Andava pelos corredores do magnífico palácio de Versalhes, estou um tanto feliz por estar aqui, há tempos quero saber como é este castelo. Nobres passavam por mim, olhando-me como se eu fosse algum tipo de monstro, uma aberração. O homem ao meu lado segurava o riso diante dos olhares incrédulos, e o pequeno garoto ao meu outro lado andava formalmente, olhando diretamente para frente, assim como seu pai, como se me ignorasse.

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– Estamos quase chegando. – Disse o nobre, sem olhar-me.

Seguimos até o lugar que identifiquei como sendo uma masmorra. Apavoro-me, eles irão prender-me aqui? É um lugar demasiado sombrio para uma criança, com teias de aranha por entre as paredes de pedra rachadas, um cheiro horrível e com poucas janelas. Além de celas espalhadas por toda extensão do lugar. Espere, além de deixarem-me presa neste lugar horrendo, ficarei em uma cela? Agora sou eu a sentir repulsa por estes animais nojentos.

Param defronte a uma cela, a pior de todas, percebo, e jogam-me dentro dela, como se eu fosse algum lixo qualquer. Caio de costas no chão, a dor é terrível, mas de qualquer forma consigo ficar em pé.

– Vais ficar aí, é o teu novo lar. – O maior começa. – E sempre que terminares os serviços que lhe serão dados, voltarás aqui. E se tentares fugir... Talvez não saibas, mas apenas avisando, serás guilhotinada. Tenha um ótimo dia. – Sorriu com sarcasmo e retirou-se com o pequeno, que ria junto com ele. ‘’Doentes’’, penso com agressividade. Ter um ótimo dia? Ao inferno, nem sonhando que irei ter um ‘’ótimo dia’’.

Não passaram-se ao menos 20 minutos e o garoto aparece em frente à minha cela, sorrindo com maldade, os olhos brilhando de felicidade. Pela minha desgraça.

– Tu já sabias que serei eu a cuidar de você, não? Bem se não sabias, sabes agora. – Começa a dizer, olhando-me nos olhos.

– E o que tem isso? – Pergunto, fazendo-o olhar-me com fúria.

– Como assim, ‘’O que tem isso?’’ – Imita-me. Ou melhor, tenta imitar-me. Quase rio, mas controlo-me, pois se o fizer talvez sofra consequências terríveis.

– Veio aqui apenas para isto? – Respondo-lhe com outra pergunta, ironizando-a.

– Vim apenas para te dizer que se você não calar a boca e me obedecer, será morta. – Responde com a voz macia, dando um sorriso de satisfação. Arregalo os olhos, sua expressão parece cada vez mais satisfeita. Resisto à tentação de dar-lhe um tapa, mesmo que por dente as grades da cela.

– Está bem... – Começo, com a voz baixa, seu sorriso apenas aumenta. – O que tenho que fazer?

– Tantas coisas que até perdi a conta. – Diz, olhando para o teto.

– Diga logo. – Retruco, chamando sua atenção.

– O que acabei de dizer? – Olha-me com repugnância.

– Você não disse nada sobre eu ser educada com você. – Digo e dou um sorriso debochado.

– Cale a boca! – Exclama um tanto alto. – Se não fores educada e me obedeceres, serás morta antes mesmo de poderes fazer algo aqui, entendeste, pobretona idiota?

– Sim. – Respondo baixo, sem emoção. Aquilo me doeu até a alma.

– Excelente. – Seu sorriso de satisfação volta ao rosto. – Primeiramente, irá ser apresentada por outras servas aos locais de trabalho. Após isso, irá ajuda-las nos serviços, tais como lavar as louças e roupas, esfregar o chão, cortar a grama, varrer as escadas do castelo... Entre tantas outras coisas. – Explica-me com o tom de voz normal, tanto que pensei que estava tentando ser “amigável”, abrindo a cela com uma chave média.

Saí daquele lugar, que até então é meu novo lar, e segui-o pela escada que nos dirigia de volta ao Hall do castelo. Novamente passei por pessoas que olhavam-me com cara de ‘’Quem deixou esta coisa entrar aqui?’’, alguns também arregalavam os olhos. Tentei ignorá-los e seguir em frente, sempre com a cabeça baixa. Subíamos tantas escadas que elas pareciam infinitas, e então chegamos ao topo do castelo. Uma área grande, com vista para todos os lugares de fora do palácio. Tentei ver mais, mas o idiota ao meu lado puxa-me de volta pelo braço. Reparo na quantidade de mulheres que há aqui, e reparo também que todas são maiores. Impressiono-me com isso, não há nenhuma que aparente ter menos que 15 anos.

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– Ah, me deixe ver a paisagem. – Digo, tentando soltar-me dele.

– Não, agora venha. – Continua andando até um grupo de garotas muito mais velhas do que quase todas ali. Quando chegamos, elas nos olham surpresas, ou melhor, olham surpresas para mim, já que sou nova. Literalmente.

– Esta aqui é a nova serva que irá trabalhar com vocês, meu pai avisou semana passada. – Diz ele. Então quer dizer que meus pais haviam vendido-me há tempos? Mais especificamente há uma semana?

– Olá. – Cumprimentou-me com um sorriso simpático uma garota de cabelos e olhos escuros. – Sou Natália, qual seu nome?

– Carollyn. – Respondo, sentindo o garoto soltar meu braço.

– Bem, está entregue. – Diz ele e dá um sorriso calmo, achei que ele ficou mais bonito assim, e então, ele sai.

– O que faremos agora? – Pergunto para Natália.

– Iremos, ou melhor, já estamos terminando de colocar estas roupas para secar. – Observei atentamente ela colocar um enorme vestido para secar. Era todo decorado com laços e fitas roxas.

– Como conseguem usar isto? – Pergunto, espantada.

– Não sei, nunca usei um. – Como sou idiota.

– Então... Se estão terminando de pendurar as roupas, o que faremos agora? – Repito a pergunta, sentindo-me estranha. Nunca havia trabalhado de verdade, digo, estou acostumada apenas a ajudar meus pais nas colheitas e plantações.

– Bem, iremos agora tirar o excesso de grama dos jardins do castelo. – Diz ela e eu assinto. Mas logo me dou conta de que os jardins do castelo são enormes, e que levaria um século para isto.

Descemos e passamos pelas mesmas pessoas que nos olhavam com nojo. Andamos ao jardim e olhei ao o outro lado, a metros de distância, vendo o garoto que antes estava comigo dar um pequeno sorriso a mim. Ou pelo menos acho que foi para mim. Retribuí, dando meu melhor sorriso meigo, vendo-o virar a cara e rir um pouco. As garotas ao meu lado apenas riam de nós dois.

– Estão rindo de que? – Pergunto, ficando vermelha.

– Vocês dariam um belo casal. – Diz Natália e as outras duas garotas concordaram.

– É verdade. – Disse uma garota de cabelos castanhos claros e encaracolados, encarando-me com um sorriso no rosto. – E, aliás, sou Hermione, e esta é Gina. – Diz e aponta para ela e a garota ao seu lado.

– Prazer. – Digo e sorrio para elas.

– O prazer é todo nosso. – Dizem as duas, sorrindo abertamente.

Andamos mais um pouco e pegamos o que precisamos para trabalhar. Estou vendo que não será muito ruim trabalhar aqui.