Sempre Em Minha Vida

Capítulo 06 — Segredo Revelado


Rosalie parou o carro em frente à escola primária. Despedia-se de Joshua antes de o sinal tocar. A mente estava cheia, os pensamentos em outro lugar. Apavorada com aproximação de ter de revelar a Emmett toda a verdade sobre o que os levou a separação. Tinha imaginado mil formas de iniciar a conversa, desde que saiu da cama, ainda muito cedo, naquela manhã.

— Se comporte Josh. Não quero receber outra ligação da diretoria pedindo para vir te buscar.

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Joshua manteve a mão na porta o tempo todo, desesperado para saltar do carro e ir encontrar os amigos.

— Você não se atreva sequer ameaçar um colega novamente. Está me ouvindo?

A expressão no rosto do menino revelou que não estava contente.

— Estou ouvindo, sim. Já entendi também.

— Okay, você já pode ir. Já sabe…

Joshua completou antes que ela o fizesse.

— A vovó vem me buscar. Eu já sei.

— Te amo, vida.

— Também te amo, mamãe.

Rosalie observou ele entrar na escola na companhia de uma colega; a garotinha de cabelos castanhos e expressivos olhos pretos. Seu nome era Summer. Ela estava presente em todas as festas de aniversários de Joshua desde que se conheceram na pré-escola. Com certeza dessa vez não seria diferente.

O melhor amigo de Joshua, Dilan, saltou do carro da mãe e foi correndo encontrar com eles. A mochila do Homem-Aranha parecia ter peso demais para sua idade. Ele tinha dificuldade com os movimentos enquanto a carregava nas costas.

Achou melhor partir. Quanto antes pegasse a estrada, mais cedo estaria de volta. Só teria de passar na pousada antes e resolver assuntos pendentes.

[…]

A ansiedade tirou Emmett da cama logo cedo. A noite foi cansativa, tirando cochilos em intervalos de tempo relativamente curtos. Pensou que a cama também não ajudou muito. Sentiu falta do espaço e comodidade de sua cama atual, no apartamento em Nova York.

Colocou uma camisa e uma bermuda de sarja depois do banho e desceu para tomar uma xícara de café na cozinha.

A cafeteira finalizava o processo, quando a voz de Eleazar soou logo atrás de suas costas.

— Acordou cedo.

Emmett se virou, indo pegar a xícara no armário.

— Na verdade, eu mal dormir. Quer um pouco de café? — ofereceu.

— Eu vou aceitar. Obrigado.

Levou duas xícaras para junto da cafeteira e as serviu. A fumaça subindo levando o aroma a se estender pela casa.

— Tudo isso porque vai reencontrar sua namorada da época da escola?

Emmett bebericou do seu café antes de responder.

— Minha ansiedade deve-se ao fato de ela estar cheia de mistérios. Se recusando responder algumas de minhas perguntas antes mesmo do encontro de hoje. Você sabe pai. Ela não foi apenas uma namorada da época de escola, Rose foi a única garota a quem já amei de verdade.

Eleazar pegou sua xícara e foi se recostar a ilha.

— Tem alguma ideia do que possa ser o assunto misterioso.

Emmett terminou mais um gole de café, com a resposta na ponta da língua.

— Nem de longe — respondeu por fim.

Carmen chegou à cozinha com a expressão animada no rosto. A cena levou Emmett a pensar no passado, no tempo em que viviam todos na mesma casa; ele os pais e a irmã.

Mesmo tendo sempre de levantar tão cedo para preparar o café da manhã para ele e Isabella antes da escola, Carmen estava sempre com um sorriso no rosto.

— Sobre o que meus dois rapazes estão conversando? — pediu.

— Emmett estava me dizendo — começou Eleazar — que não conseguiu dormir bem essa noite, imaginando o que a ex-namorada tem para dizer.

— Oh, querido. — Carmen foi até ele, afagou o peito musculoso, e seguiu em frente, pegando uma xícara para servir seu café.

Emmett e Eleazar estavam de pé, cada um de lado da ilha da cozinha. Ela sentou na banqueta logo ao lado do marido.

— Imaginei que isso pudesse acontecer — comentou. — Pelo menos sabemos que não está doente. Fiquei apavorada que fosse algo como uma despedida definitiva. Foi um alívio enorme a ouvir dizer que a saúde estava ótima. — Ela bebericou do café. — Me senti até mais leve. Vou preparar ovos mexidos com bacon para o nosso café da manhã. — Emendou, mudando de assunto. Em seguida, estava outra vez andando pela cozinha. — Gostaria de algo especial para seu café, filho?

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— Nada em especial. Mesmo assim, obrigado.

Ela se virou para falar com o marido.

— E você, meu bem?

— O de sempre, está ótimo.

Emmett sentou-se à mesa do café da manhã ao lado dos pais, embora não tenha ingerido nada além do café preto.

— Tenho de ir para o trabalho agora — lembrou Eleazar. Ele ficou de pé. — Não devo voltar para o almoço. Então nos vemos somente à noite. Até lá, imagino que já estará sabendo o conteúdo da conversa com Rosalie. Quem sabe possa me contar.

— Claro. Tenha um bom dia de trabalho, pai.

Eleazar deu um beijo na esposa e partiu.

— Não quero te deixar sozinho, depois de ter ficado um bom tempo sem vir nos visitar. Se preferir, quando Rose chegar, posso sair para que possam conversar a vontade.

Carmen tinha sociedade em uma clínica de estética, com uma amiga da época da faculdade, onde dedicava parte de seu tempo.

— Não precisa sair de casa, a menos que seja necessária sua presença na clínica. Posso conversar com Rose no porão. Será como nos velhos tempos. Ainda que hoje esteja totalmente diferente de quando estivemos lá pela última vez.

— Você e sua irmã estavam sempre trazendo os amigos para tocar bateria e jogar videogame lá embaixo. Sinto falta da movimentação que era essa casa com vocês morando com a gente. Você aproveitou bem mais o espaço no porão que sua irmã, é verdade.

Um sorriso desenhou os lábios de Emmett junto à lembrança dos tempos de escola.

— Esse sorriso em seu rosto me diz que lembra muito bem de tudo que aconteceu ali.

Como ele não respondeu, Carmen emendou com uma pergunta.

— Então quando é que Rose vai chegar?

— Ela disse que me ligava quando estivesse chegando.

[…]

Mesmo tendo se esforçado para sair da pousada antes do horário do almoço, não conseguiu. Seu almoço foi metade de um sanduíche natural que comeu dentro do próprio carro mesmo enquanto dirigia. A outra metade ficou no embrulho de papel. O nervosismo pareceu fechar sua garganta tornando difícil terminar todo ele.

Dirigiu por cerca de duas horas de New Bern à Raleigh. Gastando mais alguns minutos para chegar ao endereço dos pais de Emmett. Aproveitou uma das paradas no sinal de trânsito para enviar uma mensagem avisando que estava a poucos minutos de chegar até ele.

Mal conseguiu acreditar que estava outra vez em frente a casa deles em um curto intervalo de tempo. Isso a fez pensar em sua adolescência quando, com frequência, ia aquela casa. Houve uma época que duvidou que fosse voltar acontecer um dia.

Respirou fundo, tomando coragem para sair do carro. As mãos suaram em seu curto trajeto até a porta da frente. Tremendo ao erguê-las para tocar a campainha. Deu um passo para trás, respirando fundo enquanto aguardava.

Falou com Deus, pedindo forças para passar por aquele momento. Não seria fácil. Não era tola para achar que seria. Havia ocultado a existência de Joshua para o próprio pai e a família dele. Iria magoar pessoas de quem gostava muito.

Para sua surpresa, foi Emmett a atender a porta. Olhava para o chão quando notou os pés e as pernas. Ergueu a vista para encontrar o olhar dele no seu.

— Rose — Ao chamar seu nome, a voz soou como antigamente. Foi como não houvesse anos de distância os separando.

O coração passou a pulsar mais forte dentro do peito de ambos.

Emmett mal podia acreditar que o que estava acontecendo era real. Estava outra vez frente a frente com seu grande amor.

— Emmett — as palavras deixaram seus lábios num murmúrio. Impressionada com o como estava mais alto e mais forte que a última vez que o viu. Já imagina que pudesse ter ganhado mais massa muscular, claro, eram adolescentes quando se viram pela última vez, mas o físico dele superou qualquer expectativa.

Emmett abriu o sorriso que ela conhecia e lembrava bem. Era o mesmo sorriso que Joshua carregava como herança genética do pai.

— É você mesmo — admirou-se. — E está ainda mais bonita do que me lembrava. Está incrível.

Rosalie reagiu com timidez ao seu elogio. Esfregou as mãos discretamente na lateral do corpo disfarçando o mau jeito.

— Desculpe, estou aqui falando e nem a convidei para entrar. — Ele abriu passagem chegando um pouco para o lado. Não conseguia deixar de olhar para ela. Foi como precisasse de sua imagem o tempo todo para saber que era real.

— Carmen— Rosalie cumprimentou, sem jeito, a mãe de Emmett na sala de estar. Sentia-se como tivesse vivendo a adolescência outra vez.

Carmen se aproximou para cumprimentá-la.

— Seja bem-vinda novamente, querida.

— Obrigada — falou com Carmen ainda finalizando o abraço. Seu olhar pousou em Emmett. Ele estava com os olhos vidrados em sua figura. — Podemos conversar? — arriscou. Estava com um pouco de pressa em fazer o que veio fazer e se livrar logo do peso que toda essa situação causava. — Vai ser uma conversa longa… e terei de pegar a estrada de volta assim que terminar.

Emmett não resistiu em perguntar mais uma vez.

— Onde está morando?

— Você já vai saber.

Ele fez um gesto com a mão indicando o caminho da cozinha.

— Vamos até o porão — sugeriu.

A menção ao porão trouxe memórias aos pensamentos de Rosalie.

— O porão — falou sem pensar.

— Ele já não é mais o mesmo — Emmett fez questão de esclarecer.

Rosalie o olhou, ainda que não tenha sido sua intenção, como pedisse uma explicação. Por um instante, se sentiu tola por pensar que o local ainda pertencia a eles.

— Você lembra o caminho? — ele perguntou, avaliando sua expressão todo o tempo.

Rosalie balançou a cabeça, afirmando.

— Vou preparar algo para vocês comerem quando terminar — Carmen fez questão de lembrar.

Rosalie imaginou que toda dedicação em preparar algo para comerem seria em vão. Duvidava que depois da conversa que teriam nenhum deles estivesse com apetite.

Emmett deixou que fosse à frente. Ainda que não tenha sido intencional, não pôde deixar de reparar no modo sensual como movimentava o quadril. Lembrou-se de todas às vezes que teve o prazer de apertar os dedos naquela carne macia. Ainda lembrava como aprenderam um com o outro a serem amantes.

Ela parou diante a porta fechada do porão. Emmett chegou mais para frente abrindo a porta para que pudesse passar. Sentiu o aroma de seu perfume um pouco mais de perto. Já não era mais o mesmo, ainda assim, tão bom quanto. Pegou-se desejando roçar os lábios no pescoço e na nuca dela uma vez mais.

Rosalie desceu a escada com a bolsa embaixo do braço. O olhar atento a cada mudança que aconteceu no porão desde sua partida.

— Realmente, não é mais o mesmo — concordou. Estava no espaço central do porão, olhando o grande e espaçoso escritório que havia se tornado.

Emmett parou atrás dela.

— Meu pai transformou num escritório para ele. É aqui que ele fica quando trabalha em casa.

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— Ficou muito bom. — Seu olhar foi na direção onde antes ficava a bateria. Em seguida, o local onde ficava o sofá-cama e a estante com o videogame. Um piscar de olhos a levou de volta ao passado. Nem mesmo percebeu o momento em que fechou os olhos.

Emmett sabia exatamente o que estava acontecendo, porque foi a mesma coisa que aconteceu a ele ao pisar ontem no porão. Foi incapaz de controlar os sentimentos. Chegou ainda mais perto, aspirando ao aroma na pele do pescoço dela como havia desejado fazer desde que passou pela porta minutos atrás.

Rosalie estremeceu com a suave carícia, se permitindo encostar ao corpo dele. As palavras soaram sedutoras e perigosas ao pé do ouvido.

— Senti sua falta… todos esses anos.

Abriu os olhos ao toque das mãos dele em sua cintura. Ficou de frente para ele. Os olhares se encontram, se demorando além do necessário.

Resistindo às memórias. Ao que ainda sentia por Emmett, lembrou.

— Não somos mais o casal de adolescentes… — indo contra tudo o que queria se afastou dele. Era mais seguro assim.

— Podemos não ser mais adolescentes, ainda assim, somos jovens.

— Emmett, conversar aqui embaixo talvez não tenha sido uma boa escolha. Está impregnando de lembranças, ainda que não esteja igual.

— Por que isso te incomoda?

— Não me incomoda. Só está tirando o foco do motivo pelo qual estou aqui. O que me fez te procurar.

— O que te fez me procurar, Rose? — ele exigiu. O tom de voz de quem desafiava dizer a verdade.

— Você tem de prometer ouvir até fim. Sem julgamentos.

— Como posso prometer isso quando nem mesmo sei do que se trata?

— Podemos nos sentar? — ela propôs.

— Claro — Emmett indicou o sofá ao lado da mesa de escritório onde estavam as coisas de Eleazar.

Rosalie reparou na parede onde agora ficava uma estante com livros. Sentou com as costas apoiadas ao encosto do sofá de couro castanho.

Emmett se acomodou na outra extremidade, dando a ela o espaço que queria para iniciarem a conversa.

Em silêncio, Rosalie buscou na memória uma das várias formas que ensaiou de iniciar a conversa. Mas nada do que tenha ensaiado pareceu correto.

— É… — As palavras não saíram de imediato. Levou um minuto inteiro para conseguir murmurar consigo mesma. — Meu Deus! Por que é tão difícil?!

— Por que não começa me dizendo onde está morando atualmente? — tentou Emmett.

— Aqui mesmo no estado da Carolina do Norte.

— Em que cidade?

— New Bern.

— Não é tão longe daqui, afinal.

— Não, não é.

— Eu poderia ter ido até lá se tivesse me dito onde estava. — Fazendo uma pausa, completou: — Cansou de viajar como queria?

Rosalie apertou os olhos, lembrando-se da mentira que contou. É claro que ele se lembraria da desculpa esfarrapada que deu tanto tempo atrás.

— Nem mesmo saí da Carolina do Norte… — as palavras deixaram seus lábios, carregadas de remorso.

— Não? — o modo como olhou para ela, deixou claro que estava com dúvidas. — Não era o que você queria?

Evitando olhar no rosto dele, conseguiu dizer.

— Eu menti.

— Por que faria isso?

Apertou os olhos um pouco mais forte dessa vez. Quando os abriu foi para dizer a verdade.

— Eu estava grávida.

— Grávida?! Você estava grávida? — levou um tempo assimilando o que acabou de ouvir. Só depois disso conseguiu perguntar: — O que aconteceu com a criança? Onde está? Diga, onde está a criança?

— Em New Bern, com meus pais.

— Seus pais vivem em New Bern, agora?

— Eles se mudaram para ficar perto e poder me ajudar.

— O que você fez Rose?

Ela não conseguia sustentar o olhar de reprovação dele.

— Me desculpe…

— Uma vida estava crescendo em seu ventre e você achou que não era importante me dizer.

— Eu ia te contar…

— Mas não contou — ele respondeu num tom de voz mais elevado.

— Você chegou todo feliz porque tinha sido aceito na Universidade Columbia. Eu sabia que era seu sonho, porque já tínhamos conversado sobre isso. Seus pais estavam preparando uma festa. Estavam orgulhosos. Eu tive medo. — A essa altura, já não conseguiu segurar as lágrimas.

— Medo do quê, Rose? Do que você tinha medo?

— De destruir seus sonhos. Modificar seu futuro, e você me acusar disso depois.

Emmett se colocou de pé, andando de um lado a outro no porão.

— Culpasse você?! Eu não seria esse tipo de homem. Jamais te culparia por ter engravidado. Até porque não engravidou sozinha. A criança era responsabilidade dos dois.

— Só quis te deixar livre para seguir seus sonhos… Sem interferência para escolher e planejar seu próprio futuro.

— Não. — Emmett parou de se movimentar para olhar no rosto dela. — Você pensa que me deixou escolher, mas foi você quem escolheu por mim o tempo todo.

— Na época, eu não via dessa maneira.

— É claro que não — rebateu num tom irônico. Silêncio voltou a se instalar, com ele reavaliando a revelação. Caminhou todo o porão e voltou ficar de frente a ela. — É menino ou menina? — pediu. Os pensamentos embaralhados como não soubesse se era real. — Sou pai de um menino ou de uma menina? — Insistiu, fazendo Rosalie estremecer.

— De um menino — respondeu.

Emmett não soube explicar o que sentiu. Alegria e esperança se embaralharam, mas também deram-se as mãos. Seus olhos se encheram de lágrimas com a revelação de que era pai de um menino.

— Eu tenho um filho — falou consigo mesmo. — Um garoto. — Fez uma rápida conta de cabeça. — Ele tem o quê? Sete anos e meio?

— Vai fazer oito em alguns dias.

— Eu tenho um filho. — Ele parecia gostar dessa afirmação, porque seus olhos brilhavam a cada vez que dizia. Mas, as próximas palavras soaram como um lamento. — Um filho que não pude conhecer.

— Eu sinto muito… Não deveria ter me calado.

— Você não podia — acusou. — Como ele se chama? — Como demorou em responder, insistiu: — Que nome deu a ele, Rose? Que nome deu ao meu filho?

— Joshua. Joshua Hale. — Um sorriso surgiu em seu rosto úmido de lágrimas.

— É um bonito nome. Mas ele não tem meu sobrenome.

— Me desculpa… — sussurrou Rosalie, incapaz de dizer outra coisa.

— Tem alguma foto dele aí com você?

Rosalie foi logo abrindo a bolsa e pegando o celular.

— Sim. — Abriu o álbum de fotos da câmera, entregando o celular na mão dele.

Emmett viu as várias fotos do filho, sem conseguir acreditar que Rosalie foi capaz de esconder Joshua dele por todo esse tempo.

— Ele é lindo — murmurou. — Tem a mesma cor de cabelos que você — reconheceu com satisfação.

— E a cor de seus olhos — Rosalie emendou.

Vendo Joshua sorrir em algumas das fotos, pôde perceber a semelhança também no sorriso.

— Ele tem minhas covinhas ao sorrir.

— Durante todo esse tempo, ver Josh sorrir foi como ver você sorrir.

— Ele joga futebol? — perguntou ao se deparar com uma foto de Joshua vestindo o uniforme do time.

— Ele adora futebol. De todos os esportes, foi o que mais se identificou.

A resposta fez Emmett sorrir.

— Qual posição ele joga?

— No ataque.

— Imagino que seja bom.

— Ele é ótimo. Você precisa ver — Rosalie se mostrou animada ao falar do talento do filho.

A expressão no rosto de Emmett se fechou.

— Você tirou isso de mim.

O sorriso durou somente o tempo de olhar no rosto dele.

Emmett devolveu o celular.

— Me tirou a chance de ser um pai para meu filho.

— Emmett…

— Não diga nada, Rose. Você me privou de escolher onde eu queria estar. Me roubou a chance de ver meu filho nascer. De ouvir suas primeiras palavras. Estar ao lado dele quando teve febre a noite. Ler histórias para ele dormir. De ajudar a levantar quando tomou o primeiro tombo. Segurar sua mão no primeiro dia de aula na pré-escola.

Rosalie mal conseguiu enxergar. Uma cortina de lágrimas turvou sua visão.

— Você foi egoísta. Quis tudo para você.

— Não… não foi assim.

— E sabe o que é pior? — perguntou, voltando elevar a voz. — Você privou Joshua de tudo isso também. Percebe que nem mesmo o nome de meu filho eu pude ajudar escolher?

— Não fiz isso.

— Você fez, sim. Impediu que Joshua tivesse um pai presente. — A fúria falou mais alto, levando-o a bater os punhos na mesa de escritório do pai. — O que disse para ele durante todo esse tempo? Que o pai dele morreu? Que o abandonou? Que era um maldito miserável que abandonou a mãe dele grávida? O que meu filho acha que sou? O que sabe a meu respeito?

— Ele sabe a pessoa incrível que você é. Conhece toda nossa história, exceto… que não sabia sobre ele.

— Não teve coragem, não é? Eu deveria imaginar. Não mentiu, mas também não disse toda verdade. Não quis que sentisse raiva de você.

Rosalie olhou para o lado, não suportando todas as acusações feitas por ele.

— Josh é tudo para mim.

— É claro que é. Até roubou ele de mim.

— Não roubei. Não volte a dizer isso nunca mais.

— O que te fez mudar de ideia? Por que resolveu agora me procurar para falar de Joshua? Meu filho está doente? Foi por isso que me procurou?

— Não. Joshua é completamente saudável.

— Por que só agora, Rose? Porque por minha causa eu sei que não foi.

— Josh quer conhecer o pai dele. Seu filho quer te conhecer.

Uma lágrima escorreu no rosto de Emmett, ele a limpou bruscamente na palma da mão.

— Percebe o que fez? Joshua sente minha falta. Ele sente minha falta.

— Ele não quer festa de aniversário, nem presentes. Quer apenas conhecer você. Já tem um tempo que vinha dando sinais.

Emmett juntou as mãos na nuca.

— Não vai cancelar a festa de aniversário dele.

— Você não me ouviu? Ele só quer conhecer o pai. Vai ficar arrasado…

— Não disse que me recusaria ver meu filho. Me ofende achar que faria algo assim.

Rosalie respirou, aliviada.

— Obrigada. Sabia que não faria algo como ignorá-lo.

— Vou conhecer meu filho. Como não iria querer? Não existe segunda opção para isso.

— Obrigada…

— Não significa que perdoei você.

Rosalie passou a mão no rosto, limpando as lágrimas, aceitando a revolta dele.

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— Como faremos? Você vai a New Bern ou trago ele aqui?

— Precisarei de um ou dois dias para me recuperar do baque que sua mentira me causou. Não posso me encontrar com ele agora. Não estou cem por cento. Não quero que ele perceba isso. Quanto ao local do encontro, é melhor que seja em um ambiente que ele conheça. — Fez uma pausa, para então voltar a falar: — Você percebe o quanto foi egoísta? Esteve todos esses anos a duas horas de distância de minha família e eles jamais puderam se encontrar com Joshua. Negou a existência dos meus pais para Joshua também?

— É claro que não. Já te falei, Josh sabe de toda nossa história juntos.

Emmett fez questão de lembrar.

— Exceto a parte que você escondeu do pai dele sua existência. Muito conveniente.

— Você está sendo cruel.

— Você foi cruel muito antes de mim. Foi embora de Raleigh, para que minha família não descobrisse sobre nosso filho.

— Não, não foi assim.

— Não me venha com isso de que pensou em mim. No meu futuro. Eu merecia o direito de escolher. Você sabe que minha escolha teria sido ficar com você e com nosso filho. Jamais teria escolhido partir se não tivesse sendo enganado.

— Por isso não te contei.

— Exatamente. Você fez as escolhas. Cabia a mim decidir, não a você.

— Você tem hoje o que sempre sonhou. Conquistou tudo que queria.

— Que droga! — Ele levantou a voz. — Eu nunca quis nada com tanta intensidade quanto ficar ao seu lado. Você me empurrou para conquistar o sucesso profissional, mas tirou de mim a chance de ser feliz com a mulher que eu amava. E com nosso filho. Como espera que te agradeça por isso? Não houve um só momento em minha vida, desde que terminou comigo, que não tenha pensando em você. No que estaria fazendo.

— Eu também pensei em você. Você sempre esteve em minha vida.

— Aposto que não pelos mesmos motivos. No seu caso deve ter sido culpa, mesmo. Será que um dia realmente me amou?

— Não pode duvidar jamais que te amei.

— Ah, eu duvido, sim. Mesmo que seja verdade que me amou, você sempre teve Joshua. Quanto a mim… O que me restou senão a solidão e algumas fotografias?

Rosalie se colocou de pé, ajeitando a bolsa embaixo do braço.

— Espero que algum dia possa ser capaz de me perdoar.

— Eu realmente espero que esse dia chegue — afirmou ele. — Porque, nesse momento, não vai acontecer.

Rosalie limpou as lágrimas que saltaram de seus olhos depressa.

— Me ligue quando estiver mais calmo… Para que possamos combinar seu encontro com Joshua. — Encaminhou-se a escada do porão.

A voz de Emmett soou atrás de suas costas.

— Como se sentiu olhando para minha família no dia que esteve aqui procurando por mim, sabendo que escondia Joshua deles?

Sem olhar para ele, Rosalie respondeu:

— Se te serve de consolo, me senti horrível. Foi tão difícil voltar aqui aquele dia quanto foi hoje.

— Não serve de muita coisa, não.

Rosalie suspirou, derrotada, subindo a escada que a levaria para fora do porão, e para longe das lembranças. Nunca fazer aquele trajeto havia sido tão doloroso.

— Até breve, Emmett — respondeu do alto da escada.

— Fale ao meu filho que irei vê-lo em breve — ouviu Emmett falar lá de baixo. Alcançou a maçaneta da porta e a abriu. — Não se esqueça de enviar o endereço onde eu possa encontrar meu filho.

Embora já não pudesse vê-lo, balançou a cabeça afirmando.

Ficou grata por Carmen não estar por perto. Em seu trajeto até a porta da frente, nem mesmo reparou na mesa posta para o lanche que preparou com tanto cuidado.

Entrou no carro, depois de ter se atrapalhado com a chave.

Lá embaixo no porão, através das pequenas janelas de vidro que beiravam o nível do chão, embaixo do deque da entrada, Emmett viu as rodas do carro manobrar na entrada de veículos, antes de alcançar a rua.

Toda mágoa que lhe causou hoje não tinha como ser ignorada. Nesse momento, não era capaz de perdoar. Primeiro era necessário deixar o olho de o furacão passar, metaforicamente falando, para então pensar em reconstruir.