(Música)

O garoto, que um dia já fora bonito, agora abandonara a si mesmo como alguém abandona uma casa. Seu cabelo estava comprido e bagunçado, sua pele mais pálida que antes, seus olhos negros sem brilho algum e com grandes olheiras. Ele sempre fora magro, mas agora olhar para ele causava arrepios.

Dois meses passaram-se desde que sua amada morrera. A culpa e tristeza o consumiam segundo após segundo. Ele era um boneco oco. Seus parentes estavam preocupados com ele, oras, aquele sempre alegre e belo jovem reduzido à isso?

Diariamente, visitava o cemitério onde ela estava enterrada, e passava horas naquele lugar que já se tornara praticamente uma casa para ele. Apesar de tudo, sentia um pouco de alegria em saber que pôde estar com a garota em seus últimos minutos de vida. Sim, ele estava lá quando o coração de Thalia parou. Saber que as últimas palavras dela foram dirigidas a ele era um aperto a menos em seu coração.

"Nico, eu vou morrer?", foi o que perguntara alguns dias antes de sua morte. Estava tão fraca, seu corpo, antes pequeno porém saudável, estava magro, e ele soube que ela não conseguia ver praticamente nada, além de sua audição ter sido prejudicada. Mesmo assim, Thalia lutou, ela fora forte até segundos antes do fim.

Nico se mudara da Itália quando tinha apenas quatro anos, e logo depois conheceu Thalia. Desde então, nunca se separaram. Depois de maiores, o sentimento fraternal que o garoto sentia por ela se transformou em amor, que, dia após dia, crescia. Até que ele não aguentou mais e precisou dizer isso à ela.

E fora rejeitado. A dor do coração partido e a vergonha o fizeram se distanciar, e era disso que Nico mais se arrependia. Se tivesse lutado por ela, se não desistisse, provavelmente ela estaria com ele, viva.

Era novembro, e o dia estava frio, o que agradava o garoto. Estava sentado no muro de proteção da cobertura do prédio onde morava, e observava o céu. Era fim de tarde e, apesar do frio, o sol aparecia e coloria o céu com tons de laranja.

"Nico?" Ouviu uma voz chamá-lo. Ele sabia de quem era a voz, então não se deu ao trabalho de olhar para a pessoa.

"Parece que o céu está pegando fogo." Disse, alheio ao que quer que seja que o amigo tentava falar para ele. Ele olhou para baixo, para a rua onde pessoas andavam para lá e para cá. De onde estava, pareciam formigas coloridas.

Há algum tempo, uma ideia surgiu na cabeça do moreno, naquele mesmo lugar. E, desde então, vem pensando nela seriamente. Percy continuava falando qualquer coisa, e tentava parecer normal, mas Nico conseguia perceber o tom de voz que o amigo usava. Era o mesmo tom de voz que todos à sua volta usavam com ele. Como se conversassem com alguém mentalmente instável. Sim, provavelmente ele estava louco, e sabia disso.

Ali, com seu amigo desconfortável na sua presença, o garoto finalmente tomara sua decisão. Se levantou, assustando o outro, que finalmente parara de falar.

"Adeus" O de olhos negros pronunciou, com um sorriso mínimo nos lábios. Percy, que já tinha seus olhos arregalados, arregalou-os mais.

"Você não pode fazer isso, Nico!" Gritou, desesperado. "E quanto aos seus amigos e sua família? Seu pai já perdeu a mulher e a filha!"

"Ele vai entender que tive meus motivos." O outro murmurou, distraído. "Mas diga a ele que o amo."

"Não faça isso, Nico!" O outro gritou, no mesmo instante que seu amigo deu um passo para trás, caindo.

A sensação de quase voar era gostosa e, ao contrário do que pensara, não se arrependeu de sua decisão nem por um segundo. Quando colidiu com o chão, teve tempo apenas de sentir uma grande dor por um mísero segundo, logo depois, já não sentia mais nada.

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Um parque. Ele não sabia o porquê de estar ali, muito menos se lembrava de quem era. Não havia ninguém por perto, exceto por uma garota, agachada perto de uma árvore. A observou por um momento, até ela perceber sua presença ali.

E, como num flash, as lembranças de sua vida voltaram para ele.

Thalia o esperara na mesma árvore que era tão importante para eles. Naquele momento, Nico sabia que, finalmente, poderiam ter seu final feliz.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.