República Evans

O Dia Seguinte


Capítulo 5 – O Dia Seguinte

Lily se sentou em sua cama, ainda um pouco sonolenta. Os raios de sol já atravessavam a janela, mesmo que as cortinas estivessem fechadas. Ela rapidamente lembrou-se da noite anterior e olhou automaticamente para a cama de Anita.

Ela dormia tranquilamente. Lily suspirou aliviada, imaginando que a amiga poderia estar acordando sabe-se lá onde, sem nem se lembrar de como chegara ali.

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Após tomar seu habitual banho matinal, Lily fez uma nota mental urgente: teria de lavar o banheiro assim que fosse possível. Anita vomitara no vaso, com a sua ajuda, antes de ir dormir e Lily não podia parar de imaginar os vermes e bactérias se reproduzindo freneticamente graças aos microscópicos vestígios, mesmo que fossem apenas partículas invisíveis a olho nu, do ácido gástrico, bile e restos de alimentos deixados pelo vômito - microscópicos vestígios porque, obviamente, a ruiva já havia higienizado a região do vaso sanitário ainda na noite anterior, assim que Anita se deitara, mas somente aquilo não fora o suficiente.

Depois de concluir esta sua nota mental, Lily teve vontade de começar com a limpeza naquele exato momento; no entanto, seu estômago interrompeu-lhe e mandou-lhe um intenso aviso de que estava vazio e ela teve de ouvi-lo.

Assim que acabou de comer sua torrada, já no andar de baixo, a porta da sala para a rua se abriu. James Potter, com as roupas amassadas, entrou, tentando ser sorrateiro e silencioso, imaginando que todos estivessem dormindo.

– Bom dia! – Lily o saudou, maldosamente, assustando-o.

Potter aparentemente detestou ter sido pego de surpresa ao ouvir a sua voz e a expressão assustada dele a fez rir.

– Oi, Evans. – Potter a cumprimentou, assim que se recompôs. – Sua noite foi boa? Dormiu bem?

– Dormi muito bem, e você? – ela respondeu, no mesmo tom de falsa educação usado por ele.

– Hm... eu não dormi nada, sabe? – ele aplicou toda a malícia possível em sua resposta, a fim de irritá-la.

E, assim, Potter subiu as escadas, sem fazer barulho, enquanto Lily se perguntava o por quê ainda dava alguma atenção a ele. Sempre presunçoso. A partir daquele momento, fingiria que ele não existia. Dessa vez seria para valer.

Sem perder tempo, pôs-se de pé para pegar os produtos de limpeza no armário debaixo da escada. Quando subira para o segundo andar, encontrou Lorens desperta, sentada em sua cama.

– Aposto que você já estava indo lavar o banheiro, acertei? – perguntou, com um sorriso sarcástico e num tom de voz baixo, para não acordar Anita.

É claro.

– Então vamos, antes que a Anita acorde.

– Como você sabe que ela...

Lorens riu.

– O Sirius me contou, no fim da festa. – ela suspirou, pensativa. – Típico. Agora vamos logo.

Lily estava particularmente surpresa com a atitude de Lorens, que havia voltado para casa bem mais tarde, e que já estava desperta àquela hora, num sábado pós-festa, só para ajudá-la a lavar o banheiro, atividade da qual sempre fugia.

Enquanto jogavam a água no chão e no vaso, as duas permaneceram caladas.

– Lily... – Lorens interrompeu o silêncio. – Quem era aquele Martin? Você o conhece?

– Nunca tinha visto. Nem sei se estuda em Hogwarts.

– Que cara idiota. Quando o Sirius me contou que ele queria levar a Anita para a casa dele naquele estado, eu quase não acreditei! Vou mandar o Bill não convidá-lo mais para as festas!

– Imagina só se você está assistindo à cena e mal consegue impedir? – Lily comentou, colocando luvas.

– Se fosse comigo, teria feito um escândalo.

Lily sorriu. Conhecia bem a amiga para confirmar sua resposta.

– A Anita sempre bebe, mas nunca daquele jeito! – Lily continuou, pensativa. – Quero dizer, nunca a ponto de quase não parar em pé e de vomitar até as tripas.

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Lily e Lorens demoraram mais ou menos meia hora para concluir a limpeza do banheiro. Lily aproveitou para trocar as toalhas e lavar as paredes de vidro do box. A contaminação tinha que ser completamente exterminada.

– Lily, você já limpou isso anteontem!

– Mas já está sujo!

Lorens fez uma careta, mas Lily a ignorou. Não se sentiria bem enquanto não limpasse, de qualquer forma.

–--

No meio da tarde, Lily resolvera checar se Anita já havia acordado. Ela fechou o livro que estava lendo no sofá e se dirigiu para o quarto no andar superior.

Encontrou Anita sentada em sua cama, com os olhos grandes bem abertos, segurando a cabeça com as mãos.

– Que. Ressaca. – Anita falou, sem se mover.

– Mas você está bem?

– Estou péssima, Lil. Morrendo de dor de cabeça.

– Quer um remédio?

– Não precisa.

Lily sentou-se na ponta da cama da amiga. Anita levantou um pouco a cabeça para olhá-la, fazendo um grande esforço.

– Você se lembra de ontem? – Lily perguntou, se sentindo idiota ao fazer tal pergunta.

– Ah... não tudo, com detalhes. Por quê?

– Me conte o que se lembra.

Preocupada, Anita começou:

– Bem... lembro-me de ter perguntado para o Frank onde estava o whisky... – ela cerrou os olhos, lentamente. – Depois, eu me lembro de que tinha um garoto muito bêbado falando sozinho perto da mesinha do whisky... Ah! Eu me lembro de ter virado uma garrafinha numa aposta com ele! Lembro de ter derrubado todas as pedras de gelo no chão um tempo depois. Depois, só me lembro de vomitar aqui no banheiro. Ah! Também me lembro que você ficou conversando comigo aqui no quarto... não foi?

– É, mais ou menos. – na verdade, Lily ficara brigando com ela. – Anita, você tem certeza de que você não se lembra de mais nada? Não se lembra de nenhum cara chamado Martin?

Anita olhou para cima, procurando se lembrar. Sua dor de cabeça estava terrivelmente forte, dificultando bastante o seu raciocínio.

– Olha, Lily, esse nome não é estranho. – e, como se uma lâmpada se acendesse em sua memória, completou: – Ah, não sei se esse era o nome dele, mas... Lembro-me de um cara bem alto... Mas por quê tantas perguntas?

Nesse momento, a porta do quarto se abriu e Lorens entrou.

– Anita Ecklair, o que deu em você ontem? – disse ela, imediatamente.

Anita franziu o cenho, mas ao fazer isso sentiu muita dor em sua cabeça.

– Vocês podem me falar logo o que foi que aconteceu? – ela pediu.

– Antes de tudo, eu te trouxe um remédio para dor de cabeça. – Lorens entregou-lhe uma cartela de comprimidos e um copo de água. – Tome isso agora.

Anita usava um pijama velho, seus cabelos normalmente penteados e bonitos estavam bagunçados e desalinhados e ela não havia removido a maquiagem da noite anterior, portanto, seus olhos estavam borrados. Sua face, geralmente rosada, estava pálida.

Ela tomou o remédio de uma vez. Sorriu para as amigas, agradecida.

– Então, como eu te dizia... – recomeçou Lily, com a voz amigável. – Quando eu te encontrei, por volta de meia noite e meia, você estava completamente bêbada, conversando com este tal de Martin. Você me viu e me chamou. A primeira coisa que você me disse foi: "Lily, ele me convidou para ir a uma festa na casa dele, acho que eu vou para lá!" – Lily tentara imitar a voz de Anita, com o seu sotaque americano, o que a fez sorrir. – Na hora, eu olhei feio para o seu "amiguinho", mas ele ficou quieto e eu pensei que você só estivesse muito bêbada mesmo.

– Eu bêbada sou muito idiota, eu sei. – Anita suspirou. – Mas o que foi que aconteceu?

– Enfim, eu não demorei para entender que ele queria mesmo te levar. Então eu disse que você iria ficar comigo, que você não estava bem, mas ele disse que não estava te obrigando a nada, e, para piorar, você concordava com tudo! Ou seja, eu não tinha chances de fazê-lo desistir, porque você queria ir com ele.

Anita estava com os olhos grandes arregalados. A boca foi se abrindo lentamente enquanto Lily ia relatando.

– E o que aconteceu depois?

– Você o beijou.

A loira soltou um palavrão baixinho e apoiou a testa em sua mão, que estava apoiada, por sua vez, sobre seu joelho.

– Só me digam uma coisa: ele era feio? – perguntou, ainda inconformada.

– É com isso que você está preocupada, Anita? Enfim, ele era bem feio, sim. Era alto, meio desengonçado e tinha dentes horríveis. – respondeu Lily, enquanto Lorens ria e Anita dava um tapa em sua própria cabeça.

– E eu nem me lembro! Não acredito! Ok, não é a primeira vez que eu faço um feio feliz, mas nunca fiz isso na frente de um monte de gente. – ela parou de falar, e lançou um olhar de piedade às amigas, dizendo: – Lily, por favor, me diga que mais ninguém me viu beijando ele.

Lily mordeu o lábio inferior.

– O Sirius estava passando bem naquela hora.

O Sirius? Justo ele...? – Anita murmurou, mais boquiaberta do que nunca.

– Qual o problema, Anita? Talvez se não fosse por ele, você poderia estar acordando ao lado daquele gatão. – Lorens falou, sarcástica.

– A Lorens tem razão. – Lily concordou. – Foi o Sirius quem fez aquele maníaco desistir de você, então agradeça a ele mais tarde, ok?

– Sério mesmo?

– Sério. E ele nem precisou de muito, só mandou o cara arranjar alguém do nível dele. – Lily contou, distraída.

Anita permaneceu calada, tentando processar as novidades. Fechou os olhos, sentindo a cabeça latejar, se odiando por fazer tudo errado.

– Depois, a Lily te trouxe para casa. – Lorens concluiu a narrativa. – Se eu tivesse visto, juro que faria um escândalo! E aquele Martin não teria saído impune assim!

– Ainda bem que não foi você quem viu. – Anita comentou, mal-humorada.

Lorens fechou a cara, levemente emburrada. Depois lembrou-se de dizer:

– Sua vez, Anita. Pode contar.

– Contar o quê?

– Você sabe! Você nunca bebe sozinha daquele jeito, por que fez aquilo ontem?

Anita respirou fundo, olhou para os olhos azuis de Lorens e depois para os olhos verdes de Lily.

– Vocês não vão entender. Mas mesmo assim, eu vou tentar. Vocês se lembram de que eu fiquei com o Sirius na terça-feira? – as amigas concordaram com a cabeça. – Então... Eu tinha dito que tinha sido diferente, que talvez eu estivesse gostando dele...

– Você bebeu porque ele ainda não demonstrou que quer ficar com você de novo? – Lorens a interrompeu, horrorizada. – Anita, se for isso, eu vou te matar.

– Não! Claro que não foi por isso... – Anita baixou o olhar. – Eu estava saindo do banheiro, na casa do Frank, e encontrei a Marlene e o Sirius se pegando. Tudo bem que era óbvio que ele ficaria com alguém, como sempre... Mas a Marlene? Bem a minha amiga?

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Lily franziu as sobrancelhas, um tanto séria. Lorens continuou com a mesma expressão horrorizada.

– Anita, você e o Sirius nunca tiveram nada sério! - a morena lembrou-a. - Por que todo esse drama agora?

– Vocês não sabem como eu me senti péssima. É claro que a Marlene não sabe que eu gosto dele, mas-

– Anita... – Lily interveio. – Será que não foi só impressão sua de que você está gostando dele? Afinal, depois de dois anos de convivência, você do nada decidiu que tudo mudou e pronto. Não faz sentido! Será que não é porque você anda meio carente, sei lá, e o Sirius foi o cara mais bonito que apareceu e–

– Não, Lily. A gente sabe dessas coisas. Eu gosto dele! Sim, e do nada! – Anita olhou para o teto. – Poxa, nunca passei por uma bobeira platônica de verdade! – ela parou, para continuar logo em seguida: – Para não dizer que nunca passei por isso, uma vez, no ensino médio, tinha um garoto de quem eu gostava muito. Eu fiquei com ele praticamente o meu segundo ano inteiro, mas nunca foi realmente sério, nós terminávamos e voltávamos o tempo todo. E então, no fim daquele ano, numa festa, ele acabou ficando com uma amiga minha e eles estão juntos até hoje! Então, a questão é: qual é o meu problema? Eu saí com aquele idiota o ano inteiro e ele não quis nada sério comigo. Depois, ficou uma vez com a minha amiga e eles já começaram a namorar. Pressinto que vai ser a mesma coisa com o Sirius, agora. Eu fico com ele desde que nós começamos a morar juntos e parece que esse relacionamento nunca vai ter futuro.

– Mas você nunca se importou com isso! – Lorens reforçou. – Você nunca quis isso.

Anita bufou e cruzou os braços, enquanto refletia. Ela simplesmente sempre fugira de gostar de alguém ou de assumir qualquer compromisso. Por que é que, de um dia para o outro, ela começou a esperar alguma coisa justamente de Sirius Black, aquele com quem as possibilidades de desenvolver uma relação promissora eram praticamente nulas.

– Anita, isso é passado. – Lorens disse. – E isso que você está sentindo agora vai passar, porque você conhece o Sirius e sabe que ter algo sério com ele é improvável e pouco recomendado.

Um silêncio dominou-as por alguns minutos, cada uma pensando com seus botões, até que Anita começou a falar:

– Mas vê-lo com a Marlene foi a pior coisa. Talvez porque somos amigas e, justamente agora que eu posso estar gostando dele, eu não estava esperando que eles pudessem ter alguma coisa. Aliás, a Lene é linda e não o idolatra como metade de Hogwarts, e eu sei o quanto isso atrai mais ainda a atenção dele.

– Se o Sirius não quer nada sério com alguém, não será com a Marlene com quem ele vai querer ter. – Lorens concluiu, pensativa. – Por mais que ela seja super legal e bonita.

– E a Marlene não comentou nada comigo. – Lily contou. – E nós ficamos conversando boa parte da festa. Talvez nem ela queira.

Anita sentiu uma pontada em sua cabeça e resolveu se deitar para ver se a dor passava de vez.

–--

O almoço ficara pronto apenas às três horas da tarde e fora preparado por James e Sirius. Anita não quisera descer para almoçar, estava mais desanimada do que nunca, sentindo-se até doente.

– Anita ainda não está bem? – Sirius perguntou, quando todos já estavam sentados à mesa.

– Não... ela ainda está com muita dor de cabeça. – Lily respondeu.

Lily estava sentada de frente para Potter. Ela não levantou os olhos nenhuma vez do prato. Se Potter percebeu ou não, ele não demonstrou.

– Hoje à noite eu vou sair com uns amigos, vocês querem ir? – Sirius sugeriu, alguns minutos depois.

– Eu vou sair com o Bill. – Lorens falou.

– E eu não posso, vou ficar estudando. – Lily justificou-se prontamente. Já tinha até preparado todo um cronograma de estudos, com as matérias organizadas por ordem alfabética.

– Você vai o quê? – Potter deixou escapar, indignado.

Estudar, você é surdo?

– Mas estudar na primeira semana de aula, em pleno sábado à noite?

Lily revirou os olhos. Todos na mesa observavam os dois.

– Eu me dedico ao que eu estudo, porque eu gosto de Direito. E meu pai não tem como doar uma biblioteca nova para Hogwarts para me passar de ano, caso eu tire notas ruins, entende? Oh, eu acho que não.

Não que houvesse alguma possibilidade de Lily repetir de ano, mas, mesmo assim, ela sabia que o argumento da biblioteca poderia afetar o sorriso cínico de Potter.

– Quem você pensa que eu sou? – ele lhe perguntou, fechando o sorriso. – Olha para onde eu moro, você realmente acha que eu ainda ganho algum centavo do meu pai?

– Não é da minha conta se você ganha ou não. Só estou observando aqui que você se comporta como um menino mimado, só isso.

– Lily! James! – Lorens os chamou, com um olhar certamente confuso. – O que deu em vocês? Está tudo bem?

Os dois pararam de se encarar com tanta frieza, finalmente lembrando-se de que haviam outras pessoas sentadas à mesa. Geralmente, quando discutiam, discutiam a sós, portanto ninguém havia percebido que os dois não tinham se dado muito bem. Até aquele momento.

– Não foi nada, Lorens. – Lily respondeu e deu uma última olhada para Potter. Perdera o apetite, mas não sairia da mesa para não dar esse gostinho àquele garoto sorridente.

O resto do almoço passou-se em silêncio.

–--

Lorens descera as escadas correndo, encontrando Remus lendo uma apostila, no sofá. Lorens sentara-se ao seu lado e esperou que ele terminasse de ler o parágrafo em que estava para poder lhe dar atenção.

– Então – ela começou, satisfeita. – Acho que você também já percebeu que a Lily e o James não se gostam muito.

– Ah, faz tempo. Não tem como não perceber.

– Eu só percebi hoje, durante o almoço. E isso é péssimo! Nós moramos juntos, nós temos que nos dar bem!

– Concordo, mas eu não entendo por que eles discutem o tempo todo.

– Eu só sei que, se as coisas continuarem assim, essa implicância pode crescer e pode afetar todos da casa. Eu não quero que fiquemos divididos, tendo que tomar partido de um lado ou de outro. Não quero mesmo. – Lorens tinha vários conhecidos em Hogwarts que viviam se mudando de república por conta de brigas entre os colegas. – Eu conheço a Lily mais do que o James para saber que ela geralmente não trata as pessoas assim. Mas o James é muito legal e engraçado, então não tem um motivo óbvio, você me entende?

– Eu percebi que o James irrita a Lily sempre que tem a oportunidade e a Lily não é lá uma pessoa muito paciente.

– Mas a Lily também implica muito com ele, Remus! Aliás, você percebeu que eles se chamam pelos sobrenomes ainda? – ela riu, como se não acreditasse. – Eu não entendo isso, sério. Como assim eles se tratam com essa formalidade toda e moram juntos?

– Olha, Lorens, eu acho que o máximo que nós dois podemos fazer é falarmos com eles.

– Não sei. Eu não posso chegar do nada e falar: "oi, Lily, faça o favor de parar de procurar defeito em tudo que o James faz", ou então: "oi, James, pare de bancar o garoto de doze anos e não atormente mais a Lily". Preciso de outra estratégia. Você vai me ajudar?

Remus olhou para ela e concordou com a cabeça.

– Vou pensar em outros modos de abordagem e te mantenho informada.

– Obrigada! - e então, Lorens se levantou e Remus voltou a ler sua apostila. – O que você está lendo aí?

– Hum... É um texto de Sándor Ferenczi sobre traumas de infância.

– É para a faculdade?

– Não. É para ajudar uma pessoa.

– Ah, sei. Uma pessoa. Seria ela uma moça baixinha de cabelo vermelho e óculos?

Remus corou e lançou-lhe um olhar de reprovador.

– Está falando da Helena?

– Hm, não sei. Eu não vou perguntar mais nada, Remus, porque eu sei que o que acontece entre doutor e paciente é estritamente confidencial. Boa leitura!

–--

O domingo amanheceu mais nublado do que qualquer outro dia daquela semana. Definitivamente, o verão em Londres já estava quase terminando. James e Sirius voltaram no meio da madrugada e passaram boa parte do dia dormindo. Lily reclamara a manhã inteira de que o Potter era muito novato para ser tão folgado, o que fez Lorens se entediar.

Anita estava melhor, mas estava mais pensativa do que nunca. O que era curioso, pois ela sempre estava falando da vida de alguém, de alguma coisa, de algum projeto de roupa que pensara em desenhar ou de seus seriados americanos imperdíveis. Naquele dia, ela mal saíra do quarto.

– Pode entrar. – ela disse, após uma batida na porta.

Era Sirius. Ele entrou e se sentou ao pé de sua cama e seu olhar era preocupado.

– Não vai mais sair daqui?

– Claro que vou. Tenho aula amanhã. – Anita respondeu, com um meio-sorriso.

Ele riu.

– Mas você está melhor?

Antes de finalmente responder, Anita respirou fundo. Sirius havia feito um movimento com a cabeça para afastar os cabelos dos olhos cinzentos, o que a fez perder a concentração para formular uma resposta imediata.

– E-estou. Aliás, a Lily me contou que você me ajudou. Muito obrigada, Sirius.

Sirius colocou a mão sobre seu joelho e abriu um sorriso pelo canto da boca.

– Não foi nada, querida. E vê se pára de sair com caras babacas, ok?

– Vou fazer o possível. - Anita prometeu, pensando seriamente se ele se incluía em tal descrição.

– E eu vou ficar de olho. Agora vou sair para comer alguma coisa. Você quer vir também?

– Não, Sirius, obrigada. Não estou com fome.

Sirius lançou-lhe um olhar desconfiado.

– Certo. Então eu vou sozinho. Vê se se cuida.

E, ao dizer isso, o rapaz se levantou e a beijou no alto da cabeça. Em seguida, saiu do quarto.

–--

James acordara de bom-humor. Ótimo, na verdade. Vestiu-se cantarolando uma música animada, desceu as escadas, imaginando que todos provavelmente já haviam almoçado, uma vez que já se passavam das quatro horas da tarde. Entrou na cozinha para pegar alguma coisa para comer, mas lá se encontrava aquela louca da Lily Evans. No entanto, ela se encontrava numa posição extremamente inesperada. Com os cabelos ruivos presos num rabo de cavalo, Evans estava ajoelhada em cima da bancada da pia, de costas para ele, passando um pano na parede de azulejos brancos, com toda sua força. Muito excitante.

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– Estava descontando sua raiva, Evans?

Naturalmente, a garota se assustou ao ouvir sua voz. Virou-se lentamente para ele, com um olhar irritado.

– Estou só limpando.

– Mas limpando o quê?

Evans não parecia estar de muito bom humor; ela voltou-se novamente para a parede e voltou a passar o pano no mesmo lugar, bufando.

– O que você acha, Potter? Uma sujeira!

James inevitavelmente sorriu e se aproximou. Evans estava absurdamente gostosa daquele ângulo, era simplesmente um desperdício que ela fosse tão mal-humorada. E, de fato, James não ligava a mínima se ela reparasse em seu olhar atento na direção de suas pernas. Que pernas.

– Hum... Não parece ter sujeira .

– Estou tirando todos os vestígios dela. Se não quiser ajudar, não atrapalhe.

– E se eu quiser ajudar?

Ela parou com o movimento frenético e olhou para ele de novo. E, claro, ela notou que ele estava olhando para suas coxas bem torneadas.

– Você não quer.

– Quero, sim. Me passa o pano. – ele subiu os olhos demoradamente até seu rosto, que a essa altura, já estava ruborizado.

– Desculpe, Potter, mas eu não me lembro de ter pedido ajuda.

James percebeu que Evans estava se sentindo incomodada com sua presença e seu olhar descarado. E, quanto mais intimidada ela se sentia, mais agressivas eram suas repostas.

– Você é muito mal educada.

Evans arregalou olhos, indignada.

– Ótimo. É todo seu.

Ela atirou o pano na direção de James com veemência. Ele a olhou com uma certa superioridade quando pegou o objeto ainda no ar. Evans fez menção de se preparar para descer da pia, a fim de deixar o local desimpedido para que James assumisse. Ela se sentou e olhou para baixo, calculando a altura mentalmente e James ofereceu-lhe a mão para servir de apoio.

Evans a aceitou, ainda hesitante. James nunca havia tocado em sua mão antes. Ele observou que ela era pequena e quente.

– Vou te mostrar como se faz, Evans. – James reabriu seu sorriso e sentou-se sobre a pia, voltando seus olhos para o azulejo que Evans anteriormente estava lustrando. No entanto, antes de começar a passar o pano, ele estreitou os olhos e tirou os óculos. Olhou por um breve momento e depois se virou para Evans, com uma expressão confusa: – Mas o que você estava limpando aqui?

– Uma mancha de gordura.

– Não tem nada aqui!

– Você realmente acha que enxerga melhor do que eu? Quem é que usa óculos por aqui?

– Para a sua informação, Evans, esses óculos são apenas para descanso. Eu só os uso o tempo todo porque me caem muito bem.

Evans revirou os olhos, enquanto cruzava os braços.

– Você é ridículo.

James suspirou, abaixando a cabeça para mirar a ruiva.

– Evans, você é tão obcecada por limpeza que vê sujeira até onde não tem. Veja – ele apontou para o azulejo branco e brilhante. – Não tem nada aqui e nem em nenhuma parte dessa cozinha.

Evans olhou em volta. A cozinha estava nitidamente impecável.

– Bom, então provavelmente eu já limpei tudo.

James observou que a voz dela tinha um tom certamente orgulhoso. Como pode alguém gostar tanto de limpar?

– Ou então, querida, não tinha nada aqui e você estava apenas descontando sua raiva em cima do pobre azulejo.

Ela juntou as sobrancelhas bem feitas no meio da testa.

– Você não vai me convencer de que eu sou louca, se é essa a sua intenção.

James a assistiu sair da cozinha, pisando forte. Ele sorriu, virou-se novamente para a parede e, com muita facilidade, removeu uma minúscula mancha de gordura com o pano. Ah, Evans, por que tão problemática?