Tristan

Ser expulso por Gabriel fora como receber uma flechada de qualquer um dos outros anjos ou talvez uma facada nas costas por algum amigo. O olhar de Schyler estava sempre fio no meu praticamente implorando para que eu voltasse e tentasse fazê-los entender que todas as acusações contra mim eram completamente falsas.

Bem que eu queria conseguir convencê-los disso.

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Voei para bem longe dali. Longe da humana a quem eu tinha que proteger, de Schyler que me dera sua amizade, Gabriel quem pensei ser um irmão e de tudo que pudesse me incomodar. Eu queria apenas sentir a dor quase que física por me sentir um inútil, não conseguir me soltar de Dorian e Alec e implorar para que Gabriel me entendesse.

Aquela deveria ser a sensação que todos os anjos sentem quando são expulsos do céu.

Ignorei os pensamentos voltados à cena em que me tiraram da casa e principalmente a imagem do olhar de Schyler quase que doloroso por me ver daquela forma. Deveria ser por esse motivo que Gabriel acreditara mais no demônio do que em mim – o terrível ciúme por algo que nem ao menos existe. Eu deveria ter percebido quando salvamos Carrie que o olhar do anjo caído refletia toda a dor por achar que poderia perde-la para mim.

Mas isso nunca aconteceria. Anjos são criaturas de luz, representam toda a bondade do mundo e jamais fariam algo daquele tipo, exceto anjos e arcanjos como os que caíram por algo errado que julgaram ser certo, pois ajudaria alguma alma. Por essa razão, eu sempre soube que a bondade era algo confuso, o qual não poderia ser feita com apenas com o pensamento de que iria ajudar alguém. Há sempre os dois lados e por isso, os anjos que nunca caíram agiam sempre pensando nas consequências da bondade.

Eu deveria estar tentando ignorar as ideias que surgiam em minha mente, como a de voltar e enfrentar Gabriel, mesmo sabendo que ele poderia me vencer sem nenhuma dificuldade. Mesmo sendo um ex arcanjo, Gabriel ainda possuía resquícios de sua época celestial, de quando era um dos principais no comando e mais próximo à Deus.

Voei para longe, em um hotel completamente abandonado no centro de Pequim, onde ninguém poderia me ver e eu não precisaria esconder minhas asas. O lugar estava caindo aos pedaços, nem ao menos a madeira do chão dos andares de cima estavam no lugar, apenas restos de mobília usada na época que o hotel funcionava e agora, um anjo perdido em tristeza e a falta de utilidade. A garotinha que eu deveria estar protegendo sentiria minha falta, mas agora, nem ao menos a sensação de dever não cumprido não conseguia mascarar a sensação de ter sido traído.

Joguei-me entre a mobília do segundo andar do hotel abandonado, onde eu poderia ver a movimentação de pessoas nas ruas próximas dali sem que ninguém soubesse de minha presença. Porém, logo que me sentei próximo a abertura, avistei um anjo da guarda como eu, sentado sobre um banco na calçada bem ao lado de um menino segurando um lanche. O anjo o olhava com ternura, algo muito parecido com meu próprio olhar sobre a menina que eu mesmo deveria estar cuidando como aquele anjo estava com o menino.

Assim que me visse, a notícia de um anjo da guarda não realizando sua tarefa se espalharia e logo alguém viria até ali. Seria ainda pior se alguém me reconhecesse como amigo do ex arcanjo Gabriel e um demônio soubesse, assim, aconteceria uma verdadeira guerra ali dentro.

Passaram-se horas desde que vi o primeiro anjo, depois daquilo acabei por dormir ali mesmo tentando esquecer o fato de que deveria tentar voltar. Mesmo que Gabriel não me quisesse ali, Schyler precisava de minha ajuda e eu a ajudaria dando minha vida se necessário, pois ninguém além de mim via o brilho ao redor daquela Nefilim – a bondade de sua alma e o principalmente como o próprio demônio dissera, ela mudaria o mundo.

– Não é muito comum encontrar um anjo parecendo perdido dessa forma, Tristan.

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A voz desconhecida fizera com que todos meus alertas mentais ligassem. De forma defensiva, abri as asas o máximo que podia ao pairar no ar e pousar a poucos metros do intruso.

– Como sabe meu nome?

– As notícias de que há um anjo aqui não realizando seu dever se espalham depressa. – disse o homem. – Principalmente quando esse anjo está ajudando o mais novo anjo caído Gabriel.

Nem ao menos minha espada apontada na direção de seu coração deteu o homem de se aproximar de mim. Seu rosto e corpo estavam cobertos por um manto negro encapuzado, permitindo apenas que eu visse suas mãos mostrando que não trouxera arma alguma. Ainda alerta, tentei retirar o capuz com a ponta da espada, porém o homem se afastou antes que eu pudesse ver seu rosto.

– Quem é você? – perguntei abaixando a espada. – E o quer comigo?

– Sei de suas intenções com o a Nefilim e Gabriel e sobre a futura guerra que acontecerá pela primeira vez, com três lados opostos. – disse. – Sou apenas um andarilho, Tristan, mas carrego comigo apenas a vontade de ajuda-los. Posso não ser agora o guerreiro que um dia fui, mas tenho algo em comum com a Nefilim que o fará me levar até Gabriel e ela.

– Sinto muito, mas não estou mais com eles. – guardei minha espada bem escondida entre meu casaco ao perceber que as intenções do andarilho não eram perigosas. – Fui expulso, um demônio os enganou fazendo-os pensar que eu era um traidor.

O andarilho pareceu confuso com aquela informação, quase que irritado por conta de algo. Por mais que agora eu soubesse que o que ele realmente queria era ajudar na guerra, ainda assim havia algo de muito estranho nele que poderia significar perigo.

– Como?! – esbravejou ele. – Como puderam ser tão tolos a ponto de achar que um anjo da guarda seria traidor?!

Dei de ombros.

– Demônios podem ser muito convincentes quando querem.

Depois de horas me castigando por pensar eu mesmo ser o culpado de ser expulso, cheguei num ponto que nem ao menos me importava mais. Mas, quando eu estava pronto para deixar de lado as ideias absurdas de voltar para Gabriel e Schyler, aquele homem chegara. Por essa razão, havia algo de estranho nele – não parecia anjo e nem ao menos demônios, não poderia ser humanos, pois conseguia me ver com muita facilidade.

Afinal, quem era aquele andarilho?

– Você precisa voltar para ajuda-los, Tristan. – disse ele mesmo que eu já estivesse pronto para voar para longe dali onde poderia ter alguma paz. – Eu sei de algo que irá fazê-lo mudar de ideia.

Suas palavras realmente me fizeram abaixar as asas novamente e me virar novamente para ele. Por um segundo ele pareceu hesitante e em dúvida, porém seus gestos mostraram que estava pronto.

Suas mãos abaixaram lentamente o capuz que lhe cobria o rosto e assim que pude ver suas feições, o choque por tê-lo reconhecido fora grande.

– Agora você sabe quem sou. – murmurou. – Leve-me até ela, Tristan.