Sangue nas Areias do Foguete

“Quando pensamos que não pode ficar pior”


Camila estava no quarto feminino, mexendo descontroladamente em seu computador, quando ouviu alguém batendo a porta. Pediu para que entrasse, e então, Vinícius e Louise se revelaram no recinto.

Com um sorriso leve, ela os recebeu, e fechou seu notebook.

— Oi! Como estão? – Ela perguntou.

— Abalados, é claro! – Respondeu Vinícius, sentando-se ao seu lado, quase chorando novamente só de lembrar do ocorrido – Não soube? Mataram o Hugo!

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Ela mordeu os lábios, demonstrando preocupação.

— Soube sim. E eu lamento muito!

— Foi uma tragédia! – Comentou a detetive Louise.

— E já sabem quem cometeu o crime?

— Temos suspeitas. Mas precisaremos da sua ajuda para precisar mais ainda a nossa investigação. A morte de Alice e de Hugo estão totalmente interligadas.

Camila arregalou os olhos, em surpresa.

— Em quê posso ajuda-los?

— Pode ajudar dizendo qual foi a última vez que viu o Hugo.

— Lembro-me bem disso. Eu estava aqui mesmo. Ele veio aqui para me perguntar sobre como andava as investigações. Bem, eu parei de pesquisar faz um tempo, sabe. Pelo que eu fiquei sabendo, ele estava mexendo nas coisas dos outros!

— Sei bem... – analisou o rapaz – Ele deve ter apertado no calo dos outros. E, por isso, teve esse fim horrível. Mas estamos indo atrás desse criminoso!

— Então vocês acham que quem matou ele, matou Alice também? – Ela questionou, curiosa.

— Com certeza! – A detetive respondeu.

Os três ficaram um tempo ainda em silêncio, refletindo naquela situação.

— Faz sentido! – Assentiu a jovem – Uma queima de arquivos! Ele estava chegando perto de encontrar ao assassino, e quando este percebe, ele comete mais um crime!

— Exatamente! – Exclamaram juntos.

Vinícius respira fundo, e lembra de todas as informações que já recebeu. Vira-se novamente para sua ex-namorada.

— Você suspeita de alguém? – Ela o olhou com surpresa. Parou um pouco para refletir.

— O Miguel, mas não tenho certeza. Há outras pessoas que parecem esconder segredos...

— Tipo quem?

— Tomas, Micaela, Taís... Fora toda a família Drummond.

Enquanto os estudantes discutiam, Louise mexia no celular descontroladamente.

— Víni, – a detetive o chamou, interrompendo os dois – venha. Já sei de algo que podemos fazer agora.

Ele já se mostrou pronto.

— Posso acompanhar? – Perguntou Camila, gentilmente.

— Oh, melhor não, querida. Preciso evitar o risco à segurança do máximo de pessoas possível. Qualquer coisa te avisamos!

— Está bem então. – A menina concordou, dando de ombros.

Os dois foram para os fundos da enorme casa, deparando-se com a bela vista da Praia do Foguete. À direita deles, estavam alguns repórteres fotografando e interrogando Emily Drummond, que estava extremamente maquiada, arrumada e com os cabelos preparados para aparecer na TV e nos blogs de notícia.

Louise a fitou com raiva. “Que mulher sem noção! ” Pensou ela. Desceu as escadas com seu acompanhante e se dirigiu até aquela cena.

— Então, Srª Drummond, o que tem a dizer sobre o crime que aconteceu na sua própria casa? – Perguntava um jornalista.

— Ah, foi realmente uma barbaridade! – Exclamou, expressando uma compaixão falsa – A menina, coitada, tão jovem e inocente. Não viu nada da vida ainda. Mas essa mocidade anda muito desandada, sabe? Festas, bebidas, drogas, sexo... Quem acompanha meu blog sabe o que falo sobre isso. Devemos educar nossos jovens! E pensando nisso, queria anunciar, aqui, o meu projeto de criar uma ONG com o objetivo de oferecer às crianças carentes um espaço destinado a desenvolver habilidades esportivas, lazer, alimentação e acima de tudo, serem educadas por gente capacitada! Sim, isso é possível! Basta votarem em Rodrigo para governador do Rio de Janeiro!

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— E quando pensamos que não pode ficar pior... – Comentou Vinícius, em alto som, chamando a atenção dos participantes da entrevista.

— Corta! – Exclamou o diretor, que estava atrás do homem-câmera – Rapaz, o senhor estragou a entrevista! – Fitou o rapaz, furioso.

Emily não pareceu irritada, mas espantada com a presença de Louise.

— Senhor, eu cortei antes de ele ter falado aquilo. – Falou o homem-câmera.

— Ah, excelente! – Ele suspirou aliviado. Dando um tapa de leve no seu funcionário. Virou-se novamente para Vinícius e disse: – Mas não faça uma coisa dessas de novo, poxa!

Ele deu de ombros.

— Ah, peguem leve com ele! É irmão da vítima e melhor amigo do jovem que foi morto essa manhã. – Falou Emily.

— Bem, então por que não o entrevistar também? – Disse o jornalista.

— Tudo bem! Vamos lá! – Imediatamente, a câmera se voltou para Vinícius, o que lhe deixou meio nervoso, mas respirou fundo e se manteve calmo.

Pensou em inúmeros lugares horríveis para mandar todos ali irem, mas preferiu se calar e responder à entrevista.

— Você, irmão da vítima, o que diz sobre essa sequência de assassinatos ocorridos no mesmo lugar? – Perguntou ele.

O rapaz demorou um pouco para pensar.

— Acho que toda essa tragédia, no fim, mostrará a verdadeira face de certas pessoas. E podem acreditar que o culpado não sairá impune! – Disse, com convicção.

— É o que esperamos também! – Falou o repórter – Corta!

Eles desligaram a câmera e se retiraram, deixando apenas Vinícius, Louise e Emily no local.

— Queremos falar com a senhora! – Anunciou a detetive – Podemos ir para um quarto da casa?

Ela assentiu e, sem muita conversa, foram para o quarto onde faziam os interrogatórios.

— Em que posso ajudar? – Perguntou, sorridente.

— Hugo morreu ontem, não afogado, mas estrangulado. E não foi aqui, na casa. Foi longe! A correnteza mostra isso.

— A correnteza muda a todo momento. Que bobagem!

— Não! Não é! É a vossa palavra contra a de um especialista! E apenas somente quatro pessoas saíram ontem, de carro. Sua família. O que tem a dizer quanto a isso?

Emily olhava para todos os lados. Suas mãos abriam e fechavam descontroladamente. Engolia saliva. Era nítido o seu grau de nervosismo. Não era como seu esposo, que conseguia esconder as emoções facilmente e parecer carismático, com razão. Demorou um tempo para responder.

— Tudo não passa de uma coincidência! Eu saí com Rodrigo e os filhos dele para a lagoa, aproximadamente às cinco da tarde, como vocês sabem. Voltamos às oito horas para pegar outras roupas e sairmos para a orla de Búzios. Acabamos indo para um hotel. Um quarto para Bia e Christian e outro para eu e meu marido. Era para termos um momento a sós, que merecemos! – Respondeu, gaguejando.

— A senhora tem certeza disso? Não está tentando proteger ninguém, não é mesmo?

Ela já não estava nada confortável. Dessa vez, começou a tremer.

— Eu tenho! Não quero proteger ninguém! Não sou assassina. Sou uma mulher que ama seus afilhados e seu marido!

— Ama tanto que é capaz de ignorar a lei para salvá-los da cadeia? – Indagou, pressionando ainda mais a loira.

— Não! – Com as pernas bambas, caiu sobre os próprios joelhos e pôs as mãos sobre o rosto, angustiada – Pare com isso! Eu não fiz nada! Armaram para mim. Mas não fizemos nada! Eu juro!

Louise ficou em silêncio, deixando-a naquele estado de aflição. Percebeu que ela chorava.

— Talvez não seja essa a vida que queria, né? – Foi Vinícius que falou.

— Do que está falando, garoto? – Ela o olhou com raiva.

— Acho que você não é o tipo de mulher que sonhava com o tipo de marido que tem. Dá para ver em seu rosto isso!

— Eu amo o Rodrigo! Pare com isso!

— Ama mesmo? Ou está acostumada com ele?

— Eu amo... – Sua expressão mudara de repente. Ao se lembrar de seu passado, começou a sorrir com leveza – Não esse Rodrigo. Mas o que, um dia, eu conheci... Há vinte e seis anos atrás. Éramos tão jovens... Ele era uma boa pessoa. Tinha suas ambições, mas era gentil, companheiro e bondoso. Mas depois... – adotou, no momento, um tom amargo – O dinheiro o cegou. Terminamos. Ele conheceu uma moça rica e a engravidou. Deu a luz a Christian. O pai dela era político, o que o fez entrar para o ramo. Lá, ele se desvirtuou completamente. A mulher pediu divórcio. Alguns meses depois, já estava com outra, que deu a luz à Bia. E depois de quatro anos, eu que estava solteira ainda, depois de inúmeros romances ruins, apareci na vida dele novamente. Casamos e aqui estamos. Ele com suas coisas políticas e eu aqui, apoiando-o.

Vinícius e Louise se entreolharam, surpresos com a confissão da mulher.

— Você ainda o defende? – A policial se aproxima dela, com um tom de voz firme – Se algum dia Rodrigo Drummond foi uma pessoa boa, isso ficou no passado! Morreu! E hoje, ele está apenas fazendo mal para os outros. Mal para a sociedade, para seus filhos e para você! Não percebe isso?

— O que quer que eu faça? Abandone tudo? Tudo o que tenho é essa família!

— Você tem pais? Tem irmãos? – Interrogou-a, seriamente.

— Tenho. Graças ao meu relacionamento com o Rodrigo, consegui dar a eles uma vida digna. Estávamos na falência antes de tudo. – Respondeu, entre soluços.

— Sua vida era tão ruim assim para valer a pena dormir, todos os dias, com um homem que engana milhões de pessoas, em troca de dinheiro?

— Não fala do que não sabe! Não é só dinheiro! É um lar! Uma família!

— Mesmo assim, Emily! Acorda! Veja tudo o que já aconteceu! Ele é um criminoso e continuar com ele a faz ser uma também!

Ela fechou os olhos e deixou as lágrimas virem.

— Por favor... O que quer com isso?

— Quero que diga tudo o que sabe sobre os crimes. – Informou, deixando um silêncio perturbador no ar.

— Vocês já não sabem? Hein, Vinícius? Já não têm provas mais que suficientes? Já terá o que quer. Não sei onde mais quer chegar com esse joguinho? – Ela falava, olhando freneticamente para o rapaz, espantado com aquelas palavras.

— Sabemos. Por isso mesmo queremos te ajudar a não cair como Rodrigo cairá. – Afirmou o rapaz.

Emily olhou para baixo, tentando achar uma saída.

— Eu não sei de nada. E ele não vai cair assim dessa maneira tão baixa!

Louise a lançou um olhar furioso. Cerrou os punhos e mordeu os lábios. Queria berrar na cara dela, mas manteve o controle.

— Então está bem! – Finalizou, puxando Vinícius, que fitava a mulher com desprezo, para fora do quarto.

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— Nossa! – Exclamou ele – O que foi isso?

— Isso – ela disse, guiando-o para um local mais reservado no segundo andar da casa – é o que acontece quando as pessoas se agarram a coisas materiais. Prestam a esse tipo de coisa! Por que ainda me surpreendo?

Após subirem as escadas, a mulher passou a mão em seus cabelos e respirou fundo. Processando as informações.

— Mas ela não sabe o quanto foi útil! – Disse ela, sorrindo.

— É. Mas algo me preocupa.

— Como o quê?

— O crime todo aconteceu por um motivo que não identificamos ainda. Até agora.

— Verdade. Isso ainda me intriga.

— Acho que, a mim, não mais. Posso estar errado, mas irei descobrir! – Ele falou, e desceu novamente as escadas, quando sentiu Louise o parar.

— Ei, espera! Já são uma da tarde! Vamos ao restaurante almoçar alguma coisa. Depois voltamos para o caso.

Ele ponderou, mas aceitou o convite. Entrou no carro com ela. Daniel e os outros policiais foram em outro veículo.