Sangue escarlate

Capitulo 4


– Katniss! - Minha mãe chamou delicadamente abrindo a porta.

Desde que havíamos fugido da casa de minha avó, eu não conseguia mais sentir Peeta, por mais que eu o chamasse ele não vinha até mim. Subi ao meu quarto e me concentrei o máximo que podia com todo o fluxo de informações que corria em minha cabeça, tentei lembrar como eu havia conseguido trazê-lo de volta a mim, mas por mais que eu pensasse a relação entre mim e Peeta sempre fora natural, ele sempre estava ali quando eu precisava, sem sequer eu precisar chamá-lo, bastava pensar, e ele estava ao meu lado acariciando meu rosto com seus dedos angulosos e gentis.

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– Sim, mãe? - Perguntei frustrada comigo mesma, sentando-me na cama para poder olhá-la melhor.

– Você quer conversar sobre o que aconteceu hoje? - Minha mãe perguntou delicadamente, sentando ao meu lado na cama.

– Não sei, eu não entendo exatamente o que aconteceu! - Confessei confusa, escorando minha cabeça em seu ombro, em busca de consolo.

Eu ainda podia sentir a alma de Belle chorando dentro de mim.

– Isso é um pouco complicado! - Minha mãe respondeu acariciando meu cabelo, escorando-se na grade de minha cama.

– Eles me odeiam! - Respondi como uma criança irritada com o fato de a ignorarem.

– Não é você, é a Belle dentro de você! Em algum momento entre a morte dela e os dias atuais, um parente despeitado criou a ideia de que fora culpa dela a magia ter sido restringida em nossa família! - Minha mãe esclareceu calmamente.

– Você não acredita que foi ela? - Perguntei confusa com as palavras de minha mãe, erguendo a cabeça para poder olhar seu rosto singelo.

– Existe um tempo muito grande entre que aconteceu e o agora, os fatos podem ter sido alterados! - Minha mãe explicou com um ar misterioso, de quem sabe mais do que está revelando.

– O que você sabe que eu não sei? - Perguntei curiosa, erguendo-me mais para poder olhar em seus olhos verdes.

– Eu já lhe contei a história de seu nascimento? - Minha mãe perguntou risonha, com aquele olhar de quem está prestes a contar algo estranhamente empolgante.

– Qual? A que você me achou no zoológico junto aos pássaros? - Perguntei sarcasticamente.

– Você ainda lembra-se disso? - Minha mãe perguntou em meio às gargalhadas.

– Não foi nada legal quando eu reproduzi a história para os outros sabia? - Justifiquei sentindo a vergonha de anos atrás tomar conta do meu rosto.

– Eu nem sei de onde eu tirei isso! - Minha mãe continuou gargalhando.

– Acho que foi uma adaptação de Mogli! - Respondi ajeitando-me melhor em minha cama, incomodada com suas risadas.

– Sim, você adorava essa história! - Minha mãe continuou sorrindo.

– Você está fugindo do assunto! - Falei calmamente, alisando a coberta sobre minhas pernas.

– Certo, bem eu não achei você num Zoo! - Minha mãe concluiu rindo, e eu apenas fiz uma careta para ela. - Você sabe que eu não sou da família, certo? - Ela perguntou sorrindo, eu concordei com a cabeça e ela continuou. - Diferente do resto da família, seu pai não quis casar com uma prima de décimo quinto grau, e sim comigo, e por esse motivo sua avó me odeia! - Minha mãe continuou perdida em seus pensamentos.

“Quando nos casamos, nós ainda não havíamos montado a casa, então moramos um tempo com sua avó, claro que eu já conhecia os segredos da família, e isso me ajudou bastante a não fugir na primeira noite de lua cheia. Com o tempo a casa parecia nunca ficar pronta, havia sempre um telhado para trocar, ou um buraco para tapar, enfim, nossa estadia de meses passou a ser de dois anos, e durante esses dois anos eu podia sentir a atmosfera pesada que se espalhava onde quer que sua avó fosse.”

– O que a vovó tem haver com isso? - Perguntei curiosa como uma criança de 5 anos.

– Deixe-me terminar que você vai saber! - Minha mãe concluiu séria, ela odiava ser interrompida. - O sonho de seu pai era ter um filho, e mesmo tentando durante um ano, eu ainda não havia conseguido engravidar. Nós já estávamos apelando para as mandingas do seu pai, quando um dia, andando pela casa eu encontrei o diário de Belle!- minha mãe falou sorrindo.

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– Como ele foi parar lá? - Perguntei encantada, com o fato de poder conhecer um pouco de minha antepassada.

– Bom, não sei se você sabe, mas a casa de sua avó é a mesma casa que as seis famílias viveram, quando fugiram da inquisição! - Minha mãe explicou com sabedoria. - Ela sobreviveu a primeira guerra mundial, e a muitas outras coisas e ainda continua firme e forte, com todo os seus compartimentos secretos, e foi num desses compartimentos, no antigo quarto de Belle que eu encontrei seu diário. - Ela concluiu sorrindo acariciando meu cabelo.

– O que dizia? - Perguntei curiosa.

– O que todo diário conta! Eram as anotações de Belle, e pelo que ela escrevia, eu não acredito que Belle tenha feito tudo o que dizem. Ela não era egoísta, era uma menina gentil e apaixonada. E foi por causa dela que você nasceu! - Minha mãe falou acariciando meu rosto, seus olhos repletos de uma emoção que eu só vira nos vídeos de seu casamento. - Eu já estava desistindo, quando encontrei o diário, Belle me parecia tão gentil, e eu havia feito tanto coisa, que pedir sua ajuda pareceu ser algo normal, então eu acendi uma vela e pedi sua ajuda, e nove meses depois você nasceu! - Minha mãe concluiu sorrindo, uma lágrima escorrendo por sua face.

– E o diário? - Perguntei entusiasmada com as revelações que minha mãe havia feito.

– Está no lugar onde encontrei! - Minha mãe revelou sorrindo.

Encarei-a descaradamente, como ela podia simplesmente deixar algo tão precioso quanto o diário de Belle no mesmo lugar onde havia encontrado.

– Não me olhe assim, não era meu, eu não podia ficar com ele. - Minha mãe explicou séria.

– Mas era meu, ou pelo menos de uma parte de mim! - Rebati obstinada.

– Você ainda pode buscá-lo, está no quarto de hóspedes da sua avó! - Minha mãe concluiu sorridente.

Fiz o máximo possível para não encará-la novamente, mas foi algo inevitável.

– Ah claro, vou bater lá e dizer “oi vovó, sei que me odeia, mas eu quero pegar o diário da belle no seu quarto de hóspedes, que a minha mãe achou antes de eu nascer!” - Respondi sarcasticamente.

– Esse seu tom não me agrada, você é uma bruxa, pode fazer muito melhor que isso! - Minha mãe, respondeu levantando-se da minha cama.

– Você fala como se fosse fácil! - Gritei para ela fazendo-a parar na porta.

– Sempre é fácil, somos nós que tornamos tudo difícil! - Minha mãe concluiu sorrindo e fechando a porta.

– Faz você então! - Resmunguei de volta, deitando-me na cama e encarando novamente o teto.

Fechei os olhos e tentei relaxar, eu ainda podia sentir meu corpo tenso do estresse que eu havia passado aquela noite, e Peeta, poder ouvi-lo mesmo depois de ter reascendido não fazia sentido, mas nós nunca havíamos feito sentido mesmo.

– Peeta! - Sussurrei numa lamúria, desejando de todo o coração poder ouvi-lo novamente, pois só sua presença tornava tudo aquilo mais fácil.

Fechei os olhos esperando ouvir sua voz novamente ao meu ouvido, desejando sentir seu toque mesmo que frágil sobre minha pele, ansiando por seu hálito fresco em meu ouvido, mas principalmente, desesperada por ver seus olhos profundos e expressivos sobre os meus, indicando que nem tudo era um mar de perdição como eu sentia ser.

Eu sabia que estava sonhando porque não havia nada ao meu redor, apenas um grande vazio escuro e sem vida, mas estranhamente eu não estava com medo.

– Amica mea! - Peeta sussurrou surgindo do nada na minha frente, seu corpo perfeitamente visível pra mim.

Corri em sua direção ouvindo meus passos ecoarem no vazio, e quando nossos corpos se chocaram um contra o outro, não pude deixar de conter minhas lágrimas, lágrimas pelo que havia acontecido, lágrimas por minha dor, lágrimas por achar que o havia perdido.

– Você não me deixou! - Sussurrei num suspiro, entre um soluço e outro em seu peito.

– Eu nunca a deixei! - Peeta sussurrou acariciando meu cabelo delicadamente.

– Por quê? - Perguntei erguendo o rosto para poder ver seus olhos brilhantes olhando piedosamente para mim.

– Porque é você! - Peeta falou sério.

– Não, por que você não se foi? Você deveria ir quando eu reascendi, você não deveria estar aqui, por quê? - Perguntei ainda com os braços envoltos em seu dorso, com medo de que se o soltasse, ele fosse desaparecer como das outras vezes.

– Por você! - Peeta sussurrou beijando levemente meus cabelos. - Sempre foi você Amica mea! - Peeta continuou pousando o queixo sobre o topo de minha cabeça. - Eu estava aqui antes mesmo de você nascer.

– Eu não entendo você é meu Animam! - Continuei afundando meu rosto em seu peito, aspirando o cheiro doce de grama e Sol em suas roupas.

– Quando você nasceu eu tomei o lugar de seu Animam. O Animam á apenas seu poder sendo dividido, no momento em que me apoderei dele, o usei como forma de me manter ao seu lado. - Peeta continuou seus lábios roçando em meus cabelos. - Em outras palavras, eu o usei como forma de energia, assim como um parasita utiliza seu hospedeiro.

– Então o que é você? - Perguntei confusa, sentindo aos poucos seu corpo tornar-se menos denso.

– Sou algo muito mais velho que um Animam! - Peeta sussurrou afastando-se e tocando meu rosto. - Você precisa saber Katniss, precisa saber a verdade. - Peeta continuou seus olhos queimando para mim.

– Sobre o que? - Perguntei confusa sentindo-lhe sumir em minhas mãos.

– Quem nós somos! - Peeta sussurrou desaparecendo em minhas mãos, com um sorriso acolhedor.