Sangue e Alma

Reflexões


HERMIONE

A visita de meio mundo ao meu novo lar provisório foi um fiasco tão ridículo que até agora remoo uma vontade louca de morder Rony, mas não mais por causa da sede de vampirizada.

Em resumo, vários colegas nossos entraram na Sala Precisa e me observaram assustados como se eu fosse um experimento científico que havia dado errado. Rony mostrava o lugar e os objetos e falava sem parar, mas eu tinha apenas parte de minha atenção focada no que ele dizia. Estava ocupada demais analisando as reações dos nossos pobres amigos.

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Quando ele chegou no bisturi, Ana Abbot finalmente desmaiou. Todos deram a volta nela como se nada houvesse acontecido e continuaram a observar meu namorado palestrante.

Assim que Córmaco passou pela porta afora carregando o peso quase morto de Ana, olhei enviesada para Rony, perguntando o que raios havia acontecido ali.

– Eles queriam... melhorar o tratamento dos outros vampirizados - ele deu de ombros.

Ótimo... agora eu ia ter inquilinos na minha nova casa. Minha exasperação devia estar bem evidente, pois Rony gargalhou ao ver minha expressão.

Tentei não ser rabugenta quando ele me puxou para seus braços, me abraçando.

– Ora, Hermione, não vai ser tão ruim. Na verdade, os outros vão te observar e provavelmente vão aprender a se comportar bem durante a semana. Quem sabe a gente até possa botar vocês juntos com os outros na Torre daqui a algum tempo.

Recuei, balançando a cabeça. Eu estava controlada, sim. Eu me mataria antes de machucar alguém, sim. Mas isso não queria dizer que eu podia chegar e começar á fingir que era só mais uma humana normal. Os outros vampirizados tão pouco conseguiriam também.

Revirei os olhos e me aninhei outra vez em seu abraço. Era tão bom... por um momento maravilhosos, eu podia me esquecer que estava vampirizada, que tinha acabado de sair de uma batalha sangrenta e de que meus pais estavam longe de mim. Por um momento, só havia eu e Rony no mundo.

Ele apertou o abraço, juntando seu corpo mais perto do meu. Tremi ao sentir seu beijo tímido em meus cabelos.

– Eu nunca mais vou sair perto de você. Nunca mais.

Aquelas palavras provocaram uma onda de ternura e carinho que eu não esperava sentir num corpo tão debilitado e inumano. Me senti quente, amada... protegida. Como eu só me sentira durante a vida com o amor de meus pais.

O sangue que latejava em seu ombro ainda me atraía, mas eu não estava pensando naquilo no momento. Pela primeira vez desde a vampirização, me senti completamente humana e normal. Eu era outra vez uma menina de cinquenta e cinco quilos, boba, apaixonada e viciada em estudos, como havia sido durante aqueles sete anos anteriores, e não uma máquina sedenta de sangue capaz de matar.

Parecia que tudo ia, sim, entrar numa linha de trilhos onde o "felizes para sempre" não era uma ideia tão absurda.

Mas até mesmo um trem muda de trilhos de uma hora para outra... e decididamente alguém puxou a alavanca do nada em nossas vidas naquela semana...