PROMETHEE

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O homem em sua armadura de platina e ouro que se encontrava num ponto alto de uma das ruínas. Fez um movimento com a lança em suas mãos e desapareceu, causando surpresa em Klahan que foi capaz de sentir isso e segurando mais forte Kiet às suas costas. Porém, segundo seguinte surgia ao nível da rua, mantendo-se pouco mais de 10m de onde ele estava. Ficaram algum tempo se encarando, com o uivo do vento o único som a ecoar naquele lugar.

– Quem é ele? Por que ele está...– dizia Kiet com a voz temerosa, sendo cortado ao ouvir o som das correntes quando aquele homem moveu a lança em suas mãos, soltando um riso contido enquanto seus olhos recaíam sobre Klahan, este ainda mantendo-se imóvel e inexpressivo.

– Kiet, escute o que vou lhe dizer.– disse Klahan em tom forte e incisivo para o garoto que se assustou. Uma lágrima correu em seu rosto, tomado pelo medo que sentia. – Quero que saia daqui! Busque por Harish e fique com ele. Sabe aonde encontrá-lo.

O garoto se encolheu um pouco mais, segurando forte em suas vestimentas. Voltou seus olhos para a figura que segurava as correntes, dedilhando sobre a lança como se esperasse um momento oportuno para algo. Quando voltou-se para Klahan, este abriu um discreto sorriso e se abaixou, de costas para aquele homem, e segurando nos ombros do garoto.

– Vá... agora!– disse, e o garoto acatou, correndo pela rua às suas costas. O que se ouviu oi o som das correntes as suas costas cortando o ar.

OHM!

A lança cortou o ar, com a correntes indiciando os movimentos, mas paralisadas próximos a Klahan. O sorriso que nascera no rosto daquele homem deram lugar à surpresa e assombro por sua lança não responder-lhe, enquanto o garoto sumia na rua e desaparecendo entre as ruínas. Não somente isso, nem mesmo ele parecia capaz de se mover.

– Não achou que permitiria fazer algo contra uma criança, achou?– disse Klahan se levantando e se voltando para ele, de frente, encarando-o. – Não disse quem é você e o que quer aqui.

A lança, até então parada, pareceu pulsar e voltar-se contra ele. Os olhos daquele homem brilharam, ao mesmo tempo que seu cosmo emanou violentamente e uma 'explosão' quebrasse a barreira que o paralisava e impedisse de ser atacado por sua lança, sendo dominada no ar. Seus olhos voltaram ao azul celeste de antes acompanhada de um sorriso cínico.

– Que patético! Achava mesmo que essa sua barreira poderia me impedir de fazer algo com aquele moleque? Não tenho interesse em crianças. As minhas ordens são para com você, Klahan. – disse ele rindo daquela cena - Eu sou Kalian de Promethee, Entidade Suprema do Julgamento.

– Promethee…? – há certa hesitação nas palavras de Klahan ao ouvir aquele nome. A sua expressão não se alterara, mas foi perceptível em sua voz. – Veste uma das lendárias aegis, uma espécie de armadura celestial?– por um instante um sorriso de satisfação era visível a Kalian enquanto encarava Klahan. – Hunf! Sempre pensei que Prometeu tivesse sido aquele que enfrentou os deuses roubando o fogo do Olimpo para os homens. Mas acaso também tenho conhecimento que essa sua proeza fez com que se julgasse no direito de subjugá-los por sua ambição mesquinha e egoísta.

O sorriso que antes havia na face daquela entidade, tornou-se séria, e seus olhos faiscaram descontentes por aquelas últimas palavras, levando a apertar fortemente a lança que trazia com ele. Dá dois passos a mais pra frente e levantando sua lança, continuando a fitar Klahan com seus intensos olhos azulados e brilhantes. Torceu a boca para o lado em desagrado, mas logo sorriu, ainda que de maneira contida.

– Hunf! Os homens são uns ingratos. – disse de maneira fria e arrogante, fechando momentaneamente os olhos e virando o rosto para o lado como se menosprezasse àqueles a quem se referia – Criaturas fracas e infames que ousam renegar aqueles que o criaram. – abre os olhos lentamente, abrindo um meio sorriso – Deveriam dedicar suas vidas a venerar e adorar os deuses para todo o sempre, mas não... Os homens parecem sentir a necessidade de se rebelar contra seus criadores. Quem eles pensam que são? Não ouse comparar Prometheu a esses vermes! É uma heresia, uma comparação esdrúxula! VOCÊ Deveria saber disso, Klahan.

Kalian apontou a lança em direção de Klahan não em ameaça, mas como o indicasse somente, enquanto ele se mantinha parado, apenas ouvindo, enquanto que este que se mantinha 'inexpressivo', mas que verdadeiramente estava passível a tudo quer ouvia. Os seus cabelos escuros voavam com a brisa que não mais estava tão fria, mas estava longe de estar quente. Na verdade, era uma brisa quase que fantasmagórica da qual sentira uma vez, há alguns anos, e aquilo o incomodava de certa forma, ainda que não demonstrasse.

– Você foi agraciado pelos deuses e os renegou quando convocado por eles, e por esta negação foi punido severamente por isso... – baixou sua lança, e não somente sorria com aquilo como também ria daquela situação. – Porém, ao que parece te concederam uma segunda chance. Parecem que padeceram de sua penitência nesse tempo apesar de seu silêncio junto a eles desde então. Quanto a mim, fui escolhido para ser aquele a absolvê-lo da punição que lhe foi dado, mas isso vai depender unicamente de sua resposta. Diferente da primeira vez... – ele levanta sua lança em direção da luz do sol que reflete bem o fio da lâmina, faiscando juntamente com seus olhos – Não serei assim tão piedoso.

Aquelas palavras soaram nitidamente ameaçadoras, fazendo com que Klahan torcesse discretamente os lábios como se enojado por aquilo. Os seus punhos se fecharam ainda mais fortes escondidos nas longas mangas de suas vestimentas que esvoaçavam, assim como de seu oponente, com o forte vento que cruzava a rua – o vento que trazia os lamentos daquele fatídico vilarejo.

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O garoto corria entre as ruínas como havia sido ordenado, encontrando-se longe suficiente de onde estava quando acompanhado de Klahan. Estava ofegante e transpirava muito, além de estar muito assustado com aquilo que assistira: a imagem daquela lança em sua direção e bloqueado por algum escudo invisível o impressionara. Ficara tão aturdido com aquilo que somente foi desperto quando Klahan que o mandou correr dali. Foi como lembrar seu pai mandando-o fugir do caos na cidade naquela noite e empurrado antes que uma das paredes o atingisse.

Ele se escondera próximo a um poço, onde ficara por toda aquela noite chorando de medo e desespero. Mais que isso, tudo aquilo lhe parecia muito familiar e o medo veio á tona. Enquanto limpava o rosto das lágrimas, acabou por tropeçar numa pedra, caindo no chão lamacento por conta da neve que derretera pelo calor da manhã.

– E-eu... Eu não posso ficar aqui! S Senhor... senhor Klahan... E p-precisa de ajuda...! – lamentou abraçando o joelho ferido e com a voz embargada, olhando para trás como se pudesse avistar a rua da qual fugira e para os lados em busca de uma ajuda impossível.

Ninguém arriscava a cruzar aquele vilarejo, ao contrário dele que cruzava aqueles portões, ao contrário de muitos garotos de sua idade que nem mesmo se aproximavam com as história que ouvia de seus pais sobre o mal-assombro do lugar. Mesmo que Kiet dissesse de não haver nada daquilo, ninguém o acompanhava, e logo começaram a evitá-lo. A verdade é que gostava de ficar na propriedade onde morava com seus pais, usando ali de seu refúgio pessoal até que, um dia, tudo desmoronou, quase soterrando-o se não fosse Klahan a cuidar dele. Isso havia acontecido há algumas semanas, e desde então passava a espreitá-lo - levando Klahan ter certeza de não senti-lo nas proximidades como fizera naquela manhã.

Kiet se levantou, percebendo o sininho preso em seu pulso, uma espécie de pulseira com cordas finas trançadas. Foi um presente de Harish, o velho mestre que há muito vivia naquelas terras, naquele velho casebre, destacado de tudo e de todos. Eram raras às vezes que descia até os vilarejos, mas Kiet o conhecia por algumas vezes vê-lo junto ao templo – diferente de Klahan que conheceu somente após a 'noite da tormenta' que arrasara aquele lugar.

O garoto subiu o monte com certa dificuldade e encontrando o casebre, chamando por Harish apenas como ‘velho mestre’ e entrando abruptamente no casebre que parecia vazio. Apenas uma lenha estalava queimando na lareira próxima. O garoto lamentava que, justamente naquele momento, ele pudesse ter descido a uma das vilas, caindo sentado ao chão. Percebeu um brilho de um canto daquele lugar auxiliado pelas chamas e se aproximou, afastando um pouco o tecido e contemplando uma urna dourada.


.oOo.


– Por que hesita em responder, Klahan?
– indagou Kalian fitando-o com seu olhar arrogante e jogando a lança para apoiar nos ombros e a outra mão sendo levada à cintura.

– Diga-me, Kalian... – respondia Klahan quebrando seu silêncio – O que fez você escolher ficar ao lado dos deuses quando foi um dia um ‘verme’ quanto estes que menospreza?

Havia calma nas palavras de Klahan, acompanhado de sua indiferença e frieza enquanto mantinha a cabeça erguida como se olhasse na direção do cavaleiro. Era como se ele assistisse o piscar aturdido e reação de surpresa de Kalian quanto àquela pergunta.

– Assim como eu era apenas um homem. Não compreendo essa sua arrogância e menosprezo pela humanidade.

Houve um momento de hesitação de ambas as partes, mergulhando-os num silêncio que somente não era total devido ao sopro do vento. Contudo, um sorriso brotou na expressão de Kalian, quase insano, que meneava negativamente quanto àquela questão, rindo de maneira contida e depois se tornando uma gargalhada vil.

– Posso ler seu coração, Klahan, e vejo o quanto esse lugar o atormenta. Confesso que assistir a tudo isso me trouxe certa nostalgia... – disse contemplando à sua volta – Na Índia, o vilarejo onde nasci e cresci era um dos mais miseráveis. Diferente de você eu vivia nas ruas sobrevivendo a cada dia com migalhas que precisava buscar nos restos daquela sociedade que me julgava por ser um maldito órfão. Foi quando recebi a graça e me foi concebido o julgamento. – dizia enquanto seus olhos brilhavam de modo malévolo, apesar do azul celeste. – Que utilidade tinha aqueles vermes? Acha que me importo com isso? Eles foram apenas julgados por seus comportamentos pífios que nada tinham acrescentar ao plano dos deuses. O mesmo vale para as pessoas deste lugar... – dizia abrindo um dos braços como se apresentasse o vilarejo. Klahan fechava ainda mais us punhos e sua expressão ganhava uma expressão ainda mais dura – Elas estavam interferindo nos planos que tinham para você, e sua negação era prova disso. O seu castigo apenas uniu o útil ao agradável.

Aquelas palavras proclamadas Kalian despertavam um grande descontentamento por parte de Klahan, levando-o a ascender seu cosmo de maneira gradual e circulando seu corpo em lampejos e 'névoas'’ douradas. A Entidade percebia aquela emanação e que aquilo era resultado de seu discurso, fazendo-o sorrir por conseguir atingir seu propósito.

– Então acha que os homens não passam de vermes e por isso pode julgá-los a seu bel-prazer? Que lamentável... – comentou Klahan quanto às palavras Kalian e levando este aguçar seus olhos em direção dele, fazendo seu sorriso desaparecer momentaneamente a sua expressão endurecer. – Não tenho porque minha resposta ser diferente ao daquele dia, e após ouvir esse seu discurso patético apenas me fez ver o quão certo estava em minha decisão naquela ocasião.

– Então mais uma vez renega aos deuses, Klahan? Renega-os em pró desses vermes? Pff! – caçoa Kalian com uma expressão nauseante e maneando negativamente – Julguei você errado. Pensei que sua penitência o fizesse compreender onde de fato é seu lugar, mas parece que eu me enganei...

Num movimento ele arremessou novamente sua lança no ar, com a lâmina em direção de Klahan que pressentiu a ameaça. Assim como antes, a barreira se formou à sua volta bloqueando o golpe, mas provocando uma espécie de fissura que o surpreendeu. O choque das duas forças resultou num forte atrito, levando a lâmina emitir uma intensa luz azulada e raios cruzassem e circundassem a barreira.

“Essa força... é muito maior que antes...!”, pensava Klahan trincando os dentes, suportando aquela força que sobrepujava a sua. A fissura em sua barreira era cada vez maior, trincando a cada instante. Reuniu um pouco mais suas forças e buscou reverter toda aquela energia de volta a Kalian que, percebendo a estratégia, desapareceu retirando sua lança. Klahan caía ajoelhado e estafante e buscando pelo inimigo que pareceu simplesmente desaparecer.

Levantou-se buscando a presença da energia à sua volta, mas era como se tivesse desaparecido. Sabia que não havia atingido Kalian porque ele retirara sua força antes de revidar o seu ataque. Nesse momento, sentiu o chão sob seus pés queimarem, surgindo um círculo de fogo à sua volta que mais parecia uma barreira impedindo de se mover. Kalian surgiu como se rasgasse um plano e sorrindo para Klahan, percebendo o quanto ele estava surpreso e assustado.

– A sua barreira se mostrou suficiente contra minha lança, sendo tão defensiva quanto ofensiva, mas será que ela é capaz de sobrepujar as minhas Chamas Divinas? Sorri de maneira maléfica e observando Klahan tentando se mover, mas parecia sentir os pés e as mãos amarradas enquanto aquele calor parecia queimar seu corpo, ainda que as chamas não o tocassem. – Vou torná-lo um exemplo de que não se deve virar às costas para os deuses, Klahan!

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