Aquela foto fora ideia de Chikage. Não era uma foto excepcional. Era uma foto simples, em cores. Maxxcy adorara a ideia. Com sua câmera só foi necessário um rápido click e pronto. Essa tecnologia moderna!

E agora Erick podia olhar para ele próprio. Ele, Chikei, Maxxcy e Nihany. Todos sorriam. Os cabelos da Nick brilhando em seu tom dourado extremo, contrastando com os cabelos escuros de Maxxcy. Todos eles tinham cabelos cumpridos, mas apenas ela não era morena. Apenas ele tinha os cabelos tingidos. E com mechas lilases!

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– Ora, eu já tenho um olho amarelo e outro verde. Porque não cabelos coloridos? – ele havia dito.

Aquela foto era preciosa. Para os quatro nela retratados. Porque eles só tinham uns aos outros. E nem mais uma sombra de apoio.

Capítulo 6 – Kimyona

Branco. Hermione gostava da cor branca, gostava do que o branco evocava. E dentre todas as lembranças que o branco lhe trazia a principal, e provavelmente a mais comum, era a da neve. Branco e neve é uma comparação tão comum e tão previsível que nada surpreenderia à morena se alguém risse dela por isso. Mas o que ela podia fazer? Sempre gostara do inverno. Não porque gostasse do frio, mas gostava das lembranças que o inverno lhe proporcionava desde criança. Era nessa época que ela podia fazer bonecos de neve, ficar com a lareira acesa, era quando tudo era enfeitado com luzes. Era à espera do natal. E Hermione adorava o natal. Não pelo motivo mais comum (os presentes ou a religião) e sim pela união. Mesmo em Hogwarts as pessoas pareciam se unir mais no natal, os alunos que não tinham para onde ir ou não queriam ir para casa por algum motivo especial, ficavam no castelo e até se sentavam juntos na hora da ceia. Todos pareciam esquecer um pouco que eram desconhecidos ou rivais, que eram de casas diferentes, que eram professores e alunos. Eram todos apenas pessoas curtindo, cantando, eram apenas pessoas juntas. Por isso esse era um período de escolha muito difícil para a morena. Ela sempre queria estar junto de seus pais (quase não os via, afinal. Passava de setembro a junho em Hogwarts e desde que completara 15 ficava agosto inteiro na casa de Rony e seus pais passaram a ver sua filha apenas durante um mês por ano. Não era a toa que às vezes eles lamentavam a escolha dela, mas nunca a ponto de fazê-la se sentir culpada por isso). Mas Hermione também queria estar junto de seus amigos. De Harry e de Rony. Principalmente de Rony.

Mas naquele ano seus pais queriam ir para a Grécia e não aceitavam um "não" como resposta.

E não era como se a garota não quisesse ir.

Depois Harry e Rony tinham planos de ficarem na Toca naquele natal.

Sentiria falta deles.

Ansiaria vê-los.

Da mesma forma que ansiava pela neve toda vez que o céu começava a assumir tons de azul e branco, sempre na mesma época de dezembro, a fazendo perder a hora porque se perdia sentada naquela janela apenas observando. A mente vazia, perdida na imensidão das terras de Hogwarts, nas águas geladas do lago, na fraca luz do sol brilhando no verde da grama e das árvores. E não importava o quanto ela acordasse cedo, ela sempre perdia a hora nesses dias.

O que não significava que ela chegasse atrasada às aulas.

Amava as aulas e amava aprender. E era muito mais confortável entrar nas salas agora que tinha aprendido a aceitar Kakinouchi, que ele era o melhor aluno, desde seu primeiro dia, e que parecia estar se dando muito bem nesta posição. Era estranho, mas ele também não parecia ter inimigos na escola e as pessoas não pareciam ficar chateadas por ele conseguir responder bem todas as perguntas. Na verdade, ele era bem visto por quase todos os alunos, não importando a casa a qual pertencessem, todos o achavam alegre e engraçado. Todos gostavam dele. Sonserinos tinham orgulho do novo colega, corvinais e lufas-lufas o achavam diferente e não se importavam com seu uniforme verde. Até mesmo grifinórios o achavam divertido! E se não gostavam de algo nele era só o fato dele estar roubando os pontos que deveriam ser de Hermione e, portanto, da casa vermelha.

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Ele era uma pessoa que simplesmente atraia as outras.

Um sonserino que fugia a todos os estereótipos que os anos haviam criado para os pertencentes à casa verde.

"Estereótipos, né?" – pensou a garota, lembrando de quando fora abordada na biblioteca pelo japonês e ele lhe dissera algo no qual ela não tinha parado para pensar até o momento, mas... agora – "Por que grifinórios e sonserinos tem que se odiar?"

Por quê? Nunca antes tinha parado para pensar efetivamente nessa pergunta. Por quê? Porque eram rivais naturais e esse era o certo, não?

No entanto, não fora ela mesma que pensara, há poucos minutos, que o Natal era legal simplesmente porque as rivalidades eram ignoradas? Não era ele uma prova que nem todo sonserino era um idiota que achava divertido irritar os outros? Que os sonserinos não precisavam se manter distantes dos outros alunos apenas porque pertenciam a casa verde?

Talvez, apenas talvez, ele tenha razão...

Porque, afinal, não eram Snape e Andromeda Tonks sonserinos?

E não era Pedro Petigrew um grifinório? E não fora ele tão covarde a ponto de trair seus melhores amigos? Pedro não precisava nunca ter contado a Voldemort que era ele o Fiel do Segredo. Podia deixar Voldemort pensando que era Sirius. Sirius nunca diria a verdade, ele morreria guardando esse segredo. E os pais de Harry poderiam estar vivos agora.

Mas a casa do leão podia ter covardes. Traidores. Podia ter alunos que irritavam outros apenas por serem mais fortes.

E a casa verde podia muito bem adotar sangues-puro que não odiassem sangues-ruins e até que se casassem com eles. Não fora isso que a mãe de Tonks fizera? Uma Black, sangue-puro, tradicional, rica e possuidora de todos os pré-requisitos estereotipados que todos tinham a respeito da Sonserina?

Mas acreditar nisso, perceber isso, não era ir contra a tudo o que se acreditou por cinco anos e meio?

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– Dessa vez estou com o uniforme ajeitado, professora! – disse Chikage, rápido, assim que entrou dentro da sala de Transfiguração e antes que a professora dissesse algo. McGonnagal o olhou séria, mas fez que sim com a cabeça, permitindo a entrada do sonserino quando confirmou que ele realmente estava arrumado. Era impressionante o quanto o garoto resistia a mudar! Sorriu vendo-o se sentar perto de Malfoy e Parkinson. Não adiantava negar, ela gostava do garoto e admirava muito sua alegria contagiante, seu jeito de ver a vida, mesmo quando o mundo bruxo estava em plena guerra. Ele lembrava Tonks no seu jeito animado. A diferença é que Tonks sabia da guerra e lutava nela, já Kakinouchi, bem... Minerva não duvidava que ele nem sequer soubesse que havia algum problema no mundo lá fora. Ah, a inocência dos jovens. Os adultos não tinham tempo de ser tão inocentes e otimistas. Os adultos tinham dores muito profundas para se permitir essa alegria de viver.

– Aliás, professora, bela capa! Gostei muito – disse Chikage, de repente, interrompendo seus pensamentos e sorrindo mais ainda. Sim, ele era realmente uma peça única.

– Obrigada, Kakinochi – agradeceu a professora, tentando evitar o sorriso, mas falhando miseravelmente. Bem, não fazia mal sorrir às vezes, certo? – Muito bem, todos quietos agora. Hoje vamos avançar um pouco mais na matéria e começaremos a transfigurar animais vertebrados de maior porte. Avançaremos mais rápido a partir de agora, para terminar animais de porte grande ano que vem e iniciarmos então, a transfiguração humana. Tenho aqui comigo uma caixa de esquilos gigantes do norte. Com o tamanho de um cão pequeno, eles são ideais para a aula, por serem mansos, na maioria. Mas realmente espero que, como turmas de NOMs não os machuquem. Tentarão transfigurá-los em... Sim, senhor Kakinochi?

– Professora, será que não posso usar outra coisa para transfigurar, sei lá? Os livros ou em qualquer outra coisa? Pode ser algo, assim, cheio de detalhes? Sabe o que é, eu, definitivamente, não acerto transfigurar seres vivos. Isso geralmente se mostra uma má ideia.

– Não se preocupe em errar, ninguém nasce sabendo, senhor Kakinochi.

– Eu sei! Mas a senhora iria poupar muuuuito trabalho posterior se me dispensasse dessa tarefa.

– Mas não farei isso. Ninguém aqui tentou transfigurar um animal vertebrado tão grande antes, então não precisa ter medo. Depois a transfiguração de vertebrados grandes faz parte das coisas que serão cobradas de vocês nos exames. Se não praticar não vai passar no fim. É isso o que quer?

– Então talvez fosse melhorar me reprovar logo. Iria poupar o trabalho de tentar me ensinar, de corrigir o que der errado e de me reprovar no fim do ano. É sério, transfiguro qualquer coisa inanimada que pedir, mas não seres vivos. Já estou até com dó do pobre do esquilo que eu pegar. Sendo assim, talvez fosse melhor eu me retirar...

– Senhor Kakinochi, pegue um esquilo, sua varinha e comece. Não vou te reprovar por um pedido seu e isso não vai lhe dispensar da aula. Fui bem clara? Ótimo. O que acham de transformar seus esquilos em almofadas? Elas podem ter o tamanho do esquilo, mas não podem ser muito felpudas, nem devem se mexer e muito menos possuírem rabos. Então...

– Mas professora, não estou precisando de nenhuma almofada no momento. No entanto, estou precisando de...

– Senhor Kakinochi – disse McGonnagal de forma ameaçadora. Seu tom lembrando muito o tom usado por ela quando tinha que controlar Lino Jordan durante a locução dos jogos de quadribol. Era o tom de quem não estava com a mínima paciência e vontade de repetir – Pegue um esquilo, a varinha e comece, não vou repetir.

Chikage ficou quieto, pegou um esquilo e levou-o para sua mesa, sentou-se e olhou para o esquilo comportadamente sentado, coçou a cabeça e pegou a varinha. Olhou o esquilo de novo.

– Professora, tem certeza mesmo? – perguntou mais uma vez, incerto. O esquilo mexeu o rabo.

– Senhor Kakinochi.

Chikage passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os mais ainda e tornou a encarar o esquilo.

– Ok, desculpe aí amiguinho – disse ao bichinho que o olhava cheio de curiosidade – Vou fazer meu melhor, mas não garanto nada. Tem um último desejo? Gostaria de uma última refeição?

– Chikage Kakinochi!

– Ok, professora, ok. Vou fazer!

A essa altura todos tinham abandonado seus esquilos para assistir a transfiguração de Kakinouchi. O japonês era normalmente tão confiante e sempre fazia muito mais do que o pedido! Todo o receio que ele claramente demonstrava acabou por deixar a turma muito curiosa. Klein acabou espetando a varinha no próprio pergaminho sem perceber, de tão concentrada que estava na cena de oriental conversando com o esquilo, e não soube bem como isso o transformou num cogumelo, mas ninguém notou, até porque foi bem nesse momento que Chikage girou corretamente a varinha e disse as palavras certas, mas seu esquilo continuou na mesma posição, olhando para ele, como se nada tivesse acontecido.

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Ele chegou a abrir a boca para perguntar ao bichinho se estava tudo bem quando a bochecha deste inchou. Chikage arregalou os olhos enquanto via seu esquilo inchar inteirinho e começar a mudar. Quando terminou Chikage olhou bem para o pobre ex-esquilo e depois para a professora, que, como o resto da sala, estava estática.

– Eu disse que não era boa ideia. Olhe só para ele agora! Coitadinho... – disse, cutucando com o dedo o que um dia tinha sido um esquilo – Tudo bem aí? – perguntou ao bichinho, mas não era como se ele pudesse obter alguma resposta. Seu esquilo, que devia ter virado uma almofada, era agora uma mistura de coisas não identificáveis. Seu corpo parecia uma bolsa meio oval de alfinetes rosa (e muito surrada), com um pompom numa das pontas (um resquício de seu rabo?), não possuía pés e seu corpo era sustentado por duas minúsculas asinhas do tamanho de moedas que se mexiam sem parar, como as asas de um beija-flor, sustentando-o no ar. Abaixo do que poderia ser seus ombros, duas minúsculas mãos semi-humanas estavam penduradas, completamente inúteis e lembravam as mãozinhas de um Tiranossauro Rex. E do alto de seu corpo subia uma espécie de antena rosa com um olho na ponta. E com pálpebra! Sem boca visível, o pobre esquilo ainda era um ser vivo, com certeza, mas...

– Acho que vou patenteá-lo se tiver alguma utilidade – disse Chikage, ainda cutucando o bichinho inexpressivo – Veja bem, com certeza, será único no mundo.

McGonnagal chegou perto da nova criatura e olhou para Chikage, que fazia cócegas com o dedo no corpo fofo, mas não era como se ele estivesse sentindo algo, pois continuava imóvel. Na verdade, ele parecia bem mal-humorado.

– Sabe, olhando desse ângulo é quase fofo. Meio esquisito, sem muita expressão, mas... – continuou ele, ainda tentando arrancar alguma reação do seu pequeno esquilo.

– Como fez isso? – perguntou McGonnagal, a voz não conseguindo esconder todo o espanto que a dominava. Já vira erros em suas aulas, mas aquilo era...

– Não pergunte para mim! Sou completamente inocente! – exclamou o japonês, as mãos abertas a altura do rosto, como se estivesse se rendendo – Eu avisei, disse que não era uma boa ideia! – e ante a expressão de total espanto que a mestra de transfiguração ainda fazia, completou – Se existe uma coisa na qual eu sou um completo desastre total, é nisso! – perguntou, voltando a brincar, ou tentando, com sua fracassada almofada. Seu sorriso intacto no rosto de boneca.

Ao ouvir as palavras do sonserino o pobre ex-esquilo balançou sua antena olho, para cima e para baixo, concordando com sua pouca eficiência na matéria e a classe inteira explodiu em risos diante da cena.

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Não ter aula num horário no qual metade da escola está dentro das salas era muito estranho, mas Harry adorava a sensação daqueles corredores vazios. Ele nunca tivera problemas com a solidão, estava mais do que acostumado com ela. O castelo sempre lhe dera uma sensação de paz, muito semelhante, ele acreditava, com aquela que as pessoas tinham com seu lar.

E depois de cinco anos, dos quais dois ele esteve de posse do Mapa do Maroto não era como se Harry tivesse medo de se perder e ir parar num corredor errado, como ocorrera no seu 1º ano. Ele podia se dar ao luxo de caminhar perdido em seus pensamentos e sabendo que acharia o caminho de volta. Ou pelo menos, acreditando nisso.

E era exatamente isso que ele fazia, enquanto seus pés lhe levavam à enfermaria, onde ele encontraria Rony, que havia passado lá mais cedo quando fora acertado por um feitiço de Cullen na aula de Flitwich. O dano não fora realmente grande e até poder-se-ia dizer que Rony estava bem, se não fosse o fato de que o feitiço era para fazer as coisas crescerem e Rony fora atingido diretamente na cabeça. Por sorte não fora sua cabeça que começara a crescer, mas os cabelos ruivos conseguiram alcançar pelo dois metros de cumprimento em menos de cinco minutos. E o pior, eles voltavam ao exagerado cumprimento cada vez que eram cortados. Mas nada que Madame Pomfrey não conseguisse resolver. Harry tinha certeza que ambos ainda iriam encontrar Mione para o almoço juntos.

Mas que fora engraçado, isso fora. Harry tinha que confessar que foi um dos que riu da cena. Rony definitivamente não era do tipo que ficava bem com cabelos longos. Hermione disse que ele estava parecido com o primo Itt, da família Adams. Mas não era como se o moreno tivesse tido uma normal infância trouxa para saber quem era o tal primo Itt. No entanto, depois de ver Rony ele começava a imaginar como seria o tal personagem do desenho trouxa. Dino concordara com a garota e rira muito. Até mesmo Rony rira antes de se olhar no espelho.

É, Rony não devia deixar os cabelos crescerem. Engraçado como ele não ficava bem enquanto Gui e Gina ficavam ótimos com cabelos longos. Não conseguia imaginar nenhum dos dois diferentes, afinal os conhecera assim.

Gina. Seus cabelos estavam mesmo cada vez mais cumpridos. Ela ficava bem assim, apesar de achar que já estavam meio longos demais. Não que Harry não gostasse de cabelos cumpridos, mas atualmente vinha apreciando mais os cabelos mais curtos. Não sabia quando começara a olhar para a ruiva e a notar esses pequenos detalhes. Ou quando suas atenções começaram a se desviar dela.

Quer dizer, de início, ficava pensando nela o tempo todo, terminando sempre por dizer a si mesmo que não devia fazer isso. Agora que enfim seus pensamentos pareciam estar se desviando da ruiva, Harry se indagava sobre o motivo.

No começo ele não havia percebido que estava pensando cada vez menos na amiga, na verdade só se dera conta do fato quando, naquela manhã tinha visto um rapaz da Corvinal pedir para sair com a ruiva. E ela mal tinha acabado de terminar com o namorado anterior! Harry fingira não ver, mas achava que Gina tinha percebido que ele estava ouvindo, pois num dado momento olhou para onde ele estava. Um olhar longo e penetrante que quase fez Harry se entregar. Então disse que ia pensar, mas poderiam passar uma parte do dia juntos em Hogsmeade. E por ela ainda olhar na sua direção Harry não pode ver a expressão do rapaz, mas imaginava que ele ficara contente. O grifinório, no entanto, sentiu um grande desanimo invadir seu peito.

Hogsmeade.

Realmente, estavam a uma semana do tão esperado passeio. Todos já estavam fazendo seus planos e ficando cada vez mais animados, e depois essa era a única visita que fariam naquele fim de ano e a próxima seria só no dia dos namorados. A animação não era para menos.

E ele não poderia nem aproveitar o passeio porque estaria grudado no imbecil do Malfoy. Literalmente grudado.

Por um dia inteirinho. Harry realmente estava considerando passar a odiar Trancy.

E só de pensar que perderia o tão esperado passeio para passar o dia todo ao lado do loiro, sentia um desanimo e um medo crescente subir por sua espinha. Como se algo ruim fosse acontecer nesse dia. Mas isso era meio óbvio se fosse levar em conta que os dois nunca antes tinham passado tanto tempo e juntos e não poderiam nem comer em paz, nem... Ceús! Como eles fariam para ir ao banheiro?

– Ah, cara... Dumbledore, porque o senhor tinha que contratar justo o Trancy? – Harry perguntou para o nada, já sofrendo por antecipação.

E só de pensar no quanto ele teria que olhar para aqueles olhos azuis manchados, Harry mais desejava limpar masmorras imundas. Porque olhar para aqueles olhos lhe fazia se sentir estranho e Harry odiava essas sensações. Gostava de estar no controle e quando estava com o sonserino a última coisa que acontecia era ele ficar no controle. Ele nunca era ele. Era como se Malfoy tivesse o dom de tirar de dentro do moreno uma parte escondida que ninguém conhecia, nem o próprio.

E só de pensar que ele podia vir a tomar conhecimento dessa parte no domingo o deixava apavorado.

Seus pensamentos só foram novamente interrompidos quando chegou à enfermaria. E nem sequer tinha percebido que estava ali.

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– Posso saber o que é isso do seu lado? – perguntou um Rony abismado a um Chikage sorridente que andava pelo castelo com seu ex-esquilo voando ao lado. O animal não parecia muito contente e a cena não podia ser mais estranha.

– Minha mais nova mascote! – respondeu o japonês sorrindo e recebendo por resposta um olhar de dúvida por parte dos dois garotos a sua frente (provavelmente era um olhar de dúvida quanto a sua sanidade, mas...).

Harry e Rony (agora com os cabelos devidamente curtos) tinham acabado de sair da enfermaria e seguiam para o Salão Principal. Rony vinha falando sobre como fora difícil dar fim a tanto cabelo e que ainda tivera que aturar Hermione e Dino o caminho todo até a enfermaria fazendo piadas sobre os cabelos que já arrastavam no chão ("cara, porque justo eles já tinham dominado o feitiço e foram comigo? Não podia ter sido você?"). Dino também dissera algo sobre uma trança e uma torre com um príncipe do lado de baixo e passara o resto do caminho tirando sarro de Rony. Ele estava louco para chegar ao Salão e exibir seus mais novos curtos cabelos ao moreno quando ambos os meninos viram-se frente a frente com Kakinouchi e uma estranha coisa voadora a seu lado.

E apesar de geralmente grifinórios e sonserinos preferirem ignorar uns aos outros a maior parte do tempo (era um consenso geral que grifinórios e sonserinos só se confrontavam para brigar, trocar insultos ou quando não havia escolha), foi impossível conter a pergunta diante de tal criatura bizarra. Nem perceberam que, naquele momento, conversavam normalmente com o mais novo e estranho sonserino.

A pergunta dos dois, no entanto, não surpreendeu Chikage. Até porque não era a primeira vez que era abordado por causa de seu esquilo transfigurado. Na verdade, era já a 54ª vez! Grifinórios, corvinais e lufas-lufas, esquecendo completamente da rivalidade que as outras casas sentiam pela Casa da Serpente, ainda mais em tempos de guerra, haviam parado-o para perguntar o que era o estranho animal. E a todos Chikage respondera com seu típico sorriso. Mas ver grifinórios e sonserinos serem educados entre si, principalmente quando os grifinórios eram um Weasley e um Potter era algo mais estranho de se imaginar do que uma almofada voadora com uma antena olho. Ou não.

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– E que diabos é isso? – perguntou Harry, encarando o olho negro do objeto voador não identificado que plainava ao lado do sonserino oriental.

– Não faço a menor ideia – respondeu o japonês – Criei hoje na aula de Transfiguração. A professora ainda não conseguiu fazê-lo voltar ao normal. Eu não tentei, lógico, a coisa poderia ficar pior. Mas desde que ela tentou seu corpo fica oscilando entre rosa e roxo e olhando para o estranho ser ao seu lado Se olhar bem, até que é simpático não acham?

– Não – responderam juntos, os rostos em semi-caretas.

– Ei, também não precisam ser tão sinceros! Ele pode ter sentimentos! Vai magoá-lo! – disse Chikage, fingindo que ia abraçar sua "mascote", mas parando, de forma meio cômica já que os braços já envolviam o animal (apesar de ainda não tocá-lo), ante ao comentário de Rony:

– Espero que você não esteja planejando levá-lo para o almoço. Ninguém vai comer com essa coisa do lado.

– Ah, não sejam malvados com o bichinho, ele um dia foi muito bonito, sabem. E esse tipo de coisa pode acontecer com qualquer um! Vão me dizer que nunca ficaram momentaneamente diferentes por causa de um feitiço errado? Tipo, dentes maiores, uma galhada na cabeça, pelos no rosto, cabelos ao chão e coisas do tipo. Isso me faz pensar... O que eu devo dar para ele comer?

– Você realmente não espera que nos respondamos isso, espera? – perguntou Harry, incrédulo.

– Ora, nunca custa tentar, não? Onde está a amiga de vocês, a Granger?

– Ela estuda Aritmancia, nós não. Vamos encontrá-la no Salão Principal, daqui a pouco.

– Hum... ok. Bem, então acho que nos encontramos lá, irei na frente, tenho aula às 13h e ainda tenho que tentar identificar o que dar para ele, além de tentar descobrir se ele tem uma boca. E pior, se tiver, se ele tem a outra extremidade. Então vou indo na frente, vamos Kimyona – disse Chikage, sorrindo e acenando para o estranho ser voador ao seu lado que passou a segui-lo.

– O quê? – exclamou Rony.

– O que o quê? – perguntou Chikage, parando no meio do caminho, mostrando uma surpresa teatral, algo que Harry já percebera ser típico do outro. Ou Kakinouchi estava rindo, ou estava agindo de modo dramático, como se estivesse atuando numa peça cômica, tornando suas expressões e movimentos exagerados. Hermione havia dito que isso o tornava ainda mais idiota. Mas Luna havia dito que o japonês estava era agindo como se a Terra fosse um grande palco no qual atuamos. E mais, ele transformava a vida numa peça cômica, numa coisa alegre, como se a tristeza não pudesse atingi-lo. Ela ainda completara com um "é difícil confiar em alguém que passa o tempo todo atuando. Ou num mundo próprio, ignorando o mundo real". E Rony perguntara ao moreno desde quando Luna podia dizer coisas do tipo. Mas Hermione ainda achava o japonês apenas um bobo alegre sem preocupações na vida.

– Você o chamou do quê? – perguntou Rony, cautelosamente, era como se tivesse medo de ouvir a resposta.

– Kimyona. Eu dei esse nome para ele – e ante aos olhares surpresos – Significa 'esquisito'. Eu ia chamá-lo de Zen Saigai, que significa 'desastre total', afinal é isso que ele é, mas ele não atendeu. Tentei então Waruikoto, que significa 'mal-feito', mas deu na mesma. Mas quando o chamei de Kimyona deu certo. Então, ficou Kimyona mesmo. Mas acho que ele não sabe bem o que significa... Ou, como eu, talvez já estivesse acostumado a ser chamado assim. Até que combina com ele, não?

– Realmente, é esquisito. Aliás, vocês dois são.

E Chikage... riu.

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Não havia visto Kakinouchi sair da aula de DCAT. Depois da aula de Feitiços, na qual Rony fora encaminhado para a enfermaria por ela e Dino, Hermione havia corrido para sua aula de Aritmancia. Normalmente seria ela e Harry quem se responsabilizariam por levar Rony a enfermaria, mas Harry ainda não havia acertado o feitiço e o professor pedira a Dino para acompanhar a garota. Harry não protestara porque, bem, não era como se um monte de cabelo fosse machucar Rony. A não ser que ele tropeçasse, claro.

Foi enquanto corria para a aula que mais gostava, ao deixar Rony devidamente entregue na enfermaria, que a garota viu a turma da Sonserina deixando a sala de Trancy e percebeu que o japonês não estava entre eles. Se estivesse não teria como não vê-lo. Assim, sabia que ele havia faltado na aula.

Isso era estranho.

Ele nunca faltava porque nunca nada lhe acontecia que lhe impedisse de ir às aulas. Nem mesmo um feitiço errante o acertava. Ou uma simples gripe. Nem mesmo uma única visita a enfermaria em quase dois meses. Ele era tão incrivelmente perfeito! Tão incrivelmente insuportável! Bem que seus pais diziam que perfeição demais era ruim. E eles estavam certos. O japonês era o tipo de cara que irritava porque nada nunca dava errado para ele. Era como se ele tivesse a Felix Felicis no próprio sangue!

O irritante garoto perfeito.

Perfeito demais. Muito bonito, muito inteligente, com ótimas notas, com senso de humor, sem defeitos aparentes como a arrogância, a superioridade, o narcisismo. Ele nem sequer era paquerador! Ele era alegre e fazia amizade com todo mundo. Não parecia fazer distinções, não tratava mal os alunos de outras casas. Ele tinha tantas qualidades que irritava!

Ainda mais num período de guerra.

Quando se vive numa guerra a qualquer momento tudo pode ruir. As pessoas andam com medo, vivem com medo. Se não forem elas, é sua família. E não importa o que acontece, no fim, de uma forma ou de outra, tudo será trágico. Se você sobreviver ileso e com toda a sua família as pessoas vão te odiar por isso. Por ter dado tudo certo para você enquanto elas sofrem. Se houver a perda de alguém as pessoas te aceitam, mas aquela perda irá marcá-lo para sempre.

Numa guerra não existiam pessoas ilesas. Todas seriam marcadas de alguma forma. Seriam marcadas pelo seu sangue e pelo lado que deveriam aderir, seriam marcadas pelo medo dos amigos, pelo medo de perder aqueles que amam. Seriam marcadas pela necessidade de sobreviver, muitas vezes passando por cima de outras pessoas que igualmente querem viver.

Num mundo assim era quase uma heresia haver um rapaz tão feliz e perfeito. Um garoto que parecia não ter medo de nada. Alguém capaz de ser plenamente feliz como se a vida não causasse nenhuma preocupação ou dor. Ele não era só irritantemente perfeito, ele era também irritantemente feliz.

Claro que Hermione sabia que ela, dentre tantas pessoas, não podia reclamar disso. Ela nunca fora infeliz. Ela tinha pais que a amavam, coisa que a guerra tirara de muitos dos seus próprios colegas. Ela tinha uma família que a aceitava como ela era, seus pais em nenhum momento foram contra o fato dela querer ser uma bruxa. Ela tinha ótimas notas, ótimos amigos, bons colegas, e não era uma garota feia. Ela namorara Victor Krum!

Hermione tinha consciência que invejava Kakinouchi.

E não negava isso. Mas não entendia porque sua mente tinha sempre que voltar a pensar nele! E ele nem era como ela. Ele não se esforçava no que fazia. Ele conseguia as coisas de modo muito fácil e por isso não devia dar o menor valor para elas.

Mas não podia negar (por mais que realmente quisesse) que Kakinouchi era... que ele exercia uma certa fascinação nos outros, talvez por ser um tanto quanto misterioso ou simplesmente por não ligar para o que eles consideravam importante (como o uso do uniforme ou mesmo a rivalidade entre casas).

E sabia que não podia culpá-lo por ser feliz também.

Mas simplesmente não conseguia se impedir de achar que o sonserino era irritante de tão perfeito.

Era algo emocional e não algo racional.

Era algo que ele despertava nela e ela não podia lutar contra.

Ainda não acreditava que ele havia lhe pedido ajuda. Era algo muito surreal. Como se ele precisasse de ajuda em algo. Como se ela fosse perder seu tempo com ele. Do jeito que não estudava não custava nada ao oriental perder um dia ou dois lendo a matéria para variar. Ele que se virasse, cabeça para tanto ele com certeza tinha.

E ela não queria nem pensar em ter que passar com ele mais do que o tempo necessário exigido pelas aulas que eles compartilhavam.

Sabia que estava sendo teimosa, sabia que exagerava quando o assunto era ele. Mas o que podia fazer? Da mesma forma que Harry não suportava Malfoy ela não suportava o japonês. Como Harry havia encontrado o seu rival e como Harry não era como se de repente as coisas entre eles poderiam mudar.

Eram, afinal, os mesmo sentimentos: uma intensa rivalidade de personalidades e casas. De desejos.

SL&SL&SL&SL&SL&SL

Se na hora do almoço houvesse alguém naquele castelo que ainda não tinha ouvido falar do estranho animal que Chikage havia criado por enganado (e que nem McGonnagal havia conseguido consertar) isso não era mais uma opção após a hora do almoço. O Salão Principal parecia mais uma rua congestionada no centro de Londres, pois aluno por aluno que entrava no Salão andava mais devagar para ver o estranho animal voador, que ficava parado a poucos centímetros da cabeça de seu criador, parecendo mal-humorado. Chikage, no entanto, continuava alegre como sempre e servia ao mascate pedaços de sua própria comida, mas nada parecia despertar a atenção do ex-esquilo.

– Ele é mais enjoado do que parece – disse Chikage, tentando oferecer, dessa vez, um pedaço de carne, que foi igualmente ignorado – Desse jeito parece que está é fazendo greve de fome.

– Carne? Ele é um esquilo, Chikage! – disse Malfoy, indignado – Tente dar frutas para ele.

– Mas ele recusou até a alface! – defendeu-se o japonês, ignorando as risadas que a discussão despertava. Uma coisa era fato, Kimyona estava fazendo sucesso, talvez não do modo como gostaria, mas... E ver Chikage bancando a babá era algo único, ainda mais quando o oriental era, por natureza, alguém altamente dramático. Diversos alunos, inclusive os das mesas vizinhas, esticavam o pescoço para assistir a cena e riam com ela.

– Mas ele não é um coelho, é um esquilo. Já tentou uma nós?

– É uma boa ideia! – respondeu Chikage, puxando a varinha do bolso traseiro da calça, ação que fez Kimyona se afastar, assustado com o objeto mágico e provavelmente temendo por si próprio. Mas a varinha foi direcionada para o prato do japonês, onde pedaços de frutas estavam picadas, todas não tendo despertado nem um segundo olhar em Kimyona – Allagí – sussurrou Chikage e as frutas em seu prato mudaram rapidamente para as nozes que Malfoy havia sugerido – Prontinho! Aqui, Kimyona, o que acha? – perguntou, estendendo um pedaço do novo alimento, sem sucesso imediato, mas ganhando uma aproximação cautelosa. Se o nariz fosse algo visível, teriam percebido que o ex-esquilo cheirava a comida oferecida antes de enfim, dar um sumiço nela, tão rápido como quanto uma criança poderia fazer com um doce antes da hora do almoço.

– Ora, achei a boca dele! – exclamou Chikage feliz, oferecendo mais nozes e não percebendo o olhar incrédulo que diversos alunos lhe dirigiam. Ou julgando tais olhares ao fato de Kimyona estar finalmente aceitando comer algo. Mas não era esse o motivo que atraíra a atenção dos sangues-puros, dos sétimo anistas e dos professores. O que deixara todos de boca aberta havia sido o pequeno feitiço que transfigurara frutas em nozes. E a primeira lei da transfiguração era a não possibilidade de transfiguração de alimentos.

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Harry sabia que Hermione estava lhe perguntando algo, mas não sabia bem o que era. Percebeu o olhar que alguns dirigiram a Kakinouchi, no entanto, não ligou. A mágica recém-executada pelo japonês também ignorada. Mas, afinal, não era como se Harry conhecesse as impossibilidades da magia para se preocupar com algo que ele não sabia não ser possível. E já estava há tanto tempo em Hogwarts que às vezes até seus amigos esqueciam de seu passado trouxa e do quanto ele desconhecia do próprio mundo.

Depois suas atenções não estavam realmente no japonês e sua mais nova mágica inédita e sim no loiro ao lado dele. Sim, Draco Malfoy estava sentado ao lado do japonês para almoçar, mesmo que o novo mascote do japonês fosse algo que se quisesse ver enquanto comia, devido a sua cor rosa carne, combinada com sua pele surrada e acabada, o fazia ficar ainda mais intragável, ele parecia, na verdade, estar em carne viva. Mas lá estava Draco Malfoy, conversando e ajudando o colega, coisa que nunca o vira fazer antes. As garotas ao redor de ambos pareciam ainda mais felizes de ver os dois mais bonitos sonserinos lado a lado e os sorrisos que Kakinouchi dirigia ao loiro eram decididamente diferentes.

E Harry não gostou nada de reparar tal detalhe.

Draco Malfoy não tinha amigos. Draco Malfoy tinha servos. Ele tinha Crabe e Goyle. Ele tinha Parkinson. E nenhum deles chegava aos pés do loiro. Nem em beleza, nem notas, nem em nada. Eram todos idiotas puxa-sacos. Eram pessoas sem valor algum. E provavelmente péssimas companhias. Mas era diferente em relação ao japonês. Chikage era tudo que os amigos de Draco não eram. E eles realmente pareciam amigos.

Como, por Merlin, ele podia invejar aquele loiro irritante!

Harry mordeu a ponta do garfo irritado, sem saber exatamente o que o irritava tanto.

Era uma sorte que a mesa da Grifinória ficava longe da mesa da Sonserina, era uma sorte que Harry não ouvira Malfoy chamar o japonês pelo primeiro nome.

Mas Zabini ouvira e não pode deixar de estranhar. Draco chamando alguém pelo primeiro nome? Nem Crabe e Goyle tinham tamanho privilegio. Apenas ele e Pansy. E agora o estranho estrangeiro.

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Fora as idas as aulas juntos, os almoços juntos, os jantares e as lições de casa.

E aquilo era, no mínimo, estranho.

Mas desde a chegada de Kakinouchi não era como se as coisas estivessem realmente normais.

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Draco jogou com impaciência a pena na mesa, passando as mãos nos olhos, num sinal de cansaço. E o pior, estava sentado naquela mesa estudando há menos de uma hora! E já se sentia cansado.

– Odeio astronomia – murmurou, respirando fundo e encarando os mapas estrelares que tinha que fazer e percebendo que não fizera nem 25% do trabalho Maldito Potter.

É, maldito Potter. Draco realmente não gostava de Astronomia e era verdade que nunca fora muito bom na matéria, nem sabia muito bem como tinha passado no NOMs da disciplina. Também, fora sua pior nota, assim como Herbologia. Plantas não eram realmente o seu forte e ele não entendia porque tinha que saber quantas luas Júpiter possuía ou para que servia um Salgueiro Lutador. Era humilhante ir mal numa matéria que o Longbottom ia bem, mas o que ele podia fazer?

E como se estudar mapas estrelares já não fosse ruim por si só, para piorar Potter resolvera adentrar na sua cabeça e desde o almoço o loiro não conseguia pensar em outra coisa se não no moreno de olhos verdes. E na forma como eles lhe encararam o almoço inteiro.

E o pior? Draco estava realmente se divertindo enquanto via Chikage tentando dar comida a... seu esquilo. Aliás, o japonês tinha mesmo que ter dado um nome japonês para um esquilo? Só para ninguém conseguir chamá-lo, isso sim. Por que ele não o havia chamado de Tom? Ou esquiloso? Ou qualquer um desses nomes ridículos que as pessoas costumam dar a seus animais de estimação. Mas não, tinha que ser Kimi-qualquer-coisa. E que coisa feia era aquela! Parecia um filhote de coruja, feio e sem penas. E depois que McGonngal tentara consertar o bichinho ele ficava alterando para tons de vermelho que pareciam sangue.

Mesmo assim, Draco o achou quase simpático. O bichinho era tão feio que era difícil não gostar dele. E era muito engraçado ver Chikage tentando interagir com o animal que o ignorava. Draco dera umas boas risadas com a cena.

Com certeza aquele seria o assunto da semana. Chikage e sua desastrosa mágica. E pensar que a essa altura Draco já via o colega como alguém livre de falhas. Era quase reconfortante saber que o japonês não era tão perfeito como parecia. Isso o tornava mais humano, mais próximo. Era realmente estranha a velocidade com que Draco gostara do oriental. Ele que sempre fora tão difícil de fazer amigos, que não conseguia confiar nos outros. Ele confiava em Pansy e Blaise, mas não os considerava amigos íntimos. Ele não tinha amigos íntimos. Ele não era como Potter. Então Chikage surgira do nada e Draco se via apreciando muito a companhia dele. Ele era divertido de conversar, bom de ter como parceiro de estudos. Alegre. Draco se sentia bem quando estava ao seu lado. Sentia-se confortável. E, às vezes, achava que a alegria do outro era contagiosa! Quantas vezes, desde que começaram a andar juntos, o loiro se vira rindo? No almoço estava realmente se divertindo. Nunca antes ele havia se divertido dessa forma com os seus amigos.

E estava bem. Estava bem e tranquilo, como há muito tempo não se sentia. Então percebeu um olhar mais profundo sobre si e lá estavam as duas pedras verdes que eram os olhos de Harry lhe encarando.

Olhos que não saiam de sua cabeça.

Olhos que ressurgiam a cada vez que ele fechava os olhos ou encarava os livros. Olhos que ele já havia visto de perto uma vez. Olhos que brilhavam cheios de vida.

– Por que nunca me deixa em paz, Potter? – perguntou Draco a si mesmo, fechando as mãos nos cabelos, esquecendo que era ele próprio que nunca permitia que Harry se afastasse, que o perseguia e não se permitia ser esquecido. Como o moleque que não deixa a colega em paz e fica a puxar seu cabelo o tempo todo, não a deixando esquecê-lo. Sendo esse o jeito de dizer que quer a atenção dela, que gosta dela na verdade. Perturbar Harry era algo tão enraizado em sua mente que Draco nunca parara para pensar no que isso poderia significar. E muito menos no que a sua insistência fazia a si mesmo.

Ele não tinha mais 11 anos, Draco não precisa mais importunar Harry todos os dias para ser feliz, a brincadeira infantil há muito tinha perdido a graça. Mas ele não conseguia parar. Não irritar mais Harry seria uma forma de não ter mais nenhum contato com o moreno. E Draco não conseguia aceitar isso. Porque Potter era um idiota e era bom vê-lo irritado.

Mas era o que era bom de verdade? Ver Potter irritado ou vê-lo perdendo a compostura por ele? Saber que pelo menos de uma forma ele reagia ao loiro? Eram essas provocações que faziam com que um não esquecesse o outro. Sem elas, eles nem se olhariam. Sem elas Draco nunca teria recebido um olhar tão profundo, na frente de todos, na hora do almoço. Nem teria notado o quanto o moreno ficava bem todo molhado, ou o quanto seus olhos vistos de perto eram hipnotizantes. Ele nunca teria acreditado que ao menos uma vez, ambos poderiam ficar juntos um do outro, em cima um do outro, olhando-se de uma forma não muito inocente. Ele não teria aquela fixa sensação que seus lábios estavam próximos demais. Sensação que sua mente guardava muito bem.

Tão preso aos olhos verde como estava o sonserino não reparou no par de olhos castanhos claro que também o observava. Olhos emoldurados por uma franja vermelha.

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Se Hermione imaginasse que nem mesmo McGonnagal havia conseguido transformar o estranho ser que agora voava ao lado de Chikage em um esquilo novamente provavelmente toda aquela história de que Kakinouchi podia ser tão desastroso em algo quanto Neville não teria lhe agradado tanto. Mas ela estava feliz, feliz até demais, pois não era normal a Hermione esquecer das coisas, muito menos de coisas que lhe chamavam a atenção.

Mas naquela noite seu sorriso mostrava claramente que a garota havia se esquecido que saíra do Salão Principal decidida a passar numa biblioteca para pesquisar como, por Merlin, Kakinouchi quebrava mais uma regra e transfigurara comida

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Já estava anoitecendo quando Chikage enfim entrou em seu dormitório, ainda vazio. Tinha sido um dia cheio. E ele ainda tinha perdido uma das aulas do período da manhã, pois ficara com McGonnagal tentando consertar Kimyona.

– É, não deu muito certo – disse suspirando, sentando na cama, ainda observando o animal voador – Como é que eu vou fazer você voltar ao normal? Não é que eu não goste de você, mas realmente acho que você estava mais feliz antes de se tornar uma celebridade, não?

Mas Chikage já tinha aprendido que Kimyona realmente não dava a mínima para suas tentativas de diálogos, sendo assim ele não recebeu nem uma olhada mais profunda.

– Acho que você me odeia – disse, sabendo que se algum de seus colegas o visse conversando com o ex-esquilo novamente não iria escapar as brincadeiras maldosas. Mas quem ligava para isso mesmo? – Poderia pelo menos, sabe, ser mais simpático com a mão que te alimentou. Ou com aquela que ferrou a sua vida. Dá no mesmo, não? – silêncio – Ok, não precisa me responder. Eu não ligo mesmo – silêncio mais uma vez – Sabia que isso foi psicologia reversa? – perguntou Chikage, em dúvida. No entanto, sua resposta foi mais uma vez uma total inexpressividade por parte de sua mascote. E o pior é que sabia que ele ouvia, afinal ele atendia seu nome. E mais, não era como se Kimyona não o entendesse, pois lembrava como o mascote reagira na sala, concordando que seu novo dono era um completo desastre em transfiguração viva. Não que ele precisasse de um esquilo erroneamente transfigurado para saber disso.

– Sabia que você tem uma personalidade muito forte? Ok, ok, eu continuo aqui falando sozinho. Céus, como vou fazer você voltar ao normal? Eu decididamente não vou tentar te consertar, mas você não pode continuar assim para sempre. Eu pedi a Maxxcy para dar um pulo aqui assim que puder, mas não sei quando ele poderá vir e além dele não lembro de mais ninguém a quem eu possa pedir ajuda, e que possa vir aqui. Sabe, acho que você vai gostar do tio Maxxcy. Ele é muito legal... Será que você poderia ao menos, sei lá, concordar comigo? – disse Chikage, tirando da mochila seu material e espalhando pela cama – Terá que ser simpático com ele, sabe? Ele é um dos melhores em Transfiguração que eu conheço, se tem alguém que pode te fazer voltar ao normal é ele. Mas seria inteligente da sua parte ser simpático com ele. Não é como se ele tivesse alguma obrigação com você, entende? – e dessa vez, para surpresa do japonês, Kimyona concordou, balançando sua antena-olho para cima e para baixo – Malandro! Quando te interessa você se manifesta, né? – disse Chikage, fingindo irritação – Pois só por causa disso vou dizer mandar outra mensagem a Max e dizer que ele que pode demorar bastante para vir e...

– Fazê-lo perder todo o tempo que ele com muito trabalho arranjou para vir ver qual era a sua "semi-emergência". Aliás, o que é uma semi-emergência, Chikei? – disse o homem moreno bem a sua frente, parado numa pose altiva, os braços cruzados como se estivesse irritado, o peso todo na perna esquerda, um sorriso sacana no rosto – Hello! Não me diga que eu te assustei? – perguntou malandro.

–Nããoo! Porque me assustaria? Eu apenas pulei para trás porque acho que alguma coisa pegou no pé. Será que tem chizácaros [1] por aqui? – respondeu Chikage, tentando fingir irritação e falhando completamente.

– Sério? Não me diga que me chamou para acabar com chizácaros? – perguntou o moreno, o sorriso malandro substituído por um mais predador, mais perigoso e muito sexy – Chikei, não imaginei que essa escola ia te deixar tão mole a ponto de precisar da minha ajuda para isso.

– Não, não foi por isso – respondeu Chikage e sorrindo como uma criança inocente ao pedir um doce aos pais – Valeu por vir tão rápido. Estava muito ocupado?

– Na verdade, não. Dynn não está em casa, está no Canadá, então eu posso me dar ao luxo de desaparecer quando quero. Só não vim na hora porque minha irmã estava me chateando com suas irritantes vigias.

– Você parece respeitar mais a Dynn do que a Era.

– Não respeito nenhum dos dois. É só que ainda não é momento de eu demonstrar isso para Dynn. Aquele imbecil acha que me tem na palma de sua mão e é conveniente para mim que continue pensando assim. Mas não me chamou aqui para falar daquela anta convencida, não é? O que aconteceu, eu disse várias vezes que podia me chamar quando quisesse, mas você nunca o fez, então, além de curioso, fiquei preocupado quando recebi sua mensagem. O que você aprontou? Conheço essa sua cara de longe.

– Então, eu tive aula de Transfiguração hoje. De vertebrados de porte médio pequeno e...

– E você fez burrada e deu tudo errado.

– Como você adivinhou? – indagou Chikage com sua melhor cara de inocência e surpresa. Maxxcy nada respondeu, apenas o olhou descrente. Sua expressão ainda mais exagerada que de costume. Se Chikage era considerado engraçado era porque não conheciam Maxxcy. Perto dele ninguém podia ser engraçado. O outro era um palhaço nato, qualidade ampliada pelos dons mágicos do amigo e pela seu metamorfomagismo – Por favor, será que você, quem sabe, assim, poderia, então, consertar minha mais nova invenção mágica? – perguntou, imitando com perfeição a criança que chega aos pais toda cheia de cuidado ao falar, mas já deixando óbvio desde o primeiro olhar que ela pediria algo. Os olhos brilhando com uma falsa inocência, as mãos unidas, como se o japonês estivesse pronto para rezar. Entretanto, Maxxcy sabia, aquela era só a típica posição dos japoneses ao pedirem algo.

– E porque que eu tenho que ficar consertando os seus erros? Não adianta fazer essa cara de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança. Eu sou um mestre em maldições, não em transfiguração. E pode me dizer o que é essa coisa flutuando?

– O que eu queria que você consertasse. Eu sei que sua especialidade são as maldições, mas transfiguração é como se fosse sua 2ª especialidade. Por favor, quer deixar o coitadinho assim para sempre? A professora daqui já tentou consertá-lo, mas tudo o que conseguiu foi fazê-lo ficar mudando de cor constantemente. E fez nascerem únicos três pelos bem em cima do olho dele! É que eu cortei.

– Eu estranharia se ela tivesse conseguido. Quebrar feitiços feitos por magias mais fortes não é nada fácil. E sua magia é superior a dela, apesar de não ser tão controlada, devo acrescentar, o que dificulta muito as coisas. Magia descontrolada causa grandes campos de proteção e você é mestre nisso. Nunca vi campos tão fortes quanto os seus. E isso só piora com o fato de você viver fazendo magias que ainda não deveria, por estarem muitos níveis acima do seu conhecimento... Hm... mas isso ficou feio mesmo. Você virou ele do avesso, por acaso?

– Não! A ideia era transformá-lo em uma almofada! Virar do avesso, vê se pode!

– E quando você virou a sua tartaruga do avesso tentando transformá-la numa bolsinha de moedas?

– Por que você sempre fica lembrando dos meus erros de Transfiguração?

– Talvez por que sou sempre eu que tenho que consertá-los. Ou talvez por que nesses três anos você colecionou tantos deles que eu já perdi a conta há muito tempo. Ou talvez por que eles realmente sejam engraçados.

– Bom, quando você que conta, eles realmente parecem engraçados, mas é meio frustrante estar sempre errando. Sinto que inventei mais coisas do que muitos inventores por aí.

– Provavelmente. Foram tantas espécies novas que poderíamos montar uma nova enciclopédia. Algo que agradaria muito os cientistas do século XV. Sorte sua ter muitos conhecimento teórico ou suas notas seriam uma desgraça!

– Pelo menos eu sou bom em Feitiços e Poções! – Chikage disse, sorrindo – Mas, então, consegue fazê-lo voltar ao normal?

– Claro que consigo. Está me subestimando, Chikei? Um simples o que foi feito, seja desfeito é mais que suficiente. Ora! Era um esquilo! – exclamou o moreno, ao ver um belo esquilo cair graciosamente no chão, tão perfeito como havia sido naquela manhã antes de Chikage o transfigurar, e correr para cima da mesa, provavelmente querendo manter distância de Chikage, mas não com medo suficiente para fugir pela porta aberta – Puxa vida, Chikei, transformar essa coisinha fofa num bicho daqueles foi muita maldade. Ele é muito lindo!

– Pois é, acho que é por isso que ele não gosta muito de mim.

– Eu te odiaria, se fosse ele – e apesar de agora Kimyona não entender mais a linguagem humana, os dois bruxos riram muito quando ele pareceu concordar com as palavras de Maxxcy.

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Pânico. Pessoas correndo para todos os lados. Medo, dor, raiva. Tudo misturado e ao mesmo tempo tão absurdamente segregado. No ar um casal trouxa rodopiava de cabeça para baixo. E as pessoas achavam isso engraçado! Bruxos corriam sem olhar o que pisoteavam, deixando para trás elfos, animais, crianças perdidas. Uma ânsia de salvar a si mesmo os fazia esquecer os esquecidos, abandonando-os a própria sorte. Mas ele não estava agindo do mesmo modo?

Estava fugindo, não? Mas não tinha habilidade para enfrentar os homens encapuzados. Só atrapalharia, deixaria tal serviço para os mais velhos, para os bruxos treinados que estavam em menor quantidade apesar do alto numero de adultos que acampava ali. Afinal, ele só tinha 14 anos! E era mais fácil correr. Era mais fácil esquecer que aos 11 ele enfrentara uma sequencia de armadilhas criadas pelos melhores professores da melhor escola de magia da Grã-Bretanha. Esquecer que aos 12 enfrentara um basilisco adulto. E que aos 13 fugira de um lobisomem. Porque já enfrentara coisas demais na sua vida e as vezes é bom correr, correr e deixar as responsabilidades para os outros. Para trás. Ser um pouco egoísta.

E ele continuou correndo, esquecendo-se de pensar que era o pai de Rony que estava lá lutando, que eram os irmãos de seu melhor amigo que estavam arriscando o pescoço.

Bruxos formados não enfrentariam o que ele já tinha enfrentado, bruxos formados que duelassem com os mascarados.

Continuou a correr.

Adentrando o mata, deixando os sons dos gritos para trás, tentando esquecer do casal que nada tinha feito para eles que giravam de ponta cabeça.

Granger, eles estão caçando trouxas disse Malfoy. Você vai querer mostrar suas calcinhas no ar? Porque se quiser, fique por aqui mesmo... Eles estão vindo nessa direção, e todos vamos dar boas gargalhadas

E todos eles pararam, esquecendo enfim dos gritos ao longe, e olharam para o loiro encostado numa árvore, os tornozelos cruzados, o sorriso típico e sarcástico. A diversão aparente do outro com a situação fazia com que eles sentissem mais repulsa ainda.

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E Harry sabia que ele sabia que seu pai estava no meio. Porque isso era típico daquela distorcida família, porque eles gostavam de ver a humilhação dos que não possuíam magia, porque eles queriam se sentir superiores.

A briga inevitável que ocorria toda vez que se encontravam foi curta dessa vez, afinal estavam mais preocupados em fugir. Ou pelo menos havia sido assim, não?

Então por que Harry continuava ali parado, olhando para o loiro que não se mexera e em nada alterara sua postura confiante? Por que estavam sozinhos? Seus amigos nunca o abandonariam. Não eles.

Mas e se fosse ele que os abandonassem?

E se fosse ele que escolhesse ficar?

Ficar ali com Malfoy e esquecer? Esquecer os gritos, as luzes de feitiços, a confusão ao seu redor, seus amigos, e todo o resto que estivesse ao seu redor e continuasse ali. Na frente do loiro. Junto dele. Só os dois. Olhos nos olhos, confiança com desconfiança. Como se o mundo, a guerra e a confusão não existissem.

Isso seria bom, não?

Talvez.

Porque aquele não era o Draco Malfoy que Harry conhecia. Não era o loiro de rosto fino que ele lembrava ter desprezado há 3 anos. Ele estava mais alto agora e seu rosto amadurecera, assumindo belas e invejosas feições. Seus olhos cor de tempestade agora com vida e brilhando, como os trovões que iluminam o céu azul atrás da chuva. A pele imaculada, a pose arrogante, mas inebriante. O sorriso verdadeiro, muito diferente do meio sorriso a qual sabia estar acostumado. Era um belo quadro aquele. A escuridão ao redor que não chegava ao loiro. E aqueles lábios que se mexiam, abrindo e fechando, formando palavras que Harry não conseguia escutar.

Mas sabia o que diziam, de alguma forma sabia.

Tire Granger daqui. Não esqueça, não fuja. Salve-a... Me tire daqui, me salve.

E era aquela mão estendida. A mão que sempre se estendia e a qual ele nunca tocava. Porque ele não ouvira nada. Ele nunca ouvia o que ele falava, por isso
não podia ouvir o mudo pedido de socorro.

Então o barulho a sua volta retornou, um trovão caiu e no céu uma caveira com uma cobra apareceu. O barulho assustara ambos e os fizera olhar para o céu. Então Harry lembrou e voltou a olhar para o loiro, estendendo, enfim sua mão. Mas a do loiro não estava mais lá. O braço esquerdo, junto ao corpo, era apertado pela mão direita. Os olhos vivos voltando ao seu vazio habitual. A pergunta, enfim, ouvida:

Por que com você é sempre tarde demais?

Harry pulou da cama, a respiração acelerada. Dobrou os joelhos escondendo a cabeça neles, as mãos apertando os fios negros dos rebeldes cabelos, a mente apagando o sonho que ele tentava lembrar e entender, a respiração ainda desregulada.

– O que está acontecendo comigo? – se perguntou, um tom de desespero preenchendo sua voz, a certeza de que algo não estava bem. Algumas imagens de seu sonho ainda permanecendo em sua mente, as que ele mais queria esquecer. Mas justo essas não se perdiam, para seu total desespero, pois ele sabia quem era o dono daqueles olhos cinza manchados, ele conhecia o dono dos loiros cabelos e da voz arrastada Não estou sonhando com ele, não estou sonhando com ele, não com ele, não ele ficou repetindo o moreno, tentando se acalmar. A cabeça indo para frente e para trás, enquanto ele recitava essas palavras como a um mantra. Algo mais permanecendo do sonho que se apagava. Uma mão que se estendia para ele, molhada, seca, branca, pálida. Uma mão que já havia sido estendida uma vez na vida real.

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– O que está acontecendo comigo? – perguntou o moreno, desesperado, sem ser ouvido pelos colegas que dormiam profundamente nas camas ao lado.

– Nada que você já não saiba, Potter, nada mesmo – respondeu o dono da pequena bola de cristal que mostrava um jovem moreno sentado numa cama, apertando fortemente os cabelos, questionando-se. Os olhos fortemente fechados, como se querendo não ver algo. Mas não era como se ele pudesse ouvir a resposta tão esperada (ou não).

Na noite fria, a quilômetros de distância, a pequena esfera brilhante enfim se apagava, levando com sua luz a imagem do jovem moreno. Levando com sua luz a visão do desespero de alguém que não sabe o que acontece consigo mesmo.

Na escuridão da falsa noite, a pequena esfera era guardada no bolso magicamente ampliado. Num céu de poucas estrelas, onde mesmo a noite celeste parecia ter um fim a resposta dada se completava, só que para o vazio, sendo dirigida mais para o brilho acima de sua cabeça do que para o moreno, tão distante. Mais para si mesmo do que para qualquer um.

– Sinto muito por isso, Potter. Mas é preciso. Você me agradeceria, se imaginasse o quanto.

Em sua cabeça, o plano cuidadosamente traçado ainda seguia como o planejado. Mas o futuro era quase sempre incerto e ele ainda não sabia se conseguiria. Porque ele estava mexendo com vidas humanas. E sabia que ele próprio poderia mudar de ideia.

Mas, afinal, não era como se ele pudesse se dar ao luxo de mudar de ideia.

Continua...