Diana deveria se lembrar da ultima vez que esteve naquele local tão familiar. Contudo, não se lembrava. Há meses, deixou de freqüentar aquele bairro. Há meses, era como se tivesse esquecido dos amigos. Ela não queria, contudo, uma coisa ou outra a impediram por muito tempo de voltar ali.

Atravessou a rua na direção do letreiro neon. Encostou a mão na porta que tempos atrás lhe era tão familiar. Relutou consigo mesma por um tempo, mas enfim decidiu e com um suspiro pesado, empurrou-a.

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Um indie rock tocava baixo ao fundo. As cadeiras estavam sobre as mesas, e não havia ninguém no local, com exceção de uma única pessoa. Diana sentia seu coração acelerar à medida que se aproximava do balcão, onde Shayera tinha um caderninho e uma calculadora.

─Estamos fechados. ─A voz feminina veio até ela. ─Não ouviu? Esta... ah, é você...

─Olá, Shayera. ─Sorriu, tímida, para a ex melhor amiga.

─O que você quer?

A rispidez na voz da ruiva pegou-a de surpresa, contudo Diana se recompôs. Ela tinha um motivo para estar ali, e não sairia sem tentar. Para salvar Bruce, precisava de ajuda e não tinha mais ninguém com quem contar.

─Eu sei que não fui uma grande amiga nos últimos meses, mas eu preci...

─Você sempre corre pra mim quando faz algo errado. ─Cortou-a. ─Não posso te acobertar a vida toda.

─Deixa de ser rancorosa, Shay. ─Wally apareceu. ─Por que não houve o que a Di tem para falar?

Shayera olhou do marido para Diana.

─Não.

─Bom, me desculpa por ocupar seu tempo. ─Fez uma pausa. ─Foi bom rever vocês...

Diana abaixou a cabeça e decidiu sair logo em seguida. Wally encarou a esposa quando se encontraram sozinhos.

─O quê? ─A ruiva indagou.

─Não vai mesmo falar com ela?

─Não sou obrigada.

─Diana é sua melhor amiga. E você disse que ela sempre poderia contar com sua ajuda.

─Eu às vezes te odeio, Wally.

Shayera sabia que o marido tinha razão, então largou a calculadora e correu para fora. Viu Diana caminhando pela calçada, afastando-se cada vez mais. Era estranho vê-la sem o carro da família Wayne, contudo decidiu deixar as indagações para outra hora.

─Diana. ─Chamou. ─Vem vamos conversar...

*****

Diana levou à boca o copo de água pela terceira vez seguida. Tentava observar as reações dos amigos, e nenhuma delas parecia boa.

─Não sei não, Diana. É loucura demais!

Diana lhes contara tudo o que houve com Bruce nos últimos dias, e também o que soube através de Batman, inclusive os alter egos dela e dos amigos. E embora no começo fosse difícil acreditar, ela acreditava no marido, e prometeu tirá-lo daquela prisão. Só esperava agora que os amigos acreditassem nela, e cooperassem com a loucura que pretendia fazer.

─Acredita mesmo que sua gravidez, nossa vida, tudo isto é fruto da imaginação do Wayne?

─Sim. Decidi dar meu voto de confiança ao Bruce e vou ajudá-lo como puder.

─Se nada disto é real... você sacrificaria tudo por ele?

Ela parou um momento para pensar. Sabia dos riscos que corria, mesmo que tivesse que desistir de sua vida perfeita. Mas então lembrou que Bruce abria mão de tudo aquilo também, apenas para continuar como um símbolo de esperança do outro lado. Mesmo que sua outra vida fosse cheia de dor e sofrimento, Bruce sacrificaria tudo pelo bem de outros, inclusive o dela. E Diana faria o mesmo por ele.

─Eu o amo. Talvez a única coisa real neste mundo seja meu amor.

─Como pode ter tanta certeza?

─Eu não tenho. ─Disse, firme. ─Mas, se você parar pra pensar, vai perceber que nossas lembranças não são tão antigas ou profundas quanto parecem ser. Não somos reais. Não somos nada além da mente de Bruce. E ele precisa de ajuda para voltar à sua realidade, onde ele está em perigo.

Depois das palavras emocionadas e cheias de verdade de Diana, o casal se entreolhou. Seguiu-se um longo silêncio, até...

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─Eu acredito nela. ─Wally encarou a esposa. ─E você, Shay?

Shayera relutou ainda consigo mesma, mas por fim suspirou e concordou.

─Se por acaso acreditássemos em você, o que pretende?

*****

As duas mulheres pararam diante do grande portão que separavam o Asilo Arkham do mundo “normal”. Mesmo sendo fim de tarde, e a luz do sol cobrisse boa parte do ambiente, o local ainda era assustador. Talvez pelos criminosos presos do outro lado, ou então a atmosfera soturna, o lugar parecia tirado de um filme de terror.

─Este lugar me dá arrepios. ─Shayera esfregou os braços. ─O doutor Frankstein adoraria morar aqui.

Diana deu de ombros, ignorando a amiga e olhando ao redor. Ela procurou, e esperou, até a figura que tanto procurava aparecer cautelosa atrás de um arbusto. Com um aceno, o enfermeiro as atraiu até seu esconderijo.

Era o mesmo que a ajudara a entrar da outra vez. Era um jovem rapaz latino, não teria mais que trinta anos. Metido no uniforme dos trabalhadores do Arkham, ele olhava ao redor, apreensivo e um pouco inseguro. Remexia nas mãos e olhava ao redor. O rapaz olhou as duas mulheres. Ambas tinham cabelos escuros, vestidas em jeans e moletom. Altura parecida, semelhantes na aparência. Balançou a cabeça.

─Não sei não, senhora Wayne. Tenho ordens do Dr. Ledger para não deixar ninguém ver o senhor Wayne. Ele está isolado dos outros, por ser considerado perigoso.

─E alguém aqui não é perigoso?

─Eu não sou. ─Diana tirou um envelope grosso do bolso do moletom, e entregou-o ao enfermeiro. ─É tudo que eu tenho.

O rapaz olhou da mulher para o envelope, e contou as notas. Era uma quantia generosa, como da outra vez. Ele ia contra a ética, contudo, o dinheiro era bom o bastante para recusar. Guardou o envelope e assentiu.

─Se pegarem vocês, não as conheço. Sejam rápidas.

As duas mulheres seguiram o enfermeiro. Diana não sabia seu nome, e nem se deu ao trabalho de perguntar. Ela apenas queria chegar logo em Bruce e tirá-lo daquele maldito lugar. Depois de caminharem por corredores escuros e mal cuidados, passarem por celas e ouvirem gritos agoniados, eles enfim chegaram à cela onde Bruce se encontrava.

─Vou deixá-los a sós. Sejam breve.

Quando o enfermeiro saiu, Diana correu para o marido, preso em uma camisa de força. Tocou-lhe o rosto.

─Deus, Bruce! Você não merece isso!

Ela beijou seu rosto, em seguida, tentou livrá-lo da camisa de força, contudo seus esforços foram em vão. Ela gritou em frustração.

─Não consigo tirar isso!

─Deixe para quando sairmos. Não confio naquele homem.

Bruce olhou para cima e então percebeu a figura da outra mulher parada na porta, olhando para os corredores. Ela se vestia igual a Diana, mas aquela não era sua esposa. Seja o que for que estivessem tramando, não era a hora para fazer perguntas. Diana e Bruce se colocaram de pé. Os três então saíram daquela cela, e seguiram seu caminho para a liberdade. Mas primeiro, ainda tinham que sair do Arkham.

*****

Como todos os funcionários daquele lugar, era um sem nome. Era apenas mais um enfermeiro. Ganhava pouco, trabalhava muito, cuidava de pessoas loucas. E não via mal algum em ganhar um por fora. Ele não tinha idéia do que as mulheres pretendiam fazer, só queria saber do dinheiro que recebeu.

Contava as notas pelo corredor vazio, quando esbarrou em alguém. Ele caiu, e o envelope foi ao chão também, espalhando seu dinheiro. Ficou de quatro, recolhendo seu merecido suborno, prestes a soltar uma maldição, quando alguém pisou na mão que tentava alcançar o dinheiro. O enfermeiro olhou para cima.

O Dr. Ledger era uma figura macabra. Não era alto, mas o olhar e o sorriso sinistros escondiam algo embaixo daquela aparência de psiquiatra. O enfermeiro engoliu em seco. Ledger se abaixou, e recolheu algumas das notas espalhadas.

─O que tem a dizer sobre isso, enfermeiro?

─Sinto muito, Dr. Ledger. Eu precisava do dinheiro...

Com uma força incomum, o médico ergueu o pobre rapaz pelo pescoço, e o prensou contra a parede.

─Melhor começar a falar.

*****

─Ele disse que deixaria a porta destrancada para nós.

Os três pararam quando viraram o corredor, e, ao invés de uma porta, apenas mais uma parede, igual as demais.

─Tem certeza que era este o caminho?

─Sim, sim. Era aqui...

Bruce queria verificar a parede, contudo, tinha as mãos atadas. Diana tocou-lhe o ombro, e o puxou pelo corredor.

─Vamos continuar andando, talvez encontremos uma saída e...

Eles pararam. Nenhum deles tinha idéia de como aconteceu, mas no final do corredor, eles viram o Dr. Ledger com seu sorriso sinistro, e vários seguranças atrás dele. O médico balançou a cabeça.

─Não, não, não! ─Ele gargalhou. ─Você não vai fazer isso!

As palavras dele bateram em Bruce. Foi como voltar no tempo, para o fatídico dia no beco. Se Bruce ainda duvidava, elas se desfizeram. O Dr. Ledger e o palhaço que salvou sua família anos atrás, eram os mesmos naquela realidade. E na outra, em seu mundo real, era seu pior inimigo, o Coringa. Ele só não entendia como a figura sinistra foi parar naquele sonho.

─Você poderia ter tido uma vida longa e próspera neste mundo. ─Disse, com raiva. ─Mas não, você escolheu a verdade, e agora vai pagar por ela. Seus instantes finais serão o pior pesadelo, do qual você não tem como escapar. Peguem-nos!

Sob suas ordens, os seguranças se puseram a correr atrás de Bruce e das mulheres. Os três voltaram pelo caminho do qual vieram, na tentativa de encontrarem a porta para sair. Ou, ao menos, se esconder. Virando o corredor, Shayera parou de correr. Alguns metros à frente, Diana e Bruce também pararam. Diana sabia que o tempo deles acabava, e mesmo assim, foi até a amiga. A ruiva tremia, então Diana segurou sua mão, mas a ruiva a afastou.

─Continue andando. ─Ela disse. ─Tem certeza que não somos reais?

─Se o Bruce estiver certo, somos apenas a imaginação dele. Nada aqui existe.

─Shayera?

─Eu estou bem, continue andando. ─Fez uma pausa. ─Sinto muito.

Então, ela entendeu. Diana não queria, mas as sombras dos seguranças se projetavam na parede. Sua missão era tirar Bruce daquele mundo, e ela o faria, mesmo que deixasse de existir. Ela o amava, independente da realidade, e ele merecia ser livre. Com um aceno, voltaram a andar o mais rápido que conseguiam.

Diana mal se afastou, e Shayera ouviu as vozes.

─Hey, parada!

Alguém lhe segurou pelos cabelos, e puxou a peruca. Shayera se voltou ao médico, e ao grupo de seguranças que vinham com ele. Ledger viu a mulher ruiva com as mãos erguidas. Não era quem procurava. Deu-lhe as costas, deixando-a com os seguranças.

─Ela não é importante. Façam o que quiser.

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Diana ouvia os seguranças com Shayera, e ela simplesmente não poderia ajudar. Apenas precisava sair dali, rápido. Ou todo seu esforço seria em vão.