Capítulo 22 - Freyre

Vivian me olha em silêncio, sua boca em uma fina linha tensa.

— Então sua tia na verdade é sua mãe, que te abandonou quando você era um bebê. – Ela repassa e eu concordo com um aceno. – Freyre, isso é horrível, ela é horrível!

— Eu sei.

— Estou tão triste por você, se tivesse me contando teria vindo com você no mesmo dia. – Vivian diz e aperta minha mão na sua. – Sinto muito por você estar passando por tudo isso, de verdade.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Tudo bem, Vi, de verdade. Estou melhor agora, tenho que lidar com isso dia após dia agora, tenho uma fazenda para cuidar. – Digo engolindo em seco. – Preciso seguir em frente.

— E quando ela vier até você? – Ela pergunta calmamente.

Respiro fundo e olho para fora da janela, essa pergunta esteve em minha cabeça por muito tempo nesses dias.

— Vou ter que encará-la em algum momento, infelizmente não posso evitar isso para sempre, e quando acontecer vou saber o que fazer. – Respondo. – Mas me conta o que perdi nos últimos dias...

— Ei!

— Puta que pariu! – Grito de susto quando Ana entra no quarto. – Não faça mais isso, quase expulsou a merda fora de mim agora!

— Desculpa, lobinha. – Diz com um sorriso descarado.

— Já disse para parar com isso. – Rosno para ela, que me irritava com o apelido que Apollo tinha me dado.

Me levanto e vejo Vivian olhando para Ana com os olhos estreitos.

— Vivian, esta é Ana. – Apresento e as duas se escaram por um momento, como se fossem começar a latir uma para a outra a qualquer segundo.

— Bom te conhecer, Frey vive falando sobre você. – Vivian diz, se levantando.

Ana se aproxima e fico com receio sobre o que ela vá falar para Vivian, não era a pessoa mais amável quando sentia ciúmes.

— Estava ansiosa para conhecer a pessoa que ocupou meu lugar quando estava longe. – Ana fala sorrindo. – Bom conhecer você também, boneca.

Meus olhos se arregalam quando as duas se abraçam, esperava tudo menos isso.

— Obrigado por cuidar dela, sério, eu realmente fico feliz por ela ter você também. – Ana completa e se afasta sorrindo.

— Posso comemorar ou vocês vão sair no tapa ainda? – Questiona um pouco surpresa.

— Nah, estamos bem, seus amigos são meus amigos. – Vivian diz rindo.

— Ufa, estou imensamente aliviada. – Digo com a mão no peito. – O mesmo alivio que senti quando vi que você abriu a porta bem quando tínhamos acabado de nos vestir.

Vivian me olha perigosamente e eu começo a rir, Ana nos encara com curiosidade, claramente querendo saber o que estava acontecendo.

— Vamos apenas dizer que Vivian arrombou a porta quando eu e Apollo estávamos, hm, trocando alguns amasso. – Explico para Ana.

— Caralho, você viu Apollo nu? – Ana pergunta para Vivian. – Ele é tão bom quanto parece ser?

Engasgo com o choque, mas ainda rindo.

— Bom saber que você repara no meu homem, bom saber! – Exclamo para ela.

— Fiquei com água na boca quando o vi, pena que ele já estava com a cueca, mas só aquela visão me fez babar! – Dou um tapa na bunda de Vivian e ela pula, rindo alto.

— Vou quebrar as duas no cacete se não pararem de falar sobre o corpo do meu namorado. – Aponto para as duas ameaçadoramente. – Arrastem a bunda de vocês para outra direção, Trent e Brian são boas opções.

— Brian? – Vivian questiona com a sobrancelha arqueada e eu me inclino olhando para Ana, que instantaneamente tinha parado de rir.

— Brian baba literalmente quando Ana está por perto, quase sinto o fedor de hormônios. – Digo rindo da expressão de Ana.

— Sem chance, se homens tivessem um horóscopo próprio Brian seria de ‘’cuzões”. – Ela diz e eu explodo em uma gargalhada.

— E você seria de ‘’cu doce”. – Retruco. – Qual é Ana, ele é quente e lindo, ele está louco por você.

— Eu realmente deveria ter vindo antes. – Vivian diz rindo. – Estou adorando este lugar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— É melhor vocês pararem, não estou afim de Brian. – Ana cora quando diz.

Olho para Vivian e balanço a mão na frente do nariz.

— Tá sentindo esse cheiro? – Questiono e ela me segue, tampando o nariz.

Ana nos olha com raiva, mas acaba abrindo um sorriso brincalhão quando se joga em nossa direção e caímos as três em cima da cama, gargalhando alto enquanto as mãos dela iam de mim a Vivian, nos fazendo cocegas.

E pela primeira vez depois da morte do meu pai, eu me senti quase completa novamente. Um dia de cada vez, eu ficaria bem.

***

— Este é o lugar mais lindo que já vi! – Vivian exclama.

Hoje é domingo e tínhamos acordado cedo para chegar na pequena plantação afastada que tínhamos na fazenda. Os meninos tinham ido para o motocross com Joe depois que Tobias finalmente cedeu para levarem Corbin.

Os últimos três dias tinham sido incríveis, Ana e Vivian se conheceram mais e se tornaram amigas instantaneamente.

Eu tinha finalmente assinado a papelada e agora era legalmente a proprietária da fazenda Viana, e sempre que pensava nisso sentia meus olhos marejados, não era fácil aceitar que meu pai não estaria ali para me ver cuidar do que sempre foi seu orgulho, doía muito.

Em menos de três meses eu faria aniversário, acabaria o ensino médio e teria que tomar decisões difíceis. Tinha consciência que Apolo não queria me deixar, até mesmo disse que poderia muito bem ir para a faculdade que tinha não muito longe da fazenda, mas não sabia que seu pai aceitaria isso muito bem. Erámos jovens e em poucas palavras ele disse que moraria comigo, não sabia como me sentia sobre isso também.

Meu coração era dele, não tinha dúvidas sobre isso, o amava e também queria ficar com ele, mas ainda teria que conversar melhor sobre o assunto.

— Meu pai e Seu Matthew uma vez chamou a polícia pensando que eu e Freyre tínhamos sido sequestradas, mas estávamos aqui, colhendo flores para levar para casa. – Ana conta e eu suspiro. – Freyre tinha feito sua primeira tatuagem com um amigo dela e estava se cagando de medo pois seu pai não sabia, achou que se enchesse a casa com sua flor preferida a livraria de dois meses de castigo.

— E deu certo? – Vivian questiona, rindo levemente.

— Eu tinha o que? Quase 15 anos? – Pergunto a Ana que concorda. – Ele queria processar Tom por tatuar uma de menor, não foi fácil amansar a fera, demorou uns duas horas e uma ameaça.

— Você ameaçou seu pai?

Rio com a lembrança e aceno para Vivian.

— Ela disse que fugiria de casa e nunca voltaria se ele o processasse, Seu Matthew riu tanto dela, pois sabia que ela nunca iria, mas acabou cedendo e aceitando e sempre que ela aparecia com mais uma, ele apenas a olhava de cima a baixo e resmungava. – Ana fala se abaixando e colhendo um lírio branco. – Se fosse o meu pai tinha me colocado para fora de casa.

Dou um sorriso e seco rapidamente uma lágrima que desce pelo meu rosto.

— Ele era o melhor, eu não fui uma criança ou adolescente tímida, meu pai sempre passava algum furo comigo, mas nunca me castigou por isso. – Sinto meu queixo tremer e suspiro não me segurando mais. – Uma vez ele me pegou com Joe, acho que nunca ri tanto na minha vida, ele ficou parado nos olhando enquanto Joe tinha sua mão sobre meu seio, pensei que ele o mataria.

— O Deus, eu me lembro disso! – Ana explode em uma risada. – Ele gaguejou e apenas disse: “Por favor, se forem fazer mais do que isso usem camisinha, não estou pronto para ter um neto ou neta, Freyre já é demais para mim.”

— Fiquei mortificada, não queria entrar dentro de casa com medo dele querer me dar uma aula sobre sexo. – Fungo e rio ao mesmo tempo, não contendo nenhuma das ações. – Eu aceitaria qualquer conversa vergonhosa agora, qualquer coisa se pudesse ter a chance de falar com ele novamente.

— O merda, tudo bem, não vamos mais falar sobre isso. – Vivian diz passando as mãos pelos olhos, o mesmo fazia Ana.

— Não precisa se sentir mal, sério, eu realmente não quero deixar de falar sobre ele, quero me lembrar do meu pai a cada segundo. – Digo e deixo a cesta que tínhamos trazido no chão. – Não falar sobre ele é como esquecê-lo, e eu nunca vou fazer isso.

— Vamos forrar o chão e comer, então vamos conversar. – Ana diz. – Podemos contar uma lembrança cada, assim não ficaremos tão tristes.

— Boa ideia, assim vamos nos conhecer melhor também. – Vivian concorda.

— Eu realmente não quero deixar vocês irem embora, estou mentalmente pensando em um plano para amarrá-las em um lugar distante. – Ana suspira e meu coração afunda.

— Os dias vão passar rapidamente e estarei de volta, vou trazer Vivian comigo, mesma que tenha que sequestrá-la. – Digo suavemente.

— Eu nem iria gritar, amaria ser sequestrada e trazida para cá para sempre.

Sorrindo para as duas, nós arrumamos toda comida sobre o forro e nos sentamos, conversando e olhando para a enorme plantação de flores. Aquele campo era o lugar em que passei maior parte de minha vida, cuidando e plantando os vários tipos de flores que tinham ali, sempre ao lado daqueles que amo e sempre seria assim.

Amaria intensamente aqueles na minha vida apesar de isso as vezes causar medo. Não dava para saber quando não teríamos mais tempo para sentir, viver ou ser feliz.

O momento era agora, não amanhã ou depois. E com esse pensamento eu sorri novamente, sabia exatamente o que faria quando chegasse a hora de voltar definitivamente para casa.