Reação. Essa é a única palavra que consigo pensar depois do que falei para Pount. Não sei qual será a sua reação a minha arrogância. Ela está tentando salvar a vida de um de nós e acho que minhas chances de sobreviver na arena estão diminuindo a cada vez que fico com raiva de Pount e Brock por serem muito das vezes como as pessoas da Capital, ignorantes. Quero levantar da mesa e ir dormir, mas ainda tenho que saber como um horário será dividido e todas táticas que Brock e Pount estão em mentes.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Todos continuam comendo normalmente, o silêncio toma conta da mesa. Só consigo ouvir os passos das Avoxes que andam de um lado para o outro, servindo comidas e bebidas para todos. Uma Avox me oferece uma gelatina e balanço a aceito, a gelatina parece sopas que já tomei no Distrito 12, eram tão ruins que pedras deviam ter um gosto mais saboroso. Olho para Pount tentando encontrar seu olhar e pedir desculpas, mas ela apenas me ignora.

—É mesmo, esqueci de dizer para vocês que a Entrevista com Caesar Flickerman será dividida em dois dias. Dividi vocês em dois grupos, Lucas com Carly e Haymitch com Masyilee como costume. Haymitch e Maysilee, vocês serão entrevistados apenas amanhã – fala Brock tentando quebrar a barreira de gelo que se formara depois que briguei com Pount.

Caesar Flickerman, o homem que apresenta as entrevistas há mais de quinze anos é um ícone para a Capital. Ele sempre está da mesma forma em todas as edições dos Jogos Vorazes, um traje azul-marinho com milhares de pequenas lâmpadas que brilham como estrelas e seu cabelo que muda de cor cada ano, igual o de Pount.

Caesar tem um jeito descontraído e engraçado, todos os tributos conseguem agir com naturalidade perto dele. Sempre percebi pelo olhar dos tributos que conversam com ele, parecem livres como os Tordos na floresta que ronda o Distrito 12, algo que ninguém tinha atravessar a cerca elétrica podia causar punições graves como ser chicoteado em praça pública.

— Carly e Lucas vocês dois terão cada um duas horas com Pount para a apresentação e duas horas comigo para o conteúdo — diz Brock.

— E quanto nós dois? – pergunta Maysilee.

— Dia livre, mas vocês irão ver as entrevistas – responde Pount sorrindo para ela.

Um dia livre, era tudo o que mais queria. Ir à cobertura, deitar no jardim, descansar, sentir o vento batendo em meu corpo, sentir-se livre.

Quando Pount e Brock me liberam para fazer o que eu quiser no dia, subo as escadas que levam a cobertura e me sento no meio do imenso jardim. Como uma paisagem tão linda pode sobreviver ao lado de crianças se matando até a morte, a Capital prefere cheirar o sangue de crianças mortas ao invés de uma flor.

Queria poder parar o tempo e viver para sempre aqui. Sem Jogos, sem mortes, sem armas. Tudo seria melhor se os Jogos Vorazes acabassem, mas não é isso que a Capital pensa, retirar um filho de uma família e depois matá-lo de uma forma brutal é uma forma de controlar os Distritos desde a rebelião que aconteceu nos Dias Escuros. O Distrito 13 fora totalmente destruído, nada sobreviveu, o que resta na área são apenas os destroços que sobraram do ataque.

As horas passam depressa enquanto estou olhando as nuvens passarem com calma. Alice adorava nuvens, já passamos horas olhando para o céu até escurecer e observar as estrelas. Ela se sentia confortável e eu também e isso tudo só me faz lembrar que ela está observando tudo o que as câmeras filmam e ela irá ver minha entrevista. Talvez possa mandar um último recado para ela antes que eu seja morto brutalmente por um Carreirista no banho de sangue, um último recado, uma despedida.

Fico na cobertura até anoitecer, várias estrelas estão no céu e as luzes da Capital já estão todas acessas, amanhã estas estarão muito mais fortes apagando toda beleza natural que se tem. Desço as escadas e vou jantar. Peço várias gelatinas para comer, tem de vários sabores que nem imaginava que teria tantas opções.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Entro no meu quarto e deito na cama querendo o dia acabe rápido, mas estou com medo de dormir novamente, os pesadelos com Alice, Miguel e minha mãe me deixaram apavorado e não quero ter mais nenhum. Fecho os olhos pedindo para que os pesadelos não venham.

Acordo sem saber que horas são nenhum pesadelo acontecera, mas em minha cabeça só consigo pensar em como será a entrevista dos outros tributos e como eles estão treinando. Amanhã será meu dia e não sei o que irei falar para Caesar, estou muito nervoso.

O dia no nosso andar passa rápido, pois toda equipe de preparação está com Lucas e Carly, só consigo ver Avoxes andando de um lado para o outro tentando sempre servir algo para mim.

Encontro Maysilee no andar e tento conversar com ela:

— Nervosa?

— Um pouco, mas estarei mais amanhã – diz Maysilee.

— Eu também, tentei dormir e relaxar...

— E não conseguiu – completa Maysilee.

— O dia vai ser longo, boa sorte com os sonhos – digo.

Maysilee sorri para mim e entra em seu quarto e faço o mesmo. Uma Avox está arrumando o quarto e tento ignorá-la e dormir mais, hoje não quero fazer nada, apenas descansar. Amanhã o dia será agitado e preciso de muita energia para não tacar uma faca em Pount.

Acordo com Maysilee gritando bem alto:

— Haymitch, Haymitch vai começar!

Levanto-me e visto uma roupa rapidamente e vou junto com Maysilee até a sala para ver as entrevistas. Na sala só existe eu, Maysilee e Avoxes.

— Quase perco horário, ainda bem que um Avox me avisou – diz Maysilee.

— E ainda bem que você me avisou – digo sorrindo para ela.

A televisão se liga e lá está Caesar com um cabelo amarelo florescente e com seu famoso traje cerimonial azul-marinho.

— Isto é a moda na Capital? Nunca vestiria isso – digo.

Maysilee da algumas risadas e voltamos a prestar atenção. Caesar conta algumas piadas para aquecer o público, mas logo em seguida começa a chamar os tributos.

A garota do Distrito 1, que me chama tanto a atenção, ela está muito sexy com um visual sensual emoldurado por vários diamantes e pedras preciosas, pisa no centro do palco para ser entrevistada por Caesar. Ela diz seu nome, Heloise. A entrevista passa muito rápida, ela disse que está com uma vontade extrema de entrar para Arena e quando vi, ela já estava saindo do palco sorrindo para o público.

Caesar consegue fazer com que os tributos se destaquem com seu jeito amigável e tenta acalmar os nervos dos tributos, tenta transformar respostas ruins em coisas que o público não se esqueça, ele é incrível. O garoto que estava me olhando no Centro de Treinamento aparece, ele estava do lado de Maik e seu nome é Mat, do Distrito 2. Talvez a aliança dos Carreiristas seja maior do que pensara, são o dobro de Carreiristas então talvez não seja apenas três que irão me caçar, mas seis talvez. O outro tributo que me olhava é do Distrito 4 e seu nome é Philip.

— Os Carreiristas – cita Maysilee.

Uma garota do Distrito 7 também me chama a atenção, ela é forte e alta, deve ter cortado muita árvore para estar com aquele físico, ela está com um vestido verde claro. Ela se chama Emma e disse para Caesar que tentou ficar despercebida no Centro de Treinamento e ela conseguiu, não sei como não a vi.

No Distrito 11 os dois tributos me chamam de novo a atenção, a garota chamada Brigs quando é questionada se ela conseguiria matar um tributo com a força física, ela não hesita em dizer:

— Um tronco de árvore ta bom? – responde ela, com firmeza na voz.

O público fica rindo por alguns segundos, mas fiquei com medo dela. O garoto estava muito nervoso e não conseguiu falar muitas coisas, mas eles me deixaram com medo do que pode vir na arena.

Carly a pequena garota entra e encanta a platéia com um vestido branco. Quando Caesar pergunta sobre ver sua família de volta, ela responde:

— Tenho saudades dos abraços deles.

Um silêncio paira na multidão. Lucas falou sobre o treinamento que teve com a postura e conseguiu tirar algumas risadas do público. E assim acabam as primeiras entrevistas.

— Eles foram bem, não achou? – pergunta Maysilee.

— Sim. Até amanhã Maysilee – digo.

— Até – responde ela me dando um beijo na bochecha.

Vou ao meu quarto e vou pro chuveiro tentar controlar minha ansiedade. Tento dormir, mas a única coisa que consigo fazer é ficar virando de um lado para o outro na cama, eu mesmo estou me atrapalhando. Mudo a imagem que fica na janela para o da floresta, talvez assim eu consiga dormir, me sentindo livre da Capital, livre dos Jogos como um Tordo.