Sempre ao teu lado

Capitulo 11 - As primeiras semanas no mundo


Capitulo 11:

As primeiras semanas no mundo

Renesmee

Mamãe disse que vamos viver numa casa. E ela diz que uma casa é maior que o quarto, eu já vi algumas casas nas novelas da mamãe, e fico imaginando que a casa do vovô e da vovó deve ser parecida, mas a diferença é que a casa deles tem uma rede e eu vou poder me balançar na rede, será que vou poder por o Tommy dentro da rede também?

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Durante o tempo em que fiquei no hospital, eu vi e aprendi um monte de coisas novas, eu pude rever a policial mulher, que se chama Sara e ainda ela me deu uma boneca de presente, mesmo sem ser domingo. Quando disseram que podíamos ir embora eu fiquei feliz, pois pelo menos na casa do vovô e da vovó não deve ter agulhas, hospital é ruim, ele não machuca só quando abre a barriga da gente, aquelas agulhas que eles usam para tirar sangue e dar injeção dói, a única coisa boa eram os pirulitos coloridos que eles davam para gente depois de cada furada que levávamos. Ah e as comidas também eram ótimas, eu comia coisas mais gostosas do que quando eu vivia no quarto, eu havia adorado as panquecas, espero que na casa do vovô e da vovó tenham elas também.

Antes de irmos embora mamãe decidiu me banhar e tomar banho também, eu ainda não estava acostumada a tomar banho naquele negocio grande prateado que sai agua, mamãe diz que se chama chuveiro, mas eu preferia a banheira, lá dava para brincar com as bolhas de sabão, agora no tal do chuveiro não. Além do mais, se nós não fecharmos os olhos a agua entra nos nossos olhos, eu sempre ficava com a cabeça fora da agua, era mais seguro.

Depois que mamãe estava me secando ela me levou até o espelho, no espelho a gente consegue ver nosso reflexo, e eu nunca tinha visto o meu reflexo antes. Assim que me olhei no espelho, eu vi uma menina, e essa menina era eu, eu coloquei a mão no meu rosto e mamãe se aproximou de mim e também apareceu no espelho e eu sorri.

— Essa é você... –mamãe disse. – Uma menina linda... – e então ela passou a mão em meu cabelo. – Acho que vamos ter que cortar um pouco o seu cabelo, ele está muito grande... – ela acrescentou.

— Na casa do vovô e da vovó não tem agulha não, né? – perguntei para ela enquanto observava o curativo que colocaram no meu braço, depois de eu levar uma picada. No hospital eles adoram dar picadas na gente.

Mamãe sorriu para mim.

— Não filha, só tem agulhas em hospitais! – ela respondeu.

— E que horas vamos comer na casa do vovô e da vovó? – perguntei.

— A gente vai comer o horário que quisermos, quando sentirmos fome! – ela disse, sorrindo para mim.

— Não tem regras? – perguntei a ela.

— Não filha, não tem não... – ela disse, e depois começou a me vestir. Assim que voltamos para o quarto, vovó e vovô já estavam nos esperando. Eu tive que usar novamente aquela mascara e ainda ganhei um óculos, só que a lente é preta, mamãe diz que é óculos escuros e serve para proteger nossos olhos do sol, eu só ainda não entendi o que acontecia se olhássemos para o sol sem eles. Será que nossos olhos derretem?

Mamãe me pegou no colo, quando estávamos próximas de sair do hospital, e novamente fora dele havia varias pessoas e câmeras, vovó e vovô pareceram ficar bravos com eles, e eu já sabia que aquelas câmeras serviam para que nós aparecêssemos na TV.

Fiquei agarrada com minha mãe, pois estava assustada com tanto barulho, eram muitas pessoas falando ao mesmo tempo e então eu percebi como pessoas do mundo do outro lado da parede gostam de falar. Enquanto mamãe corria para sairmos do hospital, os meus óculos já estavam caindo do meu olho, eu tirei ele e também tirei aquela mascara chata protetora de micróbios que estava me apertando e fiquei segurando. E então, clique, uma foto foi tirada, meu olho doeu por causa dos flashes, tentei então esconder o meu rosto, ainda mais depois que eu me lembrei de que o sol poderia fazer os meus olhos derreterem.

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Entramos no carro e eu continuei no colo da mamãe, vovó e vovô reclamavam dos jornalistas. Acho que eles também não gostavam de ouvir tantas pessoas falando ao mesmo tempo.

Saímos então do hospital, passamos pelo portão grande e fomos para o resto do mundo. Então eu voltei a colocar os óculos escuros, eles eram legais e deixava as coisas mais escuras, nós não precisamos passar o tal do filtro solar que mamãe já me ensinou que serve para nos protegermos dos raios malvados, isso porque os raios batem no vidro do carro e voltam. Mas mamãe diz que se sairmos no sol sem passar o tal do filtro, os raios esquentam nossa pele e a deixa vermelha. E eu não quero ficar vermelha.

— Logo eles vão parar, pois todas as noticias ficam velhas... – mamãe falou para vovô e para vovó. Eu não entendi o que ela quis dizer com isso. Noticias seria uma pessoa? Ela quando fica velha também cansa de brincar, morre e volta para o céu?

— É amor, daqui algumas semanas eles se esquecerão de nossa família, bom, eu espero... – a vovó disse. Como eu não estava entendendo o que eles diziam eu preferi prestar atenção na janela do carro, novamente eu estava vendo as coisas passarem rapidamente por ela, e ainda isso me deixava meio tonta, mas era legal ver tantas coisas diferentes e luzes. Logo sai do colo da mamãe, para me aproximar da janela e poder ver tudo melhor.

Depois de andarem, andarem e andarem, eles pararam em frente a uma casa, e logo me dei conta de que era a casa da vovó e do vovô. Mas não vi nenhuma rede em frente á casa, eu já sabia abrir a porta do carro, então eu a abri bem rápido e sai correndo para o lado de fora.

Mamãe logo veio atrás de mim.

— Essa é a casa da rede? – perguntei.

— Sim é a casa dos seus avos... – ela respondeu.

-Mas não tem rede... Cadê ela? E cadê o Tommy? – eu perguntei, ainda não tinha visto um gato, somente vi aquele cachorro grandão, o Rajá, só que ele late alto e queria me comer.

— É... Filha o Tommy morreu... – ela respondeu.

— Que nem o rato e a aranha que você matou? – eu perguntei e ela concordou com a cabeça. – E quem o matou?

— Ninguém, ele era velho e lembra o que eu disse? Quando estamos velhos, cansamos de brincar e voltamos para o céu... – ela disse e então me puxou para que entrássemos na casa.

A casa era bem diferente do quarto, ela era grande e acho que se eu não tomasse cuidado eu poderia me perder ali dentro, olhei para cima e não vi nenhuma claraboia. Em vez disso eu vi algo grande e brilhoso, e vovó conseguiu acendê-la, que nem quando acendemos o abajur no quarto para nos dar luz quando tudo está escuro.

— Aqui não tem claraboia? – perguntei para mamãe.

— Não, temos um lustre! – ela disse apontando para cima e então entendi que aquele negocio grande tinha esse nome.

Fomos andando em cada canto da casa, tinha coisas nela que eu nunca tinha visto antes, na cozinha tinha diversos aparelhos esquisitos, na sala a televisão é bem maior que a que tínhamos no quarto, o sofá era mais confortável e grande. Tudo era maior e se eu quisesse eu poderia pular e correr ali dentro.

Mamãe quis que fossemos ao quarto dela, é onde ela dormia até Nick prende-la no quarto, tivemos que subir uns degraus, mamãe disse que era uma escada, eu achei um tanto estranho subir ela, mamãe teve que me ajudar para eu não cair.

Andamos por um corredor, e a vovó que abriu a porta do quarto da mamãe, quando entramos eu vi que o quarto era diferente do que eu vivia, não tem cozinha e nem banheiro, somente cama, guarda-roupa, cômoda, abajur, e então eu acabei me lembrando da planta que mamãe deixou no quarto, eu acho que ela vai morrer, pois quem vai dar agua para ela?

Observei as fotos que tinha na parede, e encontrei uma que estava á mamãe e o papai.

— Olha o papai! – eu disse aproximando-se da foto.

Mamãe se aproximou de mim, e pareceu ter ficado irritada.

— Não olha para isso! – ela disse e então tirou a foto da parede e o jogou no chão. Fez um PÁ e o vidro que tinha na frente da foto quebrou-se em milhares de pedacinhos.

— Por que você fez isso? – eu perguntei, fiquei assustada com o barulhão.

— Você precisa se esquecer do que falei para você, foi um erro... Vem filha, a mamãe vai te dar um banho... – ela então me arrastou para o banheiro.

Parece que no mundo do outro lado da parede tem que se tomar mais banhos, pois eu já estava tomando meu segundo banho no mesmo dia, deve ser por causa dos micróbios invisíveis.

Enquanto mamãe passava sabonete em mim eu lhe fazia perguntas:

— Por que você quebrou a foto do papai? – perguntei.

— Nessie, eu quero que você se esqueça do que falei para você sobre ele! – ela disse.

— O que? – perguntei.

— Que ele é seu pai! – ela respondeu.

- Ele não é o meu pai? – perguntei.

— Ele é! Só não quero que você fique pensando nele... – ela disse. Depois desligou o chuveiro e começou a me secar com a toalha.

— Por quê? – perguntei.

— Seu pai não vai aparecer e eu não quero que você fique tendo expectativas, querendo conhece-lo... – ela disse.

— Ele fica muito tempo jogando aquela bola na cesta, não é? – eu perguntei.

— Isso mesmo... Garota esperta! – ela disse, sorrindo e me deu um beijo no rosto. – Sempre fomos nós duas e estávamos bem assim, não é? – ela perguntou e eu concordei com a cabeça. – Então, ele não faz falta, nenhuma...

Vovó abriu a porta do banheiro e me deu uma roupa para eu vestir, ela era nova eu nunca tinha visto antes, mamãe me ajudou a colocar elas, ganhamos também novas escovas de dentes e a minha era rosa, escovamos os dentes e eu deitei na cama da mamãe, não era igual do hospital, na casa da vovó eu ainda não tinha uma cama só para mim.

— A gente não vai voltar mais? – perguntei para mamãe. Eu estava assistindo desenho.

— Como? – mamãe perguntou olhando para mim.

— Para o quarto... – respondi.

— Não filha, agora nós vamos morar aqui com o vovô e a vovó... – ela sorriu e me abraçou, eu deitei a cabeça no ombro da mamãe.

— Aqui não tem rede e nem o Tommy... – eu disse.

— A vovó vai colocar a rede de novo e se você quiser daqui alguns meses a gente arruma outro gato, mas vamos esperar o seu organismo se acostumar primeiro... – ela disse.

— A se acostumar? – perguntei.

— Bom, você sempre viveu num quarto fechado, você não tinha contato com outras pessoas, com animais, então o seu organismo, vamos dizer é, o seu corpo ele precisa se acostumar viver aqui fora, onde tem muitos vírus, bactérias, entende? – ela me explicou, mas eu não entendi muito bem.

— E quando vou poder ter um cachorro? – perguntei a ela.

— Em breve... – ela disse, dando um beijo na minha testa.

Eu sorri e comecei a trocar de canal, encontrei o canal do jogo de basquete onde o papai aparece, mas eu lembrei que mamãe disse que eu tinha que esquecer o papai e então novamente troquei de canal.

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— Algumas pessoas vão continuar sendo apenas pessoas da TV, não é mamãe? – perguntei.

— Está falando do teu pai? – ela perguntou.

— Você acha que ele vai nos encontrar? – perguntei a ela.

— O teu pai?

— Não, o Nick! Ele parecia ter ficado bravo por ter visto que eu não morri de verdade... – eu disse.

— Não... Enquanto tivermos aqui dentro, nós estaremos seguras... – ela disse. Eu coloquei no canal de desenhos, e fiquei assistindo alguns minutos e então eu apaguei.

+++

Acordamos com algo apitando, era o relógio da mamãe, mamãe o desligou e vi que no relógio havia alguns números, eu os conhecia, mas eu não sabia o que significava. Escovamos os dentes juntas que nem fazíamos quando vivíamos no quarto, só que não tinha mais planta para darmos uma xícara de água, mamãe também não me chamou para fazermos alongamento, em vez disso, mamãe me ajudou a descer os degraus da escada para irmos para cozinha, íamos tomar o café da manhã, mas eu não comi cereal como todas as manhãs, em vez disso comemos omelete e ainda a vovó me deu rosquinhas, elas eram muito gostosas.

— Eu vou sair para comprar roupas novas para Nessie, você quer ir? – vovó perguntou.

— Acho que é melhor não... – mamãe respondeu, a mamãe estava com uma voz triste, mas eu não sabia o porquê.

— Ainda tem monte de jornalistas em frente a nossa casa! – o vovô falou irritado, entrando na cozinha, ele estava com umas sacolas, mas eu não sabia o que tinha lá dentro e nem como ela apareceu, continuei comendo a minha rosquinha. – Não adianta expulsá-los!

— Você sabe amor que eles vão permanecer em volta da casa por alguns dias... – vovó disse.

E eles continuaram reclamando desses tais de jornalistas por algum tempo. Depois de comer fui para a sala e olhei o meu pedaço favorito do lá fora, a janela, mas quando olhei para o lado de fora, o que vi foi um monte de pessoas e câmeras, eles olharam para mim e CLIC foi um flash, mamãe aproximou-se de mim e me puxou, tirando-me da janela.

— Não é para você olhar pela janela! – mamãe falou.

— Por quê? – perguntei para ela.

— Tem jornalistas, não quero que eles fiquem tirando fotos suas... – ela respondeu. Mas eu não entendi para que eles iriam querer foto minha. Mas eu obedeci a mamãe e não olhei mais pela janela.

Durante a tarde vovó voltou com monte de roupas novas e também com brinquedos, eu ganhei mais três bonecas e uma casinha de bonecas, mas ainda não sei como se brinca com ela, vovô chegou com brinquedos também, ganhei alguns ursinhos e um negocio de montar que mamãe disse que se chama monta-monta.

O telefone de casa tocou varias e várias vezes, papai foi atendendo e passando para mamãe, mamãe disse que era nossa família que queria falar com ela, parecia que eles iam vir nos visitar nas próximas semanas.

Vovó e vovô colocaram todos os meus brinquedos novos no canto da sala, antes eu tinha só uma boneca que Nick me deu, agora já tenho vários e nem sei se vou conseguir brincar com todos eles.

— Assim vocês vão mimar muito ela... – mamãe disse para o vovô.

— Ela merece Bella... – disse o vovô.

Eu fiquei apenas olhando aquele montão de brinquedos, eu ainda não havia acostumado em ouvir as pessoas chamando a mamãe de Bella, e ainda eu não havia acostumado viver em uma casa tão grande, mas eu queria ver mais coisas, eu queria ir lá fora, mas mamãe não deixava por causa dos jornalistas. Eles pareciam que queriam nos atacar com aquelas câmaras, e mamãe parecia querer fugir deles.

Vovô e vovó compram muitas coisas para comer. Antes tinha dia do biscoito que era sábado e eu só podia comer cereal de bolinha de chocolate no meu aniversario, mas agora eu podia comer biscoito e cerais de bolinha de chocolate todos os dias, também não tínhamos horário para comer, eu podia comer as cinco e pouco, ou as seis e pouco ou até ás sete e pouco a mamãe disse. E então eu comi um monte de coisas novas. Tinha uma coisa verde crocante chamada rúcula, que tinha um gosto muito picante, eu gostei das batatas com as bordas crocantes e das carnes todas cheias de listras. O pão tinha uns negocinhos que arranhavam a minha garganta, que eu tentei catar, mas aı́ fez buracos, e a mamãe disse para eu deixar para lá. Havia morangos que ela disse que tinham um sabor celestial, como é que ela sabe que gosto tem o céu? Não conseguimos comer tudo. mamãe disse que a maioria das pessoas se empanturra de qualquer jeito, e que era pra gente comer só o que queria e deixar o resto.

No outro dia, o vovô trouxe uma pessoa em casa durante a manhã, era um advogado, eu não sabia para que ele servia, eu só sei que a mamãe também queria ser uma advogada, mamãe me explicou que ele estava ali para nos auxiliar, mas eu não entendi nada.

Ele os chamava de doutor Morris, minha mamãe, o vovô e a vovó ficaram um tempão conversando com ele, e enquanto eles conversavam eu brincava com a casinha de boneca que eu havia ganhado, agora eu já sabia como brincar com ela, fiquei lá brincando e depois de um tempão o advogado foi embora.

— Você tem certeza que você quer isso? Você está preparada filha? Você sabe que falar sobre o assunto pode te deixar nervosa... – a vovó falou para mamãe.

— Eu sei mãe, mas é como o Dr. Morris falou, esses jornalistas vão ficar nos perseguindo até nós darmos a entrevista, então é melhor nós resolvermos isso logo, eu só quero falar, para dar o que eles querem e cair no esquecimento... – a mamãe respondeu e depois suspirou.

Eu não entendi nada, mas eu sei que isso deixou a mamãe nervosa o resto do dia, mamãe estava comendo as unhas durante a noite e ficava andando pelo quarto, ás vezes ela ia até a janela e olhava para o lado de fora, depois caminhava até a cama e se sentava nela, mas não ficava nem cinco minutos sentada, pois logo depois se levantava e voltava a andar pelo quarto.

— Mamãe, tá tudo bem? – perguntei a mamãe.

— Sim, tá tudo ótimo! – ela disse, mas acho que a mamãe mentiu. Mas eu voltei a assistir desenho, e de repente não sei em que momento foi, mas eu apaguei.

No outro dia, mamãe ainda estava nervosa, ela vestiu uma saia preta e uma camisa branca, ela também me vestiu com uma das roupas novas que a vovó me comprou, assim que sairmos do quarto as coisas estavam diferentes, pois a sala de estar estava toda mudada, cheia de pessoas, luzes e maquinas. A mamãe me colocou numa cadeira no canto, beijou a minha cabeça e cochichou uma coisa que não escutei. Ela foi para uma cadeira maior e um homem prendeu um grampinho preto no casaco dela. Veio uma mulher com uma caixa de cores e começou a pintar o rosto da mãe. Reconheci o nosso advogado, o Morris, que estava lendo páginas.

Vovó e vovô se aproximaram de mim, e vovó colocou a mão no meu ombro, eu me incomodei, mas não me desvencilhei porque mamãe já me ensinou que é falta de educação. Pois vovó é da família.

— O que a mamãe vai fazer? – perguntei a vovó.

— A sua mãe vai responder umas perguntas... – vovó respondeu, eu não entendi porque precisava de tantas luzes, câmeras e pessoas para apenas responder algumas perguntas.

— Precisamos ver o material editado, além da edição off-line — o advogado Morris disse a alguém. Ele é mais velho que a mamãe e é mais novo que o Nick, ele é branco, tem cabelos pretos e usava um óculos, mas não escuro, o óculos é preto e quadrado. Ele olhou para mim e agitou os dedos. — Pessoal! – disse mais alto. — Atenção, com licença! A menina está na sala, mas não deve ser mostrada pela câmera, nada de fotos, instantâneos para uso pessoal, nada, estamos entendidos?

Aí todo mundo olhou para mim e eu fechei os olhos. Quando abri, uma pessoa diferente estava apertando a mão da mãe, uau!, Era a mulher de cabelo estufado do sofá vermelho. Mas o sofá não estava. Essa mulher eu vi na televisão quando vivíamos no quarto e eu nunca vi uma pessoa real da televisão antes, a não ser nós mesmos, até o papai a mamãe disse que era impossível de eu conhecer, pois ele passa muito tempo na televisão acertando as bolas na cesta. Parece que essa mulher arrumou um tempinho para nos visitar.

Era legal ver alguém da TV, mas eu preferia que fosse a Dora.

— A introdução é a sua abertura em cima das imagens aéreas do galpão — um homem dizia para essa mulher da TV — Depois fazemos um fade-out num close dela, e aí vem á tomada dupla.

A mulher do cabelo estufado me deu um sorriso largo. Todo mundo falava e andava pra lá e pra cá, e eu fechei os olhos de novo e apertei os buracos do ouvido como o Dr. Clay disse pra eu fazer quando for demais. Alguém contou “Cinco, quatro, três, dois, um...” Vai ter um foguete?

A mulher do cabelo estufado fez uma voz especial, com as mãos postas pra rezar.

— Primeiro, deixe-me expressar minha gratidão e a gratidão de todos os nossos telespectadores por você conversar conosco apenas sete dias depois da sua libertação. Por se recusar a continuar a ser silenciada.

A mãe deu um sorrisinho.

— Você poderia começar por nos dizer o que mais sentiu falta, nesses seis longos anos de cativeiro? Além da sua família, é claro.

— Dos dentistas, na verdade. — a voz da mãe estava toda aguda e rápida. — O que é irônico, porque eu detestava até fazer limpeza nos dentes.

— Você emergiu em um mundo novo. Uma crise econômica e ambiental global, um novo presidente...

— Nós assistimos à posse pela televisão — a mãe disse. — Bem, mas muita coisa deve ter mudado. – a mãe encolheu os ombros. — Nada parece tão totalmente diferente assim. Se bem que ainda não saí de verdade, ainda nem fui ao dentista e estou começando a sentir uma forte dor de dente! – a mulher sorriu como se fosse uma piada. — Não, quer dizer, tudo traz uma sensação diferente, mas é porque eu estou diferente, muitas coisas eu havia esquecido como que era, eu tinha me esquecido dos sabores de algumas comidas, da sensação de sentir algumas coisas que eu não conseguia sentir dentro do cativeiro...

— Como o que?

Mamãe demorou algum tempo para responder.

— Como é sentir o calor do sol... – ela respondeu.

—Você se sente mais forte depois de tudo o que aconteceu? – a mulher da televisão perguntou e novamente mamãe demorou algum tempinho para respondê-la.

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— Eu acho que tive que aprender a ser forte, eu tive que amadurecer, pois minha filha dependia disso...

— E realmente agora você é uma jovem extraordinária, com uma história extraordinária para contar, e nós estamos honrados por ser nós, por sermos nós... — a mulher desviou os olhos para uma das pessoas com as máquinas. — Vamos tentar isso de novo. — Tornou a olhar para a mãe e fez a voz especial. — E é uma honra para nós que você tenha escolhido este programa para contar sua história. Agora, digamos, em sı́ndrome de Estocolmo, muitos de nossos telespectadores estão curiosos, bem interessados em saber se de algum modo você se descobriu... Emocionalmente dependente do seu captor...

A mãe rapidamente abanou a cabeça.

— Eu o odiava... – a mulher da televisão concordou com a cabeça. – Para mim era impossível gostar da pessoa que me prendeu e me deixou longe da minha família, que impediu que eu estudasse, que me impediu de viver, eu nunca consegui compreender o porquê ele fez isso...

— Ele nunca te contou? – ela perguntou.

— Não, ele queria que eu fosse mulher dele, eu não sei se era algum problema emocional ou algum problema de cabeça que ele tinha, eu só sei que ele é um homem bem descontrolado! – mamãe respondeu. – Eu fiz de tudo para ficar longe dele, eu dava pontapés e gritava. Uma vez, acertei-o na cabeça com a tampa do vaso sanitário. Eu ás vezes não tomava banho, e durante muito tempo eu me recusei a falar.

— E a sua filha Renesmee, ela é filha desse homem?

A mãe pôs a mão em cima da boca. O Morris interrompeu, folheando as páginas:

— Cláusula... Ela não quer falar sobre isso...

— Ah, não vamos entrar em nenhum detalhe — disse a mulher do cabelo estufado — Mas parece crucial estabelecer a sequência... As pessoas querem saber se a filha dela é do sequestrador...

— Não, na verdade, o crucial é cumprir o contrato — ele disse.

As mãos da mãe estavam todas tremendo, ela botou as duas embaixo das pernas. Não estava olhando pra mim, será que esqueceu que eu estava ali? Falei com ela na minha cabeça, mas ela não ouviu.

— Acredite — a mulher disse para mãe — Só estamos tentando ajudar você a contar a sua historia ao mundo. — olhou para o papel no seu colo. — Pois bem. você se descobriu grávida dentro do cativeiro?

Mamãe engoliu um seco.

— Eu... Eu preciso de agua! – disse a mãe bastante nervosa.

— Certo! Corta, tragam agua para ela! – a mulher de cabelo estufado respondeu, e depois se levantou.

Mamãe parecia estar nervosa. Mas eu não entendia o porquê ela estava assim, quando ela foi beber agua notei que ela estava tremendo pra caramba, o copo balançava na mão dela, e os olhos dela estavam começando a ficar molhados. Acho que aquela mulher da TV não estava fazendo bem para mamãe não.

— Está melhor? – ela perguntou.

— S-Sim... – ela respondeu.

— Podemos continuar? – ela perguntou, e mamãe concordou com a cabeça.

— Certo, vamos lá!

Novamente eles fizeram aquela contagem: Cinco, quatro, três, dois, um. Mas nenhum foguete voou.

— Há cinco anos atrás, você deu à luz sozinha a um bebê saudável, em condições medievais. Foi a coisa mais difícil que você já fez? – ela perguntou, mamãe soltou um suspiro e sorriu levemente.

— Foi a melhor coisa que me aconteceu...

— Bem, isso também, é claro. Toda mãe diz...

— É, mas Renesmee foi minha salvação, ela é tudo. Ela me fez lembrar de que eu estava viva, eu voltei a ter importância para alguém, eu sou importante para ela, pois ela depende de mim e isso fez lembrar-me que eu precisava ficar bem, para ela ficar bem... – mamãe suspirou e olhou-me rapidamente, eu não entendia direito o que ela estava dizendo, mas eu sorri para ela e ela sorriu para mim também. – Se eu não a tivesse, eu não sei o que teria acontecido, provavelmente eu teria tentado me suicidar...

— Entendo e depois que ela nasceu, tudo mudou, não mudou? – a mulher perguntou olhando para seu papelzinho.

— Sim, claro, eu comecei a funcionar no piloto automático sabe? Tipo mulheres perfeitas, tudo para manter Nessie em segurança!

— E descobrir como cria-la sozinha, sem livros, nem profissionais especializados, e nem ao menos parentes, deve ter sido terrivelmente difícil, para alguém que não tinha nenhuma experiência com bebes...

— Sim, confesso que foi difícil, porque eu não sabia dar banho em bebes e nem trocar fraldas, mas, acho o que os bebes querem, basicamente, é ter a mãe presente. O meu maior medo é de que a Nessie adoecesse, e eu também, porque eu precisava estar bem para cuidar dela...

— Lá estavam você e o seu bebê, condenadas ao confinamento solitário...

A mãe abanou a cabeça.

— Nenhuma de nós duas jamais esteve só, nem por um minuto.

— Bem, sim. Mas é preciso uma aldeia para criar um filho, como dizem na África...

— Quando você tem a aldeia. Mas, quando não tem, talvez bastem apenas duas pessoas.

— Duas? Você quer dizer você e...

O rosto da Mãe ficou todo duro.

— Eu me refiro a mim e a Nessie.

— Ah.

— Nós fizemos isso, juntas.

— Encantador. Posso perguntar... Sei que você a ensinou a rezar para Jesus. Sua fé era muito importante para você?

— Era parte do que eu tinha para transmitir a ela.

— Também entendo que a televisão ajudou a fazer os dias de tédio passarem um pouco mais depressa, não é?

— Nunca fiquei entediada com a Nessie. Nem ela comigo, acho que não.

— Que maravilha. Agora, você tomou o que alguns especialistas têm considerado uma decisão estranha, ao ensinar a Nessie que o mundo media onze pés por onze, e que tudo mais, tudo o que ela via na televisão, ou de que ouvia falar em seu punhado de livros, era apenas fantasia. Você se sentia mal por enganá-la?

A mãe fez uma cara não amistosa.

— O que eu devia dizer a ela? “Ei, há um mundo inteiro de diversão lá fora, e você não pode ter nada dele”? Fiz isso para proteger ela, ela era muito pequena e eu não tinha mais o que dizer para ela, eu não tinha como explicar que estávamos em um cativeiro...

— Bem, tenho certeza de que todos os nossos telespectadores estão familiarizados com os detalhes emocionantes do seu resgate...

— Fuga — disse a mãe e sorriu direto pra mim.

Fiquei surpresa e sorri de volta, mas ela não estava mais olhando.

— “Fuga”, certo, e como você se sente pelo sequestrador ainda estar desaparecido?

Mamãe ficou um tempo em silencio antes de responder.

— Eu tento não pensar nisso, eu tento não pensar mais nele...

— É você teve a sensação de que esse homem, em algum nı́vel humano básico, mesmo que de maneira deturpada, se importava com a filha?

Os olhos da mãe ficaram apertados:

— A Nessie não é filha dele... – ela suspirou. – Ela não é filha de ninguém, a não ser minha...

— Isso é a mais pura verdade, num sentido muito real — disse a mulher. — Eu só estava pensando se, em sua opinião, a relação genética, biológica...

— Não havia relação nenhuma — ela falou entre os dentes.

— Mas ela é filha biológica dele? – ela perguntou.

Mamãe começou novamente a ficar nervosa.

— A única coisa que tenho a dizer sobre isso, é que ela é minha filha, apenas minha, e de ninguém mais...

Os olhos da mãe se espremeram ainda mais.

— Certo, quando você pensa agora no seu captor, isso a deixa corroı́da de ódio? — ela esperou. — Se ele for capturado e você ter que enfrenta-lo no tribunal, você acha que algum dia conseguirá encontrar disposição para perdoá-lo?

A boca da mãe se contorceu.

— Isso não é, digamos, uma prioridade. Penso nele o mínimo possível, como já disse...

— Você se dá conta do facho de luz em que se transformou?

— Oh... Desculpe, o que disse?

—Um facho de esperança — disse a mulher, sorrindo. — Assim que anunciamos que farı́amos esta entrevista, nossos telespectadores começaram a telefonar, enviar e-mails, mandar mensagens de texto, dizendo-nos que você é um anjo, um talismã de bondade...

A mãe fez uma careta.

— Tudo o que eu fiz foi sobreviver, e criar a minha filha da melhor forma o possível, e tenta-la fazê-la feliz, mesmo nas condições em que estávamos, tentamos juntas, transformar aquele lugar em um lugar nosso, da qual a companhia uma da outra fosse o suficiente para que pudéssemos ser felizes, e acho que consegui, na melhor medida o possível... – os olhos da mamãe encheram-se de lágrimas. – Acho que todo ser humano faria a mesma coisa, é a sobrevivência, temos esse instinto, certo?

— Você é muito modesta.

— Não, não sou modesta... – mamãe deu uma risada. – O que eu estou é irritada, na verdade... – a mulher do cabelo estufado piscou os olhos duas vezes. — Toda essa postura reverente... Eu não sou santa. — a voz da mãe foi ficando alta de novo. — Gostaria que as pessoas parassem de nos tratar como se fossemos as únicas que já sobreviveram a algo terrı́vel. Tenho encontrado coisas na internet em que você nem acreditaria.

— Outros casos como o seu?

— Sim, mas não só... Quer dizer, é claro que, quando acordei naquele galpão, achei que ninguém nunca tinha sofrido tanto quanto eu. Mas a questão é que o que aconteceu comigo não é uma invenção nova. Tem casos de pessoas que ficaram muito mais tempo que eu em cativeiro, eu sei que seis anos não é um dia, mas, por exemplo, a Natascha Kampusch ela é um grande exemplo disso, ela passou por um dos maiores sequestro da história de que se tem noticias, mais de oito anos, três mil e noventa e seis dias em cativeiro, quando ela foi capturada ela só tinha dez anos de idade, imagina, uma criança com essa idade que viveu no mundo real e tiraram isso dela, ela foi bem mais forte do que eu, porque eu ainda tinha dezessete anos e ela só tinha dez anos, e com dez anos ela conseguiu ter o mesmo instinto de sobrevivência que eu, se eu sou uma santa então o que ela é?

— Então você pode dizer que admira Natascha Kampusch? – ela perguntou.

— Acho que temos algo em comum, que foi sofrer nas mãos de um maníaco... – mamãe respondeu.

— Certo, você disse que ela foi presa com dez anos de idade, certo? – a mulher de cabelo estufado perguntou e mamãe confirmou com a cabeça. – É, e sua filha que nasceu em um cativeiro, acha que foi mais fácil para ela do que para Natascha?

Mamãe ficou em silencio por alguns segundos antes de responder.

— Sim claro, porque como eu disse, ela conheceu o mundo e perdeu isso, minha filha não conhecia o mundo, ela achava que o mundo que ela tinha era aquele que ela vivia, e ela era feliz naquele quarto...

— Ela era iludida certo?

— Ela era uma criança! Qualquer lugar para ela onde tivesse a mãe, já era o suficiente...

— Mas você nunca pensou que poderia te dado algo de diferente a ela? Quando ela nasceu você não pensou que seria melhor para ela, se o seu captor a deixasse em um hospital ou em um orfanato? – ela perguntou.

Mamãe a olhou com os lábios entreabertos.

— Por que eu pensaria isso? – mamãe perguntou.

— Para que ela fosse livre... Para que ela pudesse conhecer o mundo e não vivesse na mesma situação em que você vivia, que ela pudesse ter amigos, escola, os gramados, nadar, brincar no parque de diversões...

Mamãe ficou um tempo em silencio, seus olhos novamente encheram-se de lágrimas.

— Não... Eu nunca pensei nisso...

+++

Mamãe ficou triste quando a mulher de cabelo estufado foi embora, eu só não entendia porque, será que é por que aquela mulher queria que ela ficasse assim? Mamãe não disse para mim que estava triste, mas eu sabia que ela estava, pois ela ficou deitada na cama o dia todo que nem quando vivíamos no quarto e ela ficava triste por causa do Nick.

Eu estava ali, em volta dela, sem saber muito que fazer. Eu me sentia esquisita quando mamãe estava assim. Mas vovó me levou para sala e fiquei algum tempo com ela, brinquei com alguns brinquedos e assisti televisão, a noite quando fui para o quarto, mamãe já estava dormindo, fiz o mínimo possível de barulho para tentar não acordá-la.

No outro dia, achei que mamãe ia voltar ao normal, pelo menos era assim quando vivíamos no quarto, ela ficava triste um tempinho, mas depois voltava a ficar alegre. Mas dessa vez não, não, não foi assim. Mamãe também não quis se levantar da cama, e eu já estava cansada de ficar no quarto a vendo dormir.

— Bella? – vovó falou, entrando no quarto. Já tinha passado o horário do café da manhã, eu já tinha comido, comi rosquinhas, bolinhos e uma omelete, mas mamãe nem desceu para comer. – Você não vai comer?

Mamãe deu um gemidinho e botou a cabeça embaixo do travesseiro. Eu estava em pé, do lado da cama dela e assim que eu vi ela esconder o rosto, eu comecei a chacoalha-la. Mamãe tirou o travesseiro do rosto e me olhou, ela estava vermelha.

— ME DEIXA NESSIE! – ela gritou. Mamãe quase não grita, e aquilo me assustou, dei alguns passos para trás e fiquei olhando para mamãe com os olhos arregalados.

— Bella, o que você tem? – a vovó perguntou, fechando a porta com força, ela se aproximou da mamãe e mamãe olhou para ela, as duas pareciam nervosas. – Eu te alertei, era melhor não ter dado essa entrevista idiota, eu falei para você não fazer isso...

— Não é só a entrevista, tá legal? – a mamãe estava com uma voz chorosa. Ela sentou-se na cama e encarou a vovó.

— Então é o que? – vovó perguntou.

— Tudo, tudo mãe, eu percebi com essa entrevista como a minha vida é uma droga, eu acabei com ela e ainda fui tão egoísta ao ponto de destruir os primeiros anos da vida da minha filha!

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— Não, você não destruiu nada... – vovó disse.

— É o que eu queria acreditar mãe, mas olha o que eu fiz, eu fiz a minha filha se fingir de morta para fugir daquele quarto, ela poderia ter morrido, Nick poderia ter matado ela, Nick poderia ter a violentado, e eu agindo como uma idiota querendo acreditar que eu estava fazendo bem para ela, mas como isso poderia ter sido bom para ela? Sabe mãe, por muitos anos eu fiquei a escondendo dentro de um guarda-roupa, e ainda para me sentir melhor, eu ficava criando ilusões acreditando que éramos felizes assim, mas não, não éramos felizes, minha filha hoje não conhece nada e a culpa é toda minha, foram seis anos, quer dizer, passaram-se seis anos e só agora fui me dar conta de quanto tempo passou, as pessoas casaram, as pessoas se formaram, as pessoas construíram carreira, o mundo girou e todo mundo fez algo, agora eu... – mamãe suspirou. – E ainda o único homem que amei na minha vida está para se casar com uma modelo... – lágrimas começaram a cair dos olhos da mamãe. – Eu fiz tudo de errado na minha vida!

— Filha, não fala isso... Agora as coisas podem ser diferentes, você duas tem toda vida pela frente...

— Como eu vou tirar esse sentimento de mim? Eu fui egoísta, além de eu errar, além de eu cometer um monte de erros atrás de erros, eu ainda impedi que minha filha fosse livre, eu a obriguei a ficar do meu lado, sofrendo dia após dia comigo... – mamãe colocou a mão no rosto e começou a chorar, e a vovó aproximou-se dela, sentou-se na cama e a abraçou. Eu fiquei ali em pé, no cantinho do quarto olhando a mamãe. Ela chorava muito, assim, as lágrimas iriam acabar.

+++

Mamãe não quis se levantar o dia inteiro, ela nem almoçou, vovó me levou um pouco para sala e assisti um pouco a Dora, e depois brinquei um pouco com os meus brinquedos novos, mas eu não conseguia esquecer que mamãe estava triste no quarto, eu estava com medo de tentar falar novamente com ela e ela gritar de novo comigo, ela parecia chateada, ela parecia estar muito triste e eu não queria que ela ficasse de mal comigo.

Eu queria ficar com a mamãe que nem quando vivíamos no quarto, lá estávamos sempre juntas, ela sempre estava do meu lado, mas agora parecia que ela não gostava mais de ficar comigo como antes.

Eu comecei a chorar, e logo que vovó percebeu que eu estava chorando ela se aproximou correndo.

— Nessie, por que você está chorando? – vovó perguntou agachando-se na minha frente.

— Mamãe não gosta mais de mim, a mulher da TV falou coisas feias para ela, que a fez ficar com raiva de mim... – eu disse.

— Não filha, ela só está triste, é normal ás pessoas grandes ás vezes ficam tristes, mas depois passa, ela não deixou de te amar, ela te ama muito, você é a pessoa mais importante para ela... – disse a vovó.

— Mas ela gritou comigo, ela não quer ficar comigo... – eu disse.

— Ela só estava nervosa, espera um pouquinho, garanto que logo a tristeza dela vai passar... – vovó sorriu para mim e me deu um beijo na testa. E então eu parei de chorar.

Fiquei a tarde toda na sala, à noite comemos lasanha, vovô assistiu desenho comigo e depois assistimos umas pessoas de terno e gravata falando algumas coisas, o mundo fazia as cenas mudarem muito rápido, pois do nada as pessoas saiam e apareciam outras coisas no lugar, era bem confuso, vovô depois me explicou que aquilo era jornal.

Vovó foi ver a mamãe algumas vezes, mas ela não queria sair do quarto, era estranho, pois antes mamãe queria viver no mundo, só que agora parecia que ela não queria sair de dentro do quarto de novo. Parecia que as coisas estavam voltando para trás, só que dessa vez não tinha o Nick.

Quando eu estava com sono eu fui dormir no quarto com a mamãe, ela estava virada para o outro lado, coberta com o cobertor, ela nem se mexia, eu me cobri também e fiquei encolhida olhando para ela, eu estava com medo, mas cheguei a chacoalha-la de leve chamando ela. Mas mamãe só resmungou, e não virou para me olhar.

Então virei para o outro lado, continuei encolhida e senti vontade de chorar, mas eu não chorei. Eu não queria que as minhas lágrimas acabassem.

Teve um momento em que eu apaguei, mas foi tudo como num piscar de olhos, de repente eu estava de volta, vendo o quarto da mamãe. Eu virei para o lado e vi que mamãe não estava ali, então eu desci da cama e comecei a chama-la e fui até o corredor.

Eu vi que a luz do banheiro estava acesa e a porta estava um pouco aberta, então eu me aproximei e abri a porta.

Eu dei um grito.

Mamãe estava caída no chão, os vidros de comprimido dela estavam abertos na pia, parecia quase tudo vazio. Nunca mais de dois, essa é a regra, como é que eles podiam estar quase todos vazios, onde os comprimidos foram?

— Nessie? Nessie o que foi? – ouvi a vovó perguntar, ela entrou no banheiro, viu a mãe caída no chão e ficou tão assustada como eu, ela se agachou e colocou a mamãe no seu colo.

— Bella? Bella? AI MEU DEUS! Charlie, Charlie! – vovó começou a gritar. Vovô apareceu na porta e ficou branco quando viu a mamãe. – Chama a ambulância, chama a ambulância agora!

Vovô saiu correndo do banheiro, e eu fiquei olhando para mamãe, eu gritei “mamãe”, “mamãe” e algumas lágrimas caíram dos meus olhos, eu sabia que mamãe não estava bem, pois por mais alto que eu gritasse, não foi alto o bastante para ela acordar.

Continua...