Remember Me

- II -


Capítulo O2

O barulho de chuva ainda perseguia os ouvidos de Sasuke desde a manhã do dia anterior. As manchas arroxeadas e as pálpebras pesadas já presentes no rosto dele demonstrava que o cansaço já invadira seus pensamentos.

Por mais que quisesse fechar os olhos e descansar, nem que fosse por meros segundos, não conseguia. Seus pensamentos estavam em Sakura e Saky, que ainda nem sabia do ocorrido com a mãe. Só esperava que Shizune não desse com a língua nos dentes e acabasse por contar para a filha sobre o acidente, afinal precisava descobrir uma forma de contar a ela.

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*

No quarto de número 57 a enfermeira fazia as últimas anotações de seu plantão enquanto a moça de cabelos rosados mantinha-se desacordada. Assim que terminou, fechou o prontuário e o colocou pendurado aos pés da cama.

Estava prestes a sair quando pareceu escutar um som vindo da cama. Ao virar-se, encontrou a face da Uchiha contorcida enquanto tentava abrir os olhos.

A passos apressados, a enfermeira voltou para onde estava.

- Senhora, pode me ouvir?! – perguntou tocando-lhe a mão.

Em resposta, Sakura gemeu e com pesar abriu os olhos focando-os na moça a sua frente.

- Diga alguma coisa, senhora... – pediu a enfermeira, vendo o olhar confuso que Sakura a lançava.

O quarto todo branco ofuscava a visão dela e a confusão começava a fazer a cabeça latejar. Não sabia onde estava e nem mesmo o que havia acontecido.

Sakura começou a se desesperar e tentou se levantar, sendo impedida tanto pela enfermeira quanto pela dor de cabeça insuportável que tomou conta de si.

- Acalme-se, vou chamar a médica. Peço que a senhora se acalme, está bem?

- U-hum. – sussurrou fraco.

A moça apertou o botão azul ao lado da cama e aguardou juntamente com Sakura a chegada da médica. Tsunade não tardou a aparecer depois do aviso e ao abrir a porta do quarto, soltou um suspiro aliviado.

- Ela acordou agora a pouco, Tsunade-sama.

Sem desviar os olhos da rosada por um segundo sequer, Tsunade colocou-se a caminhar de encontro ao leito onde Sakura estava deitada.

- Como se sente?! Sente alguma dor?!

- Na... c-cabeça. – sussurrou fechando os olhos.

- Quando ela acordou?! – perguntou a médica à enfermeira.

- Agora mesmo, Tsunade-sama. Não seria melhor fazermos alguns exames?!

- Você lembra do seu nome, querida?! – perguntou Tsunade de forma doce.

- Sakura...

- Ótimo. – sorriu. – Miya, leve Sakura para fazer alguns exames enquanto eu falo com Sasuke. Eu não demoro!

*

A cada minuto que se passava sem notícias de Sakura, o Uchiha ficava cada vez mais nervoso. Quando escutou o barulho dos saltos de Tsunade ecoarem pelo corredor, sobressaltou-se apenas esperando a médica aproximar-se de si.

- Precisamos conversar. – resmungou com um olhar desaprovador por cima de Sasuke.

Ele contraiu a mandíbula ao ver os olhos cor de mel da médica e mestre de sua esposa pousarem sobre si com raiva.

- Siga-me. – ordenou-o dando-lhe as costas.

Alguns passos separavam Sasuke e Tsunade da sala da médica, onde não tardaram a chegar.

A passos duros, Tsunade entrou em sua sala e seguiu para trás de sua mesa, sentando-se na confortável cadeira presente ali.

Sasuke por sua vez manteve-se em pé e com as mãos nos bolsos da calça que usava. Os punhos permaneciam cerrados a cada instante que Tsunade estava quieta enquanto ela mantinha as mãos em frente ao rosto e a mesma carranca conhecida por parte do moreno.

- Como ela está?

- O que fez com ela? – grunhiu entre os dentes.

- O que quer dizer?– perguntou incrédulo.

- Não vou repetir a minha pergunta, Uchiha...

- Nós discutimos e ela caiu da escada. Por que?!

Tsunade deixou um sorriso cético e irônico brotar dos seus lábios.

- Ah sim, ela caiu...?! – ironizou estreitando os olhos. - Ela caiu sozinha, Sasuke?!

Sasuke arregalou os olhos com aquela pergunta. Não podia acreditar que Tsunade pensaria algo assim dele. Por mais que ela não gostasse do marido de sua afilhada e pupila – sentimento esse que o Uchiha sabia – jamais imaginaria que a velha médica queria culpá-lo pela queda.

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Vendo que Sasuke não respondera, Tsunade recostou-se na cadeira estofada e o fitou.

- E então..?!

- Quero saber como Sakura está! Não te devo explicações sobre nada e se Sakura e eu estamos casados durante todos esses anos é porque sou bom o suficiente para ela.

- Ah sim!? Não é o que ela andava me dizendo nos últimos tempos, Uchiha. – seu tom baixo chegou a intimidar Sasuke. – Eu só queria entender por que você a trata desse jeito, Sasuke?

- Como Sakura está? – perguntou pela última vez, ignorando totalmente as verdades que a médica teimava em lhe jogar na cara. Sem obter resposta, ele dirigiu-se a porta do consultório e abriu-a com violência, parando na soleira desta. - Eu mesmo vou obter informações sobre a minha esposa.

- Como eu queria que ela nunca tivesse te conhecido, Uchiha. – Tsunade suspirou e massageou as têmporas doloridas.

*

O barulho dos passos duros de Sasuke encheu os ouvidos da recepcionista que separava alguns prontuários de forma distraída.

- Deseja alguma coisa senhor?! – a recepcionista estremeceu ao ver a expressão dura e os olhos frios do moreno a sua frente.

- Qual é o quarto de Uchiha Sakura?!

Com as mãos tremendo, a moça pousou seus olhos na tela LCD do computador a sua frente e digitou o nome que a pouco Sasuke tinha lhe dito.

- Trinta e sete. – sussurrou. – Terceiro andar.

Sem agradecer, ele deu-lhe as costas e caminhou pela sala de espera e a recepção do hospital, destinado a chegar ao elevador, que por sorte aguardava parado naquele mesmo andar.

Assim que as portas se fecharam, o Uchiha sentiu o celular em seu bolso vibrar, seguido do toque personalizado de sua casa. Como Sakura estava internada não foi difícil deduzir que era Shizune que estava ligando e ele precisou pensar duas vezes para querer atender. Só o fez porque lembrara de Saky e provavelmente havia acontecido alguma coisa.

Assim que elevou o celular ao ouvido, ouviu Shizune lhe chamar.

- Sasuke?!

- O que aconteceu?! – bufou cansado.

- Como Sakura está? Estou aqui aflita por notícias e você sequer liga, Sasuke... – disse em tom reprovador, fazendo Sasuke revirar os olhos.

- Foi para isso que me ligou, Shizune? – ele bagunçou os próprios cabelos em sinal de impaciência.

- Não, não foi por isso. – respondeu-o tão irritada quanto ele. – Caso você tenha esquecido, estou com Saky e ela está entrando em desespero por vocês estarem ausentes e, sinceramente não sei mais o que dizer a ela.

Mais uma vez ele bufou. Estava cansado e preocupado demais para ficar pensando naquele tipo de coisa.

Antes que ele pudesse replicar à Shizune, Sasuke escutou a voz da filha do outro lado da linha e um barulho estranho.

- Papai?! – a voz de Saky era chorosa e baixa.

Finalmente a porta do elevador se abriu e e Sasuke parou no corredor, ouvindo a porta fechar-se atrás de si.

- Saky, o que foi?

- Cadê a mamãe?! Eu quero ela... – soluçou.

Ele sabia que Saky era pequena demais para entender toda aquela situação, mas Saky chorando chegou a irritá-lo.

- Saky, sua mãe está no hospital e você precisa ficar com Shizune. – a voz dele saiu grossa e fria.

- Mas papai, eu-

- Você ficará com ela até voltarmos Saky. Agora pare com essa birra, fui claro?! – ele ouviu um soluço abafado pela filha. – Saky, ouviu?!

- S-sim, papai...T-thau! –respondeu após de um tempo.

- Tchau. – murmurou fechando o celular em seguida.

Antes de fechar o flip do aparelho, ouviu Saky murmurar alguma coisa em um tom choroso e sabia que havia sido um pouco duro com ela, mas estava exausto. Ele mesmo sabia que nunca tinha sido presente e nem um bom pai nos quatro anos da filha, mas haviam determinadas coisas que o irritavam profundamente... coisas que eram tão pequenas aos olhos de Sakura.

- Sakura... – murmurou antes de seguir o caminho para o quarto 37.

*

Tsunade já encontrava-se no quarto onde Sakura permanecia internada. Sorriu internamente quando percebeu que Sasuke ainda não se encontrava ali.

A médica sabia que ficar feliz com aquilo era algo cruel, mas somente ela sabia o quanto as discussões e a falta de companheirismo dele afetavam Sakura nesses últimos tempos. E não era somente porque a rosada havia tido uma decaída em seu rendimento no hospital, mas também pelo próprio emocional de sua “afilhada postiça”. Perdera a conta de quantas vezes ouviu Sakura lamuriar sobre seu casamento e, principalmente, sobre a relação de Sasuke e Saky. Segundo a Uchiha, ele sequer dava atenção para a pequena e nas poucas vezes que conversava com a garotinha, acabava por a magoar sem qualquer motivo.

- Tsunade-sama!? – a enfermeira que ficara juntamente com Sakura no quarto já a olhava com preocupação. – Tudo bem?

- Sim. – a voz de Tsunade tomou o habitual tom mandão. – E os exames?!

- Estão aqui... – respondeu estendo três envelopes grandes para a chefe.

Antes que Tsunade pudesse abri-los, ouviu o ranger da porta e ao virar-se, encontrou dois olhos negros irritados em sua direção.

- Ainda não estamos no horário de visitas. – Alertou-o.

Os olhos de Sasuke pareceram ter adquirido uma coloração avermelhada. Aquela situação já estava fora dos limites e ele colocaria um basta naquele exato instante.

- Não me provoque, Tsunade. – Grunhiu entre os dentes.

- O que aconteceu? – uma voz fraca ecoou pelo quarto.

Olhando por cima dos ombros da médica, Sasuke encontrou as duas esmeraldas fitando-o assustadas, ainda mais quando Sakura percebeu o olhar sobre si.

- Acalme-se, querida. Está tudo bem. – respondeu ela no tom mais doce possível e tentando ignorar a presença de Sasuke.

Ele contornou o corpo inerte de Tsunade e aproximando-se da cama, fitou o rosto da esposa. Este continha uma atadura um tanto grande na testa e o olho direito parecia levemente inchado.

- Como você está, Sakura? – A voz saiu irritada.

A voz dele a assustou pelo tom grave e irritado. Era um homem bonito e alto, pena que seus olhos escuros fossem tão sem vida.

- Q-quem é você!?

“Escuridão cega me cerca e eu estou alcançando somente pra você”.