Seus olhos cinzentos

Back To Black


Eu não estava preparada para fazer isso, mas cedo ou tarde teria que ir à casa dele, tentar entender o que havia se passado nesses últimos dias, principalmente para parar de chorar.

Respirei fundo e bati à porta da sua casa. Ele abriu com uma cara de cansaço, mas ao me ver ficou confuso. Exatamente, confuso. Não era um olhar de culpa, nem de raiva por ter beijado Lysander (o que, realmente, me arrependo de ter feito).

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– O... o que você está fazendo aqui? – ele travou no meio da frase e eu respirei fundo mais uma vez, olhando para o chão. Levantei os olhos para ele e comecei a andar para dentro da casa.

– Preciso conversar com você – disse ao passar por ele. Fechou a porta e fomos em direção aos jardins, iluminados pelo sol poente daquela segunda feira.

– Pode falar – ele se sentou naquele mesmo banco branco do outro dia, me olhando de cima a baixo, como se me avaliasse.

– Preciso... – me interrompi. Aquele não era um bom jeito de começar essa conversa. Na verdade, não tinha um bom jeito de começar isso. Eu já havia o condenado muitas vezes para vir agora e pedir a versão dele do que aconteceu naquele dia.

– Precisa...? – ele me instigou a continuar, mas não consegui. Não com aqueles olhos cinzentos me encarando em expectativa, como se esperasse que eu explicasse o que tinha acontecido, já que ele não se lembrava de nada.

Soltei todo o ar, olhando para o chão. Eu queria muito dar outa chance a isso que estava acontecendo entre nós. Foi pouco, mas foi bom.

– Não me interrompa, ok? – pedi, ainda olhando para o chão e ele concordou com um som de garganta. – Eu gosto de você e te odeio ao mesmo tempo. Quero que você morra e que fique ao meu lado para sempre. Eu detesto isso em mim, sabe? – levantei o olhar para ele, que ainda estava meio sem entender, embora estivesse começando a parecer um pouco mais feliz.

– Detesta porque eu mexo com você ou porque você sabe que simplesmente não consegue se controlar e acaba pensando em mim? – ele perguntou levantando do banco. Eu o fuzilei com o olhar por ter me interrompido e dei um passo para trás, incomodada.

– Não é nada disso – eu desviei o olhar dele para os jardins. – Você não mexe comigo – fui o mais convicta que pude, mas isso não era muito.

– Então por que você está fugindo de mim? – ele começou a andar na minha direção e eu recuei. Sua voz estava baixa e calma, minhas pernas aos poucos viravam gelatina. – Se eu não mexesse, você estaria parada, me olhando como se eu fosse uma ameba, o que claramente não está acontecendo.

– Eu... – gaguejei. Ah, droga, isso tinha que acontecer justo agora? – Eu só vim pedir uma explicação – continuei recuando, mas senti algo duro nas minhas costas. Ele se aproximou mais e me encurralou contra a parede.

– Explicação para? – ele perguntou olhando nos meus olhos. Ele adorava fazer isso, não é mesmo? Olhar nos meus olhos.

– Amélia Parkinson – tentei me manter distante, mas ele estava tão próximo que quase não havia ar o suficiente para os dois respirarem.

– O que você quer saber? Já disse que não fiz nada com ela – ele murmurou no meu ouvido, descendo a respiração para o meu pescoço logo em seguida.

– Você nem tenta... – disse com alguma dificuldade. Aquilo era demais para raciocinar, ele ali tão próximo. Eu era uma idiota que continuava caindo na dele, mesmo sabendo que ele havia transado com a maior vadia de Hogwarts. – Nem tenta se desculpar. Já sai negando que não fez nada – ele mordiscou a base do meu pescoço, o que não colaborou muito para o meu estado.

– Você queria que eu dissesse que você era só um jogo, mas no final do dia eu sempre voltaria para aquela que eu já conhecia? – ele ironizou, ainda respirando no meu pescoço. Naquela proximidade, qualquer coisa que ele dissesse me faria querer beijar sua boca.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Era o que eu esperava – assumi e ele riu, subindo os lábios para minha orelha outra vez.

– Você só me disse palavras vazias, acreditando que eu estava com a Amélia outra vez, mas acabou esquecendo que você não é a única que morre quando foge de mim – ele murmurou outra vez, minhas pernas quase derreteram, mas me forcei a empurrá-lo, pela primeira vez nessa conversa disposta a olhar em seus olhos.

– Eu não estava morta – neguei, mesmo que assim que contasse esse diálogo a Lily e Dominique elas afirmariam que eu estava sim. – Você não parecia estar morto.

– Na minha mente, eu estava com você, foguinho – ele me chamou do mesmo jeito que naquela noite em que apareceu bêbado na porta da minha casa. Aquilo foi golpe baixo. Mesmo que odiasse o apelido quando estava em Hogwarts, na boca dele parecia a coisa mais certa do mundo.

– Mas que merda – sussurrei para mim mesma e puxei ele para beijá-lo. Aquilo não fazia o menor sentido, mas naquela proximidade mais um segundo e eu explodiria.

Pude sentir seu sorriso durante o beijo, não um vitorioso, mas um de simples felicidade. Ele me empurrou contra a parede e eu puxei ele para mim, bagunçando seus cabelos loiros mais ainda.

Era como se não houvesse algo nessa vida que valesse à pena além da sensação de estar nos braços dele, como se minha razão de ter saído da cama de manhã fosse a esperança daquele beijo acontecer. Ele me fazia sentir tudo isso em uma fração de tempo, ignorando tudo o que eu vi, ignorando o quão diferentes nós dois éramos, o quanto nós tínhamos tudo para dar errado.

Separamo-nos e eu me recusei a abrir meus olhos. Não queria ter que encarar seus olhos cinzentos, não queria ter que pensar que ele ainda me devia explicações, as quais eu não tinha cabeça para cobrar naquele momento.

O fato é, por mais que mal nos conhecêssemos, eu queria me manter perto dele. Queria descobrir quem era o Scorpius, não o Malfoy pegador da Sonserina, mas sim o Scorpius de verdade. Queria que ele pudesse confiar em mim e que eu pudesse confiar nele para tudo, a qualquer momento.

– Ainda tem daquele bolo? – perguntei abrindo os olhos e ele riu de lado.

– Deve ter um novo – ele disse num tom meio de dúvida e eu ri fraco. Ele me estendeu uma mão, peguei e fomos para a cozinha.

Ao chegar na cozinha havia um pedaço do bolo em cima da mesa, provavelmente sobras de algum outro, e uma ruiva e uma loira sentadas em duas cadeiras ao redor da mesa.

– O que vocês duas estão fazendo aqui? – perguntei grossa e elas se entreolharam. – Quero dizer, desde quando vocês estão aqui? – Dominique e Lily sorriram uma para a outra e se levantaram ao mesmo tempo.

– Desde ontem à tarde – Lily respondeu virando-se para mim. Tudo fazia sentido!

– Por isso que ninguém apareceu na minha casa ontem à noite mandando eu largar o meu querido Doutor para ir tomar sorvete... – murmurei para mim mesma e as duas reviraram os olhos. Elas não entendiam o que era Doctor Who. – Mas o que vocês duas vieram fazer aqui? E como ninguém expulsou vocês?

– Meus pais viajaram ontem – Scorpius respondeu pegando na minha cintura. – Algumas horas depois que elas chegaram, simplesmente pegaram uma chave de portal e desapareceram – ele disse rindo e eu revirei os olhos.

– Isso é comum? – perguntei me fingindo de desinteressada.

– Mais do que você imagina – respondeu sorrindo de lado e eu revirei os olhos outra vez, tirando a mão dele da minha cintura.

– Não pense que isso – gesticulei com o olhar para a parte dos jardins em que estávamos - fez com que eu te perdoasse – revirei ríspida e ele concordou com a cabeça.

– É só uma questão de tempo – ele me abraçou outra vez e eu iria continuar nosso diálogo, que provavelmente levaria a um beijo (ou até mais que um beijo), se não tivesse sido brutalmente interrompida por Lily.

– Não comecem com essas melações de casal – ela pediu e eu a fuzilei com os olhos. – Não é porque ajudamos vocês a ficarem juntos que queremos ver essa agarração.

– Na verdade, vocês não fizeram nada – eu contradisse e Domi me olhou com uma expressão vitoriosa.

– Não, você está errada, Rose – ela mal podia se aguentar de tão feliz que estava por ter a razão, a cena sempre era ao contrário. – Nós descobrimos que ele está enfeitiçado, portanto, nós que...

– Enfeitiçado? – interrompi ela com um grito agudo e todos me olharam como se eu estivesse a ponto de ter uma crise nervosa. – Aposto que foi a vadia da Amélia Parkinson – murmurei para mim mesma. – Não é só usar um contra-feitiço?

– Mas isso não é tão fácil com magia negra como a dela – Scorpius disse, ainda me abraçando.

Aquilo estava dando um nó no meu cérebro. Como ela tinha enfeitiçado ele? E principalmente, qual feitiço ela tinha usado? Do jeito que eles falavam, era magia negra das mais fortes, escondidas a sete chaves na Seção Reservada da biblioteca de Hogwarts.

Ah, mas essa vadia está pedindo guerra. Ela não perde por esperar.