Seeking Shelter

A Ajuda Necessária


O que acontece quando você junta um monte de adolescentes nervosos e ansiosos em uma sala?

Vou te contar o que acontece: eles piram.

É sempre assim antes das apresentações. Acontecia comigo também, e pela primeira vez, estou muito contente de não estar no lugar deles agora. Anne, uma das garotas que vai fazer o solo, está andando para lá e para cá, e um garoto está respirando muito forte mesmo. Os outros estão tentando se arrumar, concertar erros no vestido vermelho ou ajeitar a gravata. A maioria dos meninos ainda está tentando decifrar como colocar a gravata no lugar, por incrível que pareça.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Pra falar a verdade, eu sinto falta disso. Desse caos, barulho e confusão. De ter gente correndo para lá e para que. Não o suficiente para querer voltar, mas o nervosismo de antes de uma apresentação é legal, considerando que assim que eu chegasse ao palco, tudo isso se dissolveria e eu cantaria como todas as outras vezes, como se nada pudesse me atingir ou dar errado. Sei que vai acontecer com eles também, mas eles não sabem. É a primeira vez da maioria deles.

–Venham aqui perto, todos vocês. -A senhorita Birkin chama, e os alunos vão para perto dela. Carlo está aqui também, para ver sua obra de arte, assim como a banda. Ele dá pulinhos de um lado para o outro, ansioso. Nós, que não vamos nos apresentar, ficamos a distância enquanto a professora de música faz seu discurso. -Quero que vocês deem o seu melhor, e não tenham medo de cantar. Acredito em vocês, e acredito que vocês sejam totalmente capazes de fazer uma performance vencedora. Mas mesmo se não venceram, não se preocupem. Vocês já se esforçaram e tentaram, e isso é o suficiente. Estou orgulhosa de cada um de vocês, e feliz por estar compartilhando esse momento com vocês. Quero agradecer a Tiptoe. -Ela aponta para a banda, que assente. -E a Carter, claro. -Sorrio. E ela continua a falar. Max está do meu lado, segurando uma garrafinha de água (porque TODO MUNDO fica com sede antes de entrar no palco) e o resto da banda está se preparando, porque são eles que vão tocar os instrumentos na hora da nossa apresentação. Apenas Max vai ficar de fora, já que ele que canta as músicas. Meu celular vibra.

Cyrus.

–Já chegou? -Pergunto, quando atendo a ligação.

–Sim. Estamos na terceira fileira. Onde é que você está?

–Aqui atrás. Com o grupo. Quem está se apresentando agora? -De onde nós estamos, não dá para ouvir muita coisa.

–Sei lá. Acho que eles são da Escola Militar. Estão cantando Please Don't Go. Antes estavam cantando Love Me Again. -Droga. Isso é um bom mashup.

–Quão bons eles são?

–Muito bons. Espero que tenha meninas peladas na sua apresentação. -Faço uma careta. Não é a melhor coisa para se falar, nem o melhor apoio moral.

–Sua namorada está com você, não devia ficar falando essas coisas. -Repreendo.

–Não estou falando por mim. Estou falando pelos juízes. Eles estão adorando.

Obrigada, Cyrus.

–Acho melhor eu desligar.

–Até depois! Aqueles seus vizinhos estão aqui, também. -Ele avisa.

Harvey e Fletcher!

–Obrigada por avisar. Até depois. -Desligo, me virando para Max. Ele está mordendo o lábio, com aquela expressão concentrada, girando a tampinha da garrafa sem parar. Sigo o foco do seu olhar. Jill.

Ela vai cantar também, embora não um pedaço tão grande da música. Só uma estrofe de Princess of China, o que já é muito bom, porque o tom da música é alto e nem todo mundo consegue manter a voz aguda do jeito que ela consegue para cantar.

Queria que Connor estivesse aqui. Sinto falta do meu irmão, mas me conforta saber que ele, pelo menos, vai voltar. Às vezes, até sinto falta da voz animada de Ashley.

A última semana de aula foi cheia de emoções, coisa que eu não achei que sentiria, porque nunca pensei em terminar o ensino médio na mesma escola onde comecei. É tudo muito emotivo. Mas, estou livre. Isso é ótimo. Agora, tenho que me concentrar em viver como uma adulta, fazer minhas próprias escolhas. Sendo honesta, isso não é tão ruim quanto parece, porque fiz isso bastante ultimamente. Talvez eu esteja até preparada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Boto uma mão no ombro de Max, e então, se vira para mim.

–Vai dar tudo certo.

–Ela vai ficar decepcionada se não ganhar. -O que é mentira, mas Max não sabe. Jill faz isso por diversão. Ela não é que nem eu e Max que amamos música com todo nosso coração, ou para seguir uma carreira nisso. Jill canta porque é legal, sendo assim, toda a pressão vai embora. Além disso, Derek se comportou bastante no baile, segundo Naomi e Clark. Não acho que a vida dela estaria arruinada se perdesse a competição.

–Ela vai superar. -Dou um beijo em sua bochecha, depois em sua boca, levemente. Ele ainda não parece convencido, e eu tenho que me relembrar de que Max é o irmão super protetor. Não é como Connor, que me deixou livre. Nenhum dos dois são errados, no entanto. -Max, qual é. É a Jill. Ela pode superar qualquer coisa. -Ele solta o ar que estava preso, liberando um pouco a tensão. Reviro os olhos. -Você está mais preocupado que ela.

–É que eu quero que isso seja especial para ela. Tipo como era para você.

–A Jill não é igual a mim.

–Eu sei, eu sei.

–Então pode parar.

–Mas, querida...

–Nem vem.

–Você é tão irritante.

–Obrigada. -Ele empurra meu rosto, de leve, com as mãos, mas eu as seguro e ele não consegue fazer muita coisa. Faço minha expressão de vitoriosa e ele faz uma careta, desistindo. Me puxa para o lado dele, bem na hora que chamam nosso grupo.

–Ai meu Deus. -Escuto o burburinho nervoso.

–Calma, calma... -Vou em direção de alguns alunos, respirando forte. -Gente, calma. Respirem. Preciso dizer uma coisa: se algo der errado, continuem. Improvisem. Menos na dança, se errarem a dança, não improvisem nada, nem tentem fazer algo que vocês não tem certeza de que vai dar certo. Em um dos anos da nossa apresentação, uma garota quebrou o braço enquanto tentava fazer uma pirueta improvisada. E mantenham a calma.

–Não dá!

–Você vai ver. Lá em cima é tranquilo! -Tento soar animada, mas não acho que eles percebem. Fazem uma fila e saem, seguindo a senhorita Birkin.

–Vocês dois! -Ela aponta para mim e Max. -Para o auditório! Agora! -Segurando minha mão, Max começa a correr pelos corredores até achar a porta dos assentos. O lugar está cheio e repleto de conversas baixas, sussurradas que juntas se transformam em algo muito maior, mais alto. Acho Harvey e Fletcher e aceno, eles acenam de volta. Depois, localizo Cyrus e Alana e puxo Max comigo até eles.

Cyrus guardou lugares para nós.

–Os caras de Love Me Again desafinaram no final! Acho que você tem uma chance! -Ele diz. Faço um sinal positivo, depois sento. O MC apresenta o grupo, o público aplaude, e as luzes se apagam. Espero o show de luzes começar, mas ao invés disso, uma imagem começa a refletir de um projetor. A imagem se torna um vídeo.

Eu.

EU.

Sou eu, pequena. Olhando pela janela e virando para a câmera, sorrindo, e então eles começam a tocar.

Jake, o garoto do primeiro solo, começa a cantar. Estou chocada demais para falar qualquer coisa.

Isso é permitido?

Ele anda pelo palco, e a imagem reflete nele também, então fica meio distorcida. Mas ainda assim, consigo me ver ali. Feliz, acenando para o meu pai. O coro entra em cena, e a imagem muda. Agora é o grupo de música no show, mas precisamente eu, no canto, cantando em uma das apresentações. E assim vai. Varia de imagens da escola, do clube de música para imagens pessoais, dos meus pais, do meu irmão e eu, dançando na sala da nossa casa, fazendo guerra de bola de neve, coisas que eu nem lembrava que existiam.

A caixa com as fitas.

Como isso é possível?

Me viro, e meu olhar encontra o de Fletcher. "E se precisar filmar alguma coisa um dia, me chame." Ele sorri como se tivesse ganhado a loteria e eu me viro para frente outra vez, incrédula, atônita, sem querer perder nem um segundo disso.

–Meu Deus. -Quero falar com a senhorita Birkin. Quero entender como isso está acontecendo. Olho para os juízes, e eles parecem tão incrédulos quanto eu. Mas não posso negar que é um show e tanto, um que traz lágrimas aos meus olhos, por uma boa razão.

–Querida. -Max sussurra. Olho para ele, com os olhos arregalados. Ele sorri um pouquinho, mas sua expressão é de dor. -Minha mão. -Então percebo que estou apertando sua mão forte demais. Afrouxo um pouco o aperto, mas não ouso largar sua mão, porque o toque é o que impede de ir para outra dimensão agora, o que me prende na terra.

No palco, eles cantam e dançam conforme as imagens mudam, num movimento quase sincronizado que eu fico de boca aberta, toda arrepiada. Isso é mágico.

–Você sabia disso? -Pergunto para Max. Minha voz sai fraca. Ele encolhe os ombros, mas pressiona os lábios, tentando reprimir um sorriso. –Ai meu Deus.

–Que demais! -Cyrus exclama, completamente encantado. Não consigo parar de olhar. A primeira música acaba e Princess of China começa. Jill canta e dessa vez é Max que aperta minha mão. Durante essa música, as imagens e os videos que aparecem são de quanto eu tinha quinze anos, alguns com Max, alguns com a minha família, e eu fico sem fôlego, porque cada aspecto da apresentação, cada segundo, cada nota que ela canta, tudo, tudo, tudo é perfeito. Estou grata por estar sentada, porque se estivesse em pé, com certeza eu teria caído no chão, ou desmaiaria. Jill parece uma princesa, confiante e sorridente, dançando conforme a coreografia. Meus pais riem de alguma coisa, na tela enorme. Consigo ouvir vozes vindas da fileira atrás de mim, e na minha frente também, mas para mim é um silêncio absoluto. Ou talvez eu só escute a música que eles estão cantando. Meus olhos ardem cada vez mais, mas eu não ouso piscar ou tentar tirar as lágrimas dali. Quando me viro para Max, ele também está chorando, só que bem mais discreto. Finalmente, eles começam a última música, e a cena troca, passando para outra competição. Me levanto rapidamente e passo pelos assentos da minha fileira até conseguir sair e ir até o corredor. Faço o mesmo caminho de volta e encontro a senhorita Birkin na entrada do palco. Não digo nada, só a abraço. Ela me abraça de volta.

–Como você fez isso?!

–Só uma ajudinha do seu irmão e do seu vizinho. -Connor! Eu já devia saber.

–É permitido?

–Não faço a menor ideia.

–O quê?! Ficou maluca? -Mas ela só me encara, calma.

–Os alunos já sabiam o que íamos fazer. Eles aceitaram as possíveis consequências.

–Mas... -Não termino. Estou incrédula demais para falar. Eu não consigo acreditar que eles vão arriscar o primeiro lugar por minha causa.

Mas então as palavras que a senhorita Birkin me disse no primeiro dia de aula me atingem, "Precisamos de você para guiá-los. Para que as garotas dessa escola parem de se preocupar com o namorado que terminou pelo maldito celular e comecem a se concentrar no auto conhecimento. Os meninos estão perdendo o respeito pelos outros. Perdidos. Precisamos da sua ajuda." eu estava errada. Ela estava errada também, ou escondia o verdadeiro motivo de tudo isso de mim o tempo todo. Porque eu não entrei para que eu pudesse ajudar eles. Eu entrei para que eles pudessem me ajudar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!