Secret Garden ||♥|| PASSANDO POR REFORMULAÇÃO

Há uma certa medida de tempo, revelam-se todas as verdades.


Como Hinata estava demorando, resolveu dar uma folheada no livro de Jiraya, só para matar o tempo - ou melhor, a curiosidade latente que só fazia aumentar. O primeiro capítulo, intitulado "O beijo", o fez lembrar das aventuras que ouvia do já falecido avó na infância, antes mesmo de Kushina, sua mãe, também morrer. O avô contava sobre príncipes que enfrentava dragões, lutavam com exércitos inteiros e cortavam as cabeças do inimigo - claro, era preciso incrementar as estórias para que os meninos também se interessassem - tudo isso para conseguir invadir seus palácios, onde donzelas os esperavam com a recompensa de um beijo de amor.

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Não sabia ainda como era o tal beijo, pelo menos não exatamente. Pulou as primeiras três páginas, impaciente, pois ali só estavam descritas coisas que ele, apesar da inexperiência, já conhecia muito bem, o nervosismo, a euforia, a alegria, o desespero, a ternura e toda a parafernália sentimental que a pessoa amada causava no coração de um apaixonado. Foi "caçando" entre linhas e mais linhas até que encontrou o tão esperado ósculo.

Trechos do livro # "Hitsumo se aproximou da amada, os olhos fixos nos lábios tão vermelhos e, aparentemente macios daquela moça. Quando se uniram, uma explosão de sensações os invadiu. Era como flutuar no mais alto do céu, o maior e mais prazeroso presente já concedido pelos deuses. Era tão sublime tocar-lhe os lábios. As bocas unidas pelo sentimento único do amor. Ele preenchia o vazio da boca dela com sua língua e movimentos, tinha recebido a permissão para aprofundar-se no ato, pois Nako não parecia oferecer resistência alguma.

Ambos sabiam que era o que mais desejavam, completar-se, preencher-se um com o outro, esquecendo suas chagas, tornando suas vidas mais felizes e com uma razão para continuar a existir. Aquilo era amor, a mais pura manifestação de sua essência. Era maravilhoso fazê-lo, por isso repetiram uma, duas, tantas vezes quanto foram capazes, antes que a noite caísse e tivessem de se despedir. Levando consigo a certeza do amor, e de que, a partir dali, nenhum dos dois seria capaz de viver sem o outro."

Sem nem ao menos tê-lo vivido, sabia que seria igual à consequência do possível beijo com Hinata. Se um dia fosse agraciado com tal privilégio, nunca suportaria não poder vê-la, tocá-la, beijá-la, amá-la outra vez. O amor dos dois seria firmado para todo o sempre, não que já não fosse - pelo menos dentro dele havia a convicção de um sentimento verdadeiro e sincero, o primeiro e único de toda uma vida. Afoito por mais saber, ignorou as duas últimas páginas, indo direto ao capítulo indicado por Jiraya. "Capítulo 2 - Fazendo amor", era o nome do mesmo. Devia ser ainda mais inspirador, o jovem não via a hora de contar a Hinata seus sentimentos e, se ela o correspondesse, experimentar toda essa troca significante de emoções e anseios de corações simplesmente enamorados.

Trechos do livro # "Hitsumo estava tenso. Todo o vigor de sua adolescência parecia estar despertando de uma vez. Eram tantas sensações, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, sentia-se incapaz de controlar o próprio corpo. O membro enrijecido pulsava dentro das calças, anunciando o que estava por vir. Não resistiria muito tempo, não diante daqueles seios branquinhos, fartos, e que pareciam macios como as nuvens do céu. Tanto observou a obra que constatou em Nako a aprovação de seu desejo. Os mamilos intumescidos - dava para notar as pequenas elevações sob a camisola da mulher.

Nako estava entregue, deitada na cama do amado com as pernas abertas, o vazio preenchido completamente pelo corpo do mesmo. Os lábios dela alceavam um beijo. A sensação das línguas se entrelaçando dentro das bocas dos amantes, dançando a mais doce valsa, sentindo o fervor de um tango, no ritmo frenético de uma salsa. Só seria melhor senti-lo em seu sexo, insinuando a língua em suas partes, fazendo-a conhecer os céus sem precisar de assas para alcançá-lo."

Naruto enrubesceu. Não esperava tanto, logo nas primeiras linhas da página, mesmo assim prosseguiu a leitura, queria entender a complexidade daquela situação. Jamais se imaginara em algo do tipo, como ali estava sendo narrado, mas podia sentir algumas das sensações que o personagem, Hitsumo, devia estar sentindo naquele trecho, pois conseguia visualizar Hinata perfeitamente, com a mesma camisola da noite em que se viram pela primeira vez, deitada em seu leito, pedindo por sua companhia. Os seios dela eram também fartos, como os da personagem feminina do livro, não precisava tê-los descoberto para chegar a essa conclusão. Era visível o volume, não havia como disfarçar.

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Em sua visão ele podia andar, estava em plenos movimentos, e não hesitava em executá-los. Por um segundo considerou-se dominante, posicionando-se entre as pernas de Hinata, segurando seu corpo com firmeza. Quando seus lábios tocaram então os dela, maior foi sua satisfação. Em tempo real, tentou instintivamente mover a língua como descreviam as linhas, acabou envergonhado ainda mais por tentar tamanha idiotice. Mais envergonhado ainda, quando releu "insinuando a língua em suas partes". Que partes seriam estas? Meu Deus, era melhor nem pensar, pois só com isso o corpo do jovem já ameaçava reagir.

Trechos do livro # "Quando Hitsumo alcançou seus seios, sugando-os como um bebê, apertando e mordiscando os mamilos, Nako já não podia mais segurar, gritou de prazer, assanhando ainda mais o instinto sexual do parceiro."

O jovem Uzumaki já não lia mais o conto de Hitsumo e Nako a fazerem amor, agora eram Naruto e Hinata, e o primeiro vivia e sentia tudo aquilo em sua mente como se fosse mesmo real.

Trechos do livro # "Naruto não demorou, arrancou de vez o tecido, não que estivesse cobrindo alguma parte fundamental, para atingir qualquer ponto que antes estivesse oculto. Depois tratou se livrar-se das próprias vestes, a partir dali seria só prazer. O corpo de Hinata tremia, suava, se encolhia com as carícias, afagos e beijos do amado, que insistia em roçar seu corpo contra o dela, principalmente seu membro nas partes íntimas da moça, que gritava e chorava de felicidade e gozo. Quando não puderam mais conter nem as emoções, nem o desejo, Naruto invadiu sua cavidade feminina, fazendo Hinata arquear, ela arranhava e puxava-lhe os cabelos, enquanto ele penetrava cada vez mais veloz e descontrolado."

– H-Hina... - A libido que aquela imagem proporcionava era tamanha, mesmo assim era inocente demais para satisfazer-se ao prolongar essas "visões". Preferiu fechar o livro e culpar-se por ter pensado e sentido tudo aquilo em relação à Hinata. - E-Eu não, não posso pensar nessas coisas... Hinata não me perdoaria. - Ele a amava e, bem no fundo, existia a vontade de consumar aquele amor de uma forma mais intensa, mais íntima, porém, tinha medo que ela não o aceitasse, ou pior, o odiasse pela simples ideia, o repudiasse e nunca mais voltasse a vê-lo.

Embora, no momento, as imagens não lhe deixassem, o beijo, o toque, Naruto negava-se a repetir a experiência, não queria machucar a amada. Jiraya mesmo o aconselhara a não mostrar o folhetim para qualquer mulher, nem mesmo para a moça que ele tanto queria bem. Só agora entendia o porquê da preocupação do velho, não seria capaz sequer de pensar nisso perto da mesma. Entretanto... Beijar Hinata, fazer amor com ela... Kami-sama, como isso parecia bom.

Antes de conhecê-la não acreditava na cura, em sair daquela cama e viver normalmente, casar e ter filhos com uma mulher, alguém que o amasse e despertasse nele o mesmo amor que seus pais um dia haviam sentido um pelo outro. Tinha medo demais, medo da rejeição e da perda, também lhe faltava esperança, a depressão em que cairia após a morte da mãe não o deixava acreditar na chance de ser feliz um dia. Mas com aquela mulher tudo era diferente, nos orbes perolados dela encontrara a força para continuar, as palavras e o carinho dela foram capazes não só de curar o corpo, mas o coração e a alma feridos do rapaz. Tudo o que ele mais desejava, portanto, era recompensá-la com todo o amor possível, e, quem sabe um dia, poder beijá-la, casar com ela, fazer amor e ter filhos com aquela mulher, a mulher que jamais imaginara encontrar, e que agora, não poderia imaginar-se sem a mesma.

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– O que aconteceu aqui? - Tsunade se aproximou ao ouvir os gritos desesperados de Sakura por ajuda.

– A Hinata, ela desmaiou, perdeu os sentidos de repente. - Não entraria em maiores detalhes com sua superiora, nem mesmo foi preciso. Tsunade, inacreditavelmente, mostrou-se comovida pela situação e ajudou-a a colocar a amiga em pé, para que pudesse carregá-la.

– Vamos levá-la para dentro. - Assim que entraram na cozinha, ela ordenou. - Vá até a vila buscar ajuda.

– Mas Jiraya-sama está na mansão, ele pode ajudar...

– Jiraya está cuidando de Naruto no momento, ele não está nada bem, teve uma crise. - Na verdade o homem encontrava-se no porão da casa, amarrado, amordaçado e ainda desacordado, após ter sido abatido pelo vaso errante que se chocara contra sua cabeça, impulsionado, claro, por Tsunade. - Vá logo, nós não sabemos o que pode estar acontecendo com essa mocinha... Pode ser grave! - A sentença preocupou Sakura de tal forma que ignorou suas suspeitas e receios e simplesmente obedeceu a governanta sem mais questionar.

Estava tudo muito mal explicado, principalmente a parte da tal "síncope" do herdeiro Uzumaki. Quando o deixara mais cedo, constatara nele apenas os aborrecimentos de alguém que não consegue lidar com seus próprios sentimentos, porém, antes do acontecido com Hinata, Sakura tinha visto e ouvido a mesma dizer que já havia resolvido tudo com o rapaz. Talvez toda essa situação tivesse se desenrolado devido ao que Sai tinha feito a Hinata. Devia ser algo bastante grave para tê-la deixado daquele jeito, e devia também ter causado o mal estar de Naruto, pois o mesmo poderia ter presenciado de alguma forma, quem sabe pela janela de seu quarto.

Por hora não adiantaria buscar explicações. A primeira coisa que faria era ir até o vilarejo procurar o outro único médico que restava, depois de encaminhá-lo a mansão, procuraria o irmão para maiores esclarecimentos. Só assim conseguiria compreender, e até mesmo resolver esse impasse envolvendo o triângulo amoroso Hinata, Naruto e Sai.

Já para Tsunade, apesar das coisas não estarem acontecendo da maneira como havia planejado, não podia negar sua satisfação ante a situação inesperada que a colocara novamente em uma posição privilegiada. Jiraya não era mais um aliado, porém não se tornaria um empecilho, pois já não estava pleno em suas capacidades físicas para ser capaz de impedi-la. Naruto, apesar da melhora, não tinha força ou poder para fazer nada contra ela, e Hinata, esta estava a sua mercê, poderia fazer o que bem quisesse da mesma. Por enquanto iria trancafiá-la junto ao velho parceiro, depois colocaria um fim na vida de ambos, para não deixar vestígios de suas intenções.

Sakura, a serviçal, não seria problema. Tsunade já sabia exatamente o que dizer quando esta retornasse. Tinha ouvido os gritos e a confusão que acontecera a pouco no jardim, diria que Hinata havia despertado e que, desesperada, fugira da mansão, correndo para longe dos olhos da preocupada mulher que a vigiava sem poder fazer nada para impedi-la. A empregada cairia perfeitamente em sua trama, tinha certeza, logo estaria longe, com seu irmão a tiracolo, procurando por Hinata, enquanto a loira vitoriosa se ocuparia em matar a moça, o inválido e o médico.

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Minato logo estaria em casa, contaria a ele sobre o envolvimento do filho e da sobrinha, colocaria nela a culpa pela morte do primeiro. A fuga de Hinata causara tanta dor no pobrezinho que ele não havia resistido, morrera de tristeza, visto que já estava fraco e ainda mais doente, graças aos esforços e situações perigosas que a própria culpada por sua morte, havia o imposto. Após prestar condolências ao inconsolável pai, trataria de alimentá-lo com o mesmo veneno que usou para o filho do mesmo.

Logo não restaria ninguém, apenas ela, Tsunade, e toda aquela mansão e o dinheiro dentro do cofre, que ela, esperta como uma raposa, tratara de descobrir o código para abri-lo. O que não tinha sido tão difícil, o loiro escolheu justo a data de falecimento de Kushina, sua esposa, óbvio demais. Não tinha como dar errado agora, em breve seu passado de serviçal dos Uzumaki ficaria para trás, junto com todas as memórias daquela vidinha medíocre, e sem amor.

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Estava prestes a desistir quando avistou um rosto conhecido.

– SAI! ONDE ESTEVE? - Correu para o irmão. - EU PRECISANDO DE VOCÊ, ENQUANTO VOCÊ... - Recuperando o fôlego após alcançá-lo.

O rapaz, sentado na mesma árvore onde conhecera Hinata, quando esta se mudara para a casa do tio, repousava o corpo, mas não o pensamento, não conseguia esquecer ou se perdoar por seu violento ato de anti cavalheirismo com a amada.

– Desça já dessa árvore e vá já para o vilarejo... - Buscou juntar toda a paciência que lhe restava, brigar com o irmão não tornaria as coisas mais fáceis, precisava dele no momento e não de mais problemas ou confusões. - Quatro pernas vão mais rápido que duas. Se encontrar o doutor, leve-o imediatamente para a mansão.

– Doutor? - Pulou do galho onde estava, tão rápido quanto à preocupação atingiu sua consciência pesada. - Porque precisa de um doutor?

– Hinata perdeu os sentidos.

– O que...? - Foi tudo o que precisou ouvir para se arrepender completamente do que havia feito. Sua atitude impulsiva e inconsequente causara tamanho sofrimento à garota que a deixara nesse estado peculiar. Imediatamente se colocou a caminho do lugar onde a encontraria, precisava pedir desculpas, fazer algo para compensá-la, mas a irmã mais velha, e mais sábia, interpôs-se e ordenou.

– Vá atrás do doutor agora Sai. Não temos tempo para arrependimentos, seja o que for que tenha feito terá tempo para desculpar-se outrora. O que Hinata precisa agora é de um médico, eu não pude encontrar ninguém sozinha.

– Mas Jiraya-sama não está na mansão?

– O Naruto-sama teve uma espécie de síncope, não está bem e Jiraya está cuidando dele.

– Será que... Será que tudo isso foi por minha culpa?

– Não há tempo para questionamentos. Vai logo para a vila Sai! - Empurrou o irmão, com a intenção de apressá-lo. O rapaz saiu em disparada pela estradinha que levava ao lugar almejado. A rosada achou melhor deixar o outro se ocupar dessa incumbência, enquanto ela retornaria a mansão para ajudar Hinata, e Naruto se fosse preciso.

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– M-Mas... O QUE VOCÊ TA FAZENDO AQUI?

– Calma, Naruto, meu querido. Estou aqui só pra trazer esse chazinho. - Adentrou o quarto do rapaz com uma bandeja na mão.

– ONDE... ESTÁ... A HINATA? - Pausadamente, questionou. Não lhe agradava em nada a presença da governanta, muito menos quando esperava ansioso pelo retorno de sua amada.

– Bem... Parece que a Hinata-sama... Ela teve um imprevisto e...

– O QUE ACONTECEU COM ELA? SEJA DIRETA!

– Eu não sei bem o que aconteceu, acho que sua amiguinha teve um impasse com, com o irmão da empregada, o tal Sai.

– Sai? - O individuo que também amava Hinata, aquele que possuía a vantagem de poder andar, correr, estar com ela o tempo todo. - O que... Aconteceu? - Será que ela havia escolhido ficar com o amigo enfim, se decidido de uma vez por todas a ficar com ele e esquecer-se do primo inválido? Seu coração não resistiria, não ele não seria capaz de aguentar aquilo.

– Eu os vi no jardim... Essa juventude é tão... Impetuosa. Confesso que não esperava, Hinata me pareceu tão recatada no início. Se bem que, entrar no quarto de um homem durante a noite, noites seguidas aliás, não e coisa de moça de respeito... - Ironizou.

– O QUE ACONTECEU? - Perdendo completamente o senso e a paciência. Não gostava de ouvir aquelas insinuações... Ele, mais do que ninguém, conhecia Hinata, sabia que seria incapaz de qualquer coisa indecorosa, como a loira tentava colocar. Porém, o que lhe preocupava era a ideia de ter sido rejeitado, descartado pela possível opção da moça pelo jovem amigo que podia andar.

– Nada demais, pelo menos não para as modernidades desse tempo. Eu é que devo estar ficando... Velha, ou conservadora demais. Um beijo assim, ao ar livre, sem nem ao menos possuir algum tipo de compromisso, sem estar casada... Há um tempo atrás esse tipo de atitude seria severamente punida. - A semente da discórdia estava lançada, não demoraria muito para florescer o ódio, a revolta. Tsunade sabia muito bem dos sentimentos do rapaz pela prima, percebera mais cedo na escadaria, e era inegável a preocupação e desespero dele em saber sobre a moça. Entretanto, tinha absoluta certeza que o sofrimento que essa afirmação lhe infringira fá-lo-ia não só desprezar, mas também ignorar qualquer informação sobre o futuro da mesma. Nem o desaparecimento, nem a morte de Hinata seriam problema agora.

– Beijo...? - Então era mesmo verdade, ela tinha escolhido o outro, caso contrário jamais teria vivido com o mesmo uma experiência tão significante, que só caberia ser vivida com alguém que representasse algo em seu coração. Sentiu uma dor incomensurável no peito, no coração, na alma. Sempre se negara a apegar-se as pessoas, justamente pelo medo de ser abandonado, ou novamente perder a pessoa amada, mas, naquele instante, não era a simples rejeição que amargava, era perder a chance de vivenciar o amor que considerava ser o único e verdadeiro de toda a vida. Doía perder a mulher amada, a mulher de sua vida, não era simplesmente perder alguém de seu convívio. Não tinha mais só a ver com solidão, mas com não poder estar com aquela que detinha total poder sobre seus sentimentos.

– Não vai tomar seu chá, querido? - Colocou a bandeja no colo do rapaz. Manteve a expressão indiferente, mesmo estando a gargalhar dentro de si, satisfeitíssima pelo fim glorioso que a peça estava por tomar. Naquela xícara Naruto encontraria o fim para seu sofrimento, em consequência, faria de Tsunade a mulher mais feliz do mundo. Em poucos segundos ele seria um homem morto e ela estaria a poucos passos da fortuna Uzumaki.

– Sai... DAQUIIIIII! - Arremessou a bandeja contra a porta, parecia completamente fora de si, completamente transtornado. - SAAAAAI, SOME DA MINHA FRENTEEEE! - Socava o colchão, os travesseiros, e os arremessava contra a mulher.

– Eu volto mais tarde... - Só restou à mesma deixá-lo, não importava muito que ele tivesse adiado a resolução de seus planos, ela o faria com ou sem o consentimento dele. Afinal, o que um inválido, um paralítico poderia fazer? Bastava uma singela seringa, recheada com o mesmo veneno que colocara antes no chá, para adormecê-lo para todo o sempre.

– HINATAAAA! - Atirou-se no colchão desolado, aquela dor era a maior que já tinha sentido, insuportável, não sabia se poderia resistir. As lágrimas foram inevitáveis, escorriam aos baldes, molhando os lençóis, correndo como um rio por suas bochechas. Não podia mudar a decisão de Hinata, nem mesmo pensava em fazê-lo. Antes disso acontecer, tinha prometido a si mesmo deixar que ela seguisse o caminho que bem entendesse, a apoiaria e não tentaria interferir de forma alguma naquilo que ela acreditasse ser o melhor para ela mesma, embora não fosse possível fingir não estar destruído, seu sofrimento era tremendo, e isso ele também não mudaria. Restava apenas chorar, chorar desolado esperando sozinho pelo fim da vida.

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Ao abrir os olhos uma escuridão tremenda a acometeu, parecia até mesmo que ainda não havia os aberto. Estava deitada sobre algo duro e frio, devia estar caída no chão, concluiu. O nariz parecia irritado, devia haver muita poeira naquele lugar. Tentou mover-se, levantar, mas não conseguiu, suas mãos pareciam estar... Amarradas?

– Nani? O-O que, o que está acontecendo...? - Não podia se mexer, não conseguia enxergar. Era realmente desesperador. Só aliviou-se, ou não, quando ouviu a voz que rompia sua solidão angustiante.

– Hinata-sama?

– Q-Quem, q-quem está, quem está ai?

– Sou eu, Jiraya, o médico de Naruto-sama. - Só então os nervos foram se acalmando. Mas o que estariam Jiraya e ela fazendo naquele ambiente apavorante, em completa ausência de luzes, ainda por cima, estando Hinata de mãos literalmente atadas? A mesma não lembrava de nada que pudesse explicar aquela situação peculiar, acordara ali sem orientação nenhuma, após o incidente terrível com Sai – o descortês beijo que deflorara seus lábios e condenara todo o resto de seu corpo a uma existência vazia e sem o amor de sua vida.

– Ji-Ji-Jiraya-sama? O que, o que está acontecendo?

– Eu não sei dizer ao certo... – A voz parecia se aproximar, talvez Jiraya estivesse tão perdido quanto ela, ou tentasse ajudá-la. - Tsunade está fora de si. Como pode jogar-nos nesse porão...? Tenho medo do que ela fará lá em cima, sozinha...

– A Tsunade-sama nos jogou aqui? - Boquiabriu-se. Sabia que a governanta não era das mais confiáveis, muito menos aparentava ter qualquer afeição ou bom sentimento para com sua pessoa, mas daí a amarrá-la e atirá-la ao porão, junto com Jiraya, que até então acreditava ser o "namorado" da mulher. Como isso podia ser possível? E pior, qual seriam as intenções daquela mulher ao fazê-lo? Temia pelo próprio destino, apesar de ainda não acreditar que Tsunade pudesse causar maior moléstia, mas, acima de tudo, temia por aquele que estava solitário a lhe esperar sem nem ao menos imaginar algo sobre o tudo que estava acontecendo. A loira que os aprisionara ali, a Hinata e Jiraya, só podia estar demente, e nesse estado não hesitara em agir com malevolência com o rapaz, ou com Sakura e seu irmão, Sai – apesar da atitude vil que o último tomara em relação a sua pessoa, o coração da garota era benevolente o suficiente para se preocupar com ele também.

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– Hinata-sama, eu não queria que tivesse de passar por isso... – O médico encontrava-se em sincero arrependimento desde o momento de sua possível última conversa com Naruto. Se pudesse voltar no tempo naquele instante, o faria sem titubear, e mudaria sua resposta ao oferecer ajuda as solicitações mal intencionadas de seu antigo amor. - Acho que, a essa altura, não cabe mais esconder nada de você... Vou contar-lhe tudo sobre minha maior desventura.

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