius, como é qu...

-É, eu sei que a minha prima tem uma filha chamada Nymphadora Tonks. Ela deve ter uns dois ou três anos agora. Isso parece meio louco, mas, afinal de contas, nós somos bruxos e coisas bizarras sempre acontecem com a gente.

Tonks não sabia o que falar.

-Você é a filha da Andie com o Ted, não é? - Ele perguntou calmamente, passando um braço ao redor dos ombros garota.

-Sou sim...- A garota parecia um pouco mais aliviada. - Mas pelo amor de Merlin, Sirius, ninguém pode ficar sabendo disso, ok?

-Não, prometo que não vou ficar contando pros outros. - Ele sorriu marotamente. - Só vou anunciar amanhã no café da manhã.

-Sirius!!!!!

-Brincadeirinha, fica calma, Tonks. - Ele estreitou o abraço. - Pode confiar em mim.

-Hmm, será que existe a possibilidade da Tia Narcisa desconfiar de alguma coisa?

-A Narcisa? - O rapaz gargalhou. - Du-vi-do. Aquela ali se preocupa mais com os cosméticos frescos que ela usa e com o futuro noivado dela com o Malfoy.

-Ecaaaaa!!!!! - Os dois falaram juntos e começaram a rir.

Tonks suspirou e quando se deu conta tinha desatado a falar. Era bom poder dividir com alguém tudo aquilo que estava acontecendo. Claro, os professores estavam sabendo, mas ela não se sentia à vontade para conversar com eles. Tendo alguém da sua idade, tudo ficava mais fácil.

Eles ficaram um bom tempo conversando e inventando teorias mirabolantes para a estranha viagem no tempo que Tonks fizera. Os laços de sangue, mesmo que distantes, falam mais alto. Sempre.

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Notas do Sirius: É, às vezes ser bruxo e estudar em Hogwarts tem suas vantagens. Eis, que embarco para mais um ano letivo e conheço uma prima minha vinda do futuro.
Sabe, a Tonks é bem bonitinha, mas sendo filha da Andie, nem dá pra aproveitar. É uma pena!
Bom, se ela veio mesmo do futuro, eu posso tentar tirar alguma vantagem disso. Sei lá, tentar descobrir alguma coisa interessante.
De qualquer modo, a garota é legal. E o melhor de tudo, ela já azarou o ranhoso. Independente de ser minha priminha, já ganhou pontos comigo. Esse ano vai ser muuuuito interessante.