Rosas E Lírios

Bela e cheia de espinhos


Fechei os olhos e respirei fundo. Tinha caído em cima de alguma coisa, e um pedaço de seja lá o que fosse, estava ferindo minhas costas. O homem caído em cima de mim levantou-se devagar e trêmulo, e nem sequer pareceu se dar conta de minha presença. Ainda bem. Continuei caída, e the Ripper já estava de pé e parecia lutar de novo.

A dor de minhas costas ficava cada vez pior, e foi quanto notei que tinha caído em cima de caixas de madeira, e provavelmente um pedaço delas estava agora arranhando ou perfurando minhas costas. Mas que maravilha.

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Então minha visão começou a ficar cheia de manchas negras, e eu mal conseguia ver qualquer fio de luz que pudesse ter ali. Minha respiração começou a ficar irregular. “Ah, não vá me dizer que eu vou desmaiar logo agora...” pensei, desanimada. Fechei os olhos com força.

Depois de suspirar muitas vezes e pedir á mim mesma para que não desmaiasse, senti uma presença ao meu lado. Não queria abrir os olhos de jeito nenhum, pois a dor me sufocava, e eu realmente não queria ter outra preocupação. Mas me forcei-me a abrir os olhos quando recordei do que estava acontecendo ali.

Minha primeira visão foram dois olhos me encarando arregalados. Os cabelos azulados estavam brilhando sob o luar prateado, e a pele era mais pálida que o comum. Ciel estava cara-a-cara comigo, e tentava me fazer ficar de pé.

Ciel: Rose! Levante!

Mas eu não me sentia capaz de levantar dali. Eu devo ser muito sortuda, afinal, um assassino caíra em cima de mim, e agora eu estava ali, prestes a desmaiar, com um pedaço de madeira enfiado nas costas. Mas pelo menos Ciel estava ali. “Espere... Quando isso virou uma coisa boa?” perguntei a mim mesma.

Minha visão escureceu mais, e chegou um momento que eu não aguentei mais. Minha última visão foi Ciel, pálido, gritando alguma coisa que eu mal ouvia. Mas espere um minuto... Onde estava o tapa-olho? E que raios era aquilo em um dos olhos dele? Uma estrela? Onde eu já tinha visto isso?

Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, minha visão escureceu de vez e não pude ver mais nada. Absolutamente nada. Tudo ao meu redor era escuridão, e eu já não ouvia mais som nenhum, também.

~*~*~

Rose e Lily estavam brincando no jardim da frente. A casa em que elas moravam estava especialmente mais bonita hoje: Era aniversário das duas, e a mãe delas estava cozinhando alguma coisa para elas. Tudo parecia brilhar naquele lugar. O céu estava de um azul impecável, sem quase nenhuma nuvem. As árvores balançavam suavemente, enquanto as duas crianças corriam pelo jardim.

Rose: Duvida que eu suba naquela árvore, Lily?

Lily: Vai acabar se machucando, Rose! Não faça isso.

Rose: Ahh, vamos, vai ser legal! E qualquer coisa você vai estar lá pra me salvar, não vai?

Lily: A-Acho que sim, mas...

Rose não esperou pela resposta da irmã e correu para a árvore mais próxima que viu. Era uma árvore incrível; o caule não era tão áspero, e as folhas eram de um verde claro, e também não era muito alta. Rose começou a subir de um jeito felino –sempre foi boa em subir em árvores –e logo chegou aos galhos altos.

Lily: Desça! Desça daí, Rose!

No tempo em que havia ficado na árvore, achou ter visto um vulto passar pela parte da frente da casa e logo em seguida entrar nela, mas não deu muita atenção, afinal, não achava que realmente tinha visto alguma coisa. Apenas continuou tranquila, balançando as pernas finas e delicadas ao vento, sentada num galho.

Lily: Rose! Eu vou chamar a mamãe! Rose!

Rose: Ahn, que feio! Sua traidora!

Lily: Vou contar até três!

Rose: Não vou descer!

Lily: Uh! Então tá! Vou chamar ela!

Lily se virou e começou a correr, desajeitada como sempre, para dentro da casa. Rose, ao ver que a irmã falava sério, começou a gritar:

Rose: Dedo-duro! Você é uma chata!

Lily respondeu alguma coisa que Rose não entendeu bem e entrou em casa, triunfante. Rose abaixou a cabeça e esperou a bronca.

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E esperou... E esperou...

Alguns minutos se passaram, e a casa estava num silêncio mortal. Ninguém tinha vindo para brigar com ela, e nem para fazer uma última ameaça, ou qualquer outra coisa que ela tenha imaginado. A casa ficou em silêncio. Completo silêncio por alguns minutos.

De repente algo aconteceu. Por aquela porta, saiu uma Lily pálida como papel, com os olhos tão arregalados que mal parecia olhos normais. Sua boca estava entreaberta e ela andava de forma robótica e trêmula. Olhou para Rose, que ainda estava em cima da árvore, começando a ficar assustada.

Rose: Lily? Lily, o que foi?

Lily não respondeu. Continuou olhando para Rose com aqueles olhos verdes como as folhas da árvore em que a mesma estava em cima. O brilho nos olhos dela estava fraco e assustado. Ficou parada ali.

Rose: Pare, Lily, está me assustando! O que foi?!

Continuava calada. Assustadoramente calada e imóvel.

Rose desceu da árvore num piscar de olhos e correu desesperada até a irmã. Pegou Lily pelo braço e começou a sacudir a mesma, tentando fazê-la reagir de alguma forma. E de repente Lily pareceu acordar de uma espécie de transe, olhou para a irmã e... gritou. Gritou tanto e tão alto que Rose podia jurar que ia ficar surda.

Rose: Pare! Pare! Pare!

Depois de um tempo, quando Lily parou de gritar e tudo voltou a ficar num silêncio mortal, Rose sentiu todo o seu corpo tremer. Algo naquela casa estava anormal. Ela não ouvia som nenhum. Não ouvia o som da mãe batendo alguma coisa na panela, nem som de água, nem mesmo...uma respiração. Arregalou os olhos e tentou correr para dentro da casa, mas Lily, com uma força tremenda, segurou-a pela mão.

Lily: Não, Rose... Não entre... Temos que chamar ajuda! Não entre, Rose!

E Rose não entrou. Rose não viu nada. Pegou a irmã e correu rua afora, procurando por qualquer alma disposta a ajudar duas crianças em pânico. Quando conseguiram falar com um policial, Lily conseguiu pedir que ele fosse até a casa ver a mãe delas. Ela não tinha dito nada a Rose, que não entendia o que se passava.

O policial, confuso, assentiu e seguiu as duas meninas até a casa. Tudo aconteceu de forma tão rápida e assustadora, que Rose mal soube o que realmente acontecia. Lily estava assombrada e Rose confusa, quando o policial saiu de dentro da casa pálido e disse de uma forma que Rose e Lily jamais esqueceriam.

Policial: Ela... Está morta.

Nesse mesmo instante, Lily caiu no chão. O policial e Rose carregaram a garota inconsciente até o hospital mais próximo. Rose mal havia tido tempo para pensar em alguma coisa, mas quando se sentou num banco de espera no hospital, começou a raciocinar.

Ele disse que ela estava morta. E a única pessoa dentro da casa era...

Grossas e quentes lágrimas desceram pelo rosto da menina. O que ela sentia naquele momento era impossível de ser explicado em palavras, toda a angústia, a confusão, o medo, e principalmente a dor da perda.

Naquele mesmo dia, Rosely Bringwood sabia que jamais seria a mesma. Uma pequena criança, delicada e frágil, tão pequena e pálida... agora tinha um coração cheio de angústia e frieza. Ainda naquele dia, quando pôde ver sua irmã, ao vê-la deitada naquela cama, pálida e fraca, decidiu que sempre a protegeria, mesmo que isso custasse sua vida.

E tinha mais uma coisa que a incomodava. Aquelas pessoas que estavam no hospital olhavam para ela de uma forma estranha... como se ela fosse uma espécie de rato de esgoto. Como se fosse suja.

Todos eles, com aquelas roupas elaboradas, chapéus com detalhes e vestidos cheios de babados, leques... e aquelas expressões arrogantes e superiores. Para uma criança, aquilo ficaria marcado para sempre em sua vida. Um ódio crescia dentro daquela pequena e frágil menina, como uma rosa florescia caprichosamente. Bela e cheia de espinhos.

E viu algo que a deixou ainda mais furiosa. Ao vagar arrasada pelo hospital naquele dia, havia dado de cara com mais alguns daqueles nobres nojentos. Porém, aqueles pareciam diferentes. Suas expressões eram tristes e felizes ao mesmo tempo, de um jeito que Rose não conseguiu entender. O motivo da tristeza ela não sabia, mas o da felicidade...

Entre eles, havia uma criança. Um menino, que surpreendentemente era menor do que ela. Sua expressão era cansada, suas roupas sujas, e a pele estava cheia de ferimentos. Todas aquelas pessoas estavam em volta dele, como se aquele menino fosse algum tipo de tesouro.

Rose não entendia como... Se todas aquelas pessoas olhavam para ele com amor, por que olhavam para ela como se fosse um rato, sendo que aquele menino estava em condições ainda piores que a dela?

Foi então que viu. Uma médica dando nas mãos dele, dois anéis. Um prateado, com uma pedra azul, e outro dourado.

Mas é claro. Ele era um deles. Era um nobre, também. O ódio que sentiu naquele momento a atingiu como uma flechada no coração, puro e doloroso. Eles eram mesmo tão diferentes assim...? Pareciam iguais, mas não eram. E jamais seriam, assim pensou a criança que agora tinha um rancor no coração, rompendo com a pureza que havia ali.

“Vou manter Lily longe deles”, jurou para si mesma, dando meia volta e indo embora.

~*~*~

Quando acordei, não tinha a menor ideia de onde estava. Toquei minha testa e senti um pano molhado cobrindo-a. Uma voz familiar e irritante rompeu com o silêncio (que durou pouco, na verdade).

Sandra: Ah, a pirralha acordou!

Fechei os olhos, desejando que fosse uma ilusão. Alguém me diga que não é a porca ruiva falando aqui do meu lado, por favor... por favor...

Sandra: Ande, levante, pirralha! Está todo mundo preocupado com você! Oras, mas eu disse! Disse que ela não ia durar nada! Não conseguiu nem ir comprar comida sem cair numa caixa e desmaiar!

Rose: Cala essa boca, sua porca.

Sandra: Você me chamou de quê?!

De repente ouvi o som de uma porta sendo aberta e Sandra se calou. Agora eu me lembrava melhor. Eu estava na mansão River, o lugar que eu mais odiava de todos, deitada num sofá enorme e vermelho-vinho. O teto da casa também era vermelho, porém em um tom mais claro e vibrante.

River: Ah, está viva, ainda bem!

“Ah que maravilha. Mais gente irritante.” Pensei, desanimada. Mas outras vozes pairavam sobre o lugar.

Lily: Cala boca, Sandra, ninguém dá a mínima pro que você diz!

Michael: Gente, gente... por favor, estão irritando a Rose...

Christopher: E me irritando também.

“Então o Christopher voltou a falar, hm...” pensei.

Rose: Ér... o que aconteceu?

Minha voz saiu rouca e bem fraca, mas todos haviam ouvido bem.

River: Bem...-

Michael: Aconteceu que Madame Red foi assassinada, e você estava no lugar errado e na hora errada.

Rose: Isso eu já sabia. Quero saber o que aconteceu depois de eu ter desmaiado.

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Sandra: Ué, o pirralho conde e o mordomo gostoso trouxeram você pra cá às pressas por que estava perdendo muito sangue. Sinceramente, hein...

River: Olhe essa sua língua afiada, Sandra! Vá dormir, vá! Você só serve pra falar besteira!

Sandra murmurou alguma coisa, e num gesto de irritação saiu da sala.

Mas algo passava por minha mente, algo que acontecera antes de eu desmaiar... O que era aquilo no olho de Ciel?