Segunda Chance

Capítulo VIII


— Ai! Você está trapaceando!

— Não é trapaça. Você é que é muito lento.

— Bem, se eu usar meu Jutsu Sexy aposto que você também não vai conseguir desviar.

— Isso não vale! É treinamento de taijutsu, esqueceu?

Naruto ria do receio e embaraço do menino diante da ameaça. Sasuke ainda não tinha se acostumado com o Jutsu Sexy, mas acabou se habituando com as invasões súbitas de Naruto em sua casa. Eventualmente deixou de brigar com ele e passou a trata-lo como uma visita.

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Além do mais era bom ter alguém para treinar junto com ele, para variar. Alguém que não o deixava apenas observando e que enrolava, sempre adiando o treinamento. Na verdade Naruto é que enrolava. Sempre que aparecia por lá Sasuke fazia o menino treinar junto com ele para que não tivesse que interromper o próprio treinamento.

— Cansei de treinar taijutsu — Naruto reclamou. Tinha sido derrubado no chão cinco vezes, não era para menos — Vamos tentar outra coisa.

— Quer voltar a treinar com as shurikens?

— Depois de quase matar aquele cachorro? — Naruto recordou da ocasião — Não acho uma boa ideia.

— Não se preocupe. Não tem mais ninguém aqui que você possa acertar acidentalmente. Nem mesmo animais — Sasuke arremessou uma shuriken contra uma árvore como se ela fosse a culpada por ele ser o único ser vivo naquele enorme local.

— Talvez outro dia — Naruto respondeu, notando a frustração do garoto, embora não tivesse identificado o motivo. Notou também que a camisa que ele usava tinha subido mais do que de costume quando ele ergueu o braço para lançar a shuriken. A bermuda também parecia um pouco apertada — Ei Sasuke, suas roupas não estão um pouco curtas?

— Estão bastante curtas — ele respondeu. Não tinha mais como disfarçar isso — Naruto, de onde você tira dinheiro para comprar as coisas?

— O que?

— Bem, você nunca teve pais. Então como arranja dinheiro para comprar comida, roupas e essas coisas? Por acaso eles te deixaram uma herança ou algo assim? — Sasuke fingiu estar apenas curioso, mas era óbvio que precisava de ajuda. O dinheiro que tinha encontrado no quarto de seus pais estava no fim e não dava para comprar roupas novas. Ele precisava escolher: ou comida ou roupas do tamanho certo.

— Não recebi nenhuma herança. Todo mês o velhote vai até o meu apartamento e me dá uma quantia em dinheiro — Naruto explicou.

— Quer dizer, o Hokage? — Sasuke perguntou e Naruto assentiu. Isso não ajudava em nada. Não podia simplesmente ir até o Hokage e pedir dinheiro. Entendia a situação de Naruto, o menino era órfão desde que nasceu, mas o caso dele era diferente. Além do mais, se o Hokage pretendesse ajuda-lo financeiramente, já teria feito isso.

— Qual o problema, Sasuke?

— O problema é que o dinheiro que encontrei no quarto dos meus pais está no fim. E quando ele acabar não vou nem mais comprar comida. Estou crescendo e minhas roupas não servem mais, só que não posso comprar roupas novas. E também não posso fazer missões porque ainda não me formei na Academia, mas também não posso trabalhar em outra coisa porque ainda sou criança, e pelo amor de Deus por que preciso me preocupar com isso? Só tenho oito anos! — ele falou tudo muito rápido, mas Naruto captou a mensagem.

Muitas pessoas na Academia admiravam o menino-prodígio que Sasuke era e muitos adultos tinham pena pelo que aconteceu com seu clã. Mas ninguém parecia perceber o problema atual que o menino estava enfrentando. Não importa o quão forte e inteligente ele fosse, sem adultos por perto Sasuke era apenas uma criança órfã como outra qualquer.

— Você deveria falar sobre isso com o velhote — Naruto comentou quando o menino pareceu se acalmar um pouco — Ele é o líder da vila, tem a obrigação de te ajudar.

— Eu não quero pedir favores a ninguém — resmungou — Além do mais, se ele quisesse me ajudar, já teria feito isso.

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— Então você vai ter que arranjar dinheiro de outra forma.

— Que outra forma, Naruto? — Sasuke exclamou — Qual parte do “dinheiro dos meus pais está no fim” você não entendeu?

— Não estou falando dos seus pais — Naruto deixou o quintal da casa do menino e começou a caminhar lentamente, passando pelas demais casas, agora destruídas — Essas casas… eu sempre me perguntei de quem eram quando vinha te visitar. Eram de outros Uchiha?

— É lógico — Sasuke respondeu, indo atrás dele.

— E você não tinha, sei lá… algum primo ou tio que morasse por aqui?

— Onde está querendo chegar com isso?

— Bem, seus parentes não iriam querer que você morresse de fome, eu acho — Naruto continuava caminhando e espiando dentro das frestas das casas onde passava como se pudesse adivinhar a quem elas haviam pertencido.

— Que ideia idiota é essa? Eu não vou roubar dos mortos!

— Mas eles não…

— Naruto! — Sasuke interrompeu quando o garoto dobrou à esquerda — Não entre aí!

Óbvio que Naruto não obedeceu. Sasuke correu atrás dele apenas para ver o menino observar com os olhos arregalados as várias lápides que se encontravam naquele local. Estavam desalinhadas então era difícil saber quantas tinham.

— Sasuke — Naruto chamou com a voz baixa depois de vários segundos em silêncio — Por acaso são…?

— O que você acha? Sabe que meu clã foi exterminado — o garoto soava ríspido, mas Naruto conseguia perceber a dor em sua voz.

— Foi você que…?

— Sou o único que sobrou para enterrá-los, não é?

— Quantos?

— Parei de contar depois do cinquenta.

Naruto continuou olhando para as lápides, sem saber o que dizer. “Sinto muito”? “Lamento pelo que aconteceu”? Era verdade, mas soavam como palavras vazias. Nunca teve pais e queria desesperadamente algo para preencher aquele vazio dentro dele, que ansiava em ter uma família. Sasuke teve essa família a perdeu completamente de uma só vez e agora ele estava vazio também. Um menino tão novo precisando enterrar seus parentes era tão triste que Naruto não conseguia compreender como Sasuke continuava morando ali. Ele não conseguiria continuar vivendo no mesmo lugar onde sua família foi morta. Provavelmente era porque não tinha outro lugar para ir.

— Eu não posso roubar deles, Naruto — Sasuke murmurou atrás dele, fazendo o garoto se sentir um completo idiota por ter sugerido algo assim — Anda. Vamos sair daqui — ele segurou seu pulso e o arrastou de volta para a própria casa.

Sentaram na varanda e ficaram em um longo silêncio constrangedor. Naruto gostaria de dizer alguma coisa para confortá-lo, mas não tinha ideia do que poderia falar em uma situação como aquela.

— Sasuke… desculpe por ter ido até lá mesmo com você dizendo que não podia. E por ter sugerido aquilo.

— Não importa — o menino murmurou. Não se importava mais com a falta de dinheiro ou com Naruto se intrometendo onde não devia. Seu principal objetivo, que ele estava começando a deixar de lado, voltou a assolar seus pensamentos — Farei com que o culpado por aquelas mortes pague por isso, Naruto.

— Quer dizer o seu irmão que foi embora?

— Isso mesmo. Ele tirou tudo de mim — Sasuke cerrou os punhos — Não apenas meus pais, mas o clã inteiro. E agora eu preciso sobreviver sozinho nessa casa onde meus pais foram mortos… isso não vai ficar assim. Vou continuar treinando e um dia vou ficar forte o suficiente para me vingar dele.

— Mas Sasuke, se vingar não vai trazer seus pais de volta.

— Então o que você quer que eu faça? — ele virou-se para encarar Naruto, os olhos cheios de raiva e dor — Deixe ele escapar impune depois do crime que cometeu?

— Se ele cometeu um crime então deve ter ninjas procurando por ele, não? — Naruto perguntou incerto — E quando pegá-lo devem prendê-lo ou algo assim.

— isso é pouco — Sasuke rosnou — Quero puni-lo com as minhas próprias mãos.

— Mas…

— O que você faria no meu lugar, Naruto? — o garoto interrompeu — Se tivesse a chance de encarar o assassino dos seus pais, o que você faria?

— Quem matou meus pais foi a Kyuubi, não tem como eu fazer isso — Naruto lembrou.

— Bem, então suponhamos que algum ninja tenha matado eles. O que você faria se encontrasse esse ninja?

Naruto nunca parou para pensar nisso. Se perguntou várias vezes como seus pais eram, seus rostos, suas personalidades, imaginou como seria sua vida se eles ainda estivessem ali com ele, mas nunca se perguntou o que faria caso encontrasse o assassino dos seus pais, pois era algo impossível.

— Eu… acho que perguntaria por que ele matou meus pais — Naruto respondeu por fim — Foi por que receberam ordens para fazer isso? Por que eles estavam atrapalhando alguma missão? Ou foi por pura maldade? Eu gostaria de saber.

— Você é muito ingênuo — Sasuke riu sem humor.

— E você é muito vingativo — Naruto rebateu — Eu já te disse, se vingar não vai trazer seus pais de volta.

— Então me diga o que eu deveria fazer, Naruto. Deixar o culpado por destruir meu clã escapar impune e seguir minha vida sozinho, como se nada tivesse acontecido? Como se a morte de todas essas pessoas não importasse? Me diga o que eu devo fazer! — ele gritou, assustando um pouco o menino. Em seguida virou de costas para ele, se calando subitamente.

— Sasuke?

— Me deixa em paz.

Naruto se inclinou para encará-lo mas o garoto virou o rosto, escondendo-o com os cabelos. Os ombros tremiam enquanto ele tentava conter o choro sem sucesso.

Era isso. Não havia nada que Naruto pudesse dizer para fazer o menino se sentir melhor. Mas ainda podia ficar ao lado dele para que Sasuke não se sentisse tão sozinho. Ergueu uma das mãos hesitante e a apoiou no ombro do menino, que não a afastou.

— Sabe, a minha vida também é uma droga. Eu estou sozinho desde sempre. Não conheci o que é o amor de um pai e uma mãe, então não entendo muito bem como é perder uma coisa que eu nunca tive — Naruto comentou — Mas é como você mesmo me disse antes. Você está tão sozinho quanto eu.

— Aonde quer chegar com isso? — Sasuke murmurou, controlando a voz para que não soasse embargada.

— Quero dizer que prometemos ajudar um ao outro em tudo que pudermos, lembra? — Naruto recordou — Nenhum de nós tem família, por isso prometemos cuidar um do outro. Então, se você está se sentindo muito sozinho, posso dormir aqui e te fazer companhia até você melhorar. Ou você pode ir até a minha casa se quiser.

— Dormir aqui? Você é muito abusado — Sasuke comentou. Esfregou os olhos com a manga da camisa para enxugar as lágrimas.

— Prefere dormir na minha casa então?

— Não estou tão desesperado assim — resmungou. Parecia ter voltado ao normal — Mas… você pode ficar para o jantar se quiser.

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— Vamos descobrir se as suas habilidades culinárias melhoraram desde a última vez em que eu vim aqui — Naruto sorriu.

— Melhoraram sim. Só não espere nada doce.