Renascer

Feliz Aniversário - Parte 2


O almoço termina e depois de algum tempo de conversa, os convidados começam a ir embora. Eu acredito ainda estar muito cedo, não são nem 16h e o sol, nesses dias de verão, se põe muito tarde. Peeta não poderia ter nascido em uma estação do ano mais adequada. A casa está silenciosa novamente e eu sinto um certo desapontamento. Não queria que o dia terminasse. Peeta, por outro lado, parece ainda mais radiante do que estava em nosso almoço. Acredito que ele saiba algo que eu desconheço e estou esperando para descobrir do que se trata.

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– Finalmente todos foram embora! Agora eu vou começar a melhor parte deste dia! - Escuto-o exclamar do outro cômodo e me surpreendo. Ele não é dado a essas grosserias.

Vou até onde ele está, talvez seja uma forma leve dos seus episódios, não sei. Encontro-o tão animado como sempre, o que me faz ficar realmente chateada por ele ter comemorado a ida dos nossos convidados.

– Por que você inventou essa festa, então? Essas pessoas são seus amigos! - Discurso, indignada. Apesar de termos vivido o momento (talvez) mais romântico de nossa relação há tão pouco tempo, não gosto de vê-lo falando assim de pessoas que se importam com ele o suficiente para virem a sua festa e darem presentes tão elaborados.

– Sim, eles são meus amigos e eu os amo... E é por isso que todos foram embora quase que ao mesmo tempo! Eles já sabem que o resto do meu aniversário eu vou passar com você e só com você... Tudo foi combinado! Ou você acha que eu teria coragem de expulsá-los?

Meu coração está batendo tão acelerado como pode. Não sei onde ele encontra tantas coisas para me surpreender, mas ele sempre consegue esse efeito.

– Não, você não teria... Mas o que faremos agora? Vamos ficar vendo televisão, como fazíamos antigamente? - Mal consigo disfarçar a curiosidade em minha voz.

– Seria ótimo, mas agora sou eu quem tem um lugar para te mostrar... E vamos lá hoje! - Peeta responde, sadicamente. O que ele me falou só me intrigou mais e ele sabe disso...

– Onde é esse lugar? É longe daqui? Eu já o conheço? Fale logo, Peeta! Você resolveu me aborrecer nesse seu aniversário! - Já estou histérica. Não gosto de mistérios. Ponto final. Ele, por outro lado, parece estar se divertindo como nunca da minha vontade de descobrir o local onde vamos...

– Anos e anos e você ainda não aprendeu a ter calma... - Ele diz, ironicamente. - Nós já estamos indo, eu precisava terminar de arrumar essa cesta... - Ele aponta uma cesta de piquenique, sabendo que isso vai matar um pouco da minha curiosidade.

– Mas nós acabamos de comer feito loucos, vamos comer de novo? - Exclamo.

– Nós vamos ficar tempo suficiente no lugar pra termos fome de novo... Bom, eu espero... - Ele diz.

Será que ele vai me levar para a floresta? Ele não precisa fazer isso, mas sei que ele gostou de lá. Mas aí não seria exatamente uma surpresa, seria?

– Podemos ir? - Grito - Eu não estou aguentando mais! - Peeta está rindo descaradamente da minha cara. E eu estou começando a achar esse mistério ainda mais agoniante.

– Vamos, Kat. Eu não quero que minha namorada surte no dia do meu próprio aniversário...

O dia está confortavelmente quente e uma brisa intermitente brinca com meus cabelos e meu vestido. Decidi saí com a mesma roupa que me vesti para o almoço, no entanto, me sinto insegura de estar com parte das minhas cicatrizes tão expostas. Um xale cobre parte dos meus braços e pescoço, mas minhas pernas estão livres como nunca. Peeta está lindo. A calça escura combina perfeitamente com a camisa azul da cor de seus olhos. As mangas estão dobradas mostrando seus braços, e a julgar pela forma dos dois, entende-se porque ele é capaz de levantar aqueles pesados sacos de farinha sem esforço algum. Percebo agora porque ele atrai tantos sorrisos femininos. Tirando o fato de ele ser gentil e simpático até a exaustão, ele também é lindo.

Procuro sua mão e a entrelaço com as minhas. Que todos vejam que eu ainda estou a seu lado, que ele é meu. Ando cada vez mais possessiva com relação à Peeta. A medida em que o tempo passa, percebo que não preciso só da sua tranquilidade e do seu jeito conciliador. Eu preciso e quero que ele deixe o desejo por mim- que ele controla tão fortemente por medo que eu o rechace - venha a tona. Lembro do beijo que trocamos na praia, durante os jogos, e meu corpo começa a formigar. Sinto que estou supersensível ao toque. Aperto mais forte a mão de Peeta e ele me corresponde na mesma hora. É difícil lidar com essas sensações, mas no momento a vontade parece ser muito maior do que a minha razão.

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Paramos em frente à padaria e, a essas alturas, somos a (velha) novidade mais comentada de todo o Distrito. Todos sabem que vivemos juntos, mas acho que ninguém está acostumado a nos ver nos comportando tão afetuosamente no meio da rua, como qualquer casal normal. Isso em grande parte se deve a mim. Acho que devo seguir os conselhos de Peeta e deixar que a nossa relação seja algo natural para os outros também. Quem sabe esses olhares furtivos e todos esses acenos parem quando todos perceberem que nós somos tão moradores deste lugar quanto eles? Não largo a mão de Peeta, nem mesmo quando o vejo tirar uma chave do bolso da calça. Mas o meu típico aborrecimento volta rapidamente. Ele só pode estar brincando comigo. A padaria era seu lugar secreto?

– Se você queria vir para cá, era só dizer! O que há de misterioso nessa padaria, Peeta? Porque você trouxe essa cesta enorme se nós vamos ficar aqui? - Eu estou indignada. Eu tendo que controlar meus instintos para não agarrá-lo no meio da rua, esperando que nosso dia seja ainda mais especial e ele para aqui?

– Nossa, você está mesmo muito ansiosa hoje! Nós vamos ficar aqui hoje, mas você já vai entender o motivo... - Ele explica, destrancando a porta - Quer entrar? O segredo está bem perto de ser revelado! - O sorriso infantil dele me indica que qualquer que seja a surpresa, ela está escondida dentro da loja. Isso me faz entrar no estabelecimento na velocidade da luz. No salão não há nada demais. Todas as mesas e cadeiras estão cobertas com panos grandes, esperando a inauguração. Onde estará a tal novidade, então?

– O que você está procurando não está aqui no salão... - Maldito Mellark! Ele precisa parar de ler a minha mente de uma vez por todas. Ou não... Pensando melhor, sim... Será que ele tem noção de todas as coisas que meu corpo está implorando para que ele faça comigo? Tenho certeza que estou corando agora... Ele vai perceber... Ele já percebeu...

– Katniss, o que está acontecendo com você hoje? - Peeta pergunta, preocupado

– Nada demais. Você resolve ser o mestre dos mistérios e quer que eu fique bem? Você sabe que eu odeio esse tipo de coisas! Podemos, por favor, terminar com isso de uma vez por todas? - A minha voz neste momento está tão aguda quanto a de um gaio-tagarela.

– Eu acho que é melhor mesmo acabar com o suspense... - Peeta reflete - Me acompanha? - Ele oferece sua mão e novamente as entrelaçamos. Ele me guia até o final do portão e novamente tira o molho de chaves do bolso. Aff! Quantas portas trancadas tem nesse lugar?

Ele abre a porta devagar e tampa meus olhos com uma das mãos. Sinto a brisa me abraçar de novo e percebo que estou ao ar livre. Nós andamos uns quatro ou cinco passos e Peeta tira sua mão do meu rosto. Jamais descobriria este segredo... Os fundos da padaria guardam um grande e bonito jardim, ainda por terminar, mas com um enorme potencial para ser o mais lindo de todo o Distrito. Várias das plantas que mostrei para Peeta durante nosso passeio pela floresta estão ali, na forma de pequenas mudas. Há um estreito caminho de pedra e as diversas luminárias penduradas em estrados de madeira do teto vazado dão a impressão de fazerem parte de um enorme pisca-pisca. O ar está me faltando no momento.

– Hoje é seu aniversário. Eu deveria te dar o melhor presente, não o contrário! - Exclamo com um beicinho fingido.

– Acredite, esse presente é para mim mesmo! Daqueles completamente egoístas... Eu fiz esse jardim para você não precisar ir tantas vezes à floresta e poder ficar comigo mais tempo. Você gostou?

– Você sabe que sim! - Eu afirmo, completamente derretida pelo doce padeiro - Há alguma coisa que você faça que eu não goste?

– Eu começo a listá-las agora? Não podemos esperar até amanhã? - Ele diz, com uma sobrancelha levantada - Você quase me matou hoje mesmo, só porque eu queria que você viesse aqui comigo!

Rio com vontade. Ele tem toda razão. Devo ser a pessoa mais rabugenta do mundo, mas ele sempre consegue me surpreender satisfatoriamente.

– Você não precisa listar nada, combinado? - Digo, piscando o olho. Reparo em umas mudas que ainda não foram plantadas e minhas mãos ficam inquietas, tamanha a vontade que estou de mexer com a terra. - Eu posso plantar essas daqui? - Pergunto, ansiosamente

– Claro, elas estavam esperando por você - Ele me responde calmamente

– E do que são essas mudas?

– Dentes-de-leão. Você gosta tanto delas, não é?

– Nossa, como eu pude não saber de que planta se tratava? Minha mãe sempre fazia chás com ela e meu pai e eu adorávamos brincar com as suas flores, ver cada pequena parte do seu fruto voar com apenas um sopro! - Conto, tão empolgada quanto posso - Você acha que é bom colocarmos essas plantas aqui? Pelo que vi, vai haver espaço para clientes. O jardim é bem espaçoso! As pessoas não vão querer comer tortas cheias de pequenos pedacinhos de dentes-de-leão...

– Bom, então elas podem comer do lado de dentro da loja. E nós dois ficamos aqui sozinhos... Além do mais, elas são poucas, não vão causar todo esse estrago. - Peeta contemporiza.

– Se é assim, vou começar a plantá-las! - Peeta me indica o lugar onde devo colocar as pequenas mudinhas e algumas ferramentas de jardinagem que eles estão usando para o trabalho. Entendo agora porque ultimamente ele tem chegado tão tarde em casa.

Em determinada hora do trabalho, sinto o roçar dos braços de Peeta contra os meus. Ele está trabalhando ao meu lado, plantando algum outro tipo de flor e me explicando que há uma outra parte do jardim dedicado às plantas aromáticas. Imagino como o jardim vai ficar cheiroso quando tudo isso que está sendo plantado crescer. Ele acertou em cheio. Não vou ter vontade alguma de sair desse lugar. Neste momento, porém, o calor do corpo de Peeta perto do meu direciona todo meu foco para ele. Pequenas gotículas de suor se formam na sua testa, resultado do esforço que ele está tendo em escavar a terra, e eu imediatamente as enxugo. Trocamos um olhar, e as faíscas que saem dele são quase palpáveis. Sei que Peeta está sentindo o mesmo que eu, então porque ele não me toca?

– Eu esqueci de uma coisa tão importante! - Ele corta o contato tão bruscamente que me atordoo. Quando ele se levanta, estou prestes a xingar, tamanha a frustração, mas me contenho quando um doce som começa a sair de um pequeno aparelho.

– A guerra já acabou e sei que você adora música, então pedi para Effie me mandar um desses... - O volume é delicadamente aumentado e os sons preenchem o ambiente.

– Eu adorei! - Exclamo. Ele realmente está se superando - Há alguma coisa mais com a qual você vai me maravilhar?

– É só, por enquanto. Mais tarde, quem sabe? - Pra que falar nas entrelinhas se ele não está fazendo nada para que fiquemos juntos, da maneira que ele e eu desejamos.

– Quem sabe? Eu já recebi tantos presentes hoje...- O homem a minha frente cora, pela primeira vez. Consegui deixá-lo aturdido. Ótimo.

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Depois de terminar o trabalho no jardim, lavo as mãos, pego na cesta a toalha na qual sentaremos e a estendo. Depois, quando descubro que Peeta trouxe vinho, trato de servir a nós dois. Tomo minha taça de uma só vez, esperando ter coragem suficiente para colocar minhas vontades em prática. A música muda e o ritmo mais agitado da que a substitui me faz girar e girar com os braços abertos e olhos fechados. Quando paro, estou completamente tonta e o lindo homem a minha frente me escora para que eu não caia. O seu cheiro é o ponto final na minha sanidade. Procuro seus lábios e ele faz o mesmo. O beijo é o mais intenso que já demos. Estamos nos devorando, tentando saciar uma sede inesgotável através dos lábios um do outro. Ele me dá pequenas mordiscadas na parte inferior da minha boca e eu vou ficando cada vez mais mole. Delicioso. Ele, seu toque.

Nos desgrudamos somente por precisarmos de ar. Ofegante, aponto meu rosto para o céu, buscando todo o oxigênio possível e Peeta aproveita o livre acesso ao meu pescoço para beijá-lo e segue até meus ombros. Onde eu me meti? De repente o medo me congela e eu desejo não ter sido tão ridiculamente atirada. Paralizo e minhas mãos se retiram delicadamente das costas dele. Algo na minha cabeça martela, me dizendo que eu não mereço ser plena. Não quando não consegui salvar minha irmã da morte.

Peeta percebe a minha insegurança e dá fim aos beijos. Seu olhar diz muito sobre seu estado, mas seu sorriso é sereno como se nada tivesse acontecido. Ele me convida para deitar ao lado dele, na toalha, e eu agradeço por ele me entender tão bem. Nos acalmamos e aos poucos relembramos o piquenique que fizemos uma vez no terraço e da comoção que causamos na minha equipe de preparação, quando eles descobriram que dormíamos abraçados. Tomamos mais do vinho e comemos um pouco. Esperamos a noite chegar para vermos o efeito que todas aquelas luzes fazem no jardim e também para admirarmos a porção de estrelas que salpicam o céu do 12. Cogito pedir que fiquemos ali até o dia seguinte, mas Peeta me põe no colo e anuncia nossa partida.

O torturante caminho até a Vila dos Vitoriosos finalmente tem fim. Eu estou em uma batalha interna entre medo e desejo e não sei qual dos dois está ganhando. Comunico a Peeta que vou tomar um banho, estou cheia de terra e grama. Ele concorda, tranquilamente. Demoro quase meia hora embaixo do chuveiro, tentando me colocar em ordem, mas é impossível. Pego o roupão e o coloco. A maciez do atoalhado envolve meu corpo quase por inteiro. Entro no quarto e encontro-o esperando, com algumas roupas na mão. É a calça e a blusa que ele usa como pijama. Ótimo - penso - a noite está terminada.

Caminho até a penteadeira, sento no banco em frente a ela e começo a escovar os cabelos, me olhando no espelho. Meu pescoço está ligeiramente vermelho no lugar onde foi tocado. Vou baixando o roupão delicadamente até a minha clavícula para ver as reações físicas do meu corpo ao toque tão especial que recebi. As escovadas vão perdendo a intensidade enquanto eu relembro cada momento desta tarde. O roupão cai até o meu quadril, revelando minhas costas cheias de cicatrizes, mas eu não me importo. Não quero sair do transe em que me coloquei, mas algo me desperta. Pelo espelho consigo ver Peeta, completamente perplexo, parado na porta do quarto. Ele está olhando a minha pele retalhada e nojenta. Eu estou seminua. Neste momento me dou conta: a sorte está lançada.