Running With You

Like the life you never had


MAXON POV

Desde a hora que acordara para me ajudar a achar o caminho da casa, America estava muito avoada. Cada vez que fazia algo para chamar sua atenção, ficar mais próximo ou até mesmo olhar para ela, sentia que se afastava ainda mais. Eu sei, eu sei, não era por mau, mas sempre que a observava (coisa que eu adorava fazer) reparava que seus olhos estavam perdidos e vagos, provavelmente em alguma lembrança. Não, eu não ficava bravo ou frustrado com ela ( na verdade não ficava muitas vezes), me sentia feliz por vê-la retomar uma parte da vida que não tinha no palácio. O melhor será tentar entendê-la, porque eu sabia que o seu encanto vinha do seu mistério, coragem, ferocidade e determinação. Essas qualidades eram admiráveis, e eu apreciava muito que America causasse esses sentimentos e essa surpresa em mim a cada nova coisa que fazia. Ela era imprevisível e fazia nascer em mim o sentimento de deixar os planos de lado e viver o momento.
Eu havia deixado a coroa de lado. Por que não aproveitar? Naquele lugar não haviam títulos ou regras. Apenas nós. Só nós. E só por ela fazer parte desse "nós" eu já me sentia privilegiado.
Logo que abrimos a porta, nos deparamos com uma grande sala, hospedando milhares de livros, poltronas e sofás, até mesmo uma televisão e um enorme lustre cristalizado. Em silêncio, começamos a explorar o lugar.
A casa possuía 2 andares, era toda rústica, de madeira, mas de uma maneira que trazia um certo...conforto. Alguns ambientes eram até parecidos com os do palácio por causa de seu requinte, mas ainda sim quando se olhava para uma janela onde não se via muros ou guardas, uma sensação de calma voltava a invadir. Isso era maravilhoso, já que a casa era cheira de janelas e espaços abertos, ou apenas painéis transparentes, o que trazia uma sensação de estar no próprio gramado.
Sendo noite, não havia como ver muita coisa pelas janelas além de algumas árvores ou grama, mas eu tinha certeza que a vista era muito mais que isso.
Parei meus olhos em um porta- retrato que me pareceu...familiar, em um dos quartos grandes. Nele, havia uma casa em uma árvore ao fundo, onde encontrei uma garota de cabelos loiros e olhos azuis, com um grande sorriso, provavelmente Meredith. Atrás dela estava America, com seus cabelos ruivos esvoaçantes. Ela estava diferente, estava...encantadora, mesmo sem aquele arsenal de vestidos e acessórios de selecionada, uma simplicidade terna. Ao seu lado haviam 2 garotos e 1 garota que eu não conhecia, todos de cabelos negros. Dentre eles, se destacou um garoto, bastante familiar...era...?
– America, este seria o soldado Leger? - Me virei para ela, que folheava umas fotos ao meu lado. Ela pareceu confusa e um pouco assustada, talvez por eu ter quebrado o silêncio tão repentinamente.
Ela se aproximou e olhou a foto, piscando rapidamente.
– Eh...Sim. Foi tirada quando eu tinha 16, Meredith voltou depois de um tempo pra me visitar...foi a única vez que ela veio antes de ir embora.
– Não sabia que eram tão próximos...sei que você e Leger eram da mesma província, mas não achei que se conhecessem de perto...
– Não nos conhecemos. - Ela acrescentou, rápido. - Ele só era amigo de Meredith e estava lá no dia da foto. Só.
Então o silêncio voltou a nos assombrar.
Voltamos para a grande sala após olhar a casa inteira, para checar os livros. Tinham muitos deles, em uma estante extremamente grande, encobrindo uma parede inteira da sala. Os livros eram diversos: desde romances até dicionários variados.
Enquanto America estava em silêncio, perdida em um pequeno livrinho de capa velha e rosada, resolvi ligar a televisão. Me surpreendi ao ver logo de cara, no Jornal Oficial, uma foto minha com America, tirada nas sessões de fotos, logo no início da Seleção.
"- ...tinuam desaparecidos. As maiores suspeitas são sequestro por rebeldes que querem derrubar a monarquia, ou algum grupo organizado à espera de resgate. Até agora não foram encontradas pistas e nenhuma nova informação foi revelada. Illéa inteira está paralisada com a notícia, muitas pessoas às portas do palácio dando apoios moral às famílias, que estão mais do que abatidas com o acontecimento inédito que chocou todo o país, e até mesmo internacionalmente. Caso encontre algo referente às vítimas, o contato deve ser dirigido ao..."
– Sequestro?! É o melhor que ele pode fazer?
– Maxon, você acha que alguém além do seu pai...
– Não. Ele não contaria a ninguém. Parece que sequestro foi a melhor opção que achou. Ele deve estar quase se divertindo, está ganhando com isso. Illéa toda vai começar a se revoltar contra os rebeldes, os grandes "culpados", além da Seleção poder ser adiada e ele poder ficar no trono por mais tempo, com a falta de um herdeiro e um príncipe. Mesmo se eu voltasse, até escolher uma esposa, ele já teria ficado mais tempo no poder. O que agora...sinceramente não me interessa nem um pouquinho.
Ela estava debruçada sobre o encosto do sofá, atônita. O jornal encerrou, logo em seguida.
– Acho que temos que começar a assistir mais essa coisa. O que mais vão sugerir amanhã? Tráfico de pessoas ou morte? - Ela disse.
– Sabe...não interessa. Pra que viemos até aqui se não conseguimos nos desligar de lá?
– Então tá. Peraí... - Ela fechou os olhos com força e os abriu novamente. - Pronto. Desliguei.
Fiz o mesmo.
– Eu também.
Rimos.
– Ótimo. Agora vou tomar um banho e ver se tem alguma coisa na geladeira pra gente não morrer de fome.
– Você vai cozinhar? Eu deveria ter medo, não é? - Ironizei.
– Ou você pode morrer de fome...
– Tudo bem. Aceito. Pior do que eu você não cozinha.
Ela subiu as escadas, rindo.
Comecei a mudar os canais. Minhas opções estavam entre um programa de encontros, outro jornal com nossas fotos e alguns filmes românticos. Parei em um desses filmes. Um garoto estava estirado no chão e se declarava para uma garota que chorava rios de lágrimas, prometendo que nunca o deixaria. Será que nós acabaríamos assim? Será que aguentaríamos até o fim ou teríamos que voltar por algum motivo? Bom, se estávamos bem até agora, não havia porque pensar nisso.
Após um tempo ouvi passos na escada. Me virei para trás e vi America, com os cabelos soltos e molhados, intensificando a cor de seus fios, usando uma blusinha branca que deixava seus braços à mostra e um shorts rosado um pouco..."desprovido de comprimento", mostrando quase as suas pernas por inteiro. Era uma visão um pouco escandalosa, e eu nunca, nem no primeiro dia da Seleção, havia visto seu corpo tão à mostra. Me senti um pouco...diferente..., com uma sensação de choque elétrico. Estava ficando quente na casa?
Ao ficar olhando muito tempo para ela, America acabou corando violentamente, desviando seu olhar de mim. Ela tentou se explicar:
– Não tem muitas roupas reservas aqui...além do mais, está um pouco calor e Meredith nunca foi o símbolo da santidade...
– Claro...
– É sério.
– Eu sei.
– Maxon!
– O que foi?
– Não é educado olhar assim. Que feio. - Ela olhou cômica, advertindo.
– Me desculpe. Acho.
– Ah, eu vou... - Ela fez menção em se retirar.
– Mas eu nem reclamei! Eu vou...tomar um banho...também. Não se preocupe comigo. Depois nós...jantamos.
– Tudo bem. - Ela ainda não me olhava nos olhos.
– Devia lavar o rosto...está meio vermelho...
– Maxon! - Ela começou a me dar leves tapinhas até eu subir as escadas.
Acho que eu tenho razão. Se já estamos aqui, por que não aproveitar?

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