Red Flowers

O que tem de errado comigo?


Edição número seis

— Que decepção, Mônica! – essas palavras, ditas por uma das pessoas que eu mais... cortaram meu coração, mas ele não havia terminado – Você sempre foi a mais forte de nós! A mais valente... Mas agora, no fim... Você mostrou que é uma covarde!

Antes que eu pudesse impedir, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, abaixei a cabeça, na esperança que a sombra do chapéu, o qual fiquei repentinamente grata por ter escolhido usar, escondesse o fato de que eu estava chorando.

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Ah, Cebola... tantos anos juntos, sendo amigos, e agora na adolescência sendo... bom, acho que não tem uma palavra certa para nos descrever, mas você, mais do que muitos, deveria me conhecer. Por isso suas palavras me machucaram tanto, porque você deveria saber que eu não sou assim, mas se não sabe, o que isso diz de mim? De nós?

Edição número 13

Não posso evitar revirar os olhos quando me aproximo dos meus amigos e percebo que estão falando daquele joguinho bobo, honestamente, não entendi o que acharam de tão interessante nele

— Não creio! Ainda estão falando daquele game chato? Ninguém tem assunto melhor, não? – olho para o Cebola ao continuar, e não posso evitar me irritar um pouco – É assim que você “descansa” quando fica doente, né? E eu aqui preocupada! Assim eu aprendo a deixar de ser boba!

Eu estava realmente preocupada, Cebola dificilmente faltava nas aulas ou ficava doente, mas agora percebo que aparentemente, ele estava perfeitamente bem. Quando vejo um sorriso presunçoso se espalhar pelo seu rosto, suspiro internamente, posso adivinhar o que ele vai falar, ou melhor, sobre o que. Quando foi que Cebola alguma vez deixou de jogar na minha cara qualquer derrota que sofri? Mesmo que ele não seja o responsável por ela.

— Ah, Mô... fiquei sabendo do seu desempenho espetacular no game! Que pena você não conseguir jogar direito!

Por algum motivo, suas palavras me machucam mais do que deveriam, é só uma provocação boba, similar a muitas que já ouvi, mas vindas deles, parecem ter um efeito especial. Mesmo assim sou calma e indiferente ao responder.

— Não conseguir é bem diferente de não gostar.

— Não gostar, é? Ou será que não quer admitir que alguém é melhor que você em alguma coisa? – suas palavras me ferem em algum lugar profundo, tanto pelo tom que são ditas quanto pela pessoa que as profere. Ouço Magali tentando acalmar nós dois, não que precise, não vou dar ao Cebola a satisfação de me irritar, não hoje pelo menos.

— Se o Cebola precisa do joguinho pra se sentir superior, deixa ele! – continuo me aproximando dele, olhando profundamente nos seus olhos ao falar – Mas você não devia me subestimar só por causa de um game besta, ou vai acabar quebrando a cara!

Termino de falar e me despeço deles, seguindo sozinha para casa. Durante todo o caminho me pergunto o porquê o Cebola gosta tanto de me provocar, mesmo passando dos limites várias vezes, será que ele não percebia que me machucava? Não só pelas provocações, mas sim por ser ELE a fazê-las?

Edição vinte e dois

Na boa... estamos perdendo tempo e eu não consigo descobrir com certeza quem está por debaixo do chapéu. Quando ele sorriu, eu senti uma sensação de familiaridade no peito que me dizia que eu conhecia aquela pessoa, junto com uma sensação a mais, um formigamento gostoso no corpo que só uma pessoa podia causar em mim, eu quase falei seu nome, mas era arriscado demais...

Pela doidera toda, parece o professor Louco...

Nem bem esse pensamento se formou na minha cabeça, uma miniatura de cabeça do Licurgo saiu do bule de chá a minha frente e me encarou, dizendo enfaticamente:

— É Licurgo, minha filha! - e continuou, sua cabeça se mexendo como a de um boneco de mola - Sim, nós professores lemos as mentes...

Sorrio e levanto da minha cadeira, apoiando as mãos na mesa e encarando o "Chapeleiro".

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— Hum... interessante... - o sorriso aumenta no meu rosto, de acordo com que uma nova determinação crescia no meu peito - Chapeleiro?

Quando ele se vira e me olha, com aquele sorriso, aquela sensação gostosa me invade de novo, e eu só posso pensar em como não percebi antes, era tão óbvio agora.

— Sim, menina dos dentes salientes, quer alguma coisa?

A sua fala apenas me dá mais certeza, quem mais me provocaria assim? Me aproximo dele calmamente, até não estar a meno que cinco passos de distância.

— Sim! Que doces você tem aí? - quatro passos. Ele se vira de costas para mim e em direção a mesa ao responder.

— Quindim, brigadeiro, suspiro ... ai, ai... Língua de sogra, camafeu... - dois passos.

— Eu prefiro beijinho... - um passo. Agora eu posso tocá-lo, e é isso que faço, colocando minhas mãos sobre seu peito. Ouço-o gaguejar e resolvo falar novamente, antes que ele saia correndo, o que não seria a primeira vez. - Beijinho, Cebolinha.

E encosto nossos lábios, sinto-o tenso antes de corresponder. E a sensação familiar e intensa que envolve meu corpo quando ele o faz, me deixa extasiada, toda essa loucura faz um pouco mais de sentido agora com ele ao meu lado. Porque éramos assim, mesmo após tantas loucuras, discussões e problemas, nós nos encontrávamos de novo, pertenciamos um ao outro e essa certeza me fazia mais feliz do que eu poderia descrever. Meu Cebolinha...

Edição vinte e nove

—Eu sempre vou dizer... meu filho pode até ser uma pessoa difícil, mas ele gosta muito de ter você por perto, Mônica. – a mãe dele fala as minhas costas, e suas palavras fazem meu coração errar outra batida.

Ele... gosta? Então... por que estou com tanto medo? Antes que a coragem me abandone, abro a porta do quarto e entro, não me preocupo em bater, estive naquele lugar tantas vezes naqueles últimos dias que me dou alguma liberdade.

— Oiê! Sou eu! Espero não estar incomodando, nem nada... – o sorriso no meu rosto vacila um pouco ao ouvir sua resposta.

— Na real... Você está incomodando, sim!

— Oh! E-eu s-sinto muito... – não posso evitar gaguejar, eu já estava nervosa e ele me responder assim, não ajuda em nada. Mas o Do Contra é assim, sincero demais e eu gosto disso nele, estava tão acostumada a mentiras, enganações e planos infalíveis que era refrescante sua honestidade, mesmo que as vezes fosse difícil de lidar.

— Sussa! De boa! Eu nem ligo! Não que esteja reclamando, mas me conta, qual o motivo da visita, linda?

Consigo sentir meu rosto esquentar de acordo com que o rubor se espalha por ele, não estou acostumada a ser chamada de linda, de dentuça, baixinha, gordinha ou nervosinha sim, mas elogios eram raros serem dirigidos para mim, tanto por minhas amigas, quanto pelo sexo oposto, a Magali talvez seja a única exceção, ela sempre faz questão de me dizer que eu sou bonita sim e que não tem nada de errado com a minha aparência, mas mesmo assim é difícil acreditar as vezes. Talvez por tudo isso, eu sinta que aquele simples elogio me faz mais bem que o esperado e tento não pensar que isso talvez seja só um jeito carinhoso de me chamar, ele pode nem me achar linda mesm... Balanço a cabeça para tirar esses pensamentos da minha cabeça antes de reunir coragem pra continuar.

— B-bem, eu queria... Quero falar com você sobre... – respiro fundo antes de firmar a minha voz – Sobre... Bem... Aquele assunto!

— Aquele assunto? – ele desvia os olhos da revista que estava lendo e me olha diretamente, seus olhos pretos me desconcertam, por isso viro de costas antes de continuar.

—Nós já passamos por muita coisa juntos! Vou dizer, você já me irritou muito, mas também me surpreendeu! Mais de uma vez, quando precisei de apoio você estava lá para mim! Enfim... depois de tudo que rolou entre a gente, pensei muito e tomei uma decisão! Como ficam as coisas entre nós agora, entre mim e você, Do Contra.

Agora estou caminhando em sua direção, o olhando, que me encara sentado na cama, inclinado em minha direção, com os antebraços apoiados na coxa, as mão pendendo em direção ao chão e a cabeça inclinado para o lado, mas com os olhos sem deixar os meus por nenhum momento.

— Você tinha razão! Eu devia gostar de alguém que também gosta de mim em vez de alguém que só tenta me impressionar e enganar. – vejo ele franzir as sobrancelhas e um olhar diferente surge em seu rosto quando eu pronuncio essa última frases. É a vez dele então de gaguejar, e eu continuo, ansiosa para por aquilo tudo para fora de mim – Eu sei que não é comum a garota tomar a iniciativa, mas eu quero dar essa chance para nós dois! O que diz, Do Contra?

Quando olho em sua direção, sei a resposta antes mesmo das palavras saírem pelos seus lábios.

— Eu digo que não! – sua voz soa enfática, decidida, mas ao mesmo tempo magoada, como se ele estivesse dizendo algo que não queria, mas ainda sim tivesse que dizer. Os próximos minutos de conversa passam na minha cabeça como algo que eu visse a distância, não realmente presenciasse. Estou atônita e magoada, é mesmo possível que me enganei tanto assim? A próxima coisa que me lembro é sair correndo de sua casa enquanto grito.

— Vocês, moleques, são todos loucos!

Caminho pisando duro em direção a minha casa e durante todo o caminho me pergunto, como pude ser tão burra? Me declarar assim? Eu já não havia aprendido que sempre tomar a iniciativa fazia os garotos se afastarem? Foi assim com o Cebola, que saiu correndo após nosso primeiro beijo e que recuava a cada investida que eu dava e agora foi assim com Do Contra.

Eu achei que com ele daria certo, afinal ele era totalmente o oposto do Cebola, era sincero e verdadeiro, sem trapaças ou intenções ocultas, mas não, mais uma vez fui totalmente enganada.

Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu não as evito, somente apresso meu passo para chegar logo em casa, e quando o faço, me jogo em minha cama e me permito verdadeiramente chorar.

O que havia de tão errado ou repugnante comigo para que todos me rejeitassem assim? Será que tudo que todos me diziam desde a infância era realmente verdade? Todos aqueles xingamentos, insultos e provocações...