Ao que para Watson e Sherlock Holmes, foram cinco preocupantes minutos, para Rita, nas névoas de seus vagos e longínquos pensamentos, passaram-se longos minutos de inconsciência. Assim, foi sua impressão à medida que despertava e sentiu algo frio e úmido em sua testa. Piscou inquieta algumas vezes e tentou levantar-se pondo a mão na mesma, segurando o que sentiu ser um pedaço espremido de tecido. Voltou a deitar-se onde estava vendo que tudo ao seu redor ainda parecia girar e sentiu então que estava apoiada em algo.

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– Acalme-se Rita. Esta tudo bem. – Foi a voz de Sherlock que a reconfortou e viu que era em suas pernas que havia sido apoiada. Holmes estava de joelhos no chão, sentado sobre seus próprios pés – Foi só um susto. – Ele completou tocando a face da espano-cigana que lhe segurou a mão.

– Como se sente? – Watson perguntou mirando-a.

– Bien melhor. Esto aqui ajudou bastante... – Rita retirou o pedaço retorcido de pano da testa.

– Água deste lago. Peguei para tentar equilibrar mais sua temperatura.

– Gracias Watson. – Ela esboçou um pequeno sorriso a medida que levantava-se – Vamos. Creo que já estamos próximos da hospedaria.

Sherlock a ajudou a levantar-se e segurando-a pela cintura, continuaram a pequena caminhada que ainda restava.

Assim que chegaram à hospedaria foram muito bem recebidos e logo acomodados em seus cômodos: dois para os três, ficando Watson no quarto ao lado do de Sherlock e Rita. O lugar estava lotado não só pelos próprios anfitriões já moradores do Estado, como de muitos turistas de países e regiões diversas. Era de fato, uma hospedaria aconchegante e espaçosa. Muito bem organizada e equipada dos mais diversos aparatos. Havia televisão, rádio e telefone, o que significavam artigos de luxo para quem os tivessem, havia também uma lareira em um ambiente mais afastado, o que ninguém costumava acender, muitas janelas e boas comidas. Todos os móveis eram sempre lustrosos e feitos de madeira caracterizando bem o ambiente e enfeites ocupavam alegremente cada canto do recinto.

As pessoas conversavam animadamente e bebiam canecas de cerveja e principalmente experimentavam sucos das mais exóticas frutas; alguns saiam com roupas leves, botas e bolsas aparentemente pesadas enquanto outras pessoas não paravam de chegar, dando uma grande movimentação na Hospedaria del Sol como Rita a chamava assim que soube o que significava.

Carros de passeio eram proporcionados pela hospedaria para quem fosse turista, e muitas pessoas pagavam por uma boa excursão.

Enfim, o trio em seus quartos se acomodou e retirando algumas roupas das bagagens, desceram para fazer alguma refeição e descansarem um pouco antes de começarem os passeios e assim, fazer jus as férias.

– Isto aqui é realmente bom! – Watson tomava colheradas significativas do que parecia ser um apetitoso pirão.

– Sí! Nunca havia comido algo parecido. – Rita levava lentamente uma colher à boca enquanto Sherlock optara por uma carne bem temperada com um refrescante suco.

– Hum, estava pensado se não seria melhor descansarmos hoje para amanhã cedo realizarmos um passeio de barco pelo rio mais importante daqui, o Rio Amazonas e --

– Passeio de barco?! – Rita interrompeu o detetive – No! No creo que seja seguro...

Holmes e Watson riram.

– Vejo que você se daria muito bem com minha esposa. Ela também tem muito receio com água de rios ou mares... Ainda hoje, não entendo motivo para tal. – Watson falou pensativo para logo em seguida sorrir.

– Não precisa ter medo, meu amor. Você irá gostar da experiência. – Sherlock tentou convencê-la.

– Aposto que no. – Rita resmungou e Sherlock meneou a cabeça para Watson que retribuiu com um meio sorriso.

– Hum, e iremos com um guia que entende bem nossa língua. – Holmes continuou – Apesar de, durante este ano que passou, termos aprendido muito da língua deste país...

– Con esto no terei problemas. Yo entiendo este pueblo. Puedo decir que nuestras lenguas son hermanas, claro que cada una con sus diferencias.

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– Que ótimo! – Exclamou Watson terminando sua refeição.

– E o que acham de irmos até alguma tribo indígena? – Sherlock falou com tom de entusiasmo – Eles conhecem bem de ervas e tipos de terra... Isso seria ótimo para minhas pesquisas... Quem sabe desenvolver algum fumo ou --

– Sherlock, no se esqueça que viemos descansar, si?

– Rita tem razão Holmes. Não vá se meter em nada além de distrações. – Watson enfatizou a última palavra.

– Esta bem! Está bem! Mas não há mal nenhum em coletar algumas coisas, e fazer algumas anotações... – O detetive foi bebericando o suco enquanto Rita e Watson se entreolharam com expressões cansadas.

– Bien, iré subir para nosso cuarto, bañarme y relaxar. – Rita cobriu um bocejo com a mão olhando para Sherlock e levantou-se.

– Iremos daqui a pouco. – O detetive anunciou para logo em seguida começar uma boa conversa com seu amigo. Somente após uma hora que passara em rápidos minutos, os dois ainda conversando sentados próximos ao balcão onde haviam comido, resolveram levantar-se preguiçosamente seguindo rumo aos aposentos. Já era fim de tarde.

– Sintam-se à vontade, senhores! Qualquer coisa nos chame! – O dono da hospedaria, que também atendia ao balcão, exclamou bem humorado no que Sherlock e Watson compreenderam sem muitas dificuldades. Mesmo assim, se entreolharam de cenhos franzidos.

– Com licença. – Um homem de bom porte, pele queimada e de uma saudável aparência abordou os dois amigos – Hum, estive observando vocês e vi que são ingleses. – Ele falava claramente a língua do detetive e doutor – Se precisarem de um... Intérprete... Um ajudante, estou à sua disposição. – Terminou esboçando um sorriso que Sherlock não confiou muito.

– Agradecemos senhor... – Holmes estendeu a mão.

– Marcos Ribeiro. – O homem retribuiu o gesto do detetive apertando a mão do mesmo. – Sou daqui do Brasil e viajei por um curto período digamos para... Negócios e acredito que posso ajudar-lhes com o entendimento da língua.

– Estamos bastante agradecidos senhor Ribeiro. Também está hospedado aqui? – Watson perguntou austero e educado.

– Sim, estou. Fico para resolver algumas questões pessoais e aproveitar este belo lugar.

– Claro! Claro. – Sherlock afirmou – Desculpe-me, mas estamos cansados da viagem e precisamos repousar um pouco.

Cumprimentaram-se novamente e rumaram para seus quartos.

– O que achou disto, Holmes? – Watson em sua curiosidade, precisou perguntar ao amigo.

– Não sei ainda, meu caro amigo. – Sherlock falou pensativo – Mas devo dizer que um tanto... Inusitado.

– Primeiro ele alegou ter viajado por questões de negócios e não vi segurança em sua fala, depois, está hospedado aqui por questões pessoais?! – Watson objetou em um sussurro agora já de frente a porta de seu quarto.

Sherlock encarou o amigo com uma mão apoiada ao queixo e semicerrou os olhos, porém mais nada disse a respeito deste pequeno ocorrido com o estranho Ribeiro.

– Boa noite Watson! Vemos-nos amanhã cedo na refeição lá em embaixo. – Pôs uma mão no ombro do amigo que retribuiu dizendo apenas:

– Bom descanso.

Assim, despediram-se e Watson adentrou seu aposento ainda pensativo e sabendo que, mesmo sem ter tido grandes respostas do amigo, este também ficara igualmente alerta com a situação.

Sherlock bateu a porta do seu quarto, no qual Rita já se encontrava, mas não obteve resposta. Logo se lembrou de que, outras vezes, isso já acontecera: a espanhola ter fugido, enganando a todos, e sentiu uma pequena pontada de aflição, mas agora não havia motivos para isto. Confiava nela plenamente e ela tivera bons motivos para a fuga da última vez. Então, relaxou aliviado e bateu novamente a porta que é claro, estava trancada.

Automaticamente Holmes tocou os bolsos, vasculhando-os a procura da sua chave que abria o quarto. Não apenas Rita, mas também Sherlock Holmes havia recebido a chave do aposento visto que o dividiam.

Enquanto apalpava seus bolsos ansiosamente, ouviu pequenos murmúrios vindos de dentro e apurou os ouvidos. Não os compreendeu de início. Estava baixo e distante...

Esperou mais alguns segundos tentando compreender o que vinha de seu quarto. Sentiu finalmente a chave em um dos bolsos de suas vestes e retirou-a encaixando-a na fechadura e destrancando a porta silenciosamente. Não girou a maçaneta. E o pequeno murmúrio continuava.

Sherlock agora sorriu agradando-se do som vindo da voz de Rita. Era suave, lento e ritmado assim como o canto de alguma bela ave sendo levado às ondas do vento...

...Quédate aquí para mí

Y no me digas que me amas

No me digas que me adoras

Dime solo que te quedas

Una vida junto a mí…

Então Holmes girou a maçaneta adentrando o quarto sem um ruído sequer, ainda com um leve sorriso desenhado em seu rosto. Fechou a porta trancando-a ao passar.

...Llévame por allí

Llévame en tus anzias a un lugar

Donde ya no tenga que jurar

Donde ya no tenga que mentir

Donde solo exista para ti…

Percebeu então que Rita cantava enquanto penteava seus longos cabelos agora úmidos, olhando pela janela quadrada a vislumbrante paisagem afora e mais vislumbrante Sherlock achava a espanhola.

...Y no me preguntes si te quiero

Que no te preocupe lo que pienso

Que yo soy completamente tuya a mi manera

Pero a cambio quiero ser tu sueño…

Rita estava inteiramente distraída em sua canção, de costas para a entrada do quarto, onde o detetive a observava encantado. Ele tinha as mãos nos bolsos e sentia-se completamente tranquilo; ousou pensar, pleno. Respirava cada onda da voz de Rita naquele ar nostálgico e a silhueta da mulher com seus longos cabelos castanhos diante da janela, lhe parecia um quadro perfeito, apenas para ele.

... Yo no me conformo con tus besos

Quiero darte todo lo que siento y más que eso…

Com um profundo suspiro, Rita terminou a canção e segurando os cabelos para em seguida soltá-lo em cascata para trás sobre as costas, continuou a observar a noite que caía repintando o céu de um azul escuro com pequenos pingos brilhantes.

– E ainda me surpreende. – Sherlock sussurrou nos ouvidos de Rita, já próximo a ela.

– Sherlock! – Ela sobressaltou-se corando de súbito, o que o fez sorrir de forma sedutora – No te ouvi entrar.

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– E eu nunca te ouvi cantar. – Sherlock a mirava nos olhos, cada vez mais apaixonado por aquela mulher.

Rita sustentou o gesto do detetive mergulhando também em seu olhar. Ambos ficaram por alguns segundos em silêncio entreolhando-se, com a respiração rasa, até que Sherlock acariciou a face da espanhola aproximando-se ainda mais. Ela segurou a mão do detetive cerrando os olhos, sentindo seu leve toque e logo seus lábios se encontraram suavemente. Rita entrelaçou suas mãos, envolta do pescoço de Holmes enquanto ele lhe acariciava as costas e a cintura, então o beijo tornou-se intenso transpassando novamente o forte desejo que tomava ambos.

E a opaca luz da lua envolveu-os na noite.


***

Link da música cantada por Rita: http://letras.mus.br/salma-hayek/684034/traducao.html