Remember

Perdendo o controle, No limite da loucura


– Lucy-nee-san! Lucy-nee-san!O que é isso? – me perguntava Wendy enquanto caminhávamos em direção a guilda.

Havia um caminho que nos levava para a guilda pela pequena floresta perto da minha casa. Lá se encontrava vários tipos de plantas e flores diferentes. Cada uma mais bonita que a outra. Havia outras esquisitas. Natsu sempre dizia que elas eram parecidas comigo, por eu ser estranha.

– Ah bom... eu acho que se chama Rosa del sueños – falei enquanto examinava a flor.

– Existe rosa azul? – me perguntava enquanto olhava para o pequeno ramo de rosas azuis que parecia mais violetas.

– Claro que existe – sorri para a pequena garota que me adotara como sua irmã mais velha – Me disseram que esta rosa tem propriedades mágicas.

Wendy olhou para mim surpresa e curiosa.

– S-Sério?

– Sim, dizem que se você colhê-las há meia-noite da lua cheia, você terá seus sonhos realizados – sorri para Wendy.

– M-Mesmo? Incrível né Charles? – os olhos da pequena garota de cabelos azuis brilharam tanto que eu soltei um risinho.

Wendy sorriu para mim e depois voltou seus olhos para o pequeno ramo de flores azuis.

– Nee, podemos voltar aqui na lua cheia? – perguntava ela baixinho.

Ri e concordei.

– Claro que sim.

A garota voltou-se para mim.

– Sério? – ela me abraçou é uma promessa então.

– Hai – falei rindo É uma promessa.

Wendy me soltou e depois começou a caminhar de novo enquanto eu a seguia logo atrás. Ela de repente parou e depois apontou para outro pequeno ramo de flores, agora totalmente diferentes da outra.

– Lucy-nee-san – ela olhou para mim com um semblante carregado de curiosidade – O que é aquilo.

Soltei um riso. Aquela pequena curiosa não mudava mesmo.

...

Abri um pouco os meus olhos. A escuridão reinava naquele pequeno recinto. Estava novamente na enfermaria da guilda. Senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Percebi que eu estivera chorando mesmo quando eu estava desmaiada.

Por que logo a pequena Wendy? Por quê? Aquilo não tinha que acontecer com ela, tinha que ser comigo! Eu não podia deixar impune.

Ouvi um barulho ao meu lado e depois um ruído de porta se abrindo. Fechei os olhos imediatamente.

– Então, ela ainda não acordou? – perguntou a voz cheia de preocupação de Mirajane.

– Parece que não – respondeu a outra voz do meu lado.

Mira suspirou e caminhou até onde eu estava. Seus passos ecoavam no silencio.

– Ela não vai aguentar mais – disse Mira se postando do meu lado.

Natsu não respondeu, e isso me fez querer saber o que ele estava pensando.

– Lisanna... agora Wendy... é muita coisa para a Lucy aguentar. Se ela descobrir que os outros foram atrás da Wendy e que Erza e Gray também...

– Ela não vai saber de nada – interrompeu Natsu – Lucy se sentiria culpada e é capaz de ela cometer uma loucura. E se ela fosse atrás da... da... daquela coisa, eu não sei o que... eu não seria capaz de...

Mira tornou a suspirar.

– Lucy não é maluca de cometer tal loucura – Mira parou e ficou em silêncio por um minuto

Natsu suspirou, segurando minha mão e dando um pequeno aperto nela.

– Ela anda estranha ultimamente.

Da cama em que eu me encontrava, podia sentir que os dois me fitavam. E se bombear eu sabia que Natsu estava com preocupação estampada na sua face.

– Você sempre a chama assim, não é? – perguntou Mira com um tom de voz diferente me fazendo ficar desconfiada... eu sabia que Mira estava escondendo alguma coisa.

– Não – falou Natsu com a voz estranhamente rouca, será que ele estava chorando? – Não desse sentido.

– Então como? – perguntava Mira curiosa.

– O cheiro dela está diferente, as atitudes dela estão diferentes... até o jeito! – Natsu parou para respirar fundo e depois recomeçou com a voz mais baixa – Não é como se fosse aquela coisa que fingiu ser a Lucy... eu sei que ela é ainda a minha Lucy, mas...

– Mas?

– Ela... ela... – Não me diga que Natsu está chorando, por favor! Se não eu não vou aguentar, vou querer abraça-lo e dizer que estava tudo bem. Que eu estava bem e que nada mudou.

– Natsu? – chamava Mira preocupada.

Ouvi Natsu fungar e depois apertou novamente minha mão.

– Desculpe-me – pediu – Mas eu não aguento ver a Lucy... assim! Ela está sofrendo demais. Não posso fazer nada por ela por que eu não entendo o que está se passando com ela! Uma hora ela está gritando comigo dizendo que me odeia, outra hora ela está chorando, como se estivesse sendo torturada ou como se fosse obrigada a enfrentar o seu próprio medo. E quando ela não esta nem chorando nem brigando, ela está trancada naquele maldito banheiro, passando mal... – Natsu falou tudo de vez com sua voz desesperada – O que eu faço Mira? E-eu acho que essa pressão toda há esta matando por dentro. Ajude-me, por favor, e-eu... e-eu não aguento ver a minha pequena Lucy assim...

Minha respiração falhou ao ouvir aquelas palavras de Natsu e um choro se formou na minha garganta, e eu não pude conter as lágrimas. Se Natsu ou Mira notaram, eles não demostraram.

Sentia-me culpada. Eu não queria deixar o Natsu daquele estado. Eu sabia que ele estava sofrendo comigo desse jeito.

Mira deu um risinho baixo.

– O que é engraçado? – perguntou Natsu.

– A Lucy vai ficar bem Natsu dizia confie em mim.

Natsu suspirou.

– Será mesmo Mira?

– Eh – confirmou e depois recomeçou a falar – Natsu... eu preciso te falar uma coisa importante. Você poderia ir lá fora por um minuto?

Natsu, que até agora segurava uma das minhas mãos, a soltou e se ajeitou na cadeira em que estava sentado.

– Tudo bem.

Ele se levantou, depois encostou seus lábios nos meus e saiu.

Mira colocou sua mão na minha testa e de repente senti um estupor, a escuridão me envolvia e eu sentia minha mente vaguear para longe.

– Descanse mais um pouco, Lucy.

***

Quando eu tornei a acordar, eu estava de volta ao meu apartamento. Natsu não estava lá. Levantei-me rapidamente, e fui até a cômoda e procurei o manuscrito do livro Remember. Espalhei as coisas que eu via pela frente as jogando no quarto, bagunçando tudo enquanto eu procurava. Abaixe-me, sentando-me no chão, até que achei uma caixa e (graças a kami-sama) lá estava o manuscrito do livro.

Procurei desesperadamente a parte que a garotinha parecida com Wendy aparece. Procurei uma borracha ou qualquer coisa que é capaz de apagar. Escrevi um verso diferente.

De: ...Então ela assim como os outros, jazia no chão de pedras da noite gélida, imóvel... agora só existia...

Para: Então ela levantou-se e correu até os outros...

Olhei atentamente aquele verso e depois fiquei surpresa e boquiaberta. Os primeiros versos voltaram, como se eu nunca tivesse apagado. Tentei novamente e a mesma coisa aconteceu.

Desesperei-me.

Tentei mais uma vez, e de novo e de novo e nada que eu tentasse fazer com aquele pequeno verso que podia mudar tudo... Nada aconteceu.

Joguei-me no chão, chorando.

Eu não podia fazer nada... Eu não podia fazer nada... Eu não podia fazer nada...

Por que as pessoas são tão cruéis sem motivos nenhum? Por quê? Eu queria saber o porquê da Fake Lucy tem tanta... raiva, ódio e... magoa de mim.

– Lucy? – disse uma voz me chamado ao longe.

Rápida como um raio levantei-me, corri para o banheiro lavando meu rosto e voltei para a cozinha, sentando-me na cadeira tentando obter-me a calma que faltava em mim. Olhei de soslaio para trás e vi uma sombra passar pela janela aberta do meu quarto.

Suspirei fechando os olhos.

– Lucy? – tornou a chamar Natsu agora próximo de mim Você está bem?

Abri lentamente os meus olhos e lá estava ele parado na minha frente. Ele estava tenso e preocupado isso eu podia notar, mas também tinha algo mais...

– Oi... – respondi baixinho.

Hesitante, ele deu um passo a minha direção.

– P-Por que suas coisas estão espalhadas? – perguntou.

Minha cabeça tombou para o lado em sinal claro de confusão.

– Que... coisas? – perguntei

Natsu arqueou as sobrancelhas e depois apontou para o meu quarto onde vários papeis, lápis, envelopes de cartas, pequenos objetos e cobertores de cama estavam totalmente espalhadas em cada canto do meu quarto.

– Ah... aquelas coisas – murmurei. Eu não queria lhe falar sobre o livro, aquilo era assustador até para o Natsu.

– Hm... – aproximou-se o bastante para que nossos rostos ficassem a centímetros de distancia e depois semicerrou os olhos – Você esteve chorando?

Arregalei os olhos o empurrando forte o suficiente para ele tropeçar-nos próprios pés e cair, me fazendo soltar uma gargalhada horrível sem um pingo de graça.

– E-Eu... c-chorando? – gargalhei mais uma vez – está louco?

Natsu levantou-se e sua expressão mudou.

– Você tem certeza que está bem? – perguntou hesitante – Tem a total certeza?

Levantei-me e fiquei de frente a ele.

– O que foi agora? É claro que eu estou bem! Eu não estive chorando! Eu não sei o porquê daquelas coisas estarem espalhadas! EU. ESTOU.PERFEITAMENTE.BEM! – gritei exaltando-me e podia sentir as lágrimas salgadas se formarem.

Eu precisava gritar, gritar com todos e não me importar. Precisava chorar como se não houvesse o amanhã, precisava me livrar daquela situação que estava me consumindo por dentro. Não aguentava mais tudo o que estava acontecendo, não aguentava mais!

Natsu olhava para mim com um novo tipo de preocupação nos olhos. Mesmo preocupado eu podia notar que ele se esforçava para mascarar a magoa.

– Luce... por favor, se acalme – pedia.– Você precisa se acalmar.

– NÃO... Eu não... – balbuciei enquanto sentia as lágrimas escorrerem e depois eu tornei a gargalhar enquanto eu caminhava pelo apartamento. Eu era fraca.

– Luce, eu... – Natsu tentava falar com sua voz embargada– P-por favor, se a-acalme... você está l-

– EU.NÃO.SOU.LOUCA! – gritei e depois me virei para ele caminhando lentamente.

Enquanto eu ia até Natsu, passei por um espelho e podia ver meu reflexo. Meus olhos estavam totalmente vermelhos, os cabelos sem vida e totalmente bagunçados, eu estava pálida e minhas olheiras estavam roxas e fundas. Se eu passasse naquele estado pela rua, as pessoas correriam de mim, afastariam os seus filhos e começariam a apontar para mim dizendo Cuidado essa mulher é perigosa... ela é uma louca.

Natsu deu um passo para trás.

– Vá, embora – falei respirando fundo.

Natsu balançou a cabeça.

– Não Luce... por favor...!

– VÁ, EMBORA! – de repente tropecei em algo e eu verguei para frente, e só não fui de encontro ao chão por que Natsu me segurou e depois me abraçou fortemente.

No conforto dos braços de Natsu, eu consegui me acalmar. Eu sabia que aquilo era uma loucura total na qual eu estava sucumbindo.

O abracei, agarrando o seu cachecol, chorando baixinho.

– Shii, está tudo bem, está tudo bem – dizia enquanto acariciava o topo da minha cabeça.

– Eu... eu... – solucei – W-Wendy...

– Sim, tudo vai ficar bem... tudo vai se resolver.

Soltei-me dele e o encarei.

– Desculpe-me pedi

Natsu sorriu e depois beijou minha testa.

– Está desculpada.

***

Depois de arrumar as coisas, tomar um banho quente relaxante, e jantar, eu fui me deitar acompanhada de Natsu e de Happy, que invadiu o meu apartamento na hora do jantar, pegaram no sono assim que se deitaram, mas eu não conseguia dormir.

Abraçada a Happy, repassei aquele dia em mente. Mira indo pegar meus resultados de exame que acabou eu não sabendo o que eu tinha, Romeo-kun dizendo que a Wendy havia sido sequestrada, meu desmaio, a conversa de Mira-san com Natsu, a tentativa de mudar o livro, e a minha loucura...

Eu apenas queria acabar com aquilo tudo e me resolver com a meu clone do mal.

Mas... parando para pensar, se eu me lembro bem a Mira havia mencionado algo... sobre eu ir atrás da F-Lucy.

Se eu fosse atrás dela e me resolvesse com ela, tudo acabaria e ninguém seria morto... isso era exatamente que acontecia naquele livro... a protagonista vai atrás da amiga dela.

Decide-me. Irei atrás da F-Lucy e vai ser agora!

Delicadamente, retirei os braços de Natsu da minha cintura, depositei Happy em um travesseiro e levantei-me com cuidado para não acordar os dois. Troquei de roupa, e depois escrevi uma carta para Natsu explicando tudo, a colocando na minha escrivaninha, peguei minha bolsa colocando o livro nela, algum punhado de dinheiro, e um pouco de comida e água. Nunca se sabe. Peguei minhas chaves e as prendi no meu cinto.

Fui até a porta a abrindo hesitante. Virei para trás e vi Natsu dormindo tranquilamente.

– Luce... – murmurava enquanto dormia.

– Peixes... – falou Happy.

Sorri, e depois respirei fundo e saindo dali para a noite escura e gélida da madrugada.

Eu definitivamente acabaria com aquela situação toda. E independente ou não, faria com que o meu destino fosse diferente do que a que dizia no livro.