Sempre ao Seu Lado

↠ .Cole. ↞

Era sempre uma tortura deixá-la ali. Seu cheiro, seu calor, seu riso, sua presença. A partida fazia minhas mãos tremerem pela mescla de emoções e sentimentos interligados ao lobo e mesmo que não demonstrasse, eu sempre hesitava quando tinha que inevitavelmente partir. Não pelo lugar, mas por ela, por tudo que ela me presenteou sem sequer saber.

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Eu não queria mais viver assim, ela precisava saber; precisa saber. Mas nunca parece ser o momento certo, nunca parece ser a porra da hora certa, e nem precisei esperar pelos avisos sutis de Renesmee para entender que enquanto Amberli ainda estivesse com aquela criança na barriga eu não poderia adiantar um passo além das minhas pernas. Era frustrante, e desesperador contemplar o centro exclusivo de toda a minha existência e propósito, e saber que ela sequer tem a mínima noção de que me tem inteiramente na palma de suas mãos, totalmente rendido.

Ainda não era a hora. Mas quando seria?

Ah, Lee!... Respirei fundo, sentindo o vestígio do seu cheiro em meu corpo contra todos os aromas dentro do carro. Eu aguardaria o tempo que fosse para que cada local que eu tocasse tivesse seu cheiro.

Ouvi meu celular vibrar no painel, ativando a tela, mostrando a realização de uma chamada que em segundos vinculava ao veículo. Pressionei o botão que havia no volante para atender a chamada e controlei o volume no ambiente. Era a minha prima Rebecca que me ligava.

Você está no trabalho? — foi o que me disse quando aceitei a ligação.

— É muito bom saber que você está bem, Rebecca. Eu não estou no trabalho, mas deveria. — manobrei sob a rodovia deixando o território dos Cullen cada vez mais para trás.

É, fiquei sabendo que estão querendo comer seus rins por você estar longe de Ilwaco por mais de dois meses. — ela emendou o assunto.

— Reclamam como se eu não estivesse no controle de tudo. — reclamei altivo.

Estão com inveja do meu marido ser seus olhos e ouvidos naquele lugar, sendo que ele nunca havia pisado naquelas terras. Tirando isso, aqueles homens te amam. — encerrou o assunto — O quão perto você está de La Push? Eu preciso de um favor seu.

— Perto o suficiente. Pode falar. — mantive a velocidade.

Estou presa em Forks com a Allison, não vou conseguir buscar a Kay a tempo. Hoje foi o último dia de social e a tutora realizou uma festinha para os alunos...

— Não é mais fácil apenas me pedir para buscá-la? — interrompi seu monólogo.

Você ainda deixa a cadeira dela no carro?! — não estava confiante.

— Claro. — sinalizei minha saída da rodovia, dirigindo para a primeira entrada para as terras Quileute. Dei uma rápida conferida pelo espelho do retrovisor se a cadeira estava mesmo ainda ali.

Obrigada! — algo chiou por trás da sua voz — Eu irei ligar para a gerência da Recreação, para avisar quem irá buscá-la. Creio que eles me atendam antes que você possa chegar lá, mas espere eu te retornar antes de comunicar a portaria.

— Vou esperar. — concordei.

Está bem. E... Você pode ficar com ela para mim, só por mais uns quarenta minutos? Talvez uma hora? — parecia temer minha resposta.

— Você está querendo tomar meu posto de padrinho da Kaylee aos poucos?

O que?! Não, não!... — sua voz guinchou em negação — É que você ainda vai para o porto e hoje estávamos pensando em ir na casa da vovó Emily e do vovô Sam, só que ainda está cedo e eu ainda estou aqui...

— Amy, sou eu. — a chamei pelo segundo nome de maneira casual, quando éramos mais novos, era bem mais comum a chamarmos assim; principalmente eu. Agora só o uso quando vejo ser necessário — Não é a primeira vez que vou buscá-la e não será a última. Vá direto para a casa dos nossos avós, a Kay vai passar um tempo comigo.

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Tudo bem. — soou convencida — Eu vou ligar na Recreação, te retorno logo. Ah, por favor não deixe a Kay muito próxima dos píeres. — dei minha garantia de que seguiria suas ordens. Nos despedimos e encerramos a ligação.

Pensei em uma maneira simples de agradar a menina. Fazia alguns meses que eu estava empenhado de ter um papel devidamente ativo na vida dela, honrando a posição de ter sido escolhido para ser seu padrinho. Rebecca já havia deixado bem claro que eu não poderia mimá-la mais do que ela naturalmente já era, então eu fazia minha parte em pequenas coisas, e em uma delas era com refeições. Quando ela queria, Kay se transformava num diabo da Tasmânia, comendo de tudo e mais um pouco, principalmente por ter um metabolismo rápido demais. Então não faria mal algum em comprar um sanduiche para ela a essa hora da tarde. Ela reclamaria de fome antes da hora do jantar de qualquer maneira mesmo. Dirigi até o drive-thru mais próximo, realizando o pedido e voltando para a rota inicial. Quando cheguei nas dependências, estacionei o carro nas vagas externas, recebendo a ligação da minha prima, confirmando a retirada da menina em meu nome.

Caminhei até o portal da gerência do prédio, pedindo entrada para buscá-la. Um jovem quileute que eu não conhecia deu baixa na identificação do responsável, por autorização de um dos pais e pediu para que eu aguardasse a tutora chegar com a criança. Fui passado para o outro lado do arco e não muitos minutos depois, Kaylee surgia com um sorriso fechado que tensionava as covinhas que havia em suas bochechas, caminhando ao lado da tutora atravessando o pátio aberto que havia no interior do estabelecimento. A pequena mochila rosa estampada de donuts balançava às suas costas, um sinal claro de que ela realmente havia gostado do presente. Seus cabelos castanhos escuros estavam repartidos e trançados em ambas laterais e ela não usava o uniforme. Seus pés protegidos por tênis preto com detalhes em rosa mal se destacavam com a meia grossa branca com faixas coloridas sobre suas panturrilhas infantis, ela vestia um short-saia preto todo envolvido em tule com brilhinhos e uma blusa de manga curta branca decorada com estrelas, faixas e letreiro escrito “Girl Power”. Realmente houve uma festinha por ali.

Apesar do sorriso contido em seus lábios miúdos, ela não parecia estar realmente feliz; mas abriu um sorriso satisfeito no momento em que a moça permitiu que ela corresse até o portal para vir em minha direção.

— Padrinho!! — ela exclamou em nossa língua, grudando-se em mim, praticamente se escalando em meu corpo. A sustentei em meus braços mais fácil do que esperava enquanto aguardávamos a mulher vestida no uniforme docente se aproximar para dispensá-la devidamente. Olhei atentamente para o seu rostinho delicado, me atentando ao pedacinho de gengiva exposta que havia ali, a troca do seu primeiro dentinho em evidência.

— Boa tarde. — a mulher cumprimentou bem-educada em nossa língua. O local preza muito pela evidência da nossa cultura — As instruções para o próximo ano letivo serão enviadas para os e-mails dos responsáveis. Se houver qualquer dúvida, eles poderão nos contatar. Tchau Kaylee, aproveite as férias. — a mulher sorriu para ela.

— Tchau tutora Sofia. — ela se despediu em nossa língua nativa acenando sua mão esquerda na direção dela — Vou sentir sua falta. — minha afilhada confessou na despedida. A mulher não a respondeu em palavras, apenas sorriu de modo compreensivo e acenou com a mão em adeus.

Me virei com ela em meus braços caminhando para fora do local e quando alcancei o pavimento externo, Kay quis caminhar, então recolhi sua mochila que até parecia estar vazia de tão leve e caminhamos em seu ritmo em direção do automóvel. Sua expressão infantil aos poucos se transformava numa carranca insatisfeita, seus passos eram duros contra o chão. Franzi minha testa tentando de antemão captar o motivo dela estar assim. Mais dois passos agressivos contra o solo fora o suficiente para que eu insistisse com ela para me contar o que estava acontecendo.

Kaylee não era reclusa, ela facilmente dizia o que pensava e sentia sem esforço algum para os membros da família, então ela não perdeu tempo para relatar como estava triste pois, de acordo com ela, sua amiga mais próxima não havia participado da festinha. Os pais da garota já haviam avisado que eles estariam viajando na data de hoje e a pequena ao meu lado havia insistido de que não queria estar na festa sem a menina. Sua insistência não comoveu a mãe o suficiente.

— ...E eu falei para a mamãe que eu não queria vir. — os olhinhos castanhos escuros giraram nas órbitas — A Luna nem veio hoje... Só a Elara e o Leo. — lamentou mais uma vez.

— Você nem devia estar reclamando Indiazinha. Hoje foi seu último dia de aula, seus outros amigos também estão sentindo falta da Luna e você deveria comemorar o recesso. — afaguei sua mãozinha com cuidado, sua mochila infantil balançava em minha mão direita. Nos aproximávamos do meu carro.

— Recesso? — ela repetiu a palavra com estranheza, os poucos fios de sua sobrancelha se moveram ao arquear — O que é isso? — levantou sua cabeça para olhar para mim.

— Isso é uma palavra, que quer dizer que você ficará uns dias sem ir para a escola. — expliquei pressionando o botão que destrava as portas e alarme do automóvel.

Seus olhos pesaram debaixo das pálpebras puxadinhas com a constatação e olhou-me séria — Férias? Porque você fala tão difícil, Padrinho?

— É coisa de adulto. — fiz uma justificativa chula, abrindo a porta traseira da cabine para ela. Ela ficou em silêncio. Estendi minha mão para ajudá-la, instigando-a a subir.

— Mamãe e papai são dois adultos e não falam palavras difíceis. — ela rebateu sabiamente quando suas mãozinhas se apoiaram em mim e deu um pulo para dentro do carro — Mas fica legal com você falando, tá bom tio Cole? Só por isso eu não vou reclamar para a mamãe. — ela riu travessa. Devolvi a mochila em suas mãos.

— Desse jeito sua mãe vai achar que você encontrou a Nereida por aí. — me referi a protetora das águas salgadas, que infantilmente era descrita como uma criatura que aprontava travessuras. Esse era apenas um conto quileute.

— Isso seria impossível para mim, tio Cole! — ela dramatizou deixando seus ombros caírem — Mamãe não me deixa nadar quando podemos ir para a praia.

— Você é muito nova para isso ainda... E eu tenho uma coisa para te dar. — mudei de assunto antes que ela ficasse mais chateada.

— Ah?! — ela aspirou o ar de maneira engraçada arregalando os olhinhos puxados, procurando em minhas mãos de maneira ansiosa — O que?! — gritou animada.

— Espera, Indiazinha. Você nem sentou na cadeira, eu preciso afivelar o cinto ainda. — ela o fez no mesmo momento, acomodando o corpinho sobre a cadeira encaixada no banco do carro — Agora sim... — aprovei prendendo-a com os cintos e fechando a porta.

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Entrei no carro, dando partida e virei meu tronco na sua direção vendo em seus olhos a pergunta ansiosa que ela queria fazer. Puxei a caixa característica do fastfood deixando a frente de suas vistas, a menina se animou imediatamente, jogando sua mochila no assoalho do carro, estendendo seus bracinhos com anseio.

— Oh! É a caixa da surpresa de férias! — ela comemorou balançando os dedos a frente dos braços estendidos para a caixa em minhas mãos — Obrigada, Padrinho! — ela quase gritou em agradecimento. Deixei que ela arrancasse a caixa da minha mão — Wow! Ainda não havia ganhado nenhum desse! — ela dizia para si mesma ao abrir a caixa e procurar pelo brinquedo simplório que havia por lá — Huum, eu amo esse sanduíche!

— De nada! — havia um sorriso em meus lábios quando me virei pra manobrar o carro para que saíssemos do estacionamento, pelo retrovisor pude vê-la lamber os lábios. Tive que rir — Você quer ir comigo no Porto ver os barcos que navegam em alto mar? — perguntei para ela enquanto fazia o trajeto.

— SIM!! — não se conteve em gritar com a boca ocupada. Quase fechei meus olhos pelo incômodo momentâneo nos meus tímpanos. Suas pernas se balançavam em euforia. Eu teria que me acostumar rápido com o hábito frequente que as crianças têm em gritar.

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— É por isso que quase nunca a gente vai na praia. — Kaylee resmungava atrás de mim terminando de vestir a capa de chuva que outrora estava impecavelmente dobrada dentro de sua mochila — Olhe lá fora. Aqui só chove! — colocou os novos pertences na mochila fechando-a e aguardou que eu saísse do veículo para que ela pudesse sair também.

— Um dia você se acostuma, Indiazinha. — disse para ela assim que abri a porta da cabine.

— Eu queria ir para uma praia... — ela estendeu sua mãozinha em direção a minha para que eu a ajudasse a descer.

— Um dia você irá. Há praias incríveis espalhadas pelo mundo. — tentei animá-la enquanto guiava seu corpinho para a direção exata do meu destino. Eu daria a oportunidade de ela zanzar pelos píeres na volta.

— E aí eu irei viajar de avião! — ela sorriu lindamente, erguendo seu rostinho para me olhar — Você vai estar lá comigo né Padrinho?! — seus olhos brilharam com a ideia.

— Eu e seu pai teremos que tirar umas férias então... — meneei com a cabeça inclinado a acatar seu desejo no mesmo instante. Se meus dias estivessem estáveis o suficiente, eu teria pensado nessa possibilidade mais seriamente do que agora.

— Um dia todo mundo vai pra praia, tio Cole. Toda a nossa família! — ela afirmou com convicção. O sorriso largo e infantil ainda adornava seus lábios.

— Então vai muita gente. — pensei na quantidade aproximada do que ela pode estar se referindo à “família”.

— Sim! Isso que é mais legal! — ela balançou a cabeça, confirmando. Suas trancinhas se agitaram sobre seus ombros — Wow! São gigantes! — seus olhos desviaram de mim, alcançando os poucos vislumbres das embarcações que ficavam além dos galpões. A peguei no colo para que pudesse vê-los melhor.

— Na volta você conseguirá vê-los muito bem do píer. — dei-lhe um momento para apreciar. Seus olhinhos voltaram-se para mim, suas pálpebras puxadas piscaram e ela sorriu.

Caminhei com ela em meus braços até a sala de monitoramento operacional pensando no melhor jeito de deixar a criança ocupada e o mais distante possível de qualquer objeto tocável da sala enquanto eu organizava as próximas esquematizações de maneira simplória.

Quando parei em frente a porta, eu ainda pensava numa solução.

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O cheiro que percorria todos os cômodos fazia minha barriga roncar como um trator centenário. E não era o único.

Se eu não soubesse que minha presença era uma total coincidência, eu apostaria uma boa grana de que esse jantar já estava sendo planejado há dias. Meus tios e primos todos ali, como se estivéssemos comemorando algum aniversário; apesar de Martim já ter completado vinte e dois anos de vida este mês, não havia outros motivos especiais para nossa reunião familiar. Mas eu estava gostando, era realmente difícil de eu estar com eles. Kay saracoteava pelos cômodos, extremamente alegre e na maioria das vezes me arrastava com ela; eu ia sem contestar, adorava seu jeitinho e queria fazer parte de cada momento ao seu lado. Ela segurava um coelho verde de pelúcia debaixo dos braços pequenos, o brinquedo havia sido confeccionado pela minha avó e ele residia na casa deles, minha afilhada ama esse coelho sem nome e o motivo da pelúcia só ficar aqui, era a grande frequência dela poder ficar com os bisavós, e com o coelho.

Nesses jantares minha avó cozinhava. Apesar de sua insistência retórica, minha mãe e tia Olívia não permitiam que ela se aventurasse na cozinha no dia a dia; então nessas ocasiões ela sempre acompanha todos os preparos de olhos atentos e um sorriso amável no rosto delicado e envelhecido. É gratificante demais ver meus avós aqui com a gente, por vezes imaginei meu pai ali também, cercando minha mãe numa discussão sadia sobre quem usaria tal utensílio.

Vovó Emily esbarrou gentilmente sua mão em mim. Eu estou entre ela, minha mãe, tia e primos na cozinha. Martim estava no corredor, com a mente fixa no seu celular, Kaylee fez seu pai, seu avô Joseph e bisavô Sam sentarem com ela na sala para contarem contos Quileute para ela ouvir pela centésima vez. Minha mãe sempre diz que nossa família é abençoada demais, que ela não trocaria por nada. Eu também não trocaria. Não mais.

— Me conte mais sobre ela Bee-Bee. — vovó Emily pediu; suas mãos leves e frágeis circularam meus braços num afago.

A fala da minha avó fez com que todos os presentes ali atentassem seus ouvidos para ouvir. Rebecca como sempre, era a menos discreta; passando as mechas loiras de seu cabelo para trás da orelha, fazendo-se clara sobre também estar curiosa sobre isso.

— Fale como se sente por estar apaixonado. — Rebecca sorriu matreira, seus olhos brilhavam de curiosidade.

Todos me olharam por um breve momento, parando por segundos tudo o que estavam fazendo, ou terminando de fazer. Fiquei sem jeito com toda atenção que eles me deram no momento, mas não deixei de responder sobre isso. Pelo contrário, meus lábios formaram um sorriso ansioso para tentar dizer tudo o que podia a respeito da Lee.

— Vó, a Amberli é uma mulher extraordinária que possui um amor sem medidas. Ela transmite isso com muita facilidade. — senti um frio na barriga ao coletar as melhores palavras que poderiam descrevê-la. Ainda assim não pareciam suficientes — Ela tem uma filha, ela se chama Hilary e é a cópia dela. — anunciei, apesar de saber que a maioria já sabia.

— A menina tem um nome bonito. — minha avó comentou bem atenta ao que eu falava e claramente esperava ouvir mais.

— E o que você acha dela? — Rebecca se inclinou para ter minha atenção.

— Além de ser extraordinária?!... — arqueei as sobrancelhas dando a entender que isso já me parecia o suficiente. Eles riram, esperando por mais informações — Ela possui muito amor, mesmo sem dizer uma palavra. Acho incrível como ela demonstra que ama a filha dela, que mesmo que sua mãe não esteja mais viva, ela fala da mulher com carinho. — passei meus olhos por cada um da minha família presente ali, sem comentar que a parte sobre sua mãe, eu havia visto através da Nessie — Ela é verdadeira e é obstinada. Eu não conheço nenhuma outra mulher que levaria uma gestação dessa pra frente. É quase um absurdo ser complacente com essa ideia, mas ela decidiu deixar essa criança viva e a cada dia que se passa sua afirmação torna-se ainda mais concreta e deixa todos que vivem com ela cheios de esperança. Vejo nos olhos de Carlisle, Emmett e até mesmo de Rosalie, como estão esperançosos com o seguimento da gestação. Mesmo que tenha uma surpresa a cada dia, numa hora ela está bem, já na outra ela precisa de repouso absoluto e monitoração naquela sala hospitalar. E ela nunca, — enfatizei — nunca demostrou arrependimento. Até hoje ela não voltou atrás com sua escolha. Nem quando precisou de ajuda para respirar, ou quando não conseguiu comer. Ela é tipo: Sim é sim, e Não é não. Ela disse sim para aquela gravidez, nada agora a fará dizer não. E deve ter muitas outras coisas na vida dela que ela tenha dito “sim” ou “não” dos quais ela seguiu em frente com o veredito. Ela é honesta com ela mesma.

— A magia do imprinting nunca erra meu filho. — a voz da vovó Emily teve minha atenção — Ela nasceu especialmente para você, independente da maneira.

— “Olha a cara de bobo que ele tá só de falar dela...” — ouvi Hugo cochichar com Allie. Preferi ignorar.

— “Você também fica assim e nem por isso ele fica cochichando para os outros...” — ela o repreendeu ao cochichar de volta. Ele abraçou-a pelos ombros e resmungou de volta: “Não estou cochichando para os outros, só para você”. Um leve sorriso surgiu nos lábios da minha prima antes dela se direcionar a mim: — Ter uma mulher como ela ao seu lado já está te tornando outro homem. E olha que foram poucos dias! — Allie comentou sorrindo para mim — Já podemos imaginá-la na nossa família?

— Ele ainda não parece ter feito nenhum pedido ainda. — Rebecca cortou as idealizações da irmã — Você já comprou um anel de noivado? — jogou a pergunta.

— O quê?! Por que tão rápido? — questionei.

— Apesar dela ser sua imprinting, ela não faz parte da descendência quileute, Cole. Você não pode achar que ela vai ficar te esperando em Forks para sempre, ela deve ter largado sua vida para vir para cá e pode muito bem estar pensando em voltar. Você tem que pensar rápido. — ela metralhou suas suposições.

— Mas não logo com uma aliança! — Allie interveio contra a sugestão dela expressando uma careta — Que ideia a sua, hein? Ainda bem que o Hugo não ouviu esses conselhos mirabolantes totalmente cheio de falhas. — revirou seus olhos e direcionou a mim — Apenas exponha seu interesse, deixe claro o suficiente de que não é apenas um coleguismo ou qualquer coisa parecida. Deixe-a saber que você a quer na sua vida. — aconselhou com carinho.

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— E não deixe de começar a ver suas opções de anel, ele ainda está na jogada. — Rebecca olhou feio para a irmã — Ainda assim, dê algo para ela. — suas mãos se levantaram rápido para silenciar qualquer um — Você não estará comprando ela, apenas dê algo que possa significar... Seus interesses. Pense nisso como um investimento e tentativa. Pense qualquer coisa vai, mas dê algo para ela!

— Tudo bem Amy, tenho certeza que Bee-Bee irá pensar em algo para agradar a amada. — nossa avó fez com que ela se calasse, indicando apenas com o movimento de seus dedos para ela posicionar as travessas.

Voltamos a circular pelo espaço, terminando de ajeitar tudo o que ainda faltava, o jantar logo seria devidamente servido. Alguns estômagos até roncaram de antecipação — Mas tenho que te lembrar meu querido, — sua voz madura e suave pediu minha atenção. Olhei para onde ela continuava e aguardei — seu presente veio com brindes, não terá reciprocidade dela, se não merecer a filha antes. Então, mostre-se digno tanto dela quanto da família que ela já tem. — ela virou para a minha mãe e comentou baixinho — Que coisa, ele ganhou uma família e tanto. — riu baixinho e seus olhos miúdos pelas pálpebras caídas e a enorme cicatriz de um lado voltaram-se para mim — Não vejo a hora dela estar aqui com a gente, posso me arriscar até a cozinhar para ela, como boas-vindas. — um sorriso largo brilhava em sua feição ofuscando qualquer traço imperfeito que havia em sua pele. Correspondi seu sorriso, passando a idealizar o mesmo. Passei o jogo de sousplat para tia Olívia posicionar — Você já sabe o gosto culinário dela?

— Eu não sei se é influência dessa gravidez, mas ela é facilmente convencia por qualquer culinária doce. — vislumbrei sua imagem totalmente satisfeita por comer aquela sobremesa no imenso jardim de Esme. Ela estava linda com aquele vestido longo florido.

— Receitas de doces quileutes é o que não falta, — tia Olívia falou com fervor, passando por nós com mais coisas nos braços — a melhor maneira de se conquistar alguém, também é pelo estômago meu sobrinho. Nisso, com as receitas da família, você já pode se garantir.

— Ahá! É isso! — Rebecca exclamou estalando seus dedos chamando a atenção — Porque você não conversa com os Cullen responsáveis por ela? Aí eles te ajudam a fazer alguma refeição juntos. Qualquer refeição!

— Se isso acontecesse, eu faria questão de cozinhar as melhores sobremesas da família. — o sorriso da minha mãe quase alcançou suas orelhas, seus olhos brilhantes — Já posso me ver ensinando ela a preparar cada uma... — sua voz soou sonhadora.

— É Cole, podemos fazer. Com certeza ela vai amar! — Allie aprovou a ideia. Pela sua expressão eu pude perceber que ela estava surpresa em concordar com a irmã.

— É verdade. — Hugo concordou — Ela até já comeu a torta da tia Franchesca. — ele contou. Um coro surpreso pela notícia reverberou entre eles, principalmente pela minha mãe. Hugo adiantou-se para explicar — Não foi bem da tia Franchesca, mas a Nessie conseguiu a receita de algum jeito.

— Conseguiu mesmo. Só queria saber que artimanha ela usou... — olhei sugestivo para a minha mãe. Ela tinha um apego tão grande com a herança culinária da família, que apenas Edward Cullen poderia arrancar dela. Bom, Edward nunca teve a oportunidade, mas a filha sim.

— Aquela velhaca, bonita e sem vergonha já usou a minha receita sem mim?! — minha mãe exclamou em nossa língua nativa. Um coro de risadas soou. Ela não estava realmente zangada com a Nessie.

— Não estava sabendo tia? — Hugo se fez de desentendido — Não deve ter ficado tão ruim. Cole até provou. — ele estava apenas cutucando-a sobre sua receita favorita.

Minha mãe crispou os lábios para ralhar sobre o ocorrido, mas ainda bem que não chegamos a ouvi-la, pois no momento que seu fôlego tornava-se um som, Kay surgiu como um furacão entre a gente chamando pela mãe em plenos pulmões:

— Mamãe! Mamãe me socorre! Estou morrendo de fome!

↣ ↢

Estava decidido, e de acordo apenas com a vontade das mulheres da família nada daria errado.

Se fosse possível, elas fariam questão de ter Alice Cullen conosco na mesa de jantar para discutirem a respeito. A ideia foi cavada firme na minha cabeça de que um piquenique com a Lee seria um passo significativo para que eu pudesse adiantar o que ela é, e significa para mim, para logo depois saber o que eu sou e o que posso significar para ela. Como nas palavras de Rebecca: “Ela já está envolvida com sobrenatural o suficiente para conviver com mais um que só lhe trará benefícios”.

Eu espero que ela concorde com a linha de raciocínio da minha prima. Pelo menos só desta vez.

Renesmee já estava ciente, Rebecca fez questão de ligar para ela antes mesmo de ir embora para sua casa, expondo cada detalhe de sua idealização, a garota quase ruiva exultou de felicidade do outro lado da chamada e a voz de Alice se fez presente entre elas. Seu celular ainda registrava a chamada quando se despediu de todos, sendo escoltada pelo marido que carregava a filha adormecida nos braços, e só entrou no carro quando me intimou a pedir a ajuda delas com isso.

↣ ↢

...Desse jeito você vai me fazer gargalhar, sabia? Quê isso Cole, Amberli sempre suspira de amores quando você chega! — eu nunca pensei que um dia estaria falando com Alice Cullen por uma chamada de voz para elaborar um piquenique. Nunca na minha vida imaginei que isso aconteceria.

— Ela vai poder se agachar para sentar sobre a toalha? — fiquei receoso.

Ela não vai poder ficar sentada por muito tempo no chão, então já procurei uma mesa e cadeiras para colocar num lugar muito bacana para vocês ficarem. Tenho algumas opções quanto ao local e quero que você decida isso, pois de qualquer maneira ela terá que caminhar até lá, mas está tudo bem, nada que possa comprometer a saúde dela... Assim eu espero.

— É só me falar um horário que logo estarei aí para ver os lugares. Só que você tem certeza que ela gosta dessas flores? — inquiri com tremor, girando minha cadeira a frente dos monitores, encarando-os dali.

Eu já fucei em tudo que ela trouxe. — ela parecia sorrir ao dizer — Ela tem um carro bem espaçoso, nem deu para acreditar que coubesse tantas coisas dentro dele, tenho convicção de que ela irá amar os detalhes. Eu vou dar um jeito de você ver as flores antes, e não se esqueça do nome, são: Gerberas.

— Tá. — concordei já sabendo que iria esquecer do mesmo jeito — E a Nessie não está participando dessa reuniãozinha porquê?

A perita em decorar e organizar qualquer ocasião e eventos aqui, sou eu! Ela só intermediou seus meios.

— Obrigado, então...

Disponha! — ela respondeu risonha — E qual será o menu? — ela quis saber.

— Ainda não faço ideia, mas será pratos doces. — continuei com meu olhar fixo nos monitores a minha frente, ouvindo o som das contínuas gotas d’água baterem contra os revestimentos, no solo e os chiados das ondas.

Pratos doces... — ela recitou — Tudo bem. Eu pedirei à Esme, se for necessário, para que o almoço dela seja mais leve. Não podemos sobrecarregá-la com muitos alimentos, pode fazer mal. — fiz um som de que concordava com ela — Agora vamos para algo mais importante: o presente. Rebecca disse a mim que quer presenteá-la.

— Oh, isso. — arrumei minha postura sobre o assento, afastando o celular da orelha, pondo-o sobre a mesa a minha frente ativando o viva-voz — Preciso de sua ajuda, Alice.

O que está pensando em dar?

— Esse é o problema. Eu não sei.

Como assim, não sabe? — sua voz soou um pouco confusa e indignada.

— É, eu não sei bem o que dar, pois isso teria que ser útil para a família dela também.

Certo... Você quer algo útil para Amberli, Hilary e o bebê?

— Isso.

Mas não é uma casa?...

— Não?... — franzi minhas sobrancelhas estranhando a relação de uma casa à um presente — Talvez algo que simbolize uma lembrança...

Estou pensando... — Alice me interrompeu. Fiquei em silêncio pelo tempo que ela precisou — Uma joia! — sua voz surgiu com a ideia — Uma não; três! — ela soltou um gritinho animado — Prontinho Cole, já sei o presente perfeito! E o melhor de tudo é que posso providenciar para daqui a poucas horas!

— O que será? — quis saber aliviado.

Pulseiras. Mas pulseiras personalizadas. O que você acha?

— Que tipo de personalização? Com algum brilhante? — pensei em alguns modelos específicos enquanto Alice do outro lado me dizia que haviam infinitas possibilidades — Tenho algumas ideias em mente, Alice.

Pode me falar então, estarei anotando tudo o que desejar.

— Pulseiras de registros.

Descrevi para ela a maneira do modelo que gostaria que a Lee usasse com seus filhos. Imaginei como ficaria no seu pulso e fui explicando da melhor maneira possível como eu queria que as joias ficassem. E como não sabíamos o sexo do bebê híbrido, eu não me arriscaria em pagar pela fabricação de peças exclusivamente femininas.

Até mesmo através de uma chamada de voz, Alice era boa em organizar o pedido que seria feito em uma joalheria de sua confiança e quando achava necessário, dava sua opinião a respeito de como as junções estavam ficando. Por fim, estava dando tudo certo; as placas que levariam os nomes seriam lisas e estreitas, tornando-se um adereço discreto com qualquer composição de roupa que usassem. Alice me ajudou a decidir o material que seria forjado, de acordo com ela, o ouro utilizado era do melhor material para a pele humana. Alguns outros detalhes foram discutidos entre nós e depois de alguns minutos, Alice tinha um esboço criterioso das minhas idealizações e estava particularmente satisfeita com o resultado.

Que lindo Cole. Cada mínimo detalhe das joias foram compostas por você. Isso que é dedicação. — ela parecia bem satisfeita — Se você quiser escrever a punho os nomes, eles fazem questão de gravá-los nas placas. — me informou — Se bem que ela ainda não escolheu nenhum nome para o bebê, mas depois posso devolver a joia para realizarem a gravura sem problema nenhum.

— Fique à vontade para decidir a fonte, Alice. Você tem bom gosto para decidir sobre isso.

Por mim, tudo bem! Eu estarei entrando em contato com a joalheria para a montagem das peças. Pode ficar tranquilo que te entregarei assim que chegar. Ou assim que você estiver aqui em casa. Eles modelarão os detalhes das peças e elas serão joias únicas, você vai gostar.

— Obrigado, Alice.

Não é como se o investimento não tivesse vindo diretamente de você, mas sei ao que está me agradecendo. De nada, Cole. Nos vemos em breve.

Alice encerrou a chamada e meu celular permaneceu sobre minha mesa.

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Eu ficava muito puto quando tinha que trabalhar me sentindo forçado a isso. E eu estava mesmo sendo forçado a trabalhar.

Analisei os comandos de bordo e as estatísticas pesqueiras da semana que eu teria que revisar antes de me reportar à Ilwaco. Respirei fundo ignorando todos os afazeres por um momento e vaguei por meus pensamentos aproveitando o silêncio apaziguador que estava na sala. Inevitavelmente meus pensamentos foram fervorosamente em Amberli. A presença dela em minha mente tinha a incrível capacidade de elevar mesmo que internamente os meus ânimos; digo internamente, pois eu sei a cara de merda que estou expressando por todo o porto mesmo que eu esteja nitidamente mais amistoso e proativo com os demais funcionários, ainda respeitando a minha posição de liderança nos locais. Amberli predominou meus pensamentos e mais uma vez pensei se ela iria gostar do presente e me senti ansioso para tê-la completamente na minha vida.

Para falar a verdade, eu passo os meus dias mais ansioso desde que Amberli apareceu para dar sentido e propósito na minha vida. E não saber sobre como sua saúde estava tornava minha mente inquieta e inevitavelmente transtornava o lobo também; então sempre que eu conseguia uma pausa no trabalho, eu dirigia direto para a estonteante mansão dos Cullen para pelo menos cumprimentá-la e nos últimos acúmulos de horas, mais ainda! Sua gravidez está nos avanços mais visíveis e isso nos mostra claramente como sua vitalidade está precisando ser acompanhada bem de perto por Carlisle, pois a cada dia está ficando mais vulnerável; ontem eu pude compreender o quanto.

Estive na habitação dos Cullen, como de costume. Sempre que era envolvido pelo odor dos vampiros que habitam ali, imensamente doce e ardido, que sempre me dava vontade de retroceder. Eu lamentava pela Lee não poder ficar num lugar que cheirasse melhor, porém compensava o sacrifício por sempre ser bem-recebido pelo seu carinho, e me aliviava vê-la contente pela minha presença, principalmente quando demonstrava através de abraços. Seu aroma me envolvia de uma forma tão revigorante, que era impossível conter o instinto de inalar seu cheiro sentindo a conexão entre mim e o lobo reivindicando divinamente nosso vínculo. Ah o imprinting e suas realizações... Contive o ímpeto de apertá-la contra mim. Nunca me dava vontade de soltá-la.

— Eu estava quase enviando uma mensagem à Renesmee, para saber se ela tinha notícias suas. — ela disse quando nos afastamos um pouco do abraço. Claramente nossa intenção era contrária ao ato que fizemos, eu ainda conseguia sentir sua temperatura amena contra a minha pele e seus feromônios me envolviam. Seu tórax se moveu conforme sua respiração e seus olhos me analisavam. Suas mãos pequenas, em comparação às minhas, ainda estavam sobre meus braços.

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— Porque? — minhas pálpebras piscaram e franzi minhas sobrancelhas.

— Pensei que não viria hoje... — ela admitiu olhando em meus olhos. Contemplei bobamente suas pupilas dilatarem para se adaptar a luz do cômodo, e sorriu para mim, as maçãs do rosto ruborizaram — Quero que jogue comigo hoje!

Amberli insistiu comigo para que ficássemos na sala para que ela me ensinasse a jogar uma partida online no videogame. Hilary estava conosco ali também, com a sua maneira infantil e divertida, ela pediu por minha atenção. Sem qualquer hesitação eu dediquei um tempo com ela, tendo o auxílio da mãe. Logo a pequenina foi sendo vigiada de perto por Alice e Rosalie. Amberli sorria a todo o momento e em todas as oportunidades nossos olhos se fixavam um no outro. Eu queria tanto tocá-la com propriedade, segurar em seu rosto macio sem que aquela fita e aquele caninho que me dava aflição de olhar estivessem ali, queria tanto que ela soubesse toda a verdade sobre mim; sobre meu povo, sobre nós, sobre o imprinting. Principalmente, antes de tudo, sobre o imprinting.

Naquela noite, Lee e Esme fizeram o complô, para que eu jantasse com ela. Não precisaram insistir muito para que eu aceitasse o pedido, apenas tive que mandar uma mensagem para minha prima Rebecca me desculpando brevemente por furar um compromisso com ela. Ainda bem que havíamos acordado de não falar para Kay da possibilidade de eu jantar com elas.

Permaneci na mansão todos os minutos possíveis até que Amberli se despedisse de mim para que fossem dormir.

Quando cheguei em casa, realizei uma chamada de vídeo com a minha mãe, contando-lhe de maneira resumida os acontecimentos do meu dia. Ela me ouvia atentamente do outro lado da chamada; quando lhe perguntei o motivo de ainda estar acordada, ela respondeu que não estava com sono e por isso passaria suas horas crochetando tudo que viesse a sua mente. Quando a perguntei sobre estar fazendo crochê ao invés de tricô, ela me disse que o fazia em ocasiões particulares, ou junto de minha tia Olívia. No momento da ligação ela estava finalizando sapatinhos de bebê.

Passei algumas horas ali, vendo-a manusear a agulha habilmente até que as linhas ganhassem forma, para depois encerrarmos a ligação. Minha mãe ainda faria um chá de ervas finas antes de ir dormir.

Quando pus minha cabeça no travesseiro para descansar, toda a tranquilidade do sono que havia em mim se esvaiu totalmente. Permaneci por um longo período estatelado sobre o colchão, encarando o teto, me sentindo incomodado... Demorou mais um bom tempo para que eu conseguisse me fazer dormir.

E dormi muito mal por sinal.

Foi em intenso terror que acordei no findar da madrugada. Eu havia tido um pesadelo maçante no qual eu não conseguia acordar; onde alguém se afogava nas ondas bravas de La Push e mesmo que eu estivesse no mar, não conseguia alcançar a pessoa.

Saltei da cama todo atordoado, sentindo o choque térmico pelos meus pés sobre o assoalho do quarto, meu corpo pulsava e formigava pelo movimento brusco e o estado de desespero, uma sensação péssima. Meu lobo estava irritadiço, disposto a sair, ocasionando tremores por todo meu corpo em antecipação.

Mal vi os minutos correrem nos momentos após estar sobre quatro patas, se quer fiz questão de tentar me situar enquanto o lobo corria velozmente floresta a dentro. Meus irmãos estavam atentos ao meu comportamento e através da nossa ligação eu pude temer e compreender a reação urgente, conturbada e espavorida entre meu lobo e eu: alguma coisa havia acontecido com a Lee.

Mal percebi minhas pernas se movimentarem mais rápidas que minhas compreensões. Quando vi, já estava na entrada da mansão antes mesmo que o dia amanhecesse, cara a cara com a loira e seu odor repelente, que ardia repugnantemente em minhas narinas. Seu rosto imperfeitamente perfeito me encarava sem grandes expectativas e quando me jogou uma peça de roupa e permitiu que eu entrasse, apenas disse que eu não precisava dramatizar, pois a Lee estava dormindo. Sem caretas, sem olhares altivos e nenhuma linguagem corporal de repugnância. Mesmo que meu raciocínio estivesse confuso e pulsando pavorosamente por mais a respeito de Amberli, não deixei de olhar para o céu, procurando por uma brecha de nuvens, o céu azul, pois isso me parecia um milagre. Ela foi até mesmo gentil em acompanhar meus passos desesperados até a sala, onde a postura serena de Carlisle já me aguardava.

Ele sabia que eu viria.

Olhei para as criaturas pálidas e loiras que dividiam o mesmo cômodo que eu em extrema desorientação. Uma parte de mim, o lobo, se perguntava o que eu estava fazendo ali sobre duas pernas humanas quando claramente o forte instinto protetor parecia arranhar meu crânio com suas garras, insistindo na justificativa de que permanecer ali sem uma posição ameaçadora não estava em seus grandes planos.

Desconsiderei suas investidas. Claramente havia algo preocupante com a Lee e eu precisava compreender e me comunicar com eles de forma eficiente para saber. Balancei minha cabeça tentando calar minha própria conversação sentindo o peso invisível e opressor que me cercava de dentro para fora.

Mesmo que eu não estivesse confortável, me senti no direito de sentar-me no assento do sofá mais próximo, apoiando meus cotovelos sobre minhas coxas e usando o pouco relevo da ponta das minhas unhas contra o couro da minha cabeça, massageando para tentar amenizar a pressão. Carlisle e Rosalie esperaram o tempo necessário para que eu me recuperasse, mesmo que ambos não fizessem noção do que me acontecia. O silêncio era quase palpável, eles sequer respiravam, nem se moviam. Estavam como estátuas de mármore.

Mantive minha respiração constante e moderada, cada vez mais tendo controle e domínio de meus próprios pensamentos. Continuei de cabeça baixa e agucei meus sentidos para procurar a presença de Amberli. Não foi difícil de encontrar, o cheiro ardido da presença de Esme a envolvia com cuidado e a respiração da Lee estava ritmada com auxílio. Apurei meus sentidos para poder compreender o que aquilo significava. Me guiando pelo chiado que era inalado para dentro dos seus pulmões, compreendi que havia um cilindro de oxigênio perto da cama em que ela dormia; ela estava precisando de ajuda para respirar.

— Sabíamos que viria. — ouvi a voz de Carlisle a me falar ao caminhar para mais próximo de onde estou — Você sentiria..., de algum modo.

— Tive um pesadelo horrível!... Afogamento!... Sem ar!... — exasperei ainda me sentindo mal pelo modo de como dormi, acordei e corri para cá. Não pela respiração de fato, mas toda a sensação até aqui. Eu estava duplamente agitado, conseguia ver a cena do pesadelo se repetir infinitamente por trás da minha visão, como um plano de fundo — Onde ela está? O que aconteceu? — agucei mais meus sentidos para ouvir o que mais havia perto dela. Pude escutar os bipes das máquinas ao seu redor e a companhia de Jasper no local.

— Ela está lá em cima, dormindo. Está melhorando. — Carlisle me respondeu.

— O que aconteceu? — perguntei mais uma vez.

— Ontem à noite Hilary chorou muito. — Carlisle se aproximou de mim falando num tom baixo — E isso desencadeou algum desequilíbrio emocional dentro da Amberli, ela está sensível em diversos aspectos. Ela pediu ajuda à minha esposa para acalmar sua filha, e quando Esme conseguiu, Amberli não quis ninguém no quarto e suas emoções saíram do controle, fazendo com que seu corpo externasse tudo. Quando ela ficou assim, Jasper não estava, então clinicamente falando, ela teve uma crise nervosa.

— Eu quero vê-la. — apressei-me em dizer. Era para soar como um pedido, mas saiu como uma exigência severa.

— Não acho uma boa ideia. — Rosalie se manifestou contra. Olhei em sua direção confuso e irritado, analisando sua postura num canto da sala. Sua feição continuava inexpressiva, sequer havia indícios de que sua voz havia saído de seus lábios.

— Ela está sob os cuidados de Jasper agora. — Carlisle me falou — É melhor que continue assim, ela precisa descansar.

— E você precisa se acalmar. — Rosalie emendou olhando-me bem. Voltei meus olhos para ela, extremamente cético — Ou dormir.

— Eu não vou sair... — quis contestar.

— Bom dia, Cole. — Esme surgiu no cômodo, fazendo-me engolir as palavras devido o susto que não expressei. Pisquei meus olhos e mais devagar do que eu esperava me virei na direção de sua voz — Já que você está aqui, deseja algo para o desjejum? Estou indo preparar o café da manhã. — seus lábios se moveram para um lado, como se quisesse dar um sorriso. Parou ao lado do marido analisando os espasmos do meu corpo — Ou se quiser dormir?...

— Não... — Rosalie manifestou mais uma vez olhando de Esme para mim. Houve-me uma paz de espírito quando vi seus olhos altivos sobre mim e um movimento ligeiro e sutil de antipatia espasmar em seus lábios — Ele deveria se transformar num cachorro logo. — a entonação enojada soou por seus lábios.

— Eu não posso ir a lugar algum enquanto a Lee ainda estiver naquele lugar. — deixei claro para ela.

— Tudo bem, não precisamos de nenhuma possível exaltação a essa hora do dia. — Esme deliberou rapidamente. Seus olhos amarelos e gentis continham um teor sério da autoridade matriarcal do território. Sustentei seu olhar com um pedido mudo de desculpas — Muito bem. — aprovou nosso silêncio consentido — Cole, eu gostaria de uma companhia para preparar o desjejum, se puder me acompanhar até a cozinha... — maneou a cabeça, indicando as escadas.

Contive um suspiro, me levantei do sofá sem pressa e acompanhei seus passos.

— Hilary não vai demorar muito a acordar. — ela me disse quando já não estávamos na sala — Ela sente que a relação com a mãe está estremecida... Pobrezinha... — suspirou triste — Ela nem pode compreender o que está acontecendo.

— Poucos compreenderiam a decisão da Lee. — comentei baixo no momento que entramos na cozinha.

— Sim, isso também. — Esme concordou num lamento.

Num gesto de mão simples, Esme indicou as banquetas do balcão para que eu me sentasse enquanto assistia ela preparar um café da manhã para Amberli, mesmo não tendo certeza se ela acordaria ainda no período diurno. Tornei-me espectador de sua tarefa, olhando cada movimento seu realizado com perfeição, até eu me perceber relaxado sobre o assento da banqueta.

Para uma vampira, ela tinha um senso culinário realmente muito bom. Não era à toa que quase ninguém conseguia rejeitar, mesmo que educadamente, qualquer alimento que ela oferecesse. Passei um bom tempo ali com ela, facilmente me esquecendo de Rosalie e o quanto ela é esquisita.

Esme como a mãe que era, conversava comigo falando de sua família, num momento ou outro ela me contava alguma novidade vinda de Hilary e até mesmo de Amberli. Algumas vezes ela quase aprofundava o assunto sobre a Lee, mas antes que eu pudesse entender do que se tratava, ela mudava de assunto e eu seguia seus novos interesses. Era compreensível que Esme se incomodasse em revelar algo sobre Amberli do qual ficasse em dúvida se a mesma se constrangesse. Algumas coisas não devem ser compartilhadas, e eu esperava saber diretamente dela, um dia.

O cômodo estava envolvido em vários aromas apetitosos. Esme havia preparado sozinha donuts doces e salgados, bolinhos red velvet, panquecas, s’mores e até funnel cake e queijo Brie com torradinhas e bebidas quentes. Por mais que cada receita fizesse pequenas porções, houve quantidade o suficiente para mais de duas pessoas.

Particularmente isso me pareceu um exagero.

Esme posicionou os pratos, jarros e travessas muito bem sobre o balcão da ilha e olhou-me com expectativa.

— Fique à vontade. — indicou suas mãos para os alimentos.

Esme fez-me companhia durante a refeição, suas palavras gentis seguiram-me durante todo o tempo em que ficamos ali. Comentei com ela a respeito do possível piquenique que Alice estava me ajudando a ter com Amberli. Se Esme já estava ciente, ela interpretou muito bem que não, pois ela se empolgou de forma genuína e também se dispôs a cozinhar algumas porções, se eu quisesse sua participação. Não desconsiderei sua oferta, faria uma grande diferença toda a diversidade culinária, e como a formiguinha que a Lee era, poucos pratos poderiam desagradá-la.

Eu lavei a louça e as pratarias de Esme naquela manhã. Ela ficara horrorizada quando eu me pus a frente da pia não permitindo que suas palavras me fizessem desistir da ação que eu agilmente já realizava; um pouco contrariada, a matriarca da família permitiu que eu finalizasse a lavagem, mas que ficasse longe do local durante todo o resto do dia, se eu permanecesse ali.

Por mais que eu parecesse tranquilo e despreocupado, meus sentidos estavam sensíveis e gritavam a qualquer mudança no cômodo em que Amberli ainda estava. Carlisle estava lá, movia-se de um lado ao outro fazendo sabe-se lá o que. Esme me chamou para retornarmos para sala, assenti caminhando para a mesma direção de orelhas em pé, atento aos movimentos que Carlisle realizava ao redor de Amberli. Jasper permanecia ao lado dela, numa voz baixa ele informava a Carlisle como estava o emocional dela. Pelo jeito, ele estava usando seu dom desde que ele havia entrado ali. Isso fazia horas. Mantive-me atento, ansioso para receber novidades sobre alguma melhora significativa.

Rosalie não estava mais no cômodo, eu ainda não havia sentido a presença de Emmett ou Alice no local, mas em compensação tínhamos a companhia de uma Renesmee de olhos bem abertos, trazendo Thomas e Jacob em seu encalço.

— Não me digam que algo de ruim aconteceu com a Lee?! — foi a primeira palavra que ouvimos sair de seus lábios quando ela surgiu. Dei-lhe um olhar insatisfeito ao ouvir a maneira que ela a chamou.

— Ficamos preocupados..., pela forma que Cole correu para cá... — Thomas explicou entre as palavras dela subindo os últimos degraus da escada, Jacob confirmou.

Não os respondi de imediato, deixei que Esme se pronunciasse. Só de lembrar como cheguei aqui, dava-me uma sensação de um vácuo obscuro no estômago e nós em minhas entranhas. Nada apaziguador ou confortável.

— Calma Nessie, seu avô e eu já controlamos a situação, agora ela está melhor. — Esme acolheu-a em seus braços e Renesmee a tocou — O pior já passou meu bem. — Esme passou seus dedos pelos cachos amassados da outra. As mãos de Nessie continuavam em contato com a pele da vampira, claramente conversava com ela através de seu dom — Ela teve uma crise nervosa durante a madrugada; cuidamos dela...

Explicamos a situação dela para o trio. Na verdade, Esme havia explicado, já que esteve com a Amberli na maior parte daquele período. Como bons dramáticos que são, Renesmee e Thomas fizeram seu show. Não era por mal, eu sabia e até mesmo compreendia; só que eu quis muito a paciência de Esme para suportá-los ali com ela, mas simplesmente não dava. Meu corpo demonstrava claros sinais de desassossego e o lobo rogava por liberdade. Meus olhos se moviam de um lado para o outro, na esperança oculta de que magicamente o ambiente sufocante se tornaria pacífico.

Então a intolerância praticamente se findou quando Rosalie surgiu na sala com a pequena Hilary inquieta em seus braços gelados. A menina tinha os olhos arregalados e procurava avidamente por algo ou alguém. Quando os olhinhos castanhos encontraram Esme ela estendeu seus bracinhos na direção da mulher, seus lábios formaram um bico e chorou alto. Resignada, a loira deu a menina para Esme e logo juntou-se naquela baderna dramática e interminável, focando-se particularmente em mim. Pouco me fodia os pensamentos inúteis que Rosalie achava que tinha sobre minhas ações e pensamentos! Tudo bem que ela gostava da Lee, entendia isso mais claro do que as nuvens acima de nós, só que tem sensações, pensamentos, sentimentos e ações em mim que estavam além de sua compreensão vampírica e a criatura não parecia satisfeita em manter-se calada, apenas aceitando que além de não ser da sua conta eu não estava a fim de gastar meu tempo com ela.

Apenas queria ver a Lee e aguardaria o tempo que fosse para isso.

Um barulho me trouxe à realidade. Levei meus olhos em direção a porta assim que o som de um punho contra o revestimento de madeira e aço soou. Era Carl acompanhado de Renata, uma agente ambiental de Forks; ambos estavam responsáveis pelos benefícios marinhos e pesqueiros entre as tripulações que trabalham comigo e a cidade. Me levantei recepcionando-os. Carl não esperou muito, se quer fez menção de uma elaboração mais diplomática na companhia da mulher, apenas nos reportamos sobre o necessário, e em trinta minutos foram embora.

Caminhei pela sala esperando entediantemente o tempo passar. Sem perca de tempo eu retrocedi meus pensamentos a horas trás me relembrando de que na verdade, eu não pude aguardar por Amberli; notícias correm rápido, então foi questão de tempo até que a situação chegasse não só aos ouvidos sábios da minha mãe, mas de toda a minha família.

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O mais conturbador era a suposição de que algo ainda pior havia acontecido com a Lee. Isso gelou meus ossos apenas em imaginar uma situação pior que isso pudesse acontecer a ela. Soube disso através de Taylor, que por consentimento do alfa e de Carlisle, pode entrar no território dos Cullen para me avisar de que minha mãe estava na casa de Rebecca, muito preocupada e que sua inquietação estava deixando Kaylee assustada. Ignorando os escorraço da loira que me dava nos nervos, eu me vi indeciso entre permanecer ali, aguardando por Amberli ou ir ao encontro da minha família que continha fatos distorcidos. Taylor pesou em minhas decisões e antes que partíssemos, Jacob deixou com sua autoridade de alfa muito bem informado a qualquer ouvido que pudesse o ouvir naquele momento, de que eu só pisaria meus pés ali novamente apenas quando Amberli já não estivesse mais naquele cômodo paramentado.

E mantive o acato até o presente momento. Sentia-me ansioso pra caralho, olhando a todo o momento para o relógio, torcendo pelo momento em que me avisariam sobre a Lee mais uma vez.

Contornei a mesa de registros posicionada estrategicamente num ponto da sala e saí do recinto muito disposto a inalar o ar salino que se impregnava em meus poros diariamente. Passei por algumas pessoas durante minha caminhada por nenhum lugar específico, atravessando píeres e cumprimentando co-capitães que realizavam suas atividades de acordo com as normas. Vagamente me vi caminhar para longe do portuário até estar destravando o alarme de segurança do carro e me acomodando dentro do automóvel. Franzi minhas sobrancelhas passando meus olhos sobre o painel, envolvi as chaves em minhas mãos e descansei minhas costas sobre o encosto, hesitando em dar partida no carro. Para onde eu deveria realmente estar indo?

Meu celular vibrou entre os tecidos de minha calça; como o carro não estava ligado, o aparelho não estava conectado ao som ambiente do automóvel, então tive que arrancá-lo de dentro do bolso e atender a ligação. Senti um frio ansioso pinicar a pele do dorso das minhas costas quando li o nome do remetente no visor, atendi no mesmo segundo já dando partida no carro.

— Pode falar! — minha voz irrompeu pelos meus lábios, mais rápido do que eu pretendia. Manobrei o veículo habilmente para sair da minha vaga no estacionamento.

Ela já está no quarto. — Jacob me respondeu sem rodeios — Nessie me ligou algumas vezes horas atrás, mas só pude retornar suas ligações e mensagens agora. Você... Pode ir até ela.

— Seria estranho te falar que eu já estava saindo daqui, sem nem perceber?!... — comentei meio rindo, meio assustado com a percepção, acenando vagamente para o casal de seguranças na guarita, partindo velozmente para a rodovia — Caralho, que... Estranho?

Não é estranho, Cole. É o imprinting te conduzindo. Apenas vá, cuide dela. Você saberá o que fazer.

Eu não tinha certeza se eu saberia o que fazer, mas parti para o terreno dos Cullen sentindo minhas mãos suarem contra o couro que revestia o volante. Jacob tratou de encerrar a ligação, eu estava ocupado o suficiente dirigindo.

De longe, ao entrar na pavimentação da propriedade dos vampiros, vi que Alice me aguardava ao lado de Renesmee e Esme com Hilary nos braços. O sorriso imenso naquele rosto miúdo, pálido e encantado deixava meu lobo desconfortável, até porque ela ainda continuava sendo uma vampira, mas a postura das mulheres representava boas notícias, então afundei mais ainda meu pé no acelerador.

Esme cumprimentou-me com seu jeito acolhedor. Hilary, que outrora estivera quietinha nos braços frios da mulher, soltou um guincho animado estendendo as mãozinhas para mim, passando a balbuciar resmungos impacientes. Toquei em suas mãozinhas observando o momento em que ela envolveu meus dedos com vontade, usando a oportunidade para tentar se desprender de Esme. Entre seus resmungos e grunhidos, assisti ao momento em que a pequena criança se aborreceu com a situação, nos olhando um tanto decepcionada com o pedido negado e passou a chorar, sentida por estar sendo contida em vir a mim. Esme suspirou, mas não resistiu em deixá-la quando eu falei que estava tudo bem, que Hilary podia vir comigo. O cessar do choro foi instantâneo.

Alice de maneira eufórica me felicitou com a notícia de que Amberli foi “transferida” para o quarto. Esme detalhou um pouco mais as informações. Renesmee acrescentou que ela ainda continuava a dormir, mas estava muito bem estabilizada e que tinham novidades.

— As joias já foram confeccionadas! — a voz fina de Alice cantarolou — Espero que você goste do resultado final, pois eu particularmente aprovei a composição! — seus dentes quase me convidavam a sorrir também.

Renesmee moveu a cabeça em concordância, seus cabelos estavam semi preso numa presilha de pedraria, deixando seu rosto mais exposto. Alice continuou a falar, toda animada sobre a confecção das joias, e nessa mesma animação deixei Hilary, que chorou quando a devolvi aos bons cuidados de Esme e Renesmee, para que Alice me fizesse conhecer os melhores pontos de encontro que o terreno da família poderia oferecer.

Trilhas pavimentadas de pedras nos encaminharam à diferentes esquemas de caramanchões em locais estratégicos entre as árvores e algumas clareiras que eu sequer cheguei a imaginar que existiriam dentro dos limites das terras deles; talvez elas naturalmente não existiam mesmo.

Por fim, me decidi pela clareira mais próxima da mansão da família, para não dificultar tanto a locomoção da Lee, e mesmo que o lugar não seja decorado com caramanchão ou sequer tenha flores posicionadas estrategicamente em seus pontos altos, Alice me garantiu de que a clareira era uma tela em branco, cheia de potencial da qual ela poderia decorar sem empecilhos.

— ...E com Gerberas! — ela me contou entusiasmada, quando fotografou o local exato onde posicionaria uma mesa.

Seus dedos pequenos, finos e mortamente pálidos deslizavam de um lado para o outro contra a tela do tablet em seus braços, com um aplicativo ela posicionava itens decorativos na imagem capturada, dando novas percepções e cores ao local. O que antes era vazio, estava se tornando um espaço íntimo e azul, a decoração seria marcada pela flor azul. Até mesmo as pesadas nuvens cinzentas colaborariam para o destaque da flor.

— Alice. — a chamei com uma preocupação surgindo em meus pensamentos.

— Hum?! — olhou para mim por cima de seus ombros — Hei, qual dessas mesas você prefere? Podemos usar a de madeira Teca, Peroba Rosa e até mesmo essa de Cumaru. — virou o aparelho, ampliando cada imagem para que eu pudesse ver, deixando momentaneamente o projeto — Veja como os detalhes delas são lindos, sem contar a qualidade.

— Todas são bonitas. — analisei as imagens com meus olhos atentos ao seu trabalho — Essa é mais interessante, — apontei — qual é essa mesmo?

— É a Cumaru; legal esse tampo com a madeira exposta né? — ampliou mais um pouco a imagem sem comprometer a qualidade em tela.

— Gostei, acha que vai combinar? — analisei os detalhes do móvel.

— Claro que irá! — ratificou.

— Se você tem certeza... Então escolho ela.

— Perfeito! E o que você queria me dizer antes? — olhou-me curiosa. Olhei para cima, tendo a visibilidade do céu escuro acima de nós.

— E se por um acaso começar a chover? — a perguntei ainda olhando para as nuvens carregadas.

— Chover? — pareceu não me entender.

— Sim, e se acontecer de chover? — olhei de soslaio para ela mantendo meus olhos para o alto.

— Não vai chover. — ela recolheu o tablet contra seu tórax e pelo seu gesto corporal percebi que ela olhou para cima também — Se houvesse alguma probabilidade de chover nem estaríamos aqui Cole. — um sorriso largo emoldurou suas feições — Amanhã será um dia perfeito e disso eu posso te assegurar: sem chuva!

A pequena mulher nos direcionou de volta à entrada da mansão tagarelando muito feliz sobre tudo o que ela estava esquematizando para o possível primeiro encontro que eu e Amberli teríamos, se ela quisesse. Por mais que eu não chegasse ao mesmo nível dramático de entusiasmo de Alice, claramente compactuava com suas expectativas, eu já sinto um puta nervosismo antes mesmo de saber se isso de fato vai chegar a acontecer.

Renesmee parecia nos aguardar na varanda aberta, pelos odores temporários que se mesclavam ao ambiente, alguns dos meus irmãos haviam passado por ali fazia pouquíssimo tempo. Alice me pareceu estranhamente surpresa com a presença de Nessie na varanda, mas nem isso fez com que ela se refreasse em anunciar para a outra que havíamos encontrado o lugar ideal para que a ideia originada pelas mulheres da minha família desse certo. Sem titubear Alice mostrou em detalhes tudo o que havia para ser mostrado e eu fiquei diante delas, observando a interação e aguardando pelos finalmente para que eu tivesse permissão de entrar na mansão. A postura de Nessie ao seu lado me deixava intrigado, não deixei de notar os momentos em que seus lábios espasmavam num movimento ansioso sempre que seus olhos se desviam rapidamente para os meus, como se ela não visse a hora de poder falar alguma coisa contida, e quando Alice se afastou de nós, satisfeita com a atenção sobre si, eu pude dar toda a minha atenção para a mulher à minha frente.

— Me surpreendo de como as vezes você pode ser bem imperfeita quando está ansiosa. — apesar de não ter a intenção, soube que minhas palavras soaram bem grosseiras a qualquer um que pudesse me ouvir.

— Hum. — ela desdenhou, olhando-me bem — Eu precisava chamar sua atenção de uma maneira discreta. — sua voz soou extremamente baixa, o espaço entre suas sobrancelhas começou a ficar corado. Num gesto silencioso ela estendeu sua mão na minha direção; num consentimento mudo permiti que me tocasse — “Minha tia quer falar com você.” — sua voz sussurrou com rapidez dentro da minha mente.

— Mas ela acabou de sair?... — me senti confuso. Não precisei de muitos milésimos de segundos para que minha dúvida fosse sanada, como ela ainda mantinha sua mão em minha pele, logo a imagem da vampira loira com um semblante sobrenaturalmente sereno estava em minha cabeça.

Fiz uma careta; foi bem estranho ver a Rosalie daquele jeito.

O toque quente de Renesmee afastou-se no mesmo momento em que a presença de um corpo ausente de calor saiu de algum acesso a área externa da mansão, aproximando-se do primeiro degrau da pequena escadaria da varanda. A presença imponente da loira a um metro abaixo de mim me aguardava um tanto ansiosa. Analisei sua postura, ainda tentando captar o que estava de fato acontecendo, mas não consegui extrair nada além de que a presença dela ali, era por pura, livre e espontânea vontade. Me choquei com essa constatação e mantive-me imóvel, esperando algum manifesto de sua parte.

— Podemos conversar? — convidou-me a acompanhá-la para ao início do bosque que se formava ao noroeste do terreno.

Num misto de reação, eu apenas decidi segui-la, curioso demais para saber o que justamente a Rosalie queria comigo, e desde quando trocar palavras amistosas faziam parte da sua convivência com metamorfos? Isso poderia ser mais uma prova de que milagres estão mais perto da minha realidade do que eu esperava.

Mantivemos uma distância favorável, o vento que circulava naquele espaço levava nosso cheiro para longe, deixando a presença um do outro mais suportável. Os olhos bem delineados da vampira me olhavam de cima a baixo e seu rosto se mantinha passivo, não me permitindo colher nenhuma percepção do que ela gostaria de tratar diretamente comigo; senti leves espasmos calorosos moverem meus membros enquanto encarava a mulher.

— Você vai falar alguma coisa, ou não? — perguntei olhando para os arbustos de rododendros e as árvores húmidas que nos cercavam, não vendo a hora de estar longe dela.

— Eu estou tentando! — grunhiu irritada e num gesto orgulhoso, escorreu seus dedos sobre algumas mechas loiras do seu cabelo e de modo resistente se permitiu falar — Olha, eu irei te ajudar.

— Me ajudar?! — um riso cético saiu por meus lábios — Com o que exatamente, Rosalie?

— Com a Amberli, é claro. — seus olhos amarelos me encararam duramente, mas sua voz soou doce quando mencionou a Lee — Olha, eu me importo muito com ela e não sou estúpida, ela considera minhas palavras e..., ações. — falava de uma maneira tão carinhosa que eu só podia ouvir o que dizia — Às vezes eu me porto relutante com a alcateia, pois eu realmente não faço questão de fingir não me importar com qualquer um de vocês, só que por ela, eu me importo. — admitiu numa voz calma da qual sequer me lembro de já tê-la ouvido falar assim — Por ela eu me importo, e você faz parte da vida dela agora. Alguma hora ela precisará saber sobre a condição que te une a ela e nada melhor de que já encaminhá-la para isso.

— Então..., você?... — tentei expor em palavras sua... Sua...

Eu não conseguia nem achar a palavra certa para isso.

— Ela inconscientemente já tem a facilidade de reconhecê-lo como parceiro. — suas pálpebras tremeram contra a necessidade dela querer revirar seus olhos naquele momento — O que é bom; só precisamos instigar suas percepções lúcidas ao mesmo ideal, Cole. Então eu pensei comigo: se eu te tolerar e amenizar minha antipatia a ajudará a te aceitar abertamente... — chacoalhou os ombros levemente — Por ela, farei.

— E você chegou a essa conclusão sozinha? — franzi minhas sobrancelhas, surpreso demais com tudo que ouvi sair dos lábios da vampira. Ela encarou-me ofendida.

— Olha, eu estou ao lado dela todos os dias. — pontuou firme — Compartilhamos pensamentos semelhantes e diferentes, e prezo muito por ela. Eu não posso ser uma pedra no caminho de vocês; seria desnecessário e muito maldoso! Eu não sou má. — pontuou muito séria — Eu posso ser chata e não suportar o cheiro horrível de vocês durante todos esses ciclos de anos, mas sou sensata e quero o melhor para a vida dela.

Houve um breve momento de silêncio absoluto entre nós quando o som da sua voz findou sob nossos ouvidos.

— Obrigado. — irrompi o silêncio extenso, agradecendo surpreso e sensibilizado por suas palavras.

— Quero que a Amberli seja genuinamente feliz. Ela tem uma grande família agora. — seus olhos cortaram contato visual com os meus, elevando seu olhar para a copa das árvores que nos cercam.

Tornamos a ficar em silêncio.

— Hei, gente. — simultaneamente olhamos para a origem do som da voz de Nessie a nos chamar nos degraus da varanda a bons metros de distância — Amberli já acordou. — deu-me a melhor notícia.

Minhas pernas trataram de se moverem até a entrada da mansão mais uma vez, e desta vez eu entraria lá. Ansioso, fiz o bom uso da minha audição sensível, procurando algum indício verídico de que ela estava acordada. Não que eu tenha duvidado das palavras de Nessie, mas eu precisava confirmar isso com meus próprios sentidos. E foi um alívio ouvi-la, senti meu corpo bem mais tranquilo, como se, por todo esse tempo eu mal estivesse respirando. Ouvi com alívio como seus batimentos cardíacos estavam normais para um humano e ela articulava palavras sussurradas de maneira íntima e afável. Através da sua voz, eu conseguia ouvir Hilary claramente também. A neném estava sob os cuidados de Esme na sala e parecia estar com o humor melhor agora.

— Você. Fica aqui. — ela ordenou de antemão. Estanquei meus passos diante da ousadia de suas palavras. Rosalie, que já se encontrava ao lado do marido, no interior da residência riu — Eu vou lá ver como ela está e conversaremos um pouco, logo meu avô irá cuidar dela e aí sim você poderá matar a saudade. — sua mão tocou no meu ombro esquerdo — Ela vai ficar muito feliz em te ver.

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Estava dirigindo para a casa de Jacob Black. Ele e Nessie estavam me acompanhando na viagem e a presença silenciosa deles aqui comigo deixava a situação um pouco menos melancólica. A cada dia que se passava eu detestava ainda mais todas as vezes que tinha que me despedir de Amberli. Sempre parto temeroso de que algo possa acontecer a ela.

Pisquei meus olhos impedindo-me de chacoalhar a cabeça para afastar qualquer pensamento escroto que já estaria surgindo na minha mente. Essa noite, nada aconteceria com ela ou com a criança que ela está gerando, e eu precisava manter minhas convicções assim. Deslizei minha mão no volante sentindo minhas terminações nervosas em contínua ebulição. Em alguns pontos, se eu prestasse mais atenção, poderia facilmente sentir a pele palpitar e até mesmo me fazer relembrar a temperatura morna dela contra o tato de meus dedos e contra a pele sensível dos meus lábios. Minhas mãos pareceram labaredas contra sua pele. Eu mal acreditava no que estava fazendo naqueles momentos, eu só seguia meus instintos e dizia o que achava coerente em falar.

Amberli estava linda. Todos os dias ela está. Mesmo que ela tenha que viver com aquela sonda no nariz e tubos e agulhas nas mãos, aquilo era nada mais que um mero detalhe; um lembrete dos motivos que a trouxeram para mim.

Eu estava surpreso com tudo que eu soube em apenas um dia. Houve declarações e novidades durante todo o momento em que estive no território dos vampiros, e até mesmo temia receber mais alguma coisa. Minha sanidade não era tão estabilizada para suportar mais informações, pois além de Rosalie dar o braço a torcer contra sua antipatia, eu soube que Lee é devidamente divorciada; que teve uma filha antes de Hilary e essa não se parecia nem um pouco com ela, e havia perdido duas pessoas importantes na sua vida: a primeira filha e sua mãe. Essas informações fornecidas pela própria, me fizeram visualizar uma fragilidade tênue que ela parecia encobrir muito bem dos outros e de si mesma; e obtinha êxito, já que Renesmee nunca comentou sobre alguma adversidade pessoal dela que não fora exposta antes, em momento algum. E se a Lee nunca se sentiu confortável em dizer-lhes qualquer coisa a respeito, eu também não farei.

Os pés de Amberli realmente pareciam dois pães, com líquidos retidos por debaixo da pele macia, seus dedos igualmente inchados seguiam em escadinha com unhas pequenas, uniformes e curtinhas. Seus pés eram um conjunto bonito, e sempre se mexiam num espasmo inconsciente quando eu deslizava meus dedos por toda sua extensão para ajudar seu corpo a desinchá-los. E havia seus suspiros. Ah, os suspiros... Sorte a minha que Jake ajudava a estilhaçar qualquer clima luxurioso que poderia envolvermos naquele momento, principalmente por que a causa de estarmos naquela situação era justamente por uma reação física do seu corpo perante a sua gravidez. Engoli em seco, sentindo o fel no fundo da garganta. A coisa toda sobre sua gravidez ainda me deixava desconfortável.

— Estou animada pra amanhã. — a voz de Renesmee soou baixa nas poltronas traseiras, interrompendo o silêncio dentro do automóvel. Olhei para ela através do espelho, seus olhos atentos ao display de seu celular — Não só eu, é claro. — nossos olhares se encontraram através do retrovisor, seu rosto era meramente iluminado pela tela do celular, vi um sorriso cumplice emoldurar seus lábios antes dela se atentar ao seu celular mais uma vez — Rebecca acabou de me enviar algumas fotos: ela e a Olívia já prepararam as porções que você levará amanhã. Sua mãe também, a Ally também... Caramba, praticamente quase todo mundo, até mesmo o Hugo. — seus dedos deslizavam sobre a tela do celular enquanto me notificava — Comida é o que não vai faltar. Se vocês não devorarem tudo, eu posso pegar o que sobrar?

— Ness, você tem todo o tempo do mundo para comer a sobremesa que você quiser. Não precisa ser necessariamente a que eles vão comer amanhã. — Jacob respondeu por mim.

— Não custa nada deixar os doces já encaminhados, — seus olhos deixaram de olhar para a tela do celular para olhar a nós dois a sua frente — isso é... — aproximou-se de nossos bancos, ficando entre nós, seu olhar intercalando entre mim e Jacob — Se for sobrar. — sorriu matreira.

Ficamos um momento em silêncio. Sinalizei minha entrada na rotatória que nos direcionaria à rua da propriedade Black.

— Você está blefando. — afirmei mantendo meus olhos focados na estrada. Pude perceber que ela sorriu mais uma vez.

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— É claro que estou! — exclamou risonha se encostando na poltrona atrás de mim, seus cabelos se esparramaram contra o encosto estofado.

Concluímos o final do trajeto em silêncio. Quando estacionei ao meio fio, Jacob desceu do carro despedindo-se extremamente sucinto ao me falar que Leovanni estaria comigo durante as próximas rondas.

— Tchau, Cole. — ela se inclinou mais uma vez sobre o encosto do banco para olhar-me de perfil — Amberli agora está fazendo os monitoramentos de rotina, tia Rose disse que Jasper ficará com ela durante a madrugada. Então não precisa se preocupar, tá legal? Nos vemos amanhã! — deu umas batidinhas no meu ombro e saltou para fora do carro, enlaçando suas mãos envolta do braço de Jacob.

— Nos vemos amanhã, cara. — Jacob ratificou as palavras de Nessie em despedida.

Parti para meu último destino, eu ainda tinha algumas horas de descanso sobrando. Estercei o volante, retornando pela mesma direção que vim, passando a rotatória para ir embora quando meu celular vibrou sobre o painel, como ele já estava vinculado ao veículo, eu apenas pressionei o botão que havia no volante para atender a chamada, diminuí o volume e aguardei o remetente falar. Houveram alguns chiados antes que a voz grave e avançada em idade soasse pelo carro.

Meu filho?... — chamou por mim.

— Oi vovô. O que o senhor faz acordado a essa hora? — sondei com curiosidade sua ligação.

Que os Espíritos guerreiros te protejam, Bee-Bee. — “Que assim seja.” respondi entre sua fala — Você está fora de casa meu filho?

— Estou dirigindo para casa agora vovô, o senhor está precisando de alguma coisa?

Sim... — sua voz se arrastou na chamada, deduzi que o efeito tenha sido causado pelo ambiente onde ele esteja — Mude sua rota, Bee-Bee; preciso de você aqui em casa.