Sacrifício

Feliz Aniversário


Carol Blanc estava impaciente no vôo. As longas horas que separavam Paris da Flórida a fizeram remoer todas as dúvidas e preocupações que o pedido da filha despertará. Kimberly era uma garota extrovertida e amigável, adorava ser o centro das atenções e sempre vivia cercada de amigos. Desistir de uma viagem para Alamedas dos Anjos para comemorar seu aniversário cos amigos e o namorado era muito estranho.

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Sem contar a insistência em pedir para vê-la as sós, excluindo o pai e seu novo marido dos planos. Os telefonemas do treinador Schmid avisando sobre uma fratura e a alteração no treinamento aumentaram a sua preocupação. Alguma coisa séria estava acontecendo com a filha e ela precisava descobrir. Suspirou de alivio quando o avião aterrissou. A espera estava acabando.

O aeroporto estava lotado. O clima do Dia dos Namorados estava no ar, as lojas enfeitadas com corações brilhantes e muitos casais se encontrando no desembarque. Desviando da multidão ela avistou a filha. No instante do reencontro, mãe e filha se abraçaram felizes. As preocupações de ambas esquecidas no longo abraço.

Carol foi a primeira a romper o abraço e com os olhos marejados de lágrimas olhou a filha:000

— Que saudades querida! Esta tão linda minha menininha.

Lágrimas escapavam dos olhos de Kimberly quando ela voltou a abraçar a mãe.

— Senti tanto a sua falta mamãe – rindo, ela fez a mãe dar uma volta. – Você também esta linda. Paris esta lhe fazendo bem, olhe esses sapatos.

Carol riu mostrando as malas.

— Vai adorar os presentes que eu trouxe.

Kimberly riu e olhou para o lado e viu o treinador.

— Ah, mamãe! Esquecemos o Treinador Schmid. Ele fez a gentileza de me trazer aqui para busca-la.

Carol largou o braço da filha e brindou o treinador com um sorriso charmoso.

— Sr. Schmid que prazer vê-lo. Não precisava se preocupar poderíamos ter pego um taxi.

— O prazer é todo meu Sra. Blanc, Kimberly é uma de minhas melhores atletas e é um prazer conhecê-la.

— O senhor é tão gentil. Por favor, me chame de Carol. - sorriu deixando o treinador cada vez mais embaraçado. Kimberly riu e pegando uma das malas da mãe falou:

— Vamos!

— Claro. - tossiu o treinador se ocupando da mala maior e indicando o caminho para as duas.

O trajeto até o hotel foi rápido e animado. Carol e o treinador ficaram conversando animadamente. Ela reservará um hotel próximo ao ginásio para que pudesse ficar perto da filha.

— Kimberly, vai ficar comigo hoje não é querida? Temos tanto que conversar.

— Mamãe você acabou de passar mais de dez horas em um avião. Precisa descansar.

— Bobagem, eu dormi no avião.

O treinador se antecipou e falou:

— Kimberly está certa senhora. Que tal descansar um pouco e nos encontrar depois do treino no ginásio? Umas 17:00 horas?

— Ok, vocês venceram. Nos vemos mais tarde então - emitiu um suspiro de derrota. - Kim, eu reservei um quarto com duas camas. Você fica comigo?

Kim sorriu e abraçou a mãe.

— Claro mamãe, eu até pedi alguns dias de folga para o treinador Schmith para passarmos mais tempo juntas. Mas agora, nós precisamos ir e você descanse bem.

— Até mais tarde filha. - murmurou beijando a testa da filha. - Muito obrigada treinador e até mais tarde.

Carol ficou parada vendo o carro sair e uma nova ruga de preocupação apareceu em sua testa. Agora, ela tinha certeza. Alguma coisa estava muito errada com a filha.

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Kimberly passou a tarde toda exercitando-se na barra. Fez os aquecimentos e deixou o corpo flutuar sobre o aparelho. Conseguia sentir o espírito da Garça dentro do seu corpo dando-lhe graciosidade e agilidade. Sabia que estava mais pesada, porém, conseguia sentir cada célula do seu corpo. Seus passos eram precisos, os saltos calculados e perfeitos. Nunca tivera tanto controle de seu corpo como agora, nem durante seus tempos como ranger. Ah, se sempre tivesse tido tanto foco e determinação jamais teria se machucado. Deixou seu corpo se elevar em um último salto e pousou no chão como o pássaro que a protegia.

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Abriu os olhos e viu Susan e outras colegas a olhando.

— Absolutamente incrível Kimberly! – aplaudiu Susan aproximando-se. – Você parecia estar voando. Desse jeito ninguém vai ter chance nesse Pan Global.

— Acho que estou inspirada hoje...

As outras garotas voltaram aos seus treinos deixando as duas sozinhas. Kimberly tomou um gole de água e comentou:

— Parece que não agradei tanto assim.

— Claro que não. Estamos competindo pela mesma medalha. Elas querem te matar. – riu baixinho. – Aliás, elas querem nos matar. A medalha da barra é sua, mas a do solo é minha.

Piscando para a amiga, Susan aproximou-se do tatame principal e rodopiou em um salto perfeito. Todos os olhos do ginásio a seguiram. Kimberly riu e bateu palmas também.

— Nada modesta né?

— Só verdades querida! Venha, vamos tomar um banho. A sua mãe está chegando e precisamos comemorar esses 17 anos.

Kimberly riu balançando a cabeça enquanto acompanhava Susan até o vestiário.

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Carol foi muito bem recebida pelo treinador Schmith. Ele lhe mostrou o ginásio, explicou os detalhes do treinamento e falou sobre o tratamento que Kimberly estava sendo submetida. A tranquilidade e o profissionalismo foram deixando-a um pouco mais relaxada.

Durante o jantar, Susan preparou um bolo para o aniversário de Kimberly. O entusiasmo das garotas e o sorriso da filha serviu como um bálsamo para suas preocupações. Pelo menos podia ter certeza que a filha estava sendo bem cuidada na Flórida e que tinha amigos. Talvez suas preocupações fossem infundadas e Kimberly só estava com saudades de casa.

Quando elas chegaram ao hotel, ela já estava animada e sorridente.

— Querida estou tão feliz por ter vindo. Estava tão preocupada com você, pensei que estava seriamente machucada ou que estivesse com problemas com os outros garotos.

Kimberly se sentou na cama e respondeu:

— Não é como na Alameda dos Anjos, mas Susan é uma ótima amiga e o treinador é incrível.

— Vocês duas no shopping deve ser um estrago! Mas ela é adorável. E as costas? Está sentindo dores? Acha que vai ter que deixar o treinamento?

— Não mãe, eu não estou sentindo mais dores.

— Que ótimo! Eu fiquei tão preocupada pensando que você estaria sozinha aqui na Flórida. – Carol sentou-se do lado da filha e apertou-lhe as mãos. – Me perdoe Kimberly, eu sei que fui irresponsável em partir para Paris e te deixar na Alameda dos Anjos sozinha. Eu jamais deveria ter feito isso. Não é justo que fique sem ter um lar, conversei com Pierre e ele concordou que devemos nos mudar para os Estados Unidos. Vamos abrir uma Galeria no país e expor os quadros dele aqui. Nunca mais vai ficar sem ter um lugar para chamar de lar querida. Vai ficar tudo bem!

Kimberly respirou fundo e em um sopro falou:

— Mãe, eu estou grávida.

— O quê? – murmurou Carol piscando perplexa.

Kimberly tocou a barriga e com muita calma olhou a mãe e respondeu:

— Estou grávida mamãe. Eu vou ter um bebê.

Carol se levantou lívida, andou pelo quarto enquanto tentava digerir a informação. Olhou para Kimberly e perguntou.

— Como assim grávida Kimberly? Quando?

— No Natal em Alameda dos Anjos. – a voz de Kimberly saiu fria e sem sentimento tirando a mãe do sério.

— Você tem dezessete anos Kimberly! Como pôde ser tão irresponsável?

— Ah, mamãe! Tommy e eu já estávamos namorando a dois anos era inevitável que isso fosse acontecer.

— E eu tabém estava em Alameda dos Anjos. Meus Deus Kimberly! Um filho, você tem ideia do que isso significa?

— Eu sei mamãe, eu sei que fui irresponsável. Mas eu estava sozinha, apaixonada e eu simplesmente não pensei.

Carol olhou a filha e tentando se manter a calma perguntou:

— E o Tommy? O que ele disse sobre isso?

— Ele não sabe, eu não contei. Você é a primeira pessoa a saber.

— Deixa ver se eu entendi. Você está grávida de quase três meses, não foi ao médico. Não contou ao pai. Inventou uma desculpa para que eu viesse ao país. Enganou o seu treinador fingindo que estava machucada. Essa não é a menina que eu criei. Kimberly! Olhe quantas mentiras!

Kimberly se levantou e olhou a mãe:

— Não sou mais uma menina mãe. Nós somos de Alameda dos Anjos, quantas vezes a cidade foi atacada? Estou a quase um ano sozinha, eu tive que crescer.

— Eu nunca devia ter te deixado sozinha lá.

— Foi a minha decisão mãe, eu escolhi ficar na Alameda dos Anjos com os meus amigos. Eu escolhi vir para cá treinar para o Pan Global.

— Isso não te faz uma adulta. Todas essas mentiras não vão apagar esse bebê. – Carol sentou-se na cama derrotada. – O quê pretende fazer? Espero que não tenha me feito vir para cá para te ajudar em um aborto.

— Não! – exclamou Kimberly indignada. – Eu jamais faria isso. Eu vou ter esse bebê, mas ninguém pode saber – Ela se ajoelhou ao lado da mãe e continuou. – Eu preciso da sua ajuda para isso mamãe, ninguém pode saber que essa criança existe. Nem Pierre, nem o papai, o treinador ou...

— Tommy? Vai esconder isso dele Kimberly?

— Sim, eu terminei com ele. Ele não vai mais me procurar.

— Ah, Kimberly!

— Eu sei o que estou fazendo mamãe. A criança vai estar mais segura com um casal adulto... com pais adotivos.

— Kimberly, você não tem ideia do que é ser mãe. Como conseguiria viver sabendo que abandonou o seu bebê?

— Eu não vou abandoná-lo. Ele vai ter uma família e vai estar seguro.

Carol sorriu amargamente e acariciando o cabelo da filha perguntou:

— Imagino que já tenha um plano para garantir isso não é?

— Tenho, mas eu preciso de você. Pode me ajudar?

Carol balançou a cabeça e respondeu:

— Sim Kimberly, eu vou te ajudar.