Sangue

Epílogo...prólogo....epílogo, prólogo...epílogo...


‘’...A platéia chora desesperada. Dá-se início ao ritual fúnebre.Uma multidão acompanha o corpo. O cheiro de morte se alastra pelo país. Todos carregam no peito o vazio trazido pela perda... choram...

O mundo acabara de perder um de seus maiores artistas. Um dançarino que deixara seu talento marcado para sempre na história...ninguém jamais o superaria.

Muitos dizem tê-lo visto dançar como nunca naquela noite...dançando como nunca na cobertura daquele prédio, prédio onde viva, onde dançava, onde morreu. Dizem ter sido um ritual simples, sem demora, sem chamar atenção: apenas subiu, dançou e caiu, num belo e breve ‘canto do cisne”. E quando caía o fazia com dança, rodopiava no ar com leveza, com a delicadeza que sua arte exigia. Assim, dançando, caindo e morrendo, Fip partiu. E agora está morto e não há nada que se possa fazer, além de reservar para sua alma umas boas e bonitas lágrimas de adeus...’’

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-Então? O que acha?

-Não acha que está romântico demais para falar de um suicídio?

-Mas ele era um grande artista! Tem de ser romântico!

-Mas ele se suicidou. As pessoas, no geral, não gostam de tratar suicídios de formas românticas, elas têm medo de isso, sei lá, influenciar outras. Tenta colocar menos poesia.

-Eu não concordo com isso!

-Bem, você pediu a minha opinião. E é essa. Se você não achasse a minha opinião relevante não teria se casado comigo.

-Nós nunca nos casamos! A gente mora junto para dividir despesas!

-Encare como quiser. Para mim viver na mesma casa e transar como transamos é estar casado e ponto final. Se você não está pronto pra admitir isso, não é um pronlema meu. Mas então, descobriu o motivo do suicídio?

-Ainda não. Esse garoto era um mistério! Ninguém sabe absolutamente nada sobre sua vida pessoal. Era cheio de amigos, vivia em todas as festas, rodeado de todo mundo e ninguém conhece seu passado, é incrível.

-Ah, que tipo de repórter é você, Pierre? Não consegue nem desvendar o passado de um moleque? É difícil acreditar que você seja tão incompetente assim.

-Muito bem senhorita sabichona, então por que você não faz isso?Hein, Rebeca?

-Por que eu não sou repórter! Eu sou poetisa, Pierre, falar da vida alheia não é minha função. Mas deixa eu te perguntar uma coisa: não era o Armando quem iria cobrir a morte do garoto? Ou você esta finalmente pegando as reportagens importantes?

-Não. Eu ainda continuo cobrindo as “matérias menores”, como você diz. Mas você não entendeu ainda, eu não quero escrever uma reportagem. Estou cansado de esperar para ter minha chance naquele jornal. Está na hora de escrever minha própria sorte, Rebeca. Eu vou escrever um livro! A biografia completa do garoto! Imagina em quantos exemplares eu não poderia vender?

-Não seja ridículo! Você não conseguiu ao menos descobrir o nome completo dessa criatura! Como pretende escrever uma biografia?

-Por isso mesmo que eu preciso ser o primeiro a descobrir! Imagine só quantos livros, quantos livros venderíamos!

-Eu já vendo livros o suficiente para me sustentar.

-Para sustentar o que? O aluguel dividido desse apartamento? As prestações do microondas? As compras contadas do mês? Você se contenta com tão pouco, Rebeca. Pretende mesmo passar o resto da vida escrevendo livros de banca de revista?

-Não são meros livros de banca de revista, Pierre! Eu reinventei o gênero! E minhas leitoras adoram. Você é que não se contenta com nada! Quero até ver onde você vai parar com essa historia toda. – olha para o relógio – Meu deus! Estou atrasadíssima! Tchauzinho querido, não me espere para o jantar!

-Espere, aonde você vai?

-Ué, você não disse que não somos casados? Então eu não te devo satisfação. Tchau! – bate a porta.