Reencontro

Capítulo 30


O retorno para NYC foi tranquilo. Durante a viagem, Kurt notou uma diferença crucial em Jane. Ela estava mais sorridente e falante que nunca! Tecia uma rede de pequenos planos para um futuro próximo. Compartilhar a notícia com Avery e os amigos era sua meta, mas a gama de possibilidades para fazer isso parecia insuficiente pra dar conta da felicidade que sentia. Ela descrevia uma ideia, logo em seguida outra. E Kurt ouvia todos os projetos sem que sua atenção estivesse nas palavras que sua esposa dizia. Não que não fosse importante para ele. Era sua Jane e a notícia do bebê deles a caminho. Era mais que um sonho pra ele. E sim porque os momentos de silêncio entre eles tinha se tornado uma rotina indesejada mas habitual. Primeiro como consequência da amnésia dela. Jane costumava passar um bom tempo vasculhando suas anotações e desenhos dos flashbacks na esperança de relembrar o passado. Depois que recuperou sua memória, o silêncio se tornou mais denso e frequente, produto da fusão do envenenamento por ZIP e da busca de uma forma de lidar com a avalanche de lembranças indesejadas que a invadiram. Um sorriso autêntico se formou no rosto dele pensando nesse passado como algo que finalmente superaram.

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“Eu não terei a menor possibilidade de ler durante esse voo como fiz na lua de mel.” Kurt pensou sentindo seu peito ser invadido por uma nova de euforia que nenhum livro lhe traria: essa trama era curta, casual, coisa de qualquer casal normal, mas o fascinava mais que tudo poder viver isso com Jane.

Após ter sido enterrada viva, os médicos liberaram Jane, mas exigiram que ficasse alguns dias descansando em casa. Kurt só retornaria ao FBI no dia seguinte. Aproveitando isso, o casal decidiu que usariam essa oportunidade para contar a Avery sobre o irmãozinho a caminho. Após chegarem em casa, as dezenas de possibilidades elencadas durante a viagem foram descartadas. A urgência que o coração dela sentia em compartilhar a notícia com sua filha, não deixava tempo para preparativos. Seria impossível esperar sequer um dia mais. Naquela mesma noite, uma vídeo chamada básica resolveria a questão.

Jane não escondeu sua ansiedade pelo resto do dia. Kurt começava a perceber que, ainda que de forma sutil, os hormônios da gravidez agiam rápido, deixando-a mais emocional que o habitual. E ele sabia como lidar com isso. Bastava fazer o que mais gostava: demonstrar seu carinho e amor por ela, deixando claro que estava ao seu lado para enfrentar qualquer desafio que a vida trouxesse, fosse isso uma ameaça terrorista capaz de colocar vidas em risco ou então encontrar a roupa adequada para fazer a vídeo chamada com Avery.

Na hora combinada, Jane fez a ligação. A garota atendeu no segundo toque, parecia cansada após um dia estressante na faculdade. O início da conversa seguiu o trivial. Jane perguntou se estava tudo bem e ouviu pacientemente alguns relatos sobre o cotidiano universitário e a crítica à algumas metodologias de ensino. Então, veio a pergunta:

— E vocês, como estão? – Avery parecia finalmente ter se cansado de desabafar sobre suas insatisfações.

— Bem! – a resposta veio rápida e pronta – Nós estamos bem...

— Salvaram o mundo nos últimos dias?

— Hum... o mundo não, digamos que nos concentramos em salvar nossa família. Isso também é muito importante, não é? – Jane sempre evitava detalhar suas missões para a filha por medo de que o perigo que enfrentava deixasse a garota insegura.

— E que perigo tão sério foi esse que a nossa família correu? Por acaso a pirralhinha da Bee encontrou outro esconderijo bom demais para ser encontrado por um experiente casal de agentes do FBI? – a fala da garota misturava o tom brincalhão com uma certa dose de ciúmes que o casal já conhecia bem.

— Foi quase isso... – relembrar os acontecimentos dos últimos dias trouxe um certo incômodo à Jane, mas ela estava disposta a evitar que qualquer coisa estragasse aquele momento. – Bem, o importante é que agora tudo está bem. Muito melhor do que já esteve nos últimos anos. E foi por isso que resolvemos te ligar. Existe algo que queremos muito compartilhar com você. Sobre nossa família.

Avery pareceu pressentir que havia algo importante à frente, então se acomodou no sofá antes de dar sequência a conversa:

— Sou toda ouvidos. Digam.

— Avery... – e Jane puxou o ar e sorriu de uma forma que a garota não estava habituada a ver – Nós vamos ter um bebê.

Alguns segundos de silêncio se seguiram. A garota arqueou as sobrancelhas como quem tenta absorver a notícia e filtrar sua real recepção em palavras:

— Uau. Poxa... parabéns.

Percebendo que a filha não havia recebido a notícia exatamente da forma como ela imaginou que aconteceria, Jane resolveu reforçar a importância da garota naquilo tudo:

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— Avery, nós queríamos que você soubesse antes de compartilhar com outras pessoas porque você é muito importante para nós.

— Obrigada, muito obrigada mesmo.

Percebendo um elefante branco que se instalara naquela chamada de vídeo, Kurt interveio:

— Usando as células do cordão umbilical, teremos 100% de chances de cura pra Jane. Então, não é apenas pelo bebê que estamos felizes, mas porque agora teremos muito mais tempo para vivermos todos juntos como uma família.

— Isso é bom. Eu não tinha associado que o bebê seria capaz de cura a Jane o que eu não foi capaz de fazer...

— Não, Avery, não é assim que pensamos. Mesmo porque a cura não dependia de você ou desse bebê, mas da etapa de desenvolvimento das células tronco. – Jane correu tentar sanar qualquer mal-entendido enquanto Kurt apertava solidariamente seus ombros.

— Claro, eu entendo isso. Olha, eu preciso desligar, tenho muito o que estudar aqui. Mais uma vez, parabéns. E boa noite.

— Boa noite, Avery. – o casal disse juntos.

— Nós amamos você. – Jane completou.

— Eu também amo você. – a garota disse e desligou.

Jane abaixou a tela do laptop e deixou o corpo afundar contra Kurt que já se acomodava ao lado dela. As lágrimas brilhavam em seus olhos.

— Eu não entendo... achei que ela ficaria feliz por nós... por tudo.

Kurt levou a mão até seu rosto e escovou o polegar nos lábios dela:

— Dê um tempo para ela. Avery é madura e determinada, mas sempre falha em conter o ciúmes que sente de você.

— Ciúmes? Você acha que é isso?

— Eu tenho certeza. Ela já demonstrou ciúmes de Bee que nem é sua filha. Esse bebê agora é seu filho e vai ficar com você, algo que aconteceu com Avery. Mas ela é sensata, tem 50% de você ali, então logo vai ver tudo de outra forma.

Jane abraçou o marido e suspirou:

— Eu espero que sim.

Cerca de uma hora depois, o casal terminava de jantar quando o celular de Jane tocou e ela atendeu assim que a tela mostrou a origem daquela vídeo chamada:

— Oi... – disse num sobressalto.

— Oi. Liguei pra me desculpar.

— Avery, você não precisa se desculpar...

— Sim, eu preciso. Acho que a notícia me pegou de surpresa... Eu pensei sobre tudo e Kurt tem razão. Esse bebê vai trazer mais vida para todos nós. E, se vocês concordarem, eu quero participar de tudo isso. Quero saber notícias do bebê sempre. E também vou me esforçar pra ir mais vezes ver vocês pra poder acompanhar sua barriga crescendo. Quero que esse projeto de pirralhinho se acostume com a minha voz e com meus beijos. Então se prepare para ter longas horas de Avery deitada no seu colo falando com ele.

Jane tentou secar as lágrimas que insistiam em brotar, mas elas pareciam mais rápidas do que ela.

— Você é bem vinda sempre. E nós vamos te informar sobre cada novidade.

— Ah não, você tá chorando? Não faz isso comigo... Jane Doe não chora. – Avery disse também já secando as lágrimas. – O Kurt está por aí?

— Sim, Avery, estou aqui.

— Kurt, preciso que você cuide ainda melhor dela e do meu irmão também, entendeu?

— Sempre, Avery.

— Bom, agora eu vou desligar pra nós duas não ficarmos chorando aqui feito bobas. Cuidem um do outro. Boa noite.

— Boa noite, Avery. Eu te amo. – Jane respondeu ainda muito emotiva antes de desligar.

Tudo acertado em família, o casal decidiu que os amigos receberiam a notícia dois dias depois, assim aproveitariam para preparar algo especial em sua casa já que Jane não estaria trabalhando. O convite foi feito de forma casual. Eles estavam habituados a se reunirem.

Com seu tempo livre, Jane organizou caixinhas personalizadas com o nome de cada um dos amigos. Dentro delas colocou uma reprodução da imagem da última ultrassonografia com a frase “Estou a caminho. Prepare-se!”. Alguns bombons de chocolate deixavam a notícia mais doce.

Naquela manhã, os dois foram à consulta de pré-natal e, por isso, Kurt só retornaria ao FBI após o almoço. Aproveitaram o resto das horas livres pela manhã para passear pelo Central Park. Sentaram-se num dos bancos, se aconchegaram um ao outro e observaram as crianças que brincavam no gramado. Tudo parecia tão mais colorido agora. O verde das árvores e gramas, o azul do céu, o mosaico multicor formado pelas roupas das crianças. Conversaram sobre o quanto a gravidez transcorria bem. E fizeram planos para aquela tão esperada noite. Eles amavam aquela sensação de normalidade em suas vidas. Sempre que estavam assim juntos, ele aproveitava para acariciar a barriga de Jane. Ela já descrevia as sensações bebê se mexendo, mas os movimentos amortecidos pelo líquido amniótico ainda não eram sentidos por ele.

— Se o bebê continuar mantendo sua linha de crescimento no patamar máximo, logo logo você vai conseguir senti-lo também.

Kurt parecia tão cheio de orgulho que explodiria:

— Não foi só o desenvolvimento físico dele que me chamou a atenção. Ele é muito ativo, isso é sinal de força e inteligência. – disse e depois beijou o pescoço da esposa. – E aquele momento em que ele se espreguiçou? Foi perfeito!

— Sim, foi perfeito. Toda vez que vemos ele tão bem através do ultrassom é como se houvesse tanto amor envolvendo-o e deixando-o seguro que eu não tenho mais nenhum medo de que isso não dê certo.

Kurt a abraçou mais forte.

— Isso sempre vai dar certo por isso é “nós”!

Almoçaram juntos. Depois se despediram. Kurt retornou ao FBI e Jane decidiu caminhar até sua confeitaria favorita que não era muito distante dali. Os cupcakes de iogurte com amora eram tentadores demais para resistir e seriam perfeitos como sobremesa para o jantar com os amigos.

Enquanto caminhava, uma estranha sensação foi tomando conta dela. Ela estava sendo seguida? Jane usou suas habilidades para verificar se a sensação tinha qualquer fundamento de verdade. Discretamente, ela se virou e percebeu alguém rapidamente entrando numa loja de roupas a poucos metros naquele mesmo quarteirão. A sensação se transformou em suspeita. Ela prosseguiu com cautela, mas nenhum outro sinal chamou sua atenção.

Chegando à confeitaria, Jane entrou ainda um pouco relutante. Sondou o ambiente e permaneceu por algum tempo próxima à porta, observando pela vidraça as pessoas que transitavam pela rua. Nada. Ou seu perseguidor era muito bom, ou tudo não passava de exagero da parte dela. Então ela respirou fundo e acariciou a barriga agora já saliente na 15ª semana de gestação.

“Melhor me acalmar. Isso pode não fazer bem à você.” – pensou.

Dirigiu-se ao balcão e fez o pedido. Enquanto pagava no caixa, sentiu a sensação voltar forte ao perceber de relance que alguém com roupa exatamente da mesma cor que a pessoa na rua entrou na confeitaria. Recebeu o troco e agradeceu enquanto sua visão periférica acompanhava a pessoa se sentar na mesa mais ao fundo do estabelecimento. Ainda sem estabelecer um contato visual direto, ela podia jurar que o olhar daquela pessoa estava fixo nela. A porta estava a poucos passos dali, logo o objetivo não devia ser uma interceptação naquele local. Ela decidiu olhar diretamente para a pessoa, guardando todas as características possíveis para informar Kurt e já pegou o telefone para ligar para ele.

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Assim que levantou a cabeça e fez contato visual, sentiu seu coração acelerar no peito. Ela respirou fundo e guardou o celular enquanto caminhava firme em direção ao local onde a pessoa estava sentada. Chegando à mesa, seu olhar varreu a figura atrás da mesa em busca de qualquer informação que a ajudasse a compreender tudo aquilo:

— Olá, Jane. – ouviu o cumprimento que procurava parecer frio e indiferente, mas não escondia uma certa carga emocional.

— Quanto tempo... não pensei que te reencontraria dessa forma.

A pessoa sacodiu a cabeça e olhou para o nada como quem não esperava uma recepção diferente.

— Precisamos conversar. Por favor, sente-se.

Jane suspirou. Colocou o pacote de cupcakes sobre a mesa e se sentou.

— Por que você fez isso e por que está aqui agora? – ela estava determinada a conseguir as informações necessárias para se posicionar o quanto antes.

A pessoa sorriu sarcasticamente olhando para a vidraça e disse:

— Eu não posso te dizer tudo ainda. Mas existem muitos interesses envolvidos. Eu precisei de vocês para tornar o alcance disso mais amplo. Depois cuidei para que um certo alcance particular fosse facilitado. Conseguir o acesso que eu tive tem um preço. Mas não era só isso. O plano não deu cem porcento certo, então eu precisava garantir uma outra estratégia que ainda nos permitisse ganhar esse jogo. – a voz ainda soava firme, mas os olhos estavam se enchendo de lágrimas.

— Nem tudo na vida é um jogo. Segredos podem destruir uma família, você sabe disso. – Jane tentou não se deixar intimidar pelo tom emocional que a conversa camuflava.

— Eu não estou dizendo que quero que aceitem tudo, só preciso que entendam que ainda não posso contar toda a verdade. E certas coisas têm maior urgência, por isso eu preciso de vocês. – uma lágrima escapou e foi seca rapidamente.

— É por isso que você não procurou o FBI?

— Não só por isso. Você sabe que estou sendo procurada e acabaria presa. Mas também existe outro motivo: só você pode me entender. Você também precisou manter segredos de nós e pretendia expor a verdade assim que possível.

— Eu errei, Tasha! E você sabe o quão dolorosas foram as consequências.

— Eu vou contar toda a verdade, só não pode ser agora!

— Você deveria ter ficado longe, então. Outro país pelo menos. Não há como te defender das agências governamentais sem saber a verdade.

— Eu estava longe, mas precisei voltar. Falta pouco agora e preciso estar aqui. Não quero que você me defenda, Jane. Eu preciso que você me proteja e prepare tudo o que for necessário.

— Pra quê?

E Tasha se levantou, saindo de trás da mesa e deixando-a ver sua barriga de uma gestação já avançada:

— 28 semanas, Jane. Ele precisa nascer perto de Madeline. Fiz uma inseminação artificial. – e pegou a mão de Jane e colocou sobre sua barriga – O arquivo biológico montado por Crawford sobre Roman incluía amostras de sêmen. É de Roman, Jane. Esse bebê é seu sobrinho e pode salvar a sua vida.

Jane sentiu seu corpo inteiro estremecer. Tasha procurá-la era uma surpresa. Que ela faria todo o possível para ajudar sua amiga com quem tinha um laço fraternal forjado ao longo das difíceis batalhas quem enfrentaram juntas mesmo quando não se entendiam, isso era certo. Que a gravidez a sensibilizaria em prol da amiga, mais certo ainda. Mas saber que ali dentro batia um coração que carrega a centelha viva de Roman era algo que a deixava totalmente refém dessa causa. Ela moveria céus e terras por essa criança. Ela não permitiria que qualquer governo se colocasse entre esse bebê e sua mãe. A história de ruptura familiar não se repetiria. Ela só não sabia ainda como fazer isso...

— Você está segura agora? – perguntou aflita enquanto se esforçava para trazer seus batimentos cardíacos de volta ao normal.

— Eu não ofereço nenhum perigo potencial, então é fácil me esconder mesmo por aqui. Mas também não posso facilitar circulando por aí como uma pessoa normal. Estou usando documentos falsos.

— Preciso saber como te localizar. Vou fazer o possível e o impossível para vocês dois ficarem bem e juntos.

As duas trocaram um breve abraço e Tasha deixou a confeitaria, mas não sem antes conseguir um dos cupcakes que Jane comprou.

Pouco depois, a morena era recebida com surpresa no SIOC. Todos os amigos e colegas de trabalho correram ao seu encontro manifestando a alegria por vê-la bem. Jane foi gentil com todos e, assim que se dispersaram, gesticulou pedindo discretamente para que o team se reunisse no laboratório de Patterson. Após compartilhar o que sabia, todos se entreolharam aflitos.

— Como Tasha se meteu nessa? Não há a menor chance de negociarmos a liberdade dela sem que ela aceite contar exatamente tudo que aconteceu. – Reade desabafou.

— Todos nós entendemos isso, Reade. – Weller se solidarizou

— Precisamos encontrar uma forma não oficial de fazer isso. – Jane disse.

— Mais do que nunca precisamos ser uma família e não apenas colegas de trabalho numa agência governamental. – o olhar suplicante de Patterson para Reade foi decisivo.

— Chamem Madeline. Ela terá que ser envolvida nisso de qualquer forma.

Madeline chegou e a colocaram a par dos fatos. A notícia pareceu empolgá-la de forma bastante intensa.

— Não é só por Jane que isso é importante. Essa criança carrega a base genética de Roman e colher o material da placenta e cordão umbilical é fundamental para o avanço das pesquisas na área de cura do envenenamento por ZIP. O número de vítimas ainda não pode ser quantificado, então quanto mais informações tivermos, melhor. Acredito que, inclusive, as pesquisas baseadas nesse material podem ajudar a adequar o ZIP para que ele se torne um aliado na cura dos transtornos pós traumáticos ao invés do veneno que mata o paciente.

Pelo resto da tarde a equipe trabalhou num esquema que permitisse à Tasha ter um parto seguro num ambiente com a coleta e manipulação adequada do cordão umbilical e da placenta para produzir o antídoto ao ZIP.

À noite, finalmente, todos se reuniram na casa de Kurt e Jane. Até mesmo Tasha compareceu. O casal aguardou pacientemente que a amiga fosse acolhida de volta. Deixou o jantar transcorrer tendo ela e seu bebê como foco principal. Tasha jurou prontamente que as razões que a levaram a tirar parte da antídoto do ZIP dos laboratórios do SIOC não colocavam ninguém em risco.

Ao final do jantar, a sobremesa foi servida acompanhada da caixinha que trazia a surpresa mais aguardada da noite.

Uma verdadeira explosão de alegria tomou conta de todos. Riram, brindaram, se abraçaram. Juntos como a família unida que se tornaram, um verdadeiro presente do incidente na Times Square.

— Então, Patterson terá uma menina e Zapata um menino, enquanto meu casal favorito insiste em não me deixar saber o sexo do meu afilhado... – Rich reclamou.

— Olha só, agora eu tenho um nome! O que uma gravidez não faz. – Tasha não perdeu a oportunidade de provocar Rich.

— Aproveite. Você tem poucas semana à frente. – Rich replicou.

— Nenhum nome de padrinho foi mencionado, Rich. – Weller tentou impor um limite às incursões de Rich.

— E não é uma questão de esconder o sexo do bebê. É que estamos tão felizes que esse detalhe não importa. Queremos que seja uma surpresa. – Jane justificou a decisão do casal.

— Sem um Chá Revelação, mesmo?

Todos olharam para ele com olhares reprovadores. Rich não entendeu nada, mas se calou. Um certo desconforto parecia pairar sobre essa equipe quando o assunto era um Chá Revelação.

— Definitivamente sem Chá Revelação. Queremos fazer a coisa de um jeito só nosso. – Weller disse abraçando Jane que retribuiu o gesto.

Patterson e Tasha estavam sentadas lado a lado no sofá, uma com a mão na barriga da outra.

— A conclusão óbvia disso tudo é que, se temos um bebê Jeller a caminho, nossa intenção de salvar a vida de Jane através da nossa própria gravidez se tornou obsoleta. – Patterson disse.

Tasha riu alto.

— Pois é. Mesmo assim, eu não me arrependo. Ele ainda nem nasceu e já sei que eu precisava dele muito mais que Jane. – Zapata continuou.

— Sinto a mesma coisa. – Patterson concordou.

— Mesmo se eu não precisar usar o antídoto que será feito a partir do material genéticos desses bebês, jamais me esquecerei do que fizeram por mim. – Jane falou mordendo o lábio superior para tentar conter a emoção.

Zapata e Patterson se afastaram no sofá, abrindo espaço e convidando Jane para se juntar a elas. Ela se sentou e colocou cada uma das mãos na barriga das amigas que a abraçaram e fizeram o mesmo, colocando as mãos sobre a barriga dela.

— Ei, Jane, eu nunca pensei que diria isso, mas... obrigada por esse plano maluco de apagar sua própria memória e se entregar nua numa mala para Kurt Weller. – a latina disse num sussurro nada discreto ao ouvido de Jane.

— Eu só posso concordar. Você é a culpada de toda a felicidade que estou vivendo, Remi Briggs.

Pela primeira vez em anos, Jane sentiu a leveza da culpa de todos os seus atos. Por um caminho tortuoso, questionável e que também causou muita dor, eles chegaram até aqui. Mas agora tudo parecia tão bem. Ela tinha uma nova família. E a família que ela perdeu na infância também renascia.