Royal Hearts

Celeste - Fantasmas


A nova música que saia dos pequenos fones quase me fez gargalhar, mas eu mantive a concentração quando saltei do trampolim. E por um pequeno momento eu voei. Prendi a respiração e me choquei contra a água gelada. Durante aquele tempo meus únicos pensamentos eram sobre minhas braçadas e minha única preocupação era respirar. Aquela música tão improvável para um príncipe tocava ao fundo e dava um tom mais despreocupado a tudo aquilo. Eu finalmente terminei a terceira volta na piscina e apoiei meus braços e rosto na beirada, exausta.

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Todo os problemas dos últimos dias pareciam se dissolver nas águas da piscina da área de treinamento junto com a ansiedade por tudo que ainda estava por vir. Eu respirei fundo, tentando não pensar no grande desafio que me aguardava daqui a algumas horas, tirei a touca em minha cabeça e mergulhei minha cabeça na piscina para molhar meus cabelos agora soltos. Quando voltei a superfície me deparei com um par de olhos me observando atentamente. Alexander estava parado perto da beirada da piscina me olhando e sorrindo e eu não pude evitar sorrir de volta.

—Arrisco dizer que a senhorita gostou do meu presente. – ele disse ainda sorrindo e olhando para os fones que eu tirava dos meus ouvidos.

—Como não gostar? É fantástico poder nadar e ouvir música ao mesmo tempo. –dei impulso na borda da piscina e saí da água. Enquanto eu caminhava até o banco não pude deixar de notar o olhar surpreso do príncipe sobre o meu corpo.

Peguei a toalha que ali estava e percebi que eu não estava tão envergonhada como estaria normalmente por ser vista apenas de maiô. Mas eu ainda não era desinibida o suficiente para me sentir completamente desconfortável naquela situação, por isso vesti o short e a camisa que havia separado. Também não pude deixar de notar a decepção que passou rapidamente pelos olhos do príncipe quando me vesti.

—Fico muito feliz por ouvir isso. Já devem ter dito a senhorita o quanto nada bem certo? –ele havia me acompanhado até o banco e agora estava ali sentado ao meu lado.

—Talvez. Mas não tanto quanto falam isso com você. –comecei a desembaraçar meus cabelos com os dedos enquanto conversávamos, já imaginando a bronca que levaria de Kat e Amanda. –Eu sempre quis vê-lo competir ao vivo, mas é tão complicado fazer uma viagem sozinha e todos aqui estão sempre ocupados demais.

—Quem sabe um dia eu possa levá-la. –senti meu rosto esquentar diante de suas palavras e desviei o olhar rapidamente. Nem eu mesma entendi a reação que tive então dei um pequeno sorriso para que parecesse apenas timidez. –Desculpe princesa, não tive a intenção de intimidá-la.

—Não se preocupe Alexander, eu só fui pega desprevenida. Foi adorável o que você disse. –eu sorri, surpresa com o modo como eu havia aprendido maneiras de contornar as situações tão rapidamente nas últimas semanas e devido aos últimos acontecimentos. Eu também havia criado uma pequena casca e isso não era com o qual eu estava feliz.

—Na verdade eu vim conversar com a senhorita pelo fato de nosso último encontro de verdade ter sido naquela festa e não foi assim tão proveitoso. –eu corei novamente, mais do que na primeira vez. Maldita seja a hora em que eu decidi beber naquela festa.

—Eu realmente espero que cenas como aquela não voltem a se repetir. Por favor, me perdoe por tudo que eu disse. –eu não me lembrava de tudo sobre aquela festa, mas infelizmente me lembrava bem demais do terrível encontro com ele. Eu havia dito coisas e feito coisas que jamais faria se estivesse em meu melhor estado.

—Não se preocupe Celeste, o passado fica no passado e apenas lições são tiradas dele. –ele sorriu ternamente e tocou minha mão, fazendo pequenos carinhos e provocando um sorriso em mim. –Eu também gostaria de falar com você sobre toda essa confusão com a imprensa. Fiquei muito admirado com a maneira madura que você tem lidado com tudo isso, na realidade é muito mais do que eu poderia esperar para uma princesa da sua idade. Há mérito dos seus pais pela sua criação, mas também mérito seu por ser assim. Eu sei o quanto é horrível ter que lidar com mentiras de pessoas que não sabem absolutamente nada sobre a sua vida e sobre o que você passa.

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—Muito obrigada Alexander. –eu sorri verdadeiramente e mantive nossas mãos unidas. As palavras dele haviam sido realmente reconfortantes e eu notei o quanto gostava de seu tom calmo. –Você está sendo muito gentil comigo desde que nos conhecemos. Prometo que teremos um encontro de verdade logo.

—Eu ficaria muito feliz princesa. –enquanto ele dizia essas palavras eu vi que uma criada se aproximava de onde nós estávamos e eu já sabia o motivo. Era hora de me preparar para o momento que eu temia a dias.

—Desculpe Alexander, mas eu preciso ir me arrumar. Deveres de princesa me aguardam. –eu sorri e me levantei. Ele apenas acenou com a cabeça e deu um sorriso compreensivo.

Eu segui Karen até um quarto ao lado do de minha mãe, onde as criadas dela a arrumavam todos os dias, e não em seu próprio quarto. Ele era grande e cheio de todos os tipos de coisas de beleza que eu nem podia imaginar a utilidade. Mas hoje ele estava cheio de pessoas também. Minha mãe, Silvia, Ams, Kat, Amanda, Marlee e Vick estavam me esperando com sorrisos que iam de animadores a apreensivos e eu sorri ao vê-las ali para me apoiar.

—Não é a minha condenação senhoras. Melhorem essas caras. –brinquei enquanto minha mãe se levantava e vinha até mim. Ela me abraçou por um longo momento e eu me assustei por lembrar como o calor dos seus braços e do seu amor era apaziguador, eu havia passado dias precisando deles. –Obrigada mãe.

—Infelizmente alguém vai acabar sendo condenada hoje. –ela me olhou melancolicamente, talvez se lembrando de algum momento parecido em sua seleção. Meus olhos devem ter demonstrado preocupação por sua reação, pois ela balançou a cabeça e sorriu levemente. –Não se preocupe meu bem, certas coisas são necessárias. Aquela garota escolheu seu próprio caminho e nós temos que escolher o nosso. Agora chega disso, você precisa estar muito mais deslumbrante que o normal!

Eu me sentei em uma poltrona púrpura muito grande e confortável, de frente para um espelho tão grande que ia do chão ao teto e ocupava quase toda a parede. Pelo reflexo eu pude ver todas as mulheres da minha vida me olhando e eu sorri timidamente mais uma vez. Amanda logo veio ao meu encontro com uma expressão levemente brava ao notar o cloro em meus cabelos, mas não disse nada. Ela entendia que nadar antes de tudo aquilo que estava por vir me acalmava como nada mais acalmaria. Me lembro das inúmeras vezes em que ela teve que me procurar desesperada para me aprontar para algum evento e eu estava em meu refúgio. Dentro de uma piscina eu era só um corpo, sem obrigações, sem preocupações, sem riquezas, sem belezas e acima de tudo sem o título de uma coroa sobre a minha cabeça.

Ela pediu que eu fosse até o lavatório e por alguns minutos lavou meus cabelos com delicadeza. Eu fui até um pequeno lavabo e troquei as roupas que vestia por uma lingerie rosa claro que me esperava lá dentro; saí envolta por meu robe e então eu e Kat nos dedicamos a cobrir todo o meu corpo com um creme de cheiro adocicado e suave. Voltei a me sentar na poltrona e foi ai que Amanda começou a desembaraçar e cuidar dos meus cabelos com maestria. Pelo espelho vi Vick trocar umas palavras com minha mãe e Marlee e depois pegar uma revista das mãos delas. Ela se levantou e veio até mim com a expressão mais confiante entre todas que estavam naquele quarto e eu realmente me senti confiante naquele momento.

—Você treinou mais algumas vezes tudo que conversamos? Não se esqueça que também vão haver imprevistos, afinal você sabe com o tipo de gente que estamos lidando. –ela fez uma careta e eu ri.

—Treinei. Está tudo sobre controle. Ele está sobre controle. Lorenzo não vai tentar nenhuma gracinha que possa me prejudicar. Não por mim, mas sim pelo bem de seu país. –há alguns dias pensar nessa maldita entrevista me causava arrepios, mas hoje eu não sentia mais nada, só queria que passasse logo.

Quando os pais de Lorenzo receberam o telefonema dos meus pais informando as condições de sua eliminação da minha seleção ficaram quase possessos. Mas não conosco. Eles conheciam muito bem o filho que tinham e toda aquela situação os deixou envergonhados e preocupados com a relação diplomática entre os dois países. Eles prometeram que fariam qualquer coisa que estivesse ao seu alcance para amenizar os ânimos. Então depois de todas as mentiras ditas por aquela garota com a qual ele se envolveu e todo o constrangimento que ela causou por culpa dele, eu resolvi pedir algo aos pais dele, pedi para que ele voltasse a Íllea. De maneira alguma eu o queria de volta à minha seleção, mas eu precisava dele de volta para desmentir todas as mentiras contadas.

Então cá estava eu me preparando para uma entrevista coletiva junto com Lorenzo. Só de pensar em estar perto dele novamente um arrepio de nojo percorria o meu corpo. Ele já estava no palácio há dois dias, mas totalmente proibido de ver qualquer uma das selecionadas que ainda estavam no palácio ou de me ver. A primeira proibição de seus pais e a segunda dos meus. Só que hoje seria inevitável nosso reencontro. Eu havia praticado com Vick durante os últimos dias todo tipo de técnicas de interpretação para não pecar diante de todos os repórteres, ávidos por deslizes e mais fofocas. Silvia também contribuiu intercalando conversas comigo e com Lorenzo para que nossas respostas fossem correspondentes. Todos estavam preocupados comigo e se desdobrando em cuidados para que aquilo desse o mais certo possível. Eu olhei para Vick parada ao meu lado e ela me entregou uma revista com uma grande foto da minha mãe e Marlee na capa.

—Que revista é essa? –eu a olhei surpresa e voltei meus olhos para manchete “Entre amigas: Rainha America e Marlee, sua melhor amiga desde a seleção, contam detalhes sobre sua trajetória e sobre a vida no palácio”.

—Sua mãe e Marlee deram uma entrevista para começar a amenizar as coisas ditas por aquela....-Vick fez uma careta e segurou um xingamento, acho que por estar na frente de Silvia. –Enfim não foi nada de mais. Trouxe a revista para te acalmar e mostrar um trechinho. Era óbvio que perguntariam sobre esse escândalo, mas a parte boa é que por sua mãe ser a rainha eles escolheram uma pergunta mais....hmmm...suave.

—Por favor Vick, você está me deixando extremamente aflita. –a garota concordou com a cabeça e abriu a revista em uma das páginas marcadas.

Em um dos lados havia uma página inteira com uma foto da minha mãe e Marlee, sentadas lado a lado em um sofá, olhando de maneira fraternal uma para a outra e sorrindo. Não pude evitar um pequeno sorriso diante delas, mas logo passei para a outra página cheia de perguntas e li aquela que estava marcada.

“Vossa Alteza e Marlee, obviamente sabem do rebuliço causado por uma das ex-selecionadas que saiu do palácio nos últimos tempos e deu uma entrevista, no mínimo, polêmica. Nós gostaríamos de saber das senhoras sobre a declaração de que a família real evita contato com as garotas participantes da seleção. Essa afirmação tem fundamento?

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Rainha America e Marlee riem.

Rainha America: Oh, por favor. Nenhum fundamento! Nós participamos do máximo de coisas possível de acordo com a agenda real, mas vocês podem imaginar o quanto ela é cheia para todos nós. Entretanto, eu e Celeste cumprimos tudo quanto é possível dentro do Salão das Mulheres, na companhia das garotas. Amberly, que optou por passar esse tempo da seleção juntos de seus irmãos como forma de apoio, também passa grande parte do seu tempo ao lado de Silvia para auxiliar as selecionadas.

Marlee: Eu admito que fiquei surpresa ao ler o que aquela garota disse. Eu vejo todos os dias o quanto Shalom, Julian e Celeste se desdobram para darem o máximo de tempo possível para as selecionadas e os príncipes sem deixar de lado suas obrigações como realeza, afinal é isso que todos esperam deles. Todos nós da administração do castelo estamos sempre organizando eventos que possam promover interações entre todos, tudo isso a pedido deles e do rei e da rainha. Talvez não seja apropriado de minha parte dizer isso, mas diante das ofensas ditas pela ex-selecionada, eu me acho no direito de dizer que eu quase não me lembro da participação dela nas atividades em que não haviam câmeras registrando tudo. Eu diria até que era ela quem se excluía de tudo que era planejado por nós e sobre isso nós não podíamos fazer nada.”

Eu fechei a revista e olhei para minha mãe e Marlee, que era quase como uma segunda mãe para mim e meus irmãos, sentadas conversando e rindo. Não pude evitar sorrir quando elas me olharam e sorriram também.

—Eu não fazia ideia de que elas iam dar essa entrevista. A revista já foi pras bancas? –perguntei para Vick que exibiu um sorriso de orelha a orelha.

—Sim! Ontem de manhã. E você deve imaginar o rebuliço que foi Celle. As propagandas sobre a entrevista de vocês hoje dobraram! Toda Íllea quer ver, algumas fábricas pelo país vão até parar mais cedo o expediente hoje. Além das mídias do mundo todo que também falaram sobre isso. –eu senti meu estômago revirar de nervosismo. –Não quis te deixar mais nervosa, desculpe. Eu e todos aqui te conhecemos e confiamos na sua capacidade de reverter essa situação. E cá entre nós, você foi educada socialmente pela megera da Silvia, você vai arrasar.

Dei uma gargalhada que foi acompanhada por Vick que foi se sentar diante do olhar mortífero de Kat, que logo começou a minha maquiagem. Depois que ela terminou seu trabalho detalhista foi a vez de Amanda e ela se juntarem para começar de fato o penteado em meu cabelo. Após cerca de duas horas e meia sentada naquela cadeira eu fui até o biombo e as duas me auxiliaram a vestir meu vestido e calçar os sapatos. Eu respirei fundo e fui a passos lentos até uma pequena plataforma elevada no centro do cômodo, me posicionei sobre ela e finalmente me olhei no grande espelho a minha frente.

Eu ouvia o arfar e os suspiros das mulheres ao meu redor, mas só conseguia me ver no reflexo. O vestido era de um tecido muito leve e em um tom delicado de salmon, a parte da saia era pregueada, ia até o chão e se movia com suavidade enquanto eu andava. A parte de cima era um espetáculo de delicadeza a parte; o tecido era transpassado no tronco e se abria em um pequeno decote que não exibia nada de desnecessário. Quando me virei de costas vi que a parte de trás era fechada com fitas do mesmo tecido de todo o vestido, arrematando tudo da maneira mais singela possível. O restante também não deixava a desejar. Minha maquiagem estava impecável como sempre ou talvez até um pouco mais. A pele estava com uma camada uniforme que fazia parecer que era naturalmente daquele jeito todos os dias; as bochechas estavam levemente rosadas, de um jeito quase imperceptível; nos olhos a sombra esfumada em tons de rosa claro e preto e por fim os lábios rosados em um tom natural. Meu cabelo estava preso em um coque despojado e com alguns fios soltos e encaixado em minha cabeça estava uma guirlanda de flores, mas não de flores normais. A armação e as flores eram douradas, acredito que feitas de ouro, e o miolo de cada uma delas era uma pequena pedrinha de diamante.

—Não poderíamos deixar que esquecessem que você é uma princesa. –Amanda disse em meio ao silêncio dentro do quarto e eu sorri para ela através do reflexo.

Desde o vestido, passando pela maquiagem até o cabelo, tudo me fazia parecer um poço de pura inocência. Não que eu não fosse, mas tudo foi preparado para exaltar cada traço inocente em mim. O toque final foi feito pelo colar que meu avô deu à minha mãe e que agora era meu.

Minha mãe veio até mim e enlaçou seu braço no meu enquanto caminhávamos até a porta e então pelo corredor. Os guardas que estavam na porta se perderam um pouco em seus afazeres no momento em que passei por eles e a comitiva de mulheres atrás de mim se inundou de risadas.

—Quero que saiba que eu estou muito orgulhosa de você meu bem. Por tudo que você é e por tudo que se tornou. Seu pai não pode estar aqui, mas ele também está muito admirado com você. Celeste, você tem demonstrado ser uma verdadeira princesa e sortudo será o país que te tiver como rainha. –ela enxugou algumas lágrimas que desceram por seu rosto e sorriu de leve. –Espero que você carregue junto com seu nome o carisma que minha amiga Celeste tinha com o público. Ela teria sido uma ótima pessoa para estar aqui com você agora, assim como meu pai. –ela tocou o colar em meu peito e me abraçou, deixando nós duas muito emocionadas. Eu tive que me controlar ao máximo para não chorar e ela viu isso em meus olhos. Nós já estávamos em uma antessala e eu podia ouvir de leve o burburinho dos repórteres do outro lado, o que fez meu estômago se agitar levemente. –Não chore. Eu amo você.

Ela seguiu para o Salão das Mulheres e cada uma das pessoas que estavam conosco me abraçaram, desejaram boa sorte e a seguiram. Até que eu estava sozinha. Silvia havia ido buscar o causador de tudo aquilo para nós dois podermos finalmente começar e terminar o mais rápido possível nossas obrigações. Pelo canto do olho vi uma das cortinas se mexer e antes que eu tivesse tempo de me assustar Daniel saiu de trás dela com um sorriso tímido. Vê-lo fez meu estômago revirar verdadeiramente, eu o estava evitando desde nossa conversa em meu banheiro. Eu ainda não havia pensado direito sobre tudo aquilo. Reparei que ele não estava com o típico uniforme, mas com suas roupas comuns que eram muito mais largas. Agradeci mentalmente por isso.

—Só vim aqui te desejar sorte. –ele se aproximou, mas deixou uma distância razoável entre nós. –Eu sei quem você é, não importa o que aconteça dentro dessa sala. O que eu sinto por você não vai mudar.

—Daniel, eu... –não conseguia pensar em nada para dizer, eu ainda não entendia o que eu sentia por ele. Mas definitivamente o meu coração disparado dizia que eu sentia algo.

—Você não precisa dizer nada Celle. Eu não posso ficar muito tempo aqui de qualquer forma. –ele fechou os olhos e respirou fundo, suas mãos se levantaram lentamente e ele pegou meu rosto entre elas. Naquele momento tudo parou e eu perdi a noção de qualquer coisa. Não me preocupei com Silvia que poderia chegar ou com os jornalistas a poucos metros de distância. Se ele me beijasse... Fechei meus olhos, o calor de suas mãos atravessava minha pele e ia até o meu coração. Senti seu rosto se aproximar do meu, a respiração quente sobre mim e então finalmente seus lábios encontraram a pele da minha testa. Eu o agradeci e amaldiçoei por isso. –Eu tenho que ir Celle. Vou estar torcendo por você.

—Obrigada Daniel. Por tudo. –ele fez uma reverência e foi em direção a uma porta lateral, mas antes disso parou bruscamente e voltou em passos rápidos até mim.

—Celeste, seu irmão não pode saber que eu estive aqui. –minhas sobrancelhas se juntaram, sem entender o que ele queria dizer. –Julian me deu férias.

—Isso é ótimo. Você as queria há muito tempo. –meu sorriso e minha voz saíram mais duros do que eu pretendia. Eu não gostava de pensar que não teria Daniel tão perto por um tempo. –Mas não entendo o motivo de Julian não poder saber que você esteve aqui.

—Hmmm... Ele não gostou do que ouviu aquele dia no seu quarto. –ele passou as mãos pelo cabelo curto, claramente nervoso com o que dizia. –Talvez ele também não goste de saber que eu esteja aqui, é melhor prevenir.

—Daniel, isso quer dizer que essas férias... –do outro lado da porta ouve um pequeno barulho que o deixou assustado, apenas confirmando minhas suspeitas sobre os mandos e desmandos de meu irmão.

—Eu preciso ir Celle. Essa conversa fica pra outro dia. –ele caminhou rápida e silenciosamente para a porta lateral e logo não havia mais vestígios de sua presença naquele cômodo, apenas dentro de mim.

Tentei não pensar em Julian naquele momento ou só iria ficar com mais raiva ainda de meu próprio irmão. Respirei fundo e fiquei a espera de Silvia e O maldito. Cada segundo naquela sala tentando não pensar em maneiras de matar Julian parecia uma eternidade. Até que finalmente a porta se abriu e eles entraram. Lorenzo fez uma reverência logo que me viu e sorriu, com os olhos um pouco arregalados. Eu retribui a reverência, mas não sorri. Surpreendentemente eu não sentia mais nada por aquele garoto. Nem atração nem raiva, ele não provocava mais nada em mim e isso me fez sorrir.

—Estão prontos? –Silvia nos guiou até a porta que dava para o Salão Oficial e se colocou a nossa frente para nos analisar. Nós estávamos lado a lado e encaixei meu braço no de Lorenzo. Eu confirmei com a cabeça para ela.

—Eu espero que a nossa relação volte a... –Lorenzo estava inclinado na minha direção e sussurrava perto o suficiente do meu ouvido para me deixar irritada.

—Não dirija a palavra a mim a não ser que seja extremamente necessário Lorenzo. –eu fui dura e diplomática, o fazendo engolir seco. –Nós temos um contrato que você leu e assinou. Eu não vou pensar duas vezes se precisar te punir.

—Vocês sabem o que fazer. Sorriam. –Silvia ajeitou a gravata de Lorenzo e passou a mão pelo meu vestido, desamassando algo que só ela estava vendo. –Seja a princesa que você é. E vossa alteza o ator que é.

Eu dei uma risadinha e respirei fundo. Olhei para Lorenzo e ele já havia se recomposto, por um momento me permiti confiar nele. Dependia dele o país saber a verdade sobre mim. As portas se abriram junto com o meu melhor sorriso. Um calafrio percorreu meu corpo ao ver aquela sala cheia de repórteres se curvando em uma reverência a nós.

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—Não vou decepcionar dessa vez. –Lorenzo sussurrou ao meu ouvido mas eu ainda estava olhando para aqueles jornalistas e momentaneamente os imaginei como um bando de urubus ávidos por carne. Não pude conter a risada que saiu de minha boca nessa hora e senti Lorenzo se enrijecer ao meu lado.

—Eu não estava rindo do que você disse. –sussurrei de volta enquanto nos aproximávamos das belas cadeiras estofadas reservadas para nós. –Mas é bom não decepcionar mesmo.

Tudo isso deve ter parecido aos olhos daqueles abutres uma conversa divertida entre dois jovens. E mesmo que eles não pensassem dessa forma era exatamente isso que suas câmeras fotográficas não paravam de registrar. Nós iriamos nos sair bem, eu tinha certeza. Gavril possuía uma cadeira especial ao lado das nossas, era ele que conduziria aquela coletiva e isso já era o suficiente para me acalmar.

—Boa tarde altezas! Estão prontos para começar essa magnífica entrevista coletiva? –Gavril falou, com mais animação do que eu sentia.

—Claro! Vai ser um prazer responder as perguntas de vocês. –minha voz saiu cordial e delicada, exatamente como eu queria.

—Eu faço das palavras de Celeste as minhas. –Lorenzo já havia começado a usar seu tom de voz manipulador e, pela primeira vez, eu fiquei feliz por isso.

—Oh, estou tão animado! –Gavril fez toda a sala rir com seu comentário. –Quem quer começar?

Diversas mãos se levantaram e Gavril analisou todas elas por um momento antes de escolher um dos rapazes que estava na segunda fileira. Olhando melhor não eram assim tantos jornalistas. Três moças que escreviam nas sessões sobre as castas mais altas de jornais impressos diferentes, os três de maior prestígio de Íllea. Quatro pessoas que trabalhavam em diferentes programas de outros canais de televisão, três homens e uma mulher. Também haviam mais ou menos seis jornalistas de revistas, duas revistas respeitadas e as outras quatro tenebrosas revistas de fofoca. Além de dois que escreviam para a revista oficial do palácio, inclusive o rapaz que foi escolhido para começar. Ele vestia um blazer preto de corte moderno e se levantou quando foi escolhido. Uma das câmeras responsável pela transmissão ao vivo focou nele, ele não precisaria de um microfone, pois todos eles já haviam sido colocados em suas roupas na entrada.

—Sou Richard Lopez e estou representando a Revista Oficial. É uma honra estar na presença de Vossas Altezas. –ele se curvou em outra reverência antes de finalmente começar a perguntar. –Minha pergunta é direcionada a Vossa Alteza princesa Celeste. Princesa, não vou florear muito a pergunta, pois ela é muito simples e é do interesse de toda a nação saber como a senhorita se sente por ter seu coração disputado por nove príncipes?

—Essa é uma pergunta que realmente deve passar pela cabeça de todos Richard, e eu admito que ela

Richard sorriu diante da minha resposta e voltou a se sentar. A maioria deles começou a anotar em seus bloquinhos notas sobre o que eu havia dito. Haveriam muitas matérias escritas.

—Quem será o próximo? –Gavril perguntou e correu os olhos mais uma vez pelas mãos levantadas. Ele e Silvia haviam decidido que seria melhor escolher gradualmente. Primeiro os mais amigáveis e só depois os mais ávidos por sangue. Ele apontou para uma das garotas dos jornais impressos. –Você meu bem.

—Sou Linn Baker, representante do Impresso Íllea. –a voz dela era delicada, mas transmitia bastante força. –Eu gostaria de perguntar a Vossa Alteza príncipe Lorenzo sobre como o senhor se sentiu ao ingressar na seleção da princesa Celeste. Minha pergunta está voltada para as inúmeras manchetes em seu país que fazem referência a um comportamento mimado e imaturo da parte do senhor. Tendo em vista isso, como Vossa Alteza se sentiu ao não ser o centro das atenções e não ter todos os seus pedidos atendidos?

—É preciso coragem para me fazer uma pergunta dessas. Gostei de você Linn. –sufoquei uma risada e olhei para Lorenzo, verdadeiramente curiosa sobre qual seria a sua resposta. –Me desculpem todos vocês, mas não se pode confiar em tudo que a mídia diz e deveriam saber disso. Entretanto entrar na seleção da Celle foi realmente um choque de realidade. Eu entrei pronto para uma batalha, mas não foi isso que encontrei aqui. Durante todo o meu tempo nesse palácio me senti em uma colônia de férias. Fiz amigos e conheci pessoas que pretendo levar no meu coração pro resto da vida. –nesse momento ele olhou pra mim e deu uma piscadinha, que obviamente seria registrada pelas câmeras, por isso dei uma risada em resposta, tirando qualquer conotação sensual que aquilo pudesse ter. Ele sorriu, percebendo que eu não o deixaria fazer o que quisesse naquela entrevista. Enquanto nós dois estávamos nesse pequeno momento, Gavril já havia escolhido outra repórter pra fazer a próxima pergunta e a garota já estava em pé.

—Meu nome é Emily Parker e estou aqui representando o programa Ibope Real do canal 23. –ela parecia mais nova que todos os outros presentes naquela sala, talvez poucos anos mais velha que eu. Naquele momento pensei por quais tipos de coisas as garotas da minha idade tinham que passar pelo país; é claro que na época da minha mãe era tudo milhares de vezes mais difícil, mas ainda devia ser complicado. Voltei a minha atenção para a entrevista, aquele não era o momento de pensar naquilo, porém eu pensaria sobre mais tarde. –Vossa Alteza príncipe Lorenzo acabou de nos dizer o quanto sua estadia no palácio foi prazerosa e isso nos deixa um pouco confusos quanto as circunstância de sua eliminação. Minha pergunta é para Vossa Alteza princesa Celeste. Princesa, estamos vendo que há uma bela relação entre a senhorita e o príncipe Lorenzo, então todos nós e o país gostaríamos de saber o motivo da eliminação do mesmo.

—Bom Emily, essa pergunta parece complexa, mas na verdade é muito simples. Foi decidido pelo departamento de relações midiáticas do palácio que não seria necessário expor o motivo da “eliminação” do príncipe Lorenzo, mas, diante das últimas inverdades que foram publicadas, nós sentimos a necessidade de convocar essa entrevista coletiva. –as canetas escreviam furiosamente cada palavra dita por mim, eles também deviam estar observando atentamente minhas expressões faciais. –O príncipe Lorenzo não foi eliminado. Nós decidimos que seria melhor que ele saísse, nós dois, sem interferência de nossos pais ou de qualquer outra pessoa. Príncipe Lorenzo e eu nos demos incrivelmente bem assim que nos vimos, nós nos identificamos apesar dos interesses e gostos diferentes. Entretanto nossa relação foi se estreitando por um caminho diferente do esperado, e eu e Lorenzo nos tornamos amigos. Nós dois tentamos voltar para o caminho esperado para a seleção, mas não conseguimos. –olhei para Lorenzo, sorri amigavelmente e ele retribuiu o sorriso. –Por fim nós conversamos e achamos melhor que ele fosse embora, não seria produtivo para nenhum de nós. Eu e ele precisamos encontrar alguém e isso não seria possível para ele aqui. Mas nossa amizade vai continuar para sempre. –ele esticou a mão e pegou na minha sorrindo, isso não estava planejado, mas eu entrei em sua cena e retribuí o sorriso. Nada podia dar errado. Essa minha resposta causou um alvoroço entre os repórteres e todas as mãos se levantaram antes mesmo de Gavril indicar que passaríamos para a próxima perguntar. Provocando calafrios de medo em mim, ele escolheu um dos jornalistas das revistas de fofoca.

—Cliff Moore representando a revista Coroas. –a maior parte dos outros repórteres olhava com raiva para o garoto loiro em pé, esperando que ele usasse bem a oportunidade. –Quero perguntar a Vossa Alteza princesa Celeste sobre uma das declarações em sua última resposta. A senhorita acaba de dizer que houveram inverdades publicadas pela mídia, gostaria de saber se Vossa Alteza se refere à entrevista concedida pela ex-selecionada Caroline a uma revista depois de ter sido eliminada da seleção de seu irmão príncipe Shalom?

—Sim Cliff, eu estava me referindo a ela. Todos nós do palácio ficamos bastante espantados diante das palavras daquela senhorita. –eu respirei fundo para dar um ar mais dramático ao que eu dizia, mas também para tomar fôlego para o discurso que estava por vir. –Qualquer selecionada pode dizer pra vocês o quanto nós nos esforçamos para que elas se sintam em casa. Nós da família real tentamos participar do máximo de atividades possível. Foi decepcionante ler aquilo.

—Uuhh! É melhor aumentarem o ar-condicionado dessa sala. –Gavril fez essa pequena piadinha e a maioria de nós riu, mesmo assim o clima no lugar continuava pesado. –Quem será o próximo? Pode ser você querida.

—Meu nome é Florence Young e estou aqui pela revista One Click. –um silêncio constrangedor se espalhou pela sala, a garota em pé era quem havia feito a entrevista de Caroline. –Acredito que Vossa Alteza princesa Celeste sabe que a entrevista da ex-selecionada foi concedida a revista que eu represento, mais especificamente a mim. Eu posso dizer que ela parecia muito verdadeira em tudo que disse. Gostaria de perguntar à senhorita sobre algumas das afirmações dela. A ex-selecionada Caroline falou sobre um surto do príncipe Shalom que destruiu metade do palácio e que após ser confrontado por ela sobre isso ele bateu nela. O que a senhorita tem a dizer sobre isso princesa Celeste?

—Eu não sei o que mais me espanta, a revista ter publicado sem saberem a veracidade das informações ou a senhorita vir aqui e me dizer que ela parecia muito verdadeira. Eu confirmo pra todos ouvirem: Caroline Diane Rouff mentiu! –meu coração estava disparado, era eu quem iria mentir agora. Eu destruiria a vida daquela garota. Mas a culpa foi substituída por outros sentimentos. Infelizmente ela merecia o que estava por vir. Ela quebrou o contrato que tinha com o palácio e com a realeza, difamou a mim e a meu irmão. Isso não poderia ser aceito. Nossa misericórdia com ela foi toda usada no momento em que ela foi encontrada com Lorenzo e não foi acusada de traição por isso. Eu não devia essa resposta apenas a mim, eu precisava proteger Shay, eu precisava fazer o máximo que me fosse possível para a felicidade dele. Meu irmão já havia sofrido demais. –Ela pegou um fato e o floreou, aumentou e o transformou em algo horrendo. Meu irmão ficou sobrecarregado com a seleção e com os afazeres como príncipe, e em uma discussão com um de seus melhores amigos tudo veio à tona e ele descontou em um vaso, que era o que estava mais perto. Shalom não tinha a intenção de preocupar ninguém. Nesse momento Caroline e outras selecionadas estavam por perto e se assustaram um pouco, mas tudo foi explicado e elas tiveram a oportunidade de sair da seleção se quisessem. Mas nenhuma delas manifestou esse desejo. E é óbvio que meu irmão jamais bateu em Caroline.

—Vossa Alteza, ela confirmou que seu irmão bateu nela. Se não foi isso, quais foram os motivos da eliminação dela? –ela se impôs e continuou com sua pergunta, a voz desafiadora e provocativa, mas eu apenas sorri.

—Uma pergunta por jornalista. Próxima pergunta por favor. –ela se sentou a contragosto e Gavril escolheu outra pessoa para continuar. Eu não deixaria ela me desafiar.

—Karl Williams do programa Foco Celeb do canal 6. –ainda havia um burburinho no cômodo, talvez eu devesse ter respondido a pergunta dela para acabar com os boatos, mas eu não poderia deixá-la me desafiar dentro da minha própria casa. –Vossa Alteza príncipe Lorenzo, gostaria de saber o que o senhor tem a dizer sobre as declarações da ex-selecionada Caroline em relação ao senhor. Ela afirmou que vocês seriam muito próximos e que o senhor a teria salvo de uma suposta agressão da parte do príncipe Shalom. Ela afirmou ainda que o senhor disse que estaria feliz por sair da seleção da princesa Celeste. O que Vossa Alteza tem a dizer sobre isso?

—Um momento, por favor. –Lorenzo disse em meio a risadas e eu o acompanhei mesmo morta de medo. Eu não estava tão preocupada comigo, mas sim com meu irmão. As mentiras que ela disse sobre mim poderiam ser facilmente contornadas e não teria nada de errado se eu fosse realmente lésbica, mas o que ela havia dito sobre Shay era verdade. Ele havia tido um momento de descontrole e batido nela. E agora eu estava colocando a minha credibilidade em jogo por ele. Eu não estava arrependida, tudo que eu queria era ver meu irmão bem. Lorenzo finalmente parou de rir e decidiu responder a pergunta do rapaz. –Desculpe, não pude conter as risadas. Foi a minha primeira reação ao ler o que foi dito por ela, até que Celle me ligou e eu percebi a real gravidade da situação. Eu não imaginei que mentiras tomariam uma proporção tão grande. Eu sou um príncipe, fui educado para ser cortês e gentil com todos. Quando essa garota se aproximou de mim foi assim que eu a tratei, gentilmente. Mas parece que ela confundiu tudo e floreou grande parte do que realmente aconteceu no palácio. Eu e ela não fomos tão próximos, nós apenas conversamos algumas vezes durante os eventos e festas que aconteceram no palácio. Ela não tem fundamento nenhum para dizer se eu estou feliz ou não por ter saído da seleção da Celle, nós só conversamos trivialidades. E é óbvio que eu não estou feliz por sair da companhia de uma grande amiga como Celeste. Não preciso nem falar sobre essa “agressão”. Shay não agrediu uma de suas próprias selecionadas, ele não tinha nenhum motivo para isso e mesmo que tivesse, nós somos príncipes e sabemos nos portar como tais.

Eu sorri diante das palavras dele, nervosa pelas mentiras em suas palavras, mas feliz pelo modo convincente como ele as disse. Eu quase podia acreditar nele. Quase. Eu ainda sabia a verdade e isso me fazia tremer por dentro. Voltei minha atenção novamente para os repórteres que falavam sem parar até que Gavril os interrompeu para escolher o próximo a perguntar, outra garota de uma das revistas.

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—Meu nome é Cindy Clin...

—Princesa Celeste, Caroline disse que saiu por ter sido agredida por seu irmão e que a senhorita possui um comportamento duvidoso em relação a sua própria sexualidade. O que a senhorita tem a dizer sobre isso? –a jornalista da One Click estava de pé novamente. Ela interrompeu a outra repórter que falava e havia imposto sua pergunta. Senti minhas unhas se afundarem nas palmas das mãos para manter o controle.

—Vejo que a senhorita não deve ter lido o termo de compromisso enviado a vocês antes de entrar aqui. Mas eu posso recordar para você: “É permitida apenas uma pergunta por jornalista.”. Você já fez a sua, não tem permissão de fazer outra pergunta, isso foi definido antes do agendamento dessa entrevista coletiva. E é exatamente isso que ocorre aqui: uma entrevista coletiva. Respeite os seus colegas de profissão. –minha voz saiu firme, mas eu tive medo de ter parecido uma tirana. Pelo canto do olho vi Lorenzo me olhar com o que parecia ser admiração sincera. Talvez eu não tivesse sido tão tirana e talvez ele não fosse tão terrível assim.

—Princesa, a senhorita não quer responder sobre sua sexualidade ou sobre o real motivo da eliminação da ex-selecionada Caroline? –Florence voltou a insistir e nesse momento um silêncio se instaurou na sala. Todos os olhos estavam voltados para mim.

—Eu não tinha a menor vontade de expor a senhorita Caroline mais do que ela mesma já se expôs, mas vejo que você me obriga a isso. Ela foi eliminada por ter invadido o quarto do príncipe Lorenzo, obviamente sem a permissão dele. Ela confundiu tudo e achou que ele havia dado liberdades para ela que ele não deu. –sem que eu percebesse estava de pé e falando mais alto do que antes, mas com a voz ainda estável. –Sobre a minha sexualidade eu não deveria ter que dar nenhum tipo de explicação a vocês. Se eu estou em uma seleção com príncipes é porquê eu sei que eu desejo me casar com um rapaz. Se eu tivesse qualquer dúvida sobre isso eu não estaria nessa seleção, meus pais sempre me deram total liberdade para seguir o caminho que fosse meu de verdade. O comportamento sexual de uma lésbica não é duvidoso, acabe com seus preconceitos. –todos me olhavam espantados e admirados. Havia muito tempo que eu não via isso e eu esperava que meus pais também estivessem com esse olhar vendo a entrevista pela televisão. Florence abriu a boca mais uma vez para me desafiar e isso foi a gota d’água. –Chega! Não vou aceitar mais nenhum tipo de desrespeito da sua parte. Você tem desafiado a minha autoridade desde a sua primeira pergunta. Mais do que isso, você tem duvidado da minha palavra e eu e minha família jamais demos motivo para que Íllea duvidasse de nós. Você tem sorte pelo meu pai ser o rei, pessoas já foram chicoteadas por menos do que isso. Eu espero sinceramente que você pense bem sobre isso tudo e que este momento não seja um marco terrível na sua carreira como jornalista. Mas por hoje chega! Não vou me sujeitar mais a isso. Peço desculpas aos outros jornalistas aqui presentes, mas essa entrevista está encerrada.

Agradeci a Gavril e o abracei, quando me virei Lorenzo me esperava com o braço estendido. Sorri para ele e encaixei meu braço no dele enquanto caminhávamos em direção as portas, deixando os jornalistas e o país em polvorosa.