Romeu & Julieta

The First Day of the Rest of Your Life


Resistência.

Se existia algo que os Alexandrinos sabiam fazer era resistir.

A cada ronda, a cada visita dos Salvadores, os Alexandrinos pareciam mais destemidos, mais ousados e prontos para afrontar Negan.

O que eles não contavam era que todos eram Negan. Podiam planejar o quanto quisessem, das mais diversas maneiras para matar o líder, porém o sistema sobreviveria. O sistema funcionava e para Katrina era simplesmente divertido assistir aos alexandrinos tentarem.

Uma, duas, três vezes, ela já havia perdido as contas de quantas investidas falhas havia presenciado. Negan de certa forma se divertia, finalmente havia encontrado inimigos a seu nível. Katrina gostava de ver o tio tão engajado e por hora, enquanto sua família brincasse de gato e rato com Alexandria, ela tinha um bônus ao qual se apegar.

Carl. O garoto que inundava seus sonhos.

O beijo que imaginou que seria único, se tornou um dentre muitos. Dentro de si, sempre que seus lábios quentes recostavam sobre os frios de Carl, algo lhe dizia que aquilo era errado, mas se era errado, porque parecia tão bom?

A troca de olhares cúmplices, o leve toque de uma mão a outra, o breve cheiro de sabonete que adentrava suas narinas quando ele passava, a sensação dos cabelos longos em seus dedos, o toque delicado e necessitado em suas bochechas, os lábios frios, mas que a faziam se sentir o mais viva possível, as poucas coisas que a faziam deliberadamente se entregar.

Entretanto, o desejo nunca seria maior do que sua lealdade.

Katrina se abominava sempre que pensava nas besteiras que Carl dizia, sobre como o sistema era injusto, sobre como eles eram os vilões da história, sobre como ela podia mudar tudo isso.

Negan nunca imaginaria que alguém tão próximo seria capaz de traí-lo, era a oportunidade perfeita para que ele enxergasse a verdade. Carl não queria mata-lo, ele queria que Negan conseguisse ver mais do que seu reinado limitado.

A menina ouvia e até mesmo considerava as ideias de Carl, mas no momento em que se afastava, sua mente a censurava. Eles eram diferentes demais, nunca poderiam compreender por completo suas diferentes necessidades.

Carl se contentava em viver em uma comunidade rural que compartilhava o que produziam e que viviam pacificamente. Eles contra os zumbis. Mas para Katrina, uma vida pacifica nunca existia.

A adrenalina que corria por suas veias e que se alastrava por seu corpo, sempre seria melhor do que viver em uma fazenda como Carl gostaria. Lutar e conquistar, era desse modo que Katrina vivia e não sabia mudar...ou simplesmente não gostaria.

Por isso, enquanto viajavam para Alexandria em uma última tentativa de construir um acordo duradouro e castiga-los, a loira não deixava de escutar os discursos de Carl em sua mente. Seriam eles os culpados para as ações violentas dos alexandrinos? Ou os alexandrinos buscavam causar isso a si mesmos?

Com um deles, dentro de um caixão no caminhão principal, Katrina tinha sua mente cercada por dúvidas. Se Sasha havia cedido ao sistema, porque Carl e sua família não podiam? O que havia de tão errado em viver em uma hierarquia?

Era exatamente assim que acontecia antes do apocalipse, porque as coisas precisavam mudar agora? Katrina sequer teve tempo de responder a própria pergunta, eles finalmente haviam chegado ao destino.

— Todas as saídas estão cobertas. – A voz de Eugene soava alta até mesmo para Katrina que estava bem ao lado do motor do caminhão. – Cada contingência resolvida. Eu venho armado com dois barris da verdade. Um teste para vocês e estou lhes dando o resultado.

O caminhão estacionou e houve um breve silêncio, Katrina mais do que nunca passava a se manter atenta, por mais amigável que fosse sua relação com Carl agora, eles ainda eram os inimigos.

— Olá. – Eugene recomeçou. – Vim cheio de esperança que ouçam o que eu sei. Não há opções. Obediência e lealdade são sua única escapatória. Esclarecendo, podem ter sucesso ou morrer. Eu espero que escolham a primeira, para o bem de todos. Tudo está preparado. Você vai obedecer, Rick?

Mais silêncio se seguiu à pergunta de Eugene. Katrina passava a olhar para o lugar onde o líder dos alexandrinos ficava. Tentava reconhecer algum deles. Eles pareciam em maior número, diferentes agora, mas ainda assim, Katrina sabia que seu tio tinha um plano.

— Cadê o Negan? – É a primeira coisa que sai da boca de Rick e Katrina tem vontade de rir, Carl ainda insinuava que seu pai não era um completo idiota, mas quem em sã consciência chama o chefe para uma conversa?

— Eu sou Negan. – Eugene profere e somente por estar no mesmo caminhão que ele, Katrina consegue escuta-lo.

O silêncio perpetua e Rick parece desapontado? Katrina curva as sobrancelhas se questionando o que aquilo queria dizer. Ela se sente quase emocionada por estar ali, em uma visão tão privilegiada a ponto de se divertir quando o que parecia ser um plano de fuga ou ataque de Rick dar errado.

Porém toda a diversão automaticamente se transforma em preocupação quando os novos aliados de Rick se viram contra eles. Ela conseguia ver, mesmo daquela distância, uma arma apontada para a cabeça de Carl. Ela devia se importar? Sua mente questiona por um segundo, mas toda a sua racionalidade é jogada pelos ares e ela dispara para seu tio.

— O que eles estão fazendo? – Ela questiona-o, já que estava na mesma cabine.

— Relaxa, florzinha, não vou estourar os miolos do seu menininho...ainda.

O portão é aberto e Negan solta uma piscadinha para a sobrinha antes de descer do caminhão. Dwight e Katrina saem logo em seguida, seguindo o chefe. Katrina mantinha seus olhos na arma que apontava para a cabeça de Carl, se aquele homem do lixo tentasse alguma gracinha, ela ia estourar ele antes que tivesse a chance de pensar de novo.

— Já ouviu aquela sobre o cretino idiota chamado Rick que pensava que sabia das coisas, mas não sabia de merda nenhuma, e acabou fazendo com que todos de quem gostava fossem mortos? – A voz de Negan reverbera sob o silêncio e a tensão de todos os alexandrinos. – É sobre você. É bom abaixarem suas armas agora.

— Ninguém abaixa nada. – A resposta de Rick é imediata e faz Katrina levantar suas sobrancelhas diante a petulância do maior.

Seu olhar curioso e preocupado analisa Rick enquanto ele parece inquieto. Katrina até mesmo sentia pena do velho, ele sabia que não tinha saída. Seus olhos voltam para a posição inicial, cravados em Carl e seu oponente, o menino parece notar que está sendo observado e a olha com seu modo frio e vazio.

Nem mesmo sob a mira de uma arma, Carl não demonstrava medo.

Katrina sentiu o peito remexer, aquilo a lembrava do primeiro dia que haviam se visto e em igual situação, Carl se encontrava ajoelhado para ela.

— Dwight, Simon, mexam-se. – a voz de seu tio traz a menina de volta a vida e ela percebe que está na hora.

Um sorriso meio insano se apossa de seu rosto. A apresentação sempre era tudo, que bom que haviam escolhido um ótimo caixão. Estava ansiosa para ver as reações diante a revelação.

— Vocês não gostam do Eugene, eu entendo. – Negan sobe no caminhão onde o caixão estava. – Mas vocês devem gostar da Sasha. Eu também gosto.

Katrina dava poucos passos para o lado, ficando na direção do tio, logo abaixo do caminhão, a expressão de surpresa, horror e descontentamento no rosto dos alexandrinos a divertia.

— Agora, eu a trouxe, para não ter que matar todos vocês...

E Katrina se desligou do discurso do tio, pois Carl finamente se pós de pé. Imaginava que por pura curiosidade para saber se aquilo que seu tio declamava era verdade. Ela tinha a confirmação de seus pensamentos, ao ser encarada por ele.

“É, ela mesma. Viva e bem.” Katrina o tranquilizava com o olhar, porém ele ainda parecia incomodado.

Katrina sentiu a necessidade de pedir desculpas, ela imaginou que o estava magoando. Mas quando, em alguma vez na sua vida pós apocalipse, a loira já pediu desculpas? Ela nem mesmo se lembrava de como fazê-lo.

Carl trocava olhares entre Katrina, Negan e seu pai, era evidente para a loira que ele também não se sentia confortável como antes naquela posição. Antes, não haveria problema em enfrenta-los, mas agora, parecia difícil e até mesmo errado.

A garota não tem mais um segundo para pensar ou analisar sua situação, o caos é iniciado, quando Negan é atacado por Sasha e caí do caminhão. Ela havia virado um dos mortos e Katrina nem mesmo sabia como.

Carl é o primeiro a reagir, atirando. A loira não fica para trás, seu primeiro instinto é de que precisava ajudar o tio, mas como se isso fosse claro aos inimigos, balas voam em sua direção na intenção de impedi-la.

A barreira do portão se torna um campo de batalha, tiros voam para todos os lados, Katrina é hábil com suas armas derrubando os inimigos. Rick ainda continua sem entrar na briga, já que está na mira da mulher do lixo. A loira tenta uma investida até o tio, que impede Sasha de comer sua pele, porém é praticamente impossível.

Ela xinga e um tiro passa ao lado de sua cabeça, rapidamente se esconde e nem mesmo precisa olhar para saber de onde ele veio. A garota que sempre estava de boné – Katrina não se importava com ela para decorar seu nome – parecia tê-la marcado.

A loira se enfurece ainda mais e com destreza, se levanta de uma vez e atira. Em questões de segundos, ela pode ver que acertou o alvo. Ela se abaixa novamente, andando rápido, tentando chegar ao tio.

Um tiro a acerta.

A dor no braço se alastra rapidamente, ela cobre o ferimento aberto com a mão e seus olhos acham o culpado. Carl estava deitado com uma metralhadora. Ela precisa rir para não gritar, esse era o seu tipo de relacionamento. Estava aos beijos com o menino, porém agora, poderia ser morta por ele se não tomasse cuidado.

O castanho parece captar em meio ao caos o que fez. Ele a olha e por um breve segundo, ambos sorriem. Príncipe e princesa do apocalipse, inimigos, prontos para se matarem se necessário.

Ela inspira fundo e percebe a sorte que teve de o tiro ser somente de raspão. Como uma bala, Katrina serpenteia o caminhão com cuidado, para chegar até o tio. Ele estava somente com o bastão para a apresentação, ela tinha que protegê-lo.

A loira o vê, um outro Salvador puxa Sasha de cima do líder, a mulher dispara para cima dele comendo seu olho. Katrina se aproveita e chega até o tio.

— Maldição. – Ele pragueja, enquanto ela o ajuda a se levantar e sair dali.

Simon se prostra a frente deles, enquanto correr abaixados, atirando e abrindo espaço. Os três param atrás de uma roda e Negan olha para o ferimento da sobrinha, ela balança a cabeça negativamente, essa não seria a hora de coloca-la dentro de um caminhão para sua segurança.

— Plano B! – O líder ordena.

Katrina assente e se levanta, atirando. Ela grita, “Plano B” a plenos pulmões para os aliados, e passa a abrir caminho não se preocupando em se defender, somente em conseguir entrar em Alexandria.

Não demora muito para que suas botas se sujem de sangue alexandrino. Os minutos parecem se tornar segundos enquanto ela os leva a óbito. O caminho fica livre e então, finalmente os tiros cessam.

A loira está ofegante e começa a voltar ao ponto de encontro. O sangue eletrizado em suas veias, a faz ficar distraída por um segundo. Amava quando as coisas saíam de controle dessa forma, o castigo da morte era a melhor punição.

Armas no chão, os alexandrinos começavam a se ajoelhar em rendição. Katrina sentia que podia começar a pular de felicidade, porém todo o sentimento de vitória em seu peito morre quando encara a única pessoa que lhe importava no campo.

Carl se encontrava novamente ajoelhado, dentro de um círculo de Salvadores, aguardando sua morte.

Katrina precisou neutralizar sua reação. Sabia que sua opinião não importaria se Negan tivesse decidido mata-lo, eram as regras, punição era a melhor forma de ensiná-los. Sabia disso, mas mesmo assim, uma dor em seu peito a atrasava.

Por um momento, desejou que aquilo fossem um sonho. Que pudesse acordar no momento em que haviam se beijado pela primeira vez. Tudo havia parecido ser perfeito naquele momento, a sensação ainda presente consigo. Ela fechou os olhos, não querendo encará-lo. O sentimento em seu peito a esmagando aos poucos.

Negan encosta em seu ombro, para que ela dê espaço para a chegada de Rick, que também havia sido baleado. Katrina se obriga a abrir os olhos, seus sentimentos não deviam importar, era o apocalipse e os alexandrinos mereciam.

Carl a observava, ela sabia disso. Ele conseguia enxergar o início de um conflito dentro dela e por um segundo, quis sorrir, sabendo que ele era a causa disso.

— Abaixe-se. – A mulher do lixo ordena a Rick. – Ou leva bala de novo.

— Merda, Rick. – Negan inicia, com um sorriso presunçoso no rosto. – Você tinha que se juntar ao povo nojento do lixão?

A mulher do lixo olha para o homem. Katrina mal consegue se manter parada, apesar da dor no braço e da tensão, ela só queria poder aproveitar um último momento com Carl.

— Sem ofensas. – Negan completa, em direção a mulher.

— O acordo é para 12, certo? – Ela questiona.

— Dez. – Negan é seco. – Pessoas são um recurso.

— Doze. – Ela sobe e Katrina não sabe o que o tio concordou em dar, porém havia sido o necessário para acabar com o plano baixo de Rick. – Ou sua sobrinha vem conosco.

Katrina lentamente olha para a mulher, a desafiando a dizer que aquilo ia realmente acontecer. Ela nunca sairia do lado de Negan. A mulher do lixo parece entender o recado, mas a despreza, olhando para o tio da moça em seguida.

Segundos intermináveis parecem se passar e o olhar duro de Negan não muda.

— Dez. – A moça se contenta e Negan sorri, voltando a seu discurso.

“Rick. Isso só vai deixa-lo triste. Quebrado. Vai desejar ter morrido.” Katrina se perde nas palavras do tio logo em seguida, enquanto olhava para os olhos claros de Carl, ela sentia as palavras penetrarem seu crânio. Aquilo a deixaria triste.

Não podia mais se enganar, já havia lido sobre aquele aperto no coração antes. Era o mesmo que Romeu havia sentido ao ver Julieta morta. Katrina havia chorado tanto com aquela cena e sabia que tudo aquilo era fictício, mas agora, enquanto encarava o rosto de alguém que sabia que amava, desejou que aquele tipo de cena continuasse na ficção.

— Você não vai ganhar. – Carl desafia Negan e é o que traz Katrina de volta.

— Carl, quero que pegue esse seu único olho e olhe bem. – Negan instrui.

Katrina pode ver que Carl a olha ao invés de encarar a rua. Não existe nenhum pedido de socorro em seus olhos, muito menos um adeus, ele só parece olhá-la como se fosse uma tarde normal de verão. Como se pudessem andar de mãos dadas pelo jardim, pois nada o tiraria dali e por um momento, por só um momento, ela deseja acreditar nisso.

Um grito corta a tensão e todos sabem que alguém caiu do mais alto andar de uma das casas. Katrina não se vira para olhar, em nenhum momento quebra contato com Carl, pois sabe que aquela é a última vez que vai vê-lo com vida e precisa aproveitar cada segundo.

— ...isso é castigo. – Negan olha profundamente aos olhos de Rick. – Agora eu vou matar o Carl. Vou fazer com uma boa e forte tacada, tentar fazer de uma vez, porque eu sei que gostamos dele.

A garota nunca havia reagido a um dos diversos discursos que ouvia o tio dar. Nunca sentiu pena ou sequer compaixão pelas almas perdidas, mas ali, até mesmo Negan tentaria ser gentil e sabendo que a sobrinha aguentaria a dor calada, transmitiu uma confissão a Carl pouco antes que ele morresse.

Katrina gosta dele.

Ela desejou poder ter visto um sorriso de Carl, porém o brilho em seu olho foi o necessário.

— Pode fazer isso. Pode fazer na minha frente. Pode quebrar minhas mãos, mas eu vou matá-lo. – Rick com lágrimas nos olhos, respondeu. – Vou matar todos vocês. – Dessa vez, Katrina pode sentir o olhar sobre si. Uma ameaça. – Talvez não hoje, não amanhã..., mas nada irá mudar isso. Nada.

A loira tenta transmitir um adeus a Carl da forma que pode. Negan se levanta, em nenhum momento o garoto ajoelhado deixa de olhá-la. Era isso, esse seria o fim de seu primeiro romance.

Negan levanta o bastão, porém nada acontece. Ao invés de sangue e um olho saindo do crânio, o caos se instala. Katrina mal tem tempo de pensar quando saca a arma para reagir, um tigre quase havia pulado em seu tio. Seu coração cheio de tristeza, pula para a boca com a sensação de morte em suas costas.

Homens em cavalos, mulheres em armaduras improvisadas, tudo parece mudar de perspectiva para os alexandrinos. Reforços haviam chegado.

— Derrubem os Salvadores e seus cúmplices! – Katrina consegue ouvir alguém gritar.

Seu corpo entra em modo de sobrevivência, passa a se afastar do local, derrubando quem tem na frente. Mesmo em perigo, ela mataria quantos fossem precisos.

— Terceiro grupo, agora! – Katrina se vê encurralada, com mais aliados de Alexandria chegando por todos os lados.

— Merda. – A loira xinga enquanto corre, atirando em um deles.

Ela pode ver Negan do outro lado da rua, ele sinaliza para que ela se aproxime. Ela sabe que precisa estar ao seu lado para fugir, mas também para protege-lo.

A loira se move para frente, contudo, antes que seu pé atinja o chão novamente, alguém acerta sua cabeça e a sensação é de como um mortal beijo em seu pescoço. Ela sente o chão molhado de sangue, o cheiro de pólvora, mas a última coisa que ouve é seu tio gritando seu nome.

[ . . . ]

Carl e seu pai correm para o prédio mais alto. O alívio o toma ao ver que não perdeu ninguém próximo naquele dia, Michonne estava bem. Machucada, mas ok.

Há alegria por todos os lados, daqueles que ainda sobreviveram. Os três líderes se juntam em um palanque, era hora de dar basta aos Salvadores. As buscas por Sasha começam, ela precisa de um funeral de respeito.

O garoto se junta com mais duas pessoas para começar a buscar pela mulher que lhes deu uma chance de sobreviver. Carl já não pensa sobre o fato de estar praticamente morto a algumas horas atrás, ele sabe que se tivesse morrido, seria a hora e de consolo, pelo menos morreria olhando para aquilo que achava que amava.

Não sabia como havia chego a isso, ou como isso era possível. Ela era a inimiga.

Enquanto parte de si desejava que ela estivesse morta, uma parte ainda mais louca, gostaria de vê-la na próxima vez que se enfrentassem. Ele sabia que isso talvez nunca mais fosse possível e o entristecia, se pelo menos pudesse ver seu rosto uma última vez.

— Ei, essa ainda tem pulso. – Sua amiga avisa com a mão no pulso de uma menina.

— Ela perdeu muito sangue, deve morrer logo. – O outro home que está com eles não dá a mínima.

Carl se aproxima, com arma em punho. Seu coração perde o compasso e mesmo coberta de sangue, ali ele sabe. É ela. Agora os gritos desconexos de Negan faziam mais sentido, ele sabia que ela havia ficado.

Ele controla seus músculos para não soltar um pequeno sorriso. Mesmo perdendo sangue como ela estava, ainda assim lutava para ficar viva, era algo que o encantava. Ela era forte e tinha vontade de viver.

— Deixa eu acabar com isso. – O homem se oferece, não querendo mais um zumbi dentro da área.

O homem se aproxima e aponta para a cabeça da menina. Katrina, que havia acordado com suas vozes, abre o olho e segura a perna dele, rolando. Ele se assusta, ela o derruba e o segura com suas pernas. As mãos empunham a arma e pouco se importa com a ardência em seu corpo.

Carl está com a arma apontada para ela. Ele sabe que ela é rápida e perigosa, por isso quase não pisca.

— Deixa ele ir. – O garoto ordena.

— Me tira daqui primeiro. – Ela rebate.

— São dois contra um, você está em menor número. – A amiga de Carl continua com a arma apontada para Katrina.

— É, você tem razão. – Katrina dá de ombros e abaixa a arma.

Eles vacilam por um segundo e ela atira no cara em suas pernas, rola para baixo dele, vendo o corpo do homem sendo acertado por tiro ao invés de si. O barulho atrai mais alexandrinos que reconhecem a roupa negra da garota, apesar do sangue de outras duas vítimas a banharem.

Katrina escapa e segura a amiga de Carl pelo pescoço, a arma ao seu lado, apontada para cima a todo momento. Carl pragueja por não ser páreo a ela. Se ele fosse como Katrina, teria atirado na amiga para deixar a loira sem um escudo humano.

— Desiste, Katrina. – Carl aconselha. – Você está cercada. Não vai valer de nada para o seu tio se estiver morta, certo?

Ela levanta os olhos até ele. Consegue sentir o sangue seco em sua bochecha, a ferida em seu braço ainda aberta. Seu estômago ronca e sente a fraqueza. A cabeça latejando com a pancada, mas ainda assim, a loira persiste em tentar pensar em um plano para fugir.

— Katrina certo? – Ela pode ouvir a voz de Rick chegando no local. – Não seja estúpida, você não vai conseguir sair daqui.

Ele tem razão e ela sabe. A arma em sua mão parece muito mais pesada, suas pernas estão duras como cimento, ela sabe que não tem forças para fugir dali, porém seu primeiro pensamento é tentar.

Carl continua a olhando, esperando uma reação da besta. Ele entende o desespero que ela está sentindo, passou pelo mesmo quando foi ao covil dos Salvadores. Ela só pensa em fugir, mas Carl sabe que ela é muito mais valiosa ao lado deles, aquilo destruiria o coração gelado de Negan.

— Larga a arma. – Rick não dá moleza e continua apontando a arma para ela.

Katrina deseja gritar, havia perdido. Ela solta a garota e deixa a arma no chão. Seus punhos são logo amarrados atrás do corpo, ela passa a ser levada para algum lugar.

Carl abaixa a arma e a vê passar.

Finalmente a princesa estava ao seu lado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.