Yan me puxou pela cintura para perto dele quando paramos no lugar. Estiquei meus braços em seus ombros e começamos a dançar, sorrindo, bem bobos. Era tão bom poder fazer aquilo sem ficar pensando sobre despedidas.

— Não é bom saber que não vamos nos separar amanhã? — Ele perguntou.

— Ótimo, maravilhoso. Incrível.

— É, também pensei isso. — Riu. Chegou mais perto e quase encostou a boca em minha orelha. — Depois podemos dar uma escapada.

Eu me arrepiei com aquele contato e senti as bochechas esquentando, apesar de ter adorado aquilo. — Pra onde?

— As portas de emergência ficam abertas, mas quase ninguém sabe. Elas dão pra um corredor junto da parede do teatro, e de lá dá pra uma área gramada.

— E você quer ficar lá escondidinho, é?

— Sim. Só um pouquinho. — E ele se afastou com um sorrisinho de lado, que eu havia visto poucas vezes. Eu não sabia explicar como aquela levantadinha de canto de lábios conseguia mexer tanto comigo.

— Hm...

— Isso é um “hm” de “não sei” ou de “gostei”?

— Os dois.

— Eu sei que você gostou um pouco. — Yan me apertou mais contra ele. — Ou quer que eu te convença?

Eu tinha a impressão de que estávamos chamando atenção demais estando grudados daquele jeito, e olhei para os lados. Ninguém parecia prestar atenção em nós, sem falar que haviam outros casais tão grudados quanto a gente.

O ginásio ainda não estava cheio, e muito menos abafado, mas eu já estava com calor. E não era por dançar, provavelmente.

— Depende. Como você vai me convencer?

— Aqui eu não posso fazer muito, só posso dizer que vai ser... legal. — Ele riu, divertido sei lá com o quê. Talvez com a minha cara.

— Tá bom, tudo bem. Mas não vamos ficar lá muito tempo, não quero ser pega no flagra.

— Não vamos. Prometo.

— Tá.

Desgrudamos um pouquinho para dançar direito.

Um tempo depois, quando as pessoas começaram a encher o lugar, vi Lili descendo as escadas com Júlio logo atrás.

Será que ela estava esperando esse tempo todo?

Ela parou próxima de nós, sem ter nos visto, mas pelo jeito não parecia irritada. Júlio ficou em sua frente e eles começaram a dançar de mãos dadas. Achei que ele estaria com um super penteado, mas no fim, estava quase igual sempre. Vai ver ele só queria caprichar mais pra ficar bonito pra Lili.

Fiquei observando os dois de gracinha. Era engraçado.

— Será que vai tocar a nossa música hoje? — Yan perguntou.

— Qual?

Whisky a Go Go. Tocou no baile do ano passado, lembra?

— É mesmo... — Lembrei de como cantamos a música tão pertinho um do outro. A forma que cantamos... Foi inesquecível. — Tomara que sim.

Não demorou para que a Lili nos visse ali. Ela sorriu, feliz, e eu devolvi o sorriso.

Demos uma pausa para beber e comer algo, e nós quatro fomos para uma das quadras buscar o lanche. Estava bem mais fresco lá fora.

Enquanto comíamos, vi Bebê e Carlos entrando e acenei para que eles se juntassem a nós. Eles vieram de mãos dadas, com seus ternos pretos combinando.

— Vocês vão cantar? — Lili indagou, rindo.

— Por quê? — Bebê olhou para baixo rapidamente.

— Os dois estão de terno preto.

— Posso fazer um esforço — comentou Carlos. — Minha voz até que é boa.

— Ah, pronto. — Bernardo revirou os olhos. — Não inventa não.

— Você canta bem? — perguntei, curiosa, já que não sabia daquele fato.

— Eu acho que sim. — Deu de ombros. Ao contrário do Bebê, ele não dizia aquilo com ar de quem se achava, só era sincero mesmo.

— Queremos um showzinho particular — falou Lili, abocanhando uma coxinha.

— Que história é essa? — Bebê a encarou. — Pede pro teu par um showzinho particular.

— Meu par só daria um showzinho de quem come mais.

Júlio, que estava prestes a morder um lanche de carne louca, a mediu dos pés à cabeça. — E você seria minha adversária. E provavelmente ia ganhar.

Ela colocou uma mão na cintura e fez um bico, provavelmente pensando que não poderia discordar, mas que também não ia concordar, então ela só pegou outra coxinha e comeu, ignorando o comentário dele. Nós rimos.

Depois do lanche, voltamos ao ginásio e dançamos por pelo menos umas duas horas sem pausa.

Em um momento, Yan cochichou no meu ouvido sobre a escapada. Eu só consegui rir, e ele me puxou pela mão até o corredor ao lado do vestiário. Tinham alguns casais ali, mas nenhum pareceu nos perceber quando saímos pela porta, sorrateiramente. Yan guiou o caminho até o final do corredor do lado de fora, e saímos em um espaço aberto e gramado, atrás do teatro.

O céu estava escuro, quase sem nuvem, e a lua brilhava forte, iluminando tudo.

Meus pés doíam, então eu me sentei no pequeno degrau da construção do teatro. Yan veio também e observamos a lua, ouvindo a música de fundo, um pouco abafada, mas ainda alta.

Yan encostou sua cabeça no meu ombro e cruzou nossos dedos.

— Cansou? — indaguei, fazendo um carinho em seu cabelo.

— Não. Só aproveitando. É tão bom saber que vamos embora juntos, e que estaremos perto. Se a gente quiser se ver, é só caminhar uns minutos.

— Sim, é até difícil de acreditar.

Ele ergueu a cabeça e me beijou rapidamente, abrindo um sorriso. — Muito.

Demos outro beijo, mais demorado, mais gentil. De repente, paramos quando percebemos qual música começou a tocar. Yan levantou em um pulo e me puxou, e já começamos a rir.

— Foi numa festa, gelo e cuba-libre, e na vitrola whisky a gogo. À meia luz o som do Johnny Rivers, aquele tempo que você sonhou. Senti na pele a tua energia quando peguei de leve a tua mão — cantou ele, pegando a minha mão e depositando um beijo nela.

— A noite inteira passa num segundo, o tempo voa mais do que a canção. Quase no fim da festa num beijo, então, você se rendeu. Na minha fantasia o mundo era você e eu! — E Yan me roubou um beijinho, me fazendo rir mais.

— Eu perguntava Do You Wanna Dance? E te abraçava Do You Wanna Dance? Lembrar você, um sonho a mais não faz mal! — cantamos juntos, enquanto ele me girava.

Eu estava tentando gravar cada segundo daquele momento. Esperava não esquecer nunca, nem quando fosse velhinha. Estar ali com Yan era um sonho. Saber que ficaríamos juntos quase me fazia querer explodir de felicidade.

Continuamos ali por mais duas músicas, demos mais uns beijos que me fizeram suar um pouco, e depois voltamos para comer mais.

Ao voltar para o ginásio, encontramos o grupo no mesmo lugar, e James e Mica estavam lá também. Dançamos em grupo até sei lá que horas. Até que, na mesma hora que no baile do ano passado, anunciaram a votação para rei e rainha do baile.

— Você foi escolhido rei ano passado, né? — Carlos riu. — Será que vai de novo?

— Duvido. Por quê? Você quer ser a rainha? — Devolveu o deboche.

— E por que não dois reis?

— Outra coisa que eu duvido.

— E é por isso que eu não vou votar em ninguém — disse Lili. — Se eu não posso ter esses dois reis, não quero mais ninguém.

— Oun.

— Então vai ser nossa forma de protesto? — perguntou James. — Não votar?

— Não seria mais eficiente se todo mundo colocasse os nomes dos dois? — Júlio entrou na conversa.

— Não, não quero ser rei, nem rainha, nem nada — afirmou Bebê. — Uma vez já foi o suficiente.

— Tá com vergonha de subir lá em cima comigo — dramatizou Carlos, começando a rir. Bebê puxou a cabeça dele e esfregou seu cabelo, bagunçando tudo.

No fim, decidimos não votar, e o casal ganhador foi um do terceiro ano que eu nunca tinha visto por aí.

Ficamos quase até duas horas da manhã no ginásio, já meio vazio. Ainda ficamos papeando um tempinho no jardim, já que estava uma noite bem gostosa, e lá para as três, Lili, Mica e eu subimos para o dormitório, exaustas.

Já que era a nossa última noite, Lili quis dormir comigo. Então, depois de tomarmos banho, ajudei ela a trazer seu colchão para o meu quarto. Fizemos um pouquinho de barulho arrastando a minha cama, mas provavelmente ninguém ouviu. Deixamos os colchões lado a lado e apagamos completamente em menos de cinco segundos.

Acordamos quase meio dia, e bem preguiçosamente descemos para almoçar, com todo mundo reunido. Era um almoço de despedida.

Estavam Lili, James, Júlio, Bebê, Carlos, Micaela, Gabriel, Yan e eu.

Enrolamos o quanto deu, mas logo tivemos que subir para buscar nossas coisas. Depois nos reunimos de novo no refeitório, já com as malas e mochilas. Todos nos acompanharam até o ponto de ônibus e foi uma choradeira. Da minha parte e da Lili, claro.

Nos despedimos com abraços apertados e pegamos o ônibus. Eu ainda estava chorando um pouquinho quando chegamos no terminal, e Yan ficava lá tentando me consolar.

Pegamos o ônibus de viagem. Yan e eu do lado direito e Bebê na poltrona do outro lado esquerdo. Nós três acabamos dormindo quase o tempo inteiro, já que dormimos tarde, e acordamos faltando pouco para chegar.

Assim que descemos, vi meu pai, e depois de dar um abraço nele, ele cumprimentou Yan e até perguntou se ele queria carona, mas ele esperaria o pai dele vir buscá-lo. Como eu fiquei meio sem graça, me despedi dele com um selinho e combinamos de conversar mais tarde.

Bebê e eu fomos de carro para casa, e quando chegamos, ele foi para a dele.

Abracei minha mãe, Ana, meus bichinhos e levei minhas coisas para cima. Depois de tudo o que tinha acontecido naquele meio ano, era até estranho estar em casa.

Fiquei um tempinho deitada no sofá, com preguiça, sonhando acordada com a próxima vez que eu veria Yan. Era besta? Sim, afinal, eu acabei de vê-lo, mas fazer o quê. Estar apaixonada era isso. Sentir saudade mesmo tendo acabado de ver a pessoa.

Eu ri comigo mesma.

Parei para pensar em como eu estava feliz. Eu me sentia muito grata por tudo ter acontecido de uma forma tão boa. Por mais que tenha sofrido, valeu a pena depois.

— Bru? Vamos jantar — chamou Ana, na porta do quarto.

— Já vou.

Me espreguicei e a segui para o térreo. Jantei com a minha família e resolvi aproveitar o máximo que desse. Eu já estava com saudade dos meus amigos, mas as férias passariam rápido, e logo eu os veria de novo.

Agora eu preciso aproveitar!