Fiquei mais um tempinho conversando com o Yan, e ao mesmo tempo falava com Lili. Depois tive que desligar — e avisei que se desse entrava no domingo de novo — e fui jantar.

— Então, filha, quando vamos receber seu boletim? — Mamãe perguntou enquanto se servia.

— Acho que essa semana, provavelmente. Por quê?

— Por nada, só para saber.

— A mãe tá duvidando das suas notas, é? — Ana brincou.

— Imagina, até parece. — Ela retrucou. — Sua irmã nunca teve notas ruins, ao contrário de você, né?

— Como assim? — Me virei para Ana. — Você tirou notas vermelhas?

— Não tirei notas vermelhas — resmungou.

— Tirou notas baixas. Tirou cinco em português, e seis em matemática e em geografia. Sendo que sempre tirou de oito para cima.

— Ai, mãe. — Ana revirou os olhos. — O importante é que eu passei.

— Não vem com esse papo não. — Meu pai entrou na conversa. — Por pouco você não fica retida em português. — Apontou o garfo para ela, gesticulando.

Ana fez bico, mas não retrucou. Ela sabia que estava errada.

O jantar seguiu normalmente, com um belo bolo de chocolate de sobremesa. Depois ajudamos com a louça, vemos um filme na sala e quando vi, já era hora de tomar banho e dormir.

Assim que deitei, Ana apagou a luz e deitou na cama dela, em cima da minha.

— Por que você tirou notas baixas? — perguntei baixo.

— Não sei... Tirei umas notas ruins em umas provas... Não entreguei um trabalho... Não consegui pontos suficientes. Eu sei que fiz besteira, não precisa me dar bronca também.

— Não vou te dar bronca, nossos pais já fizeram isso por mim — brinquei e ela riu. — Mas da próxima vez que tiver dificuldade, precisa pedir ajuda para alguém.

— Eu sei... Só fiquei com preguiça. Não vai acontecer de novo. Não quero nunca mais ficar sem computador durante as férias.

— Ué, você ficou de castigo?

— Sim... Dezembro inteiro sem mexer no computador.

Uau... ainda bem que eu não fiz nada de errado. — Bom, pelo menos agora você não vai mais deixar a preguiça te vencer.

— Não mesmo... — sussurrou.

Provavelmente ela caiu no sono. Eu deveria fazer o mesmo. Mas quem disse que consigo?

A conversa que tive com Yan não saia da minha cabeça. Ele quis saber como foi a viagem, como eu estava, o que eu fiz depois que ele foi embora... E claro que eu quis saber dele também. Foi uma conversa curta, mas que me fez ficar feliz.

Demorei para dormir, mas consegui. Acordei sozinha de manhã com a Caju deitada do meu lado. Fiz um carinho nela, desci da cama, passei no banheiro e fui para a cozinha.

Meu pai estava vendo televisão junto do Batata, e Ana estava tomando café na mesa. Me juntei a ela e comemos em silêncio, cheias da preguiça de domingo.

— Ah, acordou. — Ouvi minha mãe na cozinha.

— Onde você estava? — Dei uma olhada rápida para ela.

— Recolhendo a roupa do varal. — Tomou um copo de água.

— Quer ajuda?

— Não, já terminei. Mas vocês duas pegam as roupas de vocês depois de comer e levam pra cima.

— Tá bom — concordamos ao mesmo tempo.

Assim que acabamos de comer, pegamos nossas roupas limpas e fomos guardá-las. Aproveitei para me trocar e liguei o computador.

— Vai jogar The Sims? — Ana perguntou, ainda dobrando suas roupas.

— Não, vou falar com os meus amigos.

— Mas já não falou ontem?

— Ué, e o que que tem falar de novo?

— Nada, você só tá de férias deles.

— Não estou de férias deles, estou de férias da escola, é diferente.

Abri o msn e loguei. Esperei abrir, e ansiosamente, olhei a lista de pessoas online, mas Yan não estava ali, nem Lili. Mas uma janela apareceu.

Bernardo diz:

“Já estava querendo falar com o Yan, né? Kkk”

Bruna diz:

“Quem disse?”

Bernardo diz:

“Te conheço, criatura

Já tá sabendo do almoço?”

Bruna diz:

“Não.”

Bernardo diz:

“Tá sabendo agora. Vai ser aqui. Lhe aguardo no meu quarto”

— Vai ter almoço no Bernardo? — questionei a Ana.

— Sim.

— Nossa e ninguém me avisa. — Olhei o horário, vendo que eram onze em ponto. — Tô aqui com roupa de ficar em casa. — Fui procurar uma roupa decente para vestir.

— Eu esqueci.

Assim que terminei de me trocar, mamãe veio nos chamar para sair. Desliguei o computador, passei um pouco de perfume e lá fomos nós para a casa do Bernardo. O portão estava aberto, e entramos, já ouvindo música e conversa alta.

Todos nós estávamos levando um prato, e depois que entramos deixamos tudo na mesa de jantar, vendo o movimento no quintal. Silvia nos viu assim que entrou e veio nos cumprimentar, e me deu um baita abraço.

— Nada melhor que um churrasco para comemorar a volta dos nossos nenês, não é mesmo? — Deu risada falando com a minha mãe.

— Claro! — Ela concordou toda feliz.

Deixei as duas conversando e subi, indo direto para o quarto do Bebê, que estava no computador, digitando.

— Vai ficar escondido na caverna? — Entrei e fui me sentar na cama, logo atrás dele.

— Vou. Saio quando a comida estiver pronta.

— Credo, que adolescente emo você é.

— Claro, não percebeu ainda minha franjinha preta? — Tirou sarro e se virou, ficando de lado para mim, me olhando. — Minha mãe disse que virão uns amigos dela e do meu pai, ou seja... Chato. — Fez cara de preguiça.

— Olha pelo lado bom, eu estou aqui para alegrar seu dia.

Ele me olhou dos pés a cabeça. — E quem disse que vai alegrar alguma coisa?

— Ah, é? — Abri um sorriso, mas levantei. — Então adeus. — Fiz menção de sair do quarto.

Bernardo deu risada e me segurou pela cintura, me dando um abraço e me levou para trás. Caímos na cama, rindo igual bestas, e deitamos de lado.

— Me solta! Se eu não faço diferença na sua vida, não quero nem ficar perto, seu ingrato. — Tentei me livrar de seus braços, mas ele só me apertou mais.

— É tão legal te deixar bravinha, sabia?

— Não estou bravinha, eu sei que você me ama.

— Eu até poderia dizer que é mentira, mas o anel nos nossos dedos diz o contrário, então deixa quieto. — Ergueu a mão, mostrando o anel.

Levantei a minha mão também, a deixando do lado dele.

— Você sabe que estamos parecendo um casal, não sabe? — Eu ri.

— Aí já não podemos evitar.

— Bebê? — Ouvimos Silvia na porta e olhamos ao mesmo tempo, abaixando nossas mãos. — Ué, o que está rolando aqui?

— Estamos dando uns amassos, não percebeu? — Bebê falou com um sorriso zombeteiro.

— Você quis dizer que você está amassando a Bru, né? — Ela deu risada.

— Exatamente.

— É, então eu percebi. Vem, o almoço já vai sair e nossos convidados chegaram. — O filho dela deitou a cabeça no colchão, fazendo graça. — Para de preguiça, anda logo. Se precisar, arrasta ele pelos cabelos, Bru — disse antes de sair.

Me virei de frente para ele e comecei a pegar os fios dele, quase fazendo um rabo de cavalo, e ele já se afastou, sentando.

— Sai fora.

Eu ri, e ele me estendeu a mão. A peguei e nos levantamos. Descemos e fomos para o quintal, onde estava todo mundo. Silvia nos viu ali e fez sinal para que nos aproximássemos.

— Olha aqui meu filho — disse aos que estavam na frente dela. — E a amiga dele, Bruna, filha da Agnes e do Edson.

Tinha dois casais ali e mais dois garotos, que nos cumprimentaram. Acenamos, e pegamos nosso lugar na mesa enorme que tinham montado ali perto. Todos se acomodaram e o almoço começou, com todos se servindo dos pratos dispostos.

Bernardo e eu ficamos alheios a conversa dos adultos, assim como os outros dois meninos, que estavam sentados quase na nossa frente, mais para o lado esquerdo. Eles conversavam hora ou outra entre si, mas ao contrário do Bernardo, eles não pareciam entediados.

Depois que terminamos, resolvemos ir jogar pebolim na nova mesa que a família deixou na sala. Logo os dois garotos vierem assistir.

— Jogar não paga. — Bebê comentou, enquanto acertava um gol em mim.

Os dois se olharam rapidamente, dando de ombros, e se juntaram, um de cada lado nosso.

— Vocês também não cansam desse papo de velhos tempos? — O garoto do meu lado perguntou, concentrado no jogo.

— Me admira que meus pais não cansem. — Bernardo falou. — O assunto da vida deles é “velhos tempos”. Se dependesse deles, com certeza voltariam no tempo para viver a juventude toda de novo.

— Quantos anos você tem? — O garoto questionou, encarando Bebê.

— Quinze, por quê? — respondeu sem olhá-lo.

— Ah... você parece mais velho. Achei que tivesse dezoito.

Bebê o encarou. — Ah... obrigado? — Soou em dúvida, e o outro riu.

— Que bom que você não se ofendeu.

— Eu não me ofendo tão fácil assim. — E fez outro gol, e som um sorrisinho de provocação para mim, levou os cabelos para trás antes de voltar a jogar. — E... acho que minha mãe não falou os seus nomes.

— Ah, sim. Igor. — Se apresentou.

— João. — O outro disse.

— E vocês são parentes?

— Somos primos. Meu pai é irmão da mãe dele. — Igor explicou. — E eles eram amigos da sua mãe, pelo que sei.

— Vocês sim são mais velhos, né?

— Sim, temos dezessete. Ainda acho que todos nossos familiares combinaram um dia de transar e ter filhos todos na mesma época.

Bebê o olhou com o cenho franzido. — Ei, tem criança aqui. — E eu já fiz uma careta.

Igor olhou ao redor. — Quem...? — Me olhou. — Ela?

— Eu não sou criança — resmunguei, apesar de ter ficado com as bochechas vermelhas.

— Claro que é, não pode ouvir essas conversas. — Tapou minhas orelhas com as mãos.

— Para de graça. — As puxei e os três riram.

— A quanto tempo vocês namoram? — Igor questionou, de repente.

— Não namoramos. — Bernardo respondeu, voltando ao jogo. — São anéis de amizade. — Mostrou rapidamente.

Igor balançou levemente a cabeça, parecendo pensativo, e não deixou de encarar Bebê, como se o analisasse.

João encarou o primo quase que desconfiado, e então revirou os olhos, voltando a prestar atenção na bolinha.

O que foi isso?