Sacrifício de Amor

Capítulo 03 - Nem tanto pela parte do “gênio”


Sacrifício de amor

Kaline Bogard

Parte 03

Nem tanto pela parte do “gênio”

Na quarta-feira não foi surpresa nenhuma deparar-se com Ruby Smith, já que pelo horário das aulas teriam um tempo inteiro de literatura.

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A mulher estava na sala, com suas roupas que já tinham visto dias bem melhores, cabelos castanhos foscos e pintas na pele pálida. Apesar de tudo o rosto redondo era agradável. Stiles percebeu que simpatizava com ela. Talvez por que fosse, claramente, uma pessoa meio esquisita como ele.

– Hoje vamos continuar com a matéria e – olhou para Lydia – seguir o roteiro para variar.

Segurou um pedaço de giz branco e começou a escrever conceitos na lousa. Stiles leu as três primeiras palavras. Melhor dizendo, tentou. Não conseguiu entender a letra da professora. Uma breve espiada ao redor lhe mostrou que a grande maioria da sala estava com a mesma dificuldade.

Desistindo, virou-se para trás e suspirou atraindo atenção de Scott.

– O que foi?

– Andei procurando mais daquelas teorias – sussurrou – Sinto muito, mas não tem nada que fale sobre reverter você sabe bem o quê. Bem, eu totalmente não achei.

– Não pensei que acharia mesmo – Scott sussurrou de volta, rabiscando algo no caderno.

A expressão decepcionada de McCall desmentia sua frase despreocupada e Stiles sentiu-se na obrigação de animar o amigo.

– Hoje tem treinamento?

– Sim. O Derek quer todos lá.

– Ih... ele vai pegar pesado! Acho que eu vou lá também...

Scott ia comentar algo quando notou a professora aproximando-se com uma cara nada boa.

– Peço desculpas aos dois mosqueteiros – foi dizendo sarcástica – Minha aula está atrapalhando a conversa de vocês?

Ambos ficaram sem graça.

– Desculpa, professora – Stiles tentou remediar a situação – Não estamos fazendo nada.

– Errado. Você não está fazendo nada e ainda atrapalha seu colega. Sabe a cura para isso, senhor Stiles? Detenção.

O queixo do garoto caiu, tamanha sua surpresa e indignação.

– Mas...

– Se reclamar pega detenção amanhã também.

Imediatamente ele fechou a boca e voltou-se para frente, disposto a começar a copiar o que quer que estivesse rabiscado na lousa, entendendo a letra ou não. Só não queria aumentar o tempo do castigo.

oOo

Detenção era uma das coisas mais totalmente chatas do mundo, na nada modesta opinião de Stiles. Principalmente para alguém como ele. Cada segundo se arrastava com a lentidão de séculos. Estava a pouco mais da metade do tempo na sala com a professora, mas tinha certeza de sentir seus fios de cabelo embranquecendo, enquanto ele envelhecia prematuramente pelo tédio.

Seu desconforto era perceptível e de causar dó. Tamborilava os dedos na mesa, olhava da professora que corrigia tarefas para a janela, mexia-se na cadeira como se o assento estivesse cheio de formigas.

Virou-se para a janela outra vez. Estava perdendo o treino de lacrosse. Não que fosse uma grande coisa, afinal só ficava esquentando o banco, assistindo os outros jogarem. Todavia, apenas estar lá, junto com os outros, lhe dava a sensação de pertencimento, de fazer parte de algo. Similar ao que sentia quando se juntava com o Pack e podia ficar perto de Derek.

Derek.

Opa! A luz vermelha de um semáforo imaginário piscou em sua mente. Aquele era um assunto delicado... tinha que desviar os pensamentos. Imediatamente.

– São as nossas redações? – perguntou para Ruby.

– Sim – a mulher respondeu sem tirar os olhos do papel.

– Posso ler alguma? – a voz soou mais animada do que deveria.

– Não.

– Não achei que pudesse mesmo – resmungou.

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– Que bom.

A conversa acabou ali. Stiles observou a mulher. Apesar de ter levado a detenção injusta ainda achava a professora uma pessoa agradável. Tinha uma boa sensação de estar perto dela. Talvez fosse a animação dos olhos castanhos, ou a humildade das roupas um tanto gastas. A mulher não fazia questão de se encaixar em padrões sociais determinados, e parecia bem com isso. Identificou-se um bocado com ela. Mesmo que fosse uma criatura atípica.

– A senhora é meio esquisita – a afirmação escapou-lhe sem que pudesse evitar.

Ruby levantou a cabeça e mirou o garoto com certa surpresa.

– Desculpe-me?

Stiles arrepiou-se. Ia ganhar detenção eterna depois daquela.

– Sinto muito! – tentou remediar – Não era para ter falado isso! Era para ter totalmente pensado. Quer dizer... não que a professora seja esquisita do tipo bizarro, sabe? Aquele tipo que assusta todo mundo ou ninguém quer chegar perto, mas isso seria um psicopata, eu acho. Não... nem todo psicopata é esquisito. Não que a senhorita seja uma psicopata ou pareça com uma. Só é esquisita tipo normal, assim como eu. Não se preocupe...

Parou de falar e segurou o queixo com o polegar, usando os outros dedos para encobrir os lábios. Fez seu melhor esforço para fingir que os últimos quarenta segundos nunca tinham existido. Olhou fixamente para Smith, parecendo querer hipnotizá-la e fazê-la esquecer de tudo.

– Senhor Stilinski?

– Sim...?

– Suma da minha frente.

Stiles não disse nada. Agarrou a mochila e precipitou-se para fora da sala. Chegava à porta quando ouviu a voz calma de Ruby alcançá-lo.

– Garoto...

Ele parou e virou-se para a professora, agarrado a mochila como uma espécie de escudo.

– Sim?

– Sobre a sua redação. Ela estava realmente boa, mas eu discordo sobre a sua qualidade de ser um Gryffindor. Pelo que pude perceber você tem mais características de um Ravenclaw.

O menino ficou surpreso. Arregalou os olhos e sorriu.

– A professora me acha tão inteligente assim? – pareceu estufar de orgulho.

– Não, não – a resposta quebrou a alegria de Stiles – Não pela parte do “gênio”, mais pela parte da Luna Lovegood mesmo.

Stilinski não respondeu. Ficou indignado e virou as costas, afastando-se rápido dali. Como assim uma professora que estava a três dias no colégio já pegava no seu pé daquela forma? Qual o maldito problema do mundo?!

oOo

Ruby ouviu os passos do adolescente se afastando rapidamente. Parou de rir e recostou-se na cadeira de madeira, ainda sentindo-se divertida.

Não que a senhora seja uma psicopata ou pareça com uma. Só é esquisita tipo normal, assim como eu. Não se preocupe...

Pegou o primeiro trabalho da pilha. Era a redação de Stiles. A única que corrigira, na verdade. As outras não lhe importavam. Já tinha lido aquelas palavras tantas e tantas vezes que decorara o texto todo. Era perfeito. Simplesmente perfeito.

Se dispôs a ler mais uma vez. Desistiu. Os olhos marejados de lágrimas a deixaram cega para as letras grafadas no papel.

Suspirou e juntou suas coisas. Não podia perder mais tempo ali.

oOo

Stiles passou pelo campo só para aliviar a consciência. Pela hora o treino já devia ter acabado. Não restara mais nenhum aluno por ali. Resolveu ir direto para a casa de Derek, ver o outro treinamento. Não estava a fim de ficar sozinho em casa, caçando teorias e conspirações para o que aconteceria no domingo.

Escutando uma das rádios que adorava seguiu dirigindo até chegar a estrada de terra que o levaria a seu destino. Qual não foi sua surpresa ao visualizar uma figura familiar avançando a pé pelo acostamento.

Buzinou, ainda que soubesse ser inútil. Derek já devia tê-lo ouvido se aproximando a milhas de distância.

Parou o jipe ao lado dele.

– Entra aí! – gritou por causa da música alta.

O Alpha não esperou segundo convite. Tomou lugar ao lado do carona e bateu a porta. Antes mesmo de travar o cinto, Derek esticou o braço e desligou o rádio.

– Ei! – Stiles protestou. Fez menção de ligar novamente, mas o outro o olhou com ar de “sérião que vai tentar fazer isso?”. Deixou pra lá – Sem trilha sonora para nossa história – brincou.

Derek não respondeu. Apenas virou o rosto e ficou observando a paisagem imutável.

– Não ia ter treinamento? – perguntou alguns segundos depois. De alguma forma o silêncio sempre parecia sufocá-lo.

– Está tendo.

– Está...?

– É uma competição. Dividi equipes para ver a interação entre eles.

– E por que não está vigiando? Tipo, como vai saber se deu certo essa sua idéia?

– A equipe que chegar primeiro é a que tiver melhor adaptação para trabalho em equipe. Esse é o espírito de um Pack.

O mais jovem desviou os olhos da estrada por um segundo, para admirar o passageiro ao lado. Sempre se surpreendia quando conseguia frases longas e não totalmente mal humoradas de Derek Hale.

Sentia-se quase amigo dele. Mas com esse “quase” em negrito e riscado embaixo para lembrar que eles não eram realmente.

– Scott te disse que temos uma professora nova? – perguntou quando o silêncio ameaçou instalar-se entre eles outra vez. Precisava de algum assunto, qualquer assunto – Ela é meio esquisita e eu tipo disse isso. Ela me deixou de detenção. Ah, não por que eu chamei a professora Ruby de esquisita, na verdade ela me tirou da detenção por isso. A detenção foi por outra coisa...

Tomou fôlego por alguns instantes. Derek sequer deu sinais de ter ouvido seu pequeno discurso.

– Pelo amor de Deus, homem. Você sabe que a boca serve para mais coisas do que encher a barriga, não sabe? Tente usá-la de vez em quando ou vai enferrujar. Pensar é bom, mas não adianta se você não falar e não colocar tudo para fora...

Hale continuou olhando pela janela e Stiles não podia ver o sorriso que lhe surgiu nos lábios. Oh, sim. Derek podia pensar em milhares de maneiras diferentes de usar a boca. E todas envolviam o garoto ao lado, sem roupas. Porém não podia “colocar isso para fora”. Principalmente quando sabia que Stiles se sentia igual. Correspondia-lhe os sentimentos. E não precisava ser um lobisomem e sentir a alegria, paixão e desejo chegando em ondas abrasadoras. Qualquer humano que olhasse mais atentamente notaria o brilho nas íris castanhas e o sorriso fácil que brincava nos lábios rosados sempre que o Alpha estava por perto.

Não. Até um cego veria aquilo.

O problema era muito mais profundo. Derek já tinha se entregado antes, com intensidade e sem medir conseqüências. Sofrera decepções sem medidas. Ainda não sabia se conseguira juntar todos os pedaços de seu coração partido.

Não estava pronto para se entregar.

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Era cedo.

Talvez fosse “cedo” para sempre.

Continua...