Realidade Imaginária

Into the woods


— Filha de Set? Mas que tipo de palavrão......

— Alssumtu, alwahsh! - Murmurou gravemente meu raptor apertando a mão ainda mais contra minha boca.

Meu ombro deslocado doía como o inferno o que fazia minha paciência diminuir cada vez que o sentia latejar. A espada fria se misturava com o sangue em meu pescoço e minha cabeça trabalha a mil em busca de uma forma de escapar daquele idiota. Já estava cansada de ficar em apuros até alguém aparecer do nada e me salvar. Não, desta vez eu faria algo, eu seria meu “cavaleiro de armadura brilhante” e ouvir as palavras sussurradas contra meu ouvido só me deixou ainda mais irritada.

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— Você desloca meu ombro, põe uma espada contra meu pescoço, me insulta com palavrões que não existem e eu sou o monstro? - Minha voz saía abafada contra os dedos grossos dele, mas minha fúria era tanta que forcei minha voz alta o suficiente para que ele ouvisse claramente. - Melhor rever seu dicionário! E se acha que vou acatar sua ordem de ficar em silêncio, pode tirar o cavalinho da chuva!

Para mim minhas palavras não chegavam nem a ser ameçadoras, mais parecia uma garotinha fazendo birra, mas de alguma forma senti o peito que escostava em minhas costas se enrrijecer e a mão sobre os meus lábios se afastar lentamente. Não é que eu fui ameçadora afinal? Senti a respiração do ser vacilar contra meus cabelos.

— Espera, você entendeu o que eu..... AHHHHHHH!

As palavras surpresas dele foram substituídas por seu grito de dor que acabou espantando alguns pássaros das árvores próximas. Assustada, senti a espada se afastar do meu pescoço bruscamente e o calor em minhas costas sumir. Sem perder tempo chutei o joelho de meu opressor fazendo-o gemer de dor novamente e me afastei a máximo que pude dele. Meus pés quase tropeçaram nas folhas e pedras, mas me ergui rapidamente e tirei o tridente da pulseira. Em segundos Tríaina, minha espada, estava entre meus dedos, brilhante e mortal. A adrenalina repentina fez efeito anestésico em meu ombro, diminuindo um pouco a dor latejante, e agradeci aos céus pelo idiota ter deslocado meu ombro esquerdo e não o direito assim ainda conseguiria lutar. Ofegante ergui os olhos para a cena em minha frente pela primeira vez. Meu raptor, na verdade não mais do que um garoto que aparentava ser apenas alguns anos mais velho que eu, estava ajoelhado e curvado com a mão sobre o tornozelo direito, sangue escorria por seus dedos. E ao lado dele estava meu imprevisto herói: Totó, que rosnava e latia ferozmente com os pelos arrepiados. Apertei o punho da espada com um sorriso satisfeito e avancei sobre meu inimigo, aproveitando seu descuido, porém quando estava prestes a subjuga-lo vi suas mãos se erguerem no último minuto e sua espada se chocar contra a minha, uma arma afiada, curva.... e familiar? Encarei as armas, prateado contra prateado, enquanto o garoto continuava no chão, os braços musculosos eram firmes na espada estranha. Ele era muito mais forte do que eu principalmente por poder usar as duas mãos enquanto eu só me dispunha da direita. Suor escorria em meu pescoço fazendo o ferimento arder ainda mais, ergui os olhos das lâminas para encarar o garoto de frente. Seus dentes rangiam e um sorriso zombeteiro despontava dos lábios grossos, suas feições firmes e determinadas fizeram uma única frase despontar em minha mente: Eu o conheço de algum lugar! Mas isso não era possível. Rebusquei rapidamente em meus pensamentos de onde poderia conhece-lo, mas nada veio. Então porque esse sentimento de familiaridade? Minha confusão pareceu se refletir nas expressões do garoto que arregalou os olhos escuros quando me encarou como se visse um fantasma. Suas mãos tremeram levemente ao redor do punho de sua espada, diminuindo a força de seu contra ataque enquanto seus olhos não desgrudavam de mim. Mesmo estando tão confusa quanto ele deixei que meu treinamento viesse a tona. Bater primeiro, perguntar depois! Aproveitando seu pequeno deslize manejei minha espada contra a dele com toda a minha força, o som de metal invadindo o silêncio da floresta. No minuto seguinte minha espada ainda retinia com o choque enquanto a arma curva do garoto voava para longe caindo entre as folhas enlameadas. O garoto não tirou os olhos surpresos de mim e eu avancei determinada. Com um golpe rápido em suas pernas ele foi ao chão, deitado e provavelmente bastante dolorido. Me posicionei sobre ele com a espada a milímetros do seu pescoço e quase ri da ironia do momento.

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— Então a caça se vira contra o caçador... - Vociferei a centímetros do rosto dele que apenas me encarava perplexo. O garoto estava ofegante, seu peito subia e descia o que fazia meu corpo se movimentar junto com ele. Involuntariamente passei a analisar meu mais novo prisioneiro. Os cabelos castanhos eram ondulados e desciam até o pescoço se misturando com as folha no chão. Seus rosto era anguloso com traços fortes e definidos, mas o mais impressionante eram seus olhos de um azul escuro intenso como as águas mais profundas do oceano. Prendi o fôlego ao sentir aquele sentimento de familiaridade me arrebatar novamente. Isso não fazia o menor sentido! Balancei a cabeça e foquei o olhar no garoto com mais afinco fazendo a espada se aproximar ainda mais dele e deixar uma marca vermelha em seu pescoço idêntica à minha. Ele engoliu em seco, mas continuou a me encarar com o queixo erguido e os olhos faiscantes. Cerrei os dentes com a altivez dele. - Me dê um bom motivo para não acabar com você aqui e agora?

E fui surpreendida quando o garoto virou a cabeça de lado, raspando uma mínima parte do pescoço na espada, com uma expressão curiosa e me respondeu com uma nova pergunta.

— Já nos conhecemos de algum lugar? - Sua dúvida parecia genuína e quase baixei a guarda ao perceber que seus pensamentos refletiam os meus. Isso poderia ser apenas uma coincidência? Mesmo com a confusão em minha mente mantive meus pensamentos firmes e minha espada bem presa contra o garoto.

— Não acho que pessoas que tentam me matar estejam no meu círculo de amizades! - Esbravejei. “E não me esqueceria de olhos tão bonitos e profundos quantos os seus...”, pensei e cerrei os lábios temendo que as palavras fugissem deles sem minha permissão. De relance vi Totó se aproximar de nós com a boca escancarada e um rosnado baixo para meu prisioneiro. Sorri para o cão. - Aliás, obrigada Totó!

— Essa besta é sua? - O garoto questionou erguendo o dedo em direção à Totó que logo tentou morde-lo. O rapaz baixou a mão rapidamente e voltou a me encarar, agora com uma expressão cansada e completamente humana. - Tudo bem, isso não importa mais. Eu... acho que isso foi tudo um grande mal entendido. Juro que não sou um psicopata que sai por aí atacando as pessoas na floresta se é isso que está pensando.

— Então você lê mentes? - Zombei e soprei um cacho de cabelo para longe do rosto. O suor pingava por meu corpo, eu mal saira do acampamento e já estava completamente suja e machucada. Esse cara teria de dar uma ótima explicação.... - Pois foi exatamente isso o que você fez! Me atacou sem mais nem menos no meio da floresta!

— Isso porque eu achava que você era um dos monstros metamorfos que vem me perseguindo a mais de um mês! - Ele falou tudo em uma única respiração, a frustração e arrependimento pareciam tão transparentes em seu rosto quanto um espelho. Seus olhos pareciam suplicar para que eu acreditasse e, sem perceber, era exatamente isso o que estava fazendo. Eu acreditava naquele garoto, não apenas pela familiaridade que ele me transmitia, mas porque se ele quisesse já poderia ter me imobilizado ou até mesmo me matado, mas continuava a minha mercê por livre e espontânea vontade. Sim, eu acreditava no meu pontencial e força, mas não com um ombro deslocado enquanto ele possuia apenas um mordida na perna de um cão minúsculo. Suspirei e afastei um pouco a espada do corpo dele, mas continuei sentada sobre ele, prenssando-o no chão, eu acreditava em sua história, mas ele continuava a ser um desconhecido para mim. Mesmo assim ele não tentou escapar, apenas continuou a falar calmamente. - Mas agora sei que você não é um deles. Peço perdão por tentar matá-la.

Encarei-o com a sobrancelha erguida. Se ele vinha sendo perseguido por monstro então só podia ser um semideus! Tentei passar a mão livre pelo cabelo que grudava em minha testa, mas só consegui gemer ao sentir a dor se alastrar do ombro deslocado pra todo o braço. O garoto me encarou preocupado e eu ergui o queixo.

— Mas que tipo de semideus você é que não consegue reconhecer a sua própria espécie? - Questionei curiosa. O garoto afastou os cabelos escuros dos olhos calmamente até que minhas palavras o fizeram arregalar os olhos surpreso.

— Semideus? - Ele parecia mais relaxado agora que minha espada repousava ao meu lado de uma forma “inofensiva”. Continuei sentada sobre o tronco dele, ele ainda não era totalmente confiável. O garoto se ergueu sobre os cotovelos, o que fez seu rosto ficar a centímetros do meu, e suas sobrancelhas grossas subiram quase encostando no cabelo suado. - Mas eu.....

Sua voz foi interrompida por passos rápidos e gritos que encheram o ambiente antes calmo e silencioso. Não tive tempo de ver o que acontecia até sentir braços fortes me erguendo pela cintura, afastando-me do garoto, e me colocando de pé rapidamente. No segundo seguinte olhos verdes e preocupados vasculhavam meu corpo minuciosamente até chegarem ao meu rosto. Pude sentir o suspiro aliviado de Percy quando este me apertou contra seus braços fortes em um abraço aconchegante e protetor. Não sabia que precisava tanto disso até sentir seus braços circundarem minha cintura e minha cabeça ir de encontro ao seu pescoço.

— Graças aos deuses você está bem! - Sua voz saiu abafada contra minha cabeça e senti seus lábios pousarem delicadamente em minha testa. Ele segurou meu rosto entre suas mãos, me fazendo encara-lo seriamente. - Você não sabe o medo que senti quando não te encontrei em parte alguma. Nunca mais faça algo assim de novo!

— Se eu não tivesse feito algo assim nunca teria pegado o causador de todo aquele alvoroço. - Me soltei das mãos de Percy calmamente e apontei para o garoto de olhos escuros sentado no chão.

Ele ainda parecia confuso e surpreso com a repentina aparição dos outros semideuses e encarava cada um dos rostos com curiosidade especialmente Nico di Angelo que rebatia o olhar do garoto com fúria brilhando em suas orbes negras. Nico desviou os olhos até encontrar os meus e fiquei surpresa ao vê-lo caminhar em minha direção com determinação. Em poucos passos ele estava em minha frente, sua respiração parecia vacilar. Pude ver suas íris expandidas pela fúria antes que ele erguesse meu rosto cuidadosamente encarando o filete de sangue que ainda escorria do ferimento no pescoço. Suas mãos frias tremiam e senti meu rosto ser solto quando Nico voltou a encarar o garoto sentando ao chão com uma aura negra começando a envolver seu corpo. “Ah, não.”, pensei, “De novo não!”.

— Você... a machucou! - A voz do filho de Hades saiu como um rugido ameaçador, suas mãos cerradas ao lado do corpo enquanto a fumaça negra começava a rodopiar ao seu redor. A única cena que me vinha a cabeça era de Christina sendo ergruida pela força de Nico e sua vida sendo sugada aos poucos. Antes que qualquer palavra saísse de minha boca Nico ergueu as mãos fazendo a terra sobre os pés do garoto virarem areia movediça. Meu antigo raptor se levantou em um salto tentando fugir, mas era inútil. Nico cerrou os dedos o que fez a areia mole ficar dura como pedra ao redor dos pés do garoto deixando-o completamente preso. Ele ergueu os olhos azuis assustados, mas encarar o rosto de Nico só pareceu deixa-lo ainda pior. A aura negra pareceu ficar mais espessa ao redor do filho de Hades quando ele mexeu as mãos fazendo a areia sob os pés do garoto se mover e levar o rapaz em direção a uma das grandes árvores. As costas do garoto chocaram-se rispidamente contra o tronco o que o fez gemer de dor e respirar fundo e ele colocou as mãos no pescoço quando o filho de Hades ergueu uma das mão. E a história se repetia. Nico caminhou a passos lentos em direção ao rapaz enquanto todos os semideuses assistiam calados ao pequeno show. Encarei a cena perplexa e dei um passo na direção de Nico, ele precisava parar!

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— Nico, espera.... - Mas antes que minha mão chegasse perto dele senti Percy segurar minha cintura, prendendo-me no lugar. Encarei-o irritada. - O que você está fazendo?

— Permitindo que Nico interrogue o sujeito! - Percy respondeu com uma calma assustadora. Seus olhos verdes pareciam com tanto ódio quanto os olhos negros do filho de Hades. - Ele machucou você, provavelmente tentou mata-la! Com certeza deve trabalhar para o Mestre. Se não tivéssemos chegado a tempo...

— Não, você não entende!- Tentei me desvenchilhar dos braços de Percy, mas ele era forte demais. - Fui tudo um grande engano.

— E quem te disse isso? Ele? - Percy apontou com desprezo para o garoto que agora jazia sentado contra a árvore com o rosto pálido pela falta de ar suficiente. Pude ver Nico prender as mãos dele com a terra atrás do grande tronco. O olhar do garoto cruzou com o meu, suplicante, mas Percy virou meu rosto para si. - Ele está mentindo! Quer nos enganar, nos separar! Mas Nico irá tirar toda a verdade dele.

— Por tortura? - Gritei indignada vendo o filho de Hades a poucos passos do garoto que parecia derrotado e deseperado. Eu não poderia deixar que isso acontecesse. Tinha de salvar os dois. Encarei Percy sentindo lágrimas de raiva descer por minha bochecha o que deixou meu irmão espantado. - Percy eu já vi Nico desta forma e ele não vai conseguir se controlar assim como não se controlou da última vez! Por favor, confie em mim. Eu sei o que fazer.

— Eu.... - Percy encarou Nico com cautela e pareceu perceber que algo diferente envolvia o filho de Hades. Seus olhos aflitos me encararam e vi o medo estampado neles. Medo por mim. Por fim ele suspirou e soltou minha cintura relutante. - Tudo bem, Nico não está parecendo nada bem mesmo. Mas a qualquer sinal de ameaça esse garoto vira comida de Hydra!

Acenei apressada e corri em direção à Nico. O filho de Hades estava a um passo do garoto preso ao tronco quando segurei em seu braços. Senti seu corpo tremer levemente, frio e irado. Ele estava prestes a me afastar rudemente quando subi a mão por seu braço chegando ao ombro e sussurrei próximo ao seu ouvido.

— Nico... - Senti seu corpo tenso relaxar ao mero som de minha voz. Meu peito acelerou percebendo que mesmo depois de todas as brigas e decepções era minha voz que o fazia se acalmar, era eu quem era capaz de faze-lo voltar a pensar claramente. Senti sua respiração se acalmar e continuei. - Precisa se acalmar, se controlar. Precisa me ouvir!

— Eu sempre estou te ouvindo. - Ele murmurou com um suspiro cansado. Vi a aura negra ao seu redor se dissipar aos poucos assim como o frio sobrenatural que embalava seu corpo. Sua mão cobriu a minha por sobre seu ombro enquanto ele me lançava um sorriso brilhante e arrebatador. Minha promessa de mais cedo brilhava em neon. “Apenas amigos, Duda! Você vai acabar se machucando ainda mais. Ele dormiu com Drew!”. Mas involuntariamente senti meus lábios se erguerem, refletindo o sorriso do filho de Hades em meu rosto.

— Ótimo. - Falei soltando delicadamente a mão do ombro de Nico e apontando para o rapaz a nossa frente que parecia aliviado e agradecido por eu ter contido a fúria de Nico. Sua cabeça rescostava-se no tronco fazendo alguns fios castanhos caírem sobre os olhos. Ele respirou fundo parecendo perdido. Não podia deixa-lo preso ali quado ele não era o vilão de verdade. Alarguei o sorriso para o filho de Hades sabendo que provavelmente precisaria de todo o charme de Piper para convence-lo do que estava prestes a pedir e como não o tinha, fiz o meu melhor com os olhos verdes brilhantes e a voz suave. - Então eu preciso que você liberte esse garoto...

— Você só pode ter perdido a cabeça! - O sorriso de Nico rapidamente foi substituido pela exasperação. Ele olhava de mim para o garoto vezes seguida até apontar o dedo em riste para o rapaz que arregalou os olhos. - Tudo bem, o que fez com ela? O que deu a ela? Responda!

— Nico ele não me deu nada! - Expliquei tentando chamar sua atenção. Nico ainda parecia indignado e tocou meu ombro delicadamente pronto para explicar as mil e uma razões de porque ele não realizaria meu pedido. Pena que ele tocou no ombro esquerdo. Senti uma dor intensa se alastrar por meu braço quando os dedos de Nico pousaram no lugar deslocado. Tentei segurar o gemido, masfoi inevitável. - Ahhhh.

— Mas o que foi...? - O filho de Hades me encarou preocupado e tentou tocar novamente meu ombro. Recuei institivamente o que fez Nico franzir o cenho analisando meu ombro ferido. Olhei para o mesmo lugar e me assustei ao ver uma mancha roxa já meio azulada se espalhando do ombro para resto do braço. Ver aquilo pareceu aumentar minha dor e segurei mais um gemido entre os lábios. Quando ergui os olhos novamente senti Nico enfiar algo úmido e grudento em minha boca até que a sensação de estar comendo sorvete com brownie invadiu minha boca e me fez suspirar de prazer. Ambrosia, era disso que eu precisava! Senti a dor diminuir a medida que o gosto em minha boca desaparecia e finalmente foquei os olhos no moreno a minha frente que me encarava com os braços cruzados. - Ele deslocou o seu ombro e você quer que eu o liberte? Ele poderia ter te matado!

— Ossos do ofício.... - Dei de ombros o que fez Nico me olhar exasperado. - E sobre ele querer me matar isso foi tudo um grande mal entendido.

— Como assim? - Vociferou o filho de Hades com os olhos felinos no garoto que apenas observava nossa discussão.

— Bem, ele estava caminhando pela floresta e acabou confundindo nosso grupo com um bando de monstros que pudesse mudar de forma. Por isso ele me atacou. - Expliquei para Nico, mas encarei todos ao redor. Os rosto pareciam suspresos e desconfiados principalmente Percy que ainda encarava o garoto como se fosse pular nele a qualquer momento. Revirei os olhos. - Não me digam que também não fariam o mesmo?

— Um semideus sempre reconhece outro... - Ouvi a voz de Annabeth soar firme e autoritária e muitas cabeças acenarem em concordância. Suspirei prestes a dizer que foi exatamente a mesma pergunta que fiz e que ele iria responder se não fosse a aparição supresa de todo mundo. Mas não precisei abrir a boca pois a voz grave e melodica do rapaz respondeu a pergunta.

— Eu não sou um semideus.

Ou quem sabe criou mais um milhão de outras!

Todos olharam ainda mais desconfiados para ele esperando explicações até Jason dar um passo a frente e indagar impetuosamente.

— Então o que você é?

— Com certeza um mortal que vê através da névoa. - Piper falou encarando o namorado com determinação. Seu olhar para o garoto preso ao tronco era cuidadoso e ela parecia querer ve-lo livre tanto quanto eu. - Essa é a única explicação. Ele não pode ser um monstro ou de cara saberia que somos semideuses.

— Ou quem sabe ele esteja apenas fingindo. - Nico falou com desprezo e encarou o garoto com ainda mais fervor. - Se for um monstro é melhor mostrar-se agora.

— Eu não sou um monstro, pelo amor de Hórus! - O rapaz revirou os olhos como se aquela ideia fosse absurda demais até para ser imaginada.

Ele soprou parte do cabelo para longe dos olhos de forma desajeitada o que me fez rir. Ao me ver sorrir ele me encarou com os lábios também erguidos o que não pareceu agradar nada Nico que cerrou os dentes e tentou avançar no garoto, mas o detive rapidamente. Mantive a mão direita sobre o peito de Nico e encarei o garoto de olhos azuis com curiosidade. Aquela conversa não estava levando para lugar nenhum, precisávamos começar do início.

— Tudo bem, vamos começar do princípio. - Os olhos do garoto me encaravam com expectativa e certa malícia o que me fez corar instantaneamente. Ouvi Nico sussurrar raivosamente um “Concentresse!”em meu ouvido e pigarrei. - Primeiro as apresentações. Este é Nico...

E nomeei todos do lugar enquanto estes acenavam ou apenas inclinavam a cabeça em educação. Já Percy apenas murmurou palavras desconexas e cruzou os braços, uma clara demonstração de testosterona! Revirei os olhos e tentei amezinar o clima. Todos estavam com os nervos a flor da pele não apenas pelo mais novo estranho, mas por toda a missão em si. Ser desconfiado e cuidadoso eram o lema para se sobreviver, mas algo me dizia que eu podia confiar naquele garoto. Podia quebrar a cara feio, mas resolvi dar um chance a ele.

— Por último eu, Eduarda! É um prazer.- Sorri e estendi a mão até perceber que ele continuava preso a àrvore. Olhei indignada para Nico que bufou e mexeu as mãos desgostoso fazendo com que toda a terra soltasse o garoto. O rapaz suspirou e alisou os pulsos vermelhos. Senti Nico se enrijecer ao meu lado e levar a mão ao punho da sua espada quando o garoto se ergueu e deu um passo em nossa direção. Todos pareciam na expectativa de saber o que ele faria a seguir. Fugiria? Lutaria? Mas ele fez algo que surpreendeu a todos: Estendeu a mão e apertou a minha calorosamente com um sorriso sincero no rosto.

— É um prazer conhecer todos vocês! - Ele olhou ao redor e depois me encarou atentamente, piscando o olho em seguida. Ok, aquele garoto com certeza amava me ver corada! Tentei conter o rubor quando ele levou minha mão aos seus lábios e beijou-a levemente, mas foi impossível. Sua voz era aveludada e parecia se dirigir enfaticamente a mim. - Me chamo Arthur.

— Finalmente um nome! - Ouvi Leo confessar a alguns metros de nós encostado em uma árvore. Quando todos os olhares se voltaram para ele o filho de Hefesto percebeu que falara aquilo alto demais e se explicou. - Bem, eu estava cansado de chama-lo na mente só de garoto estranho ou ex-raptor ou prisioneiro de guerra. Um nome torna tudo mais fácil!

— Tudo bem Arthur. - Soltei a mão do rapaz e cruzei os braços. Arthur me encarava relaxado esperando as milhares de perguntas. - Como você veio parar aqui, no meio da floresta?

— Tudo começou a mais ou menos dois meses atrás. - Ele relatou e encarou cada rosto com cautela como se medisse as palavras. Ele tinha um tom misterioso na voz como se escolhesse o que poderia ou não dizer. - Estava dormindo tranquilamente em meu quarto e na manhã seguinte acordei em uma jaula de pedra numa caverna escura.

— Quem o raptou? - Nico questionou parecendo menos irritado e mais curioso.

— Monstros. - Arthur falou sério. Cruzou os braços sobre o peito e abaixou a cabeça fazendo seu cabelo suado e sujo cobrir o rosto quase completamente, mas a voz saiu firme. - Acordei com um deles batendo nas grades da jaula. Ele falava uma língua que não compreendia e se transformou em um homem falando claramente para que eu me preparasse.

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— Preparasse para que? - Annabeth perguntou bem as minhas costas o que me deu um susto. A loira pois a mão sobre o meu ombro, mas continuou a encarar Arthur firmemente.

— Foi extamamente o que perguntei e da entrada da caverna surgiu uma garota com mais ou menos a sua idade. - Ele apontou para mim e eu ergui a sobrancelha confusa.

— Uma garota? - Ouvi Jason falar a poucos metros de nós. - Como ela era?

— Eu... não lembro muito bem. - Ele falou decepcionado como se se desculpasse. - Mas lembro da voz que claramente não era dela. Era uma voz grave, arranhada e ameaçadora.

— Ela estava possuida. - Leo falou com convicção e sem nenhuma humor na voz. Seus olhos cruzaram com os meus lembrando de que ele passara pelo mesmo. Senti meu coração apertar pela pobre garota.

— Exatamente. - Arthur confirmou. - Ela não se aproximou de mim, mas a voz era alta e firme. Ela me queria para... - Pude ve-lo hesitar por segundos, mas se recuperou tão rápido que quase achei que estivesse imaginando coisa. Quase. - … um ritual. Eu me neguei completamente o que a deixou furiosa. Nos dias que se seguiram fui torturado por todo tipo de monstro e algumas vezes ela aparecia novamente perguntando se minha decisão mudara. Eu sorria e negava o que fazia mais monstros me “visitarem”.

— Mas que ritual era esse? - Percy perguntou com o cenho franzido, mas parecia mais solidário depois do relato do garoto. - Porque ela simplesmente não o forçou?

— Pelo que entendi de alguns guardas que ficavam na minha cela à noite ela queria me usar para fazer o “Renascimento”. - Arthur encarou o céu por entre as árvores com um sorriso cansado como como se soubesse de algo que não sabíamos e que provavelmente não iria nos contar. Franzi o cenho sentindo que ele escondia algo, mas apenas ouvi-o continuar. - E só funcionaria se eu aceitasse faze-lo, mesmo que por livre e espontânea tortura.

— E você não cedeu? - Perguntei analisando o corpo do garoto que parecia intacto a não ser pela mordida de Totó e o arranhão no pescoço. Como ele não poderia ter nenhuma sequela da tal tortura?

— De forma alguma. - Ele me respondeu com um sorriso maroto. - Se tem algo que me orgulho é de minha teimosia.

— Você se curou rápido demais para alguém que foi torturado por dias. - Nico debochou dando voz a minha pergunta e Arthur apenas o encarou dando de ombros.

— Tenho meus métodos assim como você tem as suas plantinhas milagrosas. - Ele piscou para mim cúmplice e vi Nico cerrar os punhos. O garoto era um observador, isso tinha que admitir. - De qualquer forma eles tentaram de tudo pra me fazer cooperar, até trouxeram um crocodilo gigantesco para tentar me intimidar, mas não adiantou de nada. Eu sabia que, de alguma forma, eles precisavam de mim vivo então......

— Espera, crocodilo gigante? - Percy deu um passo a frente até estar com o ombro encostado ao meu. Ele me olhou intensamente e entendi o que aquilo poderia significar. Meu irmão voltou os olhos para Arthur. - Por acaso esse monstros chamavam o chefe deles de 'Mestre”?

— Como você sabe? - Arthur ergueu uma sobrancelha e eu senti a esperança queimar em meu peito. Estávamos conseguindo mais pistas! - Todos os monstros se dirigiam à garota como Mestre, nunca falaram o nome real dela, ou no caso dele.

— É isso! - Annabeth exclamou satisfeita e encarou Arthur com expectativa. - Arthur como escapou de lá? Precisamos de todos os detalhes de como era o lugar por fora e...

— Desculpe loirinha, mas esse é o problema. - Ele suspirou frustrado e encarou Annabeth. - Eu não lembro de nada do lugar até porque não fugi admirando a paisagem. Aproveitei o dia em que o guardas me torturaram fora da cela e fingi desmaiar. Eles se afastaram um pouco provavelmente para mandar outro monstro que avisasse que mais uma vez neguei participar do plano. Aproveitei o momento de descuido e corri para o lado da caverna de onde via a luz. Por sorte era a saída e apartir disso não lembro de muita coisa, mas lembro que cai dentro de um barco que foi levado pela água, ou seja eu provavelmente estava em um pedaço de terra afastado do continente. Depois disso tudo é como um flash em minha mente. Lembro de vozes e mãos segurando meu corpo. Dois dias depois acordei em um quarto branco de hospital e quase suspirei por estar a salvo até ver a enfermeira entrar no quarto e num piscar de olhos se transformar em um monstro. Fugi naquele dia e desde então venho fugindo dos monstros que de vez em quando surgem no caminho até que acabei parando aqui e encontrei vocês.

— Pelas barbas de Poseidon! - Percy murmurou frustrado e encarou Arthur esperançoso. - Tem certeza que não lembra de mais nada?

— Sinto muito cara. - Arthur deu de ombros cansado e negou com a cabeça. - Mas como vocês sabem do tal Mestre?

— Temos nossos métodos. - Nico falou vagamente e vi Arthur revirar os olhos. - Mas então, você está perdido?

— Não exatamente. - Ele respondeu e coçou os cabelos ondulados. - Sei onde devo chegar, mas não tenho muito senso de direção no meio da floresta.

— Então está perdido. - Confirmei e ele acenou envergonhado o que me fez sorrir. - Sem problema, onde você tem que chegar?

— No... - Ele hesitou mais uma vez o que apenas confirmou minhas suspeitas que ele escondia algo. Pigarreou rapidamente e pensou em algo. - No aeroporto de Long Island. Dali sigo para o norte e chegou no meu destino.

— Ótimo! - Exclamei com um sorriso. - O aeroporto é para onde.... - Senti Percy me beliscar de leve. - Ai, o que foi?

— Não acho que seja a melhor ideia informar para um desconhecido nosso destino!

— Ah, por favor. Nos já conhecemos ele! Sabemos que ele não é um monstro. - Encarei cada um dos rostos que ainda parecia repleto de desconfiança. - E ele não tentou nos atacar em nenhum momento. Podemos dar uma chance a ele!

— Dar uma chance sim. - Percy olhou o garoto de cima a baixo com ar preocupado. - Mas não nos peça para confiar totalmente nele. No fim não conhecemos ele completamente e ele parece ainda esconder muitas coisas.

— Assim como vocês. - Arthur rebateu com um sorriso despreocupado e tirou os cabelos dos olhos. - Mas ainda assim estou disposto a seguir caminho com vocês e tentar confiar que ninguém vai me apunhalar pelas costas. Não mereço o mesmo crédito?

— Por enquanto....

Nico murmurou e deu as costas para todos voltando para o caminho de onde surgiram como se não aguentasse mais olhar para a cara do mais novo garoto. Aos poucos todos os semideus passaram a segui-lo ficando para trás apenas Percy, Annie, eu e Arthur. Quando comecei a seguir Percy lembrei de algo e olhei para trás.

— Espera Arthur, sua espada ficou... - Mas quando vasculhei o lugar onde a espada curva havia ido parar não encontrei nada. Observei o lugar, mas nada de espada. Quando voltei os olhos para o garoto de olhos azuis ele apenas piscou e colocou os dedos sobre os lábios como se aquele fosse nosso segredo.

Percy movimentou o olhar entre eu e Arthur e murmurou alguma coisa, empurrando o garoto a sua frente para que andasse mais rápido e parasse de olhar para mim. Segurei o riso e fiquei ao lado do meu irmão que passou o braço por meu ombro protetoramente enquanto Arthur ria a sua frente.

— Como vocês me encontraram Percy? - Perguntei tentando amenizar a irritação dele com o garoto que seguia calmamente a nossa frente.

— A gente correu em direção ao acampamento até ouvirmos um grito masculino no sentido contrário. Olhamos ao redor em busca de alguma movimento e, tenho até vergonha de admitir, mas foi Nico quem percebeu que você tinha sumido. - Ele fez cara de tristeza, decepcionado consigo mesmo, e eu ri. - Voltamos correndo e ouvimos o latido de Totó, apartir disso foi fácil achar onde você estava.

— Bem, que bom que me acharam! - Sorri para Percy que me apertou ainda mais contra si. Olhei para o chão e vi Totó ao meu lado, saltitando feliz. - Mas também devo muito à Totó mesmo que ele tenha me desobedecido completamente...

O cãozinho me encarou com um olhar manhoso e eu não contive o sorriso. Não havia tempo de levá-lo de volta para o acampamento e eu me perguntava como faria para levá-lo junto conosco. Continuava a pensar nas maneiras de levar Totó contrabandeado no avião quando ouvi a voz de Percy novamente.

— De qualquer forma acho que você lidou com seu primeiro perigo real muito bem! - Ele soava tão orgulhoso e com os olhos tão brilhantes que me fez corar. - Mesmo que eu não tenha gostado nenhum pouco de vê-la sobre esse cara daquela forma admito que foi uma ótima imobilização.

Percy fez uma careta de desgosto e levantou a mão que escondia atrás das costas. Brilhando entre os seus dedos estava minha espada. Como pude me esquecer dela? Ele me entregou-a com um sorriso brincalhão e logo transformei-a novamente no pequeno tridente, encaixando em seguida na pulseira. Olhei para meu irmão com um sorriso carinhoso.

— É, eu tive um ótimo professor. - Dei de ombros casual e Percy alargou o sorriso orgulhoso. - Ou, no caso, professores.

Annabeth, do outro lado de Percy, sorriu e piscou para mim. Continuamos caminhando pela floresta até chegar a trilha que seguíamos antes de todo o ocorrido. Ergui a mão para arrumar os fios rebeldes que caiam em meus olhos e senti meu braço dormente e estranho. Percy provavelmente viu a forma que encarei meu braço pois perguntou preocupado.

— E seu ombro? Ainda dói? - Ele pegou levemente em meu ombro, mas a dor aguda não surgiu.

— Não, não dói. - Falei mexendo o braço e sentindo a dormência estranha preenche-lo. De relance vi os olhos de Arthur se voltarem para nós, mas logo voltou a olhar para o caminho. Olhei para Percy erguendo levemente o braço e o sentindo como um peso morto. - Mas meu braço parece dormente, como se tivesse passado tempo demais parado.

— Com certeza é um dos efeitos da ambrosia. - Percy acariciou meu braço tentando me fazer relaxar. - Logo estará novinha em folha, pronta para derrubar mais caras desconhecidos no meio de florestas.

Ele falou a última parte alto especialmente para que Arthur ouvisse. Sorri ao imaginar que o garoto de costas para nós estava provavelmente revirando os olhos. Encarei fixamente as costas dele e, como se soubesse que eu o encarava, Arthur voltou seus olhos para mim intensamente. Eu precisava conversar com ele, saber se ele também sentia aquela familiaridade e principalmente saber porque ele escondia tantas coisas. O garoto era um completo mistério e eu adorava desvendar um bom mistério!

— Bem, Percy, e por falar em caras desconhecidos, gostaria de conversar um pouco com nosso novo companheiro de viagem. - Percy arregalou os olhos pronto para dar um grande e belo não, mas calei sua bica com minh mão e diminui a voz. - Nem pense em dizer não! Eu preciso falar com ele, descobrir mais sobre o que aconteceu naquela caverna porque você e eu sabemos que ele ainda esconde algo! Eu fui a única aqui que resolveu confiar nele de verdade, quem sabe ele não retribui o favor?

— Duda, eu não acho uma boa ideia. - Percy respondeu retirando minha mão de sua boca e diminuindo o tom assim como eu.

— Olha eu vou estar bem na sua frente! - Respondi convicta e com minha última carta na manga. - Se ele tentar qualquer coisa você pode agir de imediato. E isso é para um bem maior. Se tivermos boas pistas sobre o paradeiro desse Mestre podemos destruir esse mal mais cedo do que esperamos!

Percy suspirou e olhou de mim para o garoto e novamente para mim como se calculasse as possibilidades do que poderia acontecer. Passou as mãos freneticamente pelos cabelos e olhou para Annie como se buscasse uma terceira opinião. Encarei Annie esperando que ela estivesse do meu lado.

— Essa missão é dela, Cabeça de Algas. - Annabeth afirmou e acariciou a face do namorado para acalma-lo. - Devemos deixar que ela consiga suas próprias informações. Sei que ela é capaz!

— Tudo bem, vocês me conveceram como sempre! - Ele murmurou derrotado e apontou o dedo em riste para mim com as sobrancelhas erguidas. - Mas eu vou estar de olho, mocinha!

— Sim, senhor! - Revirei os olhos e lancei um silencioso “Obrigado” para Annie que apenas piscou cúmplice e passou a conversar animadamente com meu irmão. Apressei o passo e logo me vi ao lado de Arthur que me olhou de soslaio brincalhão.

— Seu irmão é meio superprotetor, não? - Ele me olhou de cima a baixo como se me avalisasse e abaixei o rosto, compleramente corada por seu olhos intensos. - Quantos anos você tem, cinco?

— Como sabe que ele é meu irmão? - Interroguei-o com as mãos nos quadris e o rosto voltando ao normal. Arthur sorriu como se tudo fosse óbvio diante de seus olhos azuis.

— Pelo jeito que ele fala com você eu fiquei em dúvida entre irmão ou namorado, mas acho que a loirinha já ganhou esse segundo título. - Ele apontou com o polegar para o casal as nossas costas e vi os dois conversando contentes, Percy totalmente esquecido de sua promessa de 'manter os olhos em mim'. Grande irmão protetor! Voltei os olhos para o garoto ao meu lado que encarava o céu azul pensativo com a mão sob o queixo e logo se voltou para mim. - Mas se eu fosse chutar quem seria seu namorado colocaria minhas apostas no irritadinho emo que está dando uma de líder da fila.

— Nico? - Arregalei os olhos supresa o que fez Arthur cair na risada acenando afirmativamente com a cabeça. Controlei o salto em meio peito, mas fiz minha melhor cara de desinteressada. - Pois você perderia feio sua aposta. Eu e Nico não passamos de amigos, muitas vezes nem isso! Nossa relação é bastante...

— Complicada? - Ele completou e eu concordei. O garoto deu de ombros com um sorriso de lado. - Eu entendo...

Caminhamos em silêncio por um tempo. Eu imersa nos mais diversos pensamentos sobre as razões de todos me verem junto com Nico sendo que o que eu mais buscava era distância para controlar certos sentimentos. Ignorei tudo o que queria aflorar dentro de mim ao repassar aquela manhã novamente e encarei Arthur que parecia inquieto olhando de vez em quando para o meu braço ainda dormente com certa culpa. Ele suspirou, usando toda a sua coragem.

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— Como está o seu braço?

— Como você deve ter ouvido da conversa com meu irmão o ombro não dói mais, porém meu braço está completamente dormente. Mas não precisa se preocupar, é apenas efeito...

— Acho que posso fazer algo para ajudar. - Ele me interrompeu e levou a mão até meu ombro apertando calmamente e me olhando nos olhos. - Dói?

— Não. - Ele continuou a apertar algumas partes diferentes do braço e eu sempre dava a mesma resposta. - Já disse, não está mais doendo, só está parecendo um peso morto!

— Eu posso melhorar. - Ele me encarou intensamente e coçou a nuca repentinamente desconcertado. - Mas preciso da sua permissão.

Pelos seus olhos era quase como se perguntasse “Você confia em mim?” e eu percebi que confiava. Afirmei com um simples movimento e estiquei o braço para ele que segurou-o com as duas mãos e me olhou nos olhos, agora como um pedido de desculpas. “Espera aí, desculpas pelo...?”. Não consegui terminar o pensamento, apenas vi suas mãos puxarem meu braço habilmente e o som de osso contra osso encheu meus ouvidos e se reverberou por meu corpo enquanto uma dor aguda e poderosa latejou dentro de mim. Não deu tempo de gritar, foi tudo rápido demais. Em um piscar de olhos Arthur estava com as mãos encaixadas nos bolsos da calça me olhando cauteloso e eu segurava bravamente as lágrimas que queriam inundar meu rosto. Olhei para o garoto com os olhos ardendo.

— Você.... você.....

— Eu coloquei seu ombro no lugar. - Ele respondeu tranquilamente e me encarou como um verdadeiro especialista. - Agora sua ambrosia vai fazer efeito bem mais rápido e a dormência deve cessar em 3...2...1....

— Você... - Estava prestes a gritar que ele era completamente maluco e que a dormência continuava agora acompanhanda de uma dor terrível até que não senti mais nada. Olhei para o meu braço como se ele fosse um extraterrestre, a dor e toda a dormência haviam realmente sumido. Ergui os olhos para Arthur abismada. - Você está certo. Como..... como você sabia?

— Sua ambrosia é, literalmente, um santo remédio, mas a cura de um osso é algo bastante demorado até mesmo para sua plantinha milagrosa, usando-a, a melhora de cem por cento deve se dar em umas duas horas. A ambrosia já havia curado a sua dor, mas o osso ainda estava deslocado mesmo que você não mais sentisse. Por isso o sentimento de anestesia e dormência. - Ele me explicava com paciência, como se aquilo fosse óbvio. O que não era! Eu não conseguia fechar a boca de espanto. - Colocando o ombro no lugar agiliza o processo de cura. Agora sim você estará pronta para derrotar “caras desconhecidos em florestas” muito mais rápido!

Ele riu de sua piada, mas eu não o segui e continuei perplexa. Olhei para trás, mas Percy continuava entretetido em sua conversa com Annie, tanto que nem percebeu que meu osso havia acabado de ser deslocado para o lugar certo. Voltei os olhos para Arthur e baixei a voz para um quase sussurro o que fez o garoto de aproximar de mim para poder ouvir com clareza.

— Você é um fiho de Apolo ou o que? Como sabe tanto sobre nosso principal remédio?

— Eu já disse, não sou semideus. - Seus olhos escuros encontraram os meus e ele sussurrou ainda mais baixo. - E também não sou um mortal que vê através da névoa. E antes que pergunte, sei muito bem do que estou falando porque conheço bem essas duas espécies,já estudei bastante sobre elas.

— Espera, como assim? - Segurei firmemente o braço de Arthur como se ele fosse escapar a qualquer momento sem me dar uma explicação melhor, mas ele apenas caminhou ao meu lado calmamente desviando os olhos para os meus com frequencia. - Então o que você é?

— Eu.... não posso dizer. - Ele concluiu com um simples movimento de ombros o que fez meu coração gelar de frustração e raiva.

— Você pode sim! - Vociferei no tom mais baixo que consegui o que funcionou já que ninguém se voltou em nossa direção. Provavelmente se alguém nos ouvisse e passasse a fazer perguntas mais invasivas, Arthur se fecharia completamente e eu ainda tinha esperança de mais informações. - Eu confiei em você, fiz os outros te aceitarem como companheiro de viagem e você mentiu para nós!

— Eu não menti. - Agora foi a vez dele segurar meu braço acreditando que eu sairia de seu lado na primeira oportunidade. Seus olhos buscavam os meus com súplica. - Nunca confirmei que era um mortal com a visão, vocês tiraram suas próprias conclusões. E eu não menti sobre o rapto, a caverna ou sobre o tal Mestre.

— Mas você sabe muito mais do que revelou, não é? - Questionei com os olhos queimando nos dele. Arthur abaixou a caveça e afirmou levemente o que só fez minha raiva aumentar. - Você não disse nada para negar nossas conclusões! Porque não pode me dizer quem você é?

— Porque estou além de um simple mortal! - Ele sussurrou exasperado e cansado, como se houvesse muito mais naquelas simples palavras. - Vocês não compreenderiam, não agora.

— Tente! - Ergui as sobrancelhas imperativa. - Me considero uma pessoa bastante inteligente.

— Não é algo que dependa de inteligência! Trazer essa revelação à tona agora apenas tiraria o foco de vocês da missão. - Ergui ainda mais a sobrancelhas e Arhur voltou a falar antes que eu o interrompesse com mais algum pergunta. - Sim, eu sei que vocês estão em missão e sei que precisam estar totalmente focados nela para poderem conclui-la.

— Parece que você sabe bastante sobre nós. Estamos em desvantagem de informações.

— Não tenha tanta certeza. - Ele suspirou. - Provavelmente o sábio do seu povo também deve saber bastante sobre meu povo, mas informações assim não são espalhadas para todos. Muitos dos meus não sabem nada sobre vocês. Eu sou meio que uma exceção. E agora entendo que deve ser o destino de vocês derrotar o Mestre já que ele pode trazer destruição não apenas para o mundo dos semideuses como também para o meu mundo.

— Então você sabe quem é o tal Mestre? - Perguntei mais como uma afirmação. - E provavelmente esta é mais uma informação valiosa que você não pode compartilhar?

— Sim, eu sei o que ele é. - Arthur encolheu os ombros e negou tristemente. - Mas não, não posso revelar seu nome. Primeiro, não sei se vocês ao menos saberiam quem ele é e segundo, se soubessem, isso poderia mudar todo o destino. Saber o nome dele pode tornar a futura vitória de vocês em derrota ou diminuir as chances de que todos saiam vivos. É para isso que servem as missões, não é? Guia-los pelo caminho certo, mesmo que seja o mais longo.

— Tudo bem, você tem um ponto que faz certo sentido. - Concordei emburrada. Fazia sentido que sempre começássemos uma missão com chance de vitória e é provável que Delfos revelasse apenas o necessário para que chegássemos a esta vitória. Saber o nome do ser poderia mudar tudo. Minha cabeça girava e quase me senti em uma espécie de Flashpoint, mas ergui os olhos para Arthur. - Então não há nada mesmo que você possa revelar? Alguns pequenas pistas seriam de grande ajuda.

— Acho que o que posso dizer é que não é a primeira vez que este ser tenta ressurgir para o mundo mortal. - Os olhos dele eram apreenssivos. - Saibam que ele fará de tudo para que dessa vez dê certo, não o subestimem de forma alguma!

— Disso eu sei! - Afirmei convicta e Arthur me encarou curioso. - Ele já tentou me matar mais vezes do que posso contar!

— Como assim?

E acabei por contar a ele sobre as diversas tentativas do tal Mestre de me matar e, por último, me raptar. Arthur era um ótimo ouvinte e permaneceu calado durante todo o relato. Quando terminei ele apenas me olhou sério e declarou.

— Isso é estranho....

Então o silêncio reinou. Arthur pareceu se perder em pensamentos enquanto eu apenas caminhava calada me perguntando porque confiara naquele garoto de forma tão rápida. Eu sempre fui fechada e cautelosa sobre o que falaria da minha vida e passei dias para revelar até mesmo para Percy tudo o que me aconteceu, mas Arthur conseguia tirar tudo de mim com apenas um olhar. Como ele fazia isso? Passou-se um certo tempo até que ele voltasse a conversar comigo, agora sobre amenidades: cor favorita, gêneros de filmes, etc. Caminhando ali lado a lado com sorrisos fáceis estampados no rosto parecíamos apenas amigos normais conversando no meio da floresta, como se tivéssemos uma vida normal e saber que série estava atrasada fosse nossa maior preocupação. E mesmo que aquela vida passasse a léguas de mim, gostei de me sentir normal por pelo menos alguns minutos e Arthur parecia compartilhar do mesmo sentimento como se sua vida tivesse sido normal no passado e agora estivesse completamente de ponta cabeça. Encarei o caminho a frente vendo a trilha se alargar, larga o suficiente para que não precisássemos mais andar em fila. Percy ainda estava as nossas costas junto com Annabeth, mas um pouco mais distante do que antes enquanto Piper e Jason caminhavam lado a lado próximo a nós. Supresa percebi que eu e Arthur estavamos a direita e a poucos metros de Nico que tinha seus olhos queimando sobre mim. Afastei meus olhos do filho de Hades, não havia motivo para toda aquela carranca, e foquei na conversa super interessante com o garoto ao meu lado.

— Ok, minha vez de perguntar. - Pensei um pouco enquanto Arthur permaneceia na expectativa. - Onde você nasceu?

— Brasil, mas me mudei para os Estados Unidos com dezesseis anos e estou aqui à quatro anos.

— Eu também sou do Brasil! - Exclamei supresa e Arthur pareceu me analisar de uma forma completamente diferente depois dessa revelação. - Deve ser por isso que você me parece tão familiar. Será que já nos vimos por lá?

— Você também me é bastante familiar. - Ele aproximou o rosto do meu ouvido fazendo um arrepio subir por minhas costas involuntariamente. Sua voz pareceu veludo sobre minha pele. - Mas eu lembraria se tivesse a visto em algum lugar. Não são todas as garotas que possuem olhos tão verdes e encantadores.

Senti minhas pernas bambearem com as palavras dele e quase tropecei em um grande tronco que surgiu caído no meio da trilha se Arthur não tivesse segurado minha cintura rapidamente, prendendo-me no lugar e entre seu braços.

— Olha por onde anda!- Ele me alertou brincalhão ainda com as mãos em volta de mim

Desviei meus olhos do azul intenso de Arthur com as bochechas queimando de vergonha e de relance vi Nico cerrar os punhos com os olhos intensos sobre mim. Dessa vez tive cuidado de desviar meus olhos para o chão para não acabar topando com mais nenhum olhar intenso sobre mim. Me afastei de Arthur e criei coragem para erguer o rosto novamente e vi um sorriso divertido brincar nos lábios do garoto provavelmente por causa do meu embaraço. Me recompus pronta para pular o tronco e seguir caminho até ver Jason ao meu lado tocando no tronco e se voltando para Piper com cautela.

— Essa árvore não caiu naturalmente, mas fui derrubada. - Ele falou alto o suficiente para que todos ouvissem. Caminhou alguns passos até chegar na raiz, marcas de garras enormes se destacavam no lugar. O filho de Júpiter encarou todos os rostos ao redor sem dizer uma palavra. No fim não era necessário, todos já sabiam o que aquilo significava. Monstro. O loiro juntou as mãos e respirou fundo. - Ok, vamos continuar o caminho e tentar chegar o mais rápido possível no fim dessa floresta, mas atenção redobrada. O que causou isso ainda pode estar por perto.

Todos assentiram e pularam o tronco aos poucos seguindo a trilha do outro lado com apreenssão. Nico desembainhou a espada enquanto Annie e Piper revelaram adagas afiadas. Encarei Arthur ao meu lado que tentava manter a determinação no rosto, mas parecia ansioso. Seus olhos se cruzaram com os meus ao perceber que eu o encarava.

— Tudo bem, que tal a gente continuar com as perguntas? - Ele indagou e ergui uma sobrancelha confusa. Estávamos em alerta total e ele queria jogar? Arthur engoliu em seco e explicou. - Isso me distrai bastante quando estou nervoso.

— Você passou um mês fugindo de monstro, lutou esplendidamente bem contra mim e ainda assim está nervoso com a possibilidade de um monstro aparecer.

— Fugir de monstros não é a mesma coisa que lutar contra eles e, isso pode te surpreender, mas no meu povo não sou considerado um guerreiro. Sou mais o bibliotecário, o cara que estuda, não o que luta, a inteligência, não a força. Sim, tenho treinamento até porque isso é meio que uma regra e sei me virar em uma luta, mas é essa expectativa que me mata! Não suporto o suspense...

— Ok, então vamos as perguntas. - Pensei um pouco tentando manter a maior parte do meu foco na floresta ao meu redor e em qualquer movimento estranho até uma pergunta aparecer em minha mente. - O que aconteceu com sua espada?

Ele pensou um pouco, analisando se aquela era uma das coisas que poderia revelar e deu de ombros.

— Ela foi parar em outra dimensão. - Ele falou isso de forma tão séria e despreocupada que eu tive que segurar a risada. Aquele garoto só podia estar brincando! Mas pela sua expressão firme ele acreditava mesmo naquela história – É sério, Eduarda! Ela fica guardada lá até eu precisar dela novamente. Simples e muito mais seguro do que transforma-la em um frágil pulseira.

Ele encarou a pulseira em meu braço com um sorriso superior e eu revirei os olhos.

— Tudo bem. - Dei de ombros tentando agir normalmente diante do cara que acredita em outra dimensão. - Isso vai entrar para a lista de “Coisas que eu vou entender em um futuro distante.”

— Certo, mas agora é minha vez. - Ele falou e prendeu a respiração quando algumas plantas a nossa frente se mexeram até revelar um esquilo subindo na árvore em disparada. Arthur voltou a relaxar e olhou para mim com seu típico sorriso curioso. - Como você sabe falar egípcio?

Me voltei para ele com uma expressão de completa confusão.

— Egípcio? Eu não....

Mas um som alto retumbou pela floresta me impedindo de continuar. Todas as conversas cessaram fazendo a floresta cair em um silêncio sepucral. Até mesmo os pássaros e o vento pareceram se calar a medida que o som de passos aumentava. Olhei para minha direitaa de onde o som parecia aumentar cada vez mais. Senti Arthur me puxar para o mais distante possível de onde vinha o som e ouvi sua voz, agora determinada e irônica com o fim do suspense.

— Isso com certeza não é um esquilo.

Retirei o tridente da pulseira e rapidamente Tríaina apareceu confortável em minha mão. Um pequeno sorriso despontou por meus lábios ao ver Arthur preparado para lutar enquanto todos os outros pareciam se postar ao nosso redor.

— Você acha? - Zombei até ver algo surgir do meio das plantas.

Um ser que eu nunca imaginaria nem nos meus piores pesadelos. E a última coisa que ouvi foi um sussurro assustado de Arthur antes que o ser se pusesse totalmente em nossa frente.

— Aljaridiaan Serket!

E o mais estranho foi eu entender totalmente o que ele dizia....

O guardião de Serket.