Real world

Capítulo 37 -Narrado por Luke (parte 2)


Enquanto minhas mãos passeavam pela prateleira do mercado, vi que meus dedos estavam gélidos. Minhas mãos, trêmulas. Respirei fundo. Eu só iria fazer um pedido de namoro. Só isso.

—Que droga de nervosismo é esse, Luke? –Nathan resmungou do meu lado, quando eu peguei uma vela e ela acidentalmente caiu no chão. –Fica frio, cara.

—Eu não estou nervoso.

—Sou eu quem estou. –ele riu e balançou a cabeça. –Qual o próximo item da lista?

Li a folhinha que Nina havia me dado.

—Hã, nossa que letra péssima. Lê aqui, já que você deve ter lido umas cem cartas que ela mandou pra você. –falei e entreguei a lista á Nat.

Ele mostrou seu dedo do meio para mim e leu o item.

—Incensos. E também flores. Chocolates. Balões em forma de corações. –Nathan olhou pra mim, sobrancelhas arqueadas.

—Foi ideia da Nina.

—Quer surpreender tanto a Sophia assim?

—Eu quero que ela volte pra mim, apenas. Nem que seja preciso eu me vestir de princesa Anna ou de Olaf. E, acredite, Nina deu essa ideia.

—Você sabe que do jeito que Sophia é, ela aceitaria seu pedido sem ter que ter tudo isso. Ela parece ser o tipo de garota que aprecia as coisas mais simples.

—Mas eu quero que seja grandioso. Só isso.

—Tudo bem. Próxima parada, incensos com cheiro de jasmim. –ele falou e sacudiu a cabeça, como se não estivesse acreditando naquilo que estava fazendo.

Depois de comprarmos tudo o que estava na lista, nos dirigimos até o caixa.

—E para onde levaremos tudo isso? –Nathan perguntou.

—Nina disse que seria bom ser na casa dela. Os pais trabalham até tarde e é fácil levar Sophia até lá. –expliquei.

—Então a partir daqui você vai fazer as coisas sozinho. –ele falou e paguei á mulher do caixa.

Saímos do supermercado e nos dirigimos até meu carro.

—Sabe, Nathan, vocês deveriam conversar sobre isso. –opinei.

—Sobre isso o quê?

—Cara, tudo bem que o término de vocês não foi por uma boa causa... –falei e ele me fuzilou com o olhar. –Mas não acho que vocês devam se evitar para sempre. Sejam amigos, cara.

—Só dirige, Lucas. –ele resmungou e fechou a cara.

Tudo bem, eu tinha sido um filho da puta por ter beijado Nina. Mas, bem, ela estava bêbada e me agarrou. Eu empurrei ela o mais depressa que pude, mas não pude deixar de ver que ela tinha até uma pegada gostosa. Eu sei que Nathan não ia falar nunca, mas acho que ele sempre teria uma raiva de mim. Ele era ou é, apaixonado por Nina. E eu fui um merda por ter feito isso com ele. E aqui estava ele, me ajudando a conquistar uma garota. Eu não o merecia como amigo.

—Ei cara, não mereço um amigo como você. Sério mesmo. –falei, e ele olhou pra mim, surpreso.

—Posso saber o por quê?

—Depois de tudo o que fiz com você, você ainda vem me ajudar e tal. Sempre está lá quando preciso. E como eu agradeço? Pegando sua namorada.

—Não foi sua culpa. Ela estava bêbada.

—Eu sei que você sempre vai ter algum ressentimento. Eu teria, no seu lugar.

—Você sabe que eu não sou esse tipo de pessoa, Luke. Você é como um irmão pra mim, principalmente agora morando lá em casa. Não diga que tenho ressentimento de você, porque não tenho. Juro.

Olhei ele de lado, ele não parecia estar mentindo.

—Como você consegue ser assim, cara? –perguntei, exasperado.

—Nem eu sei. Apenas sei que não é justo ficar guardando rancor de você, nem de ninguém. Isso só me fará mal. Então, simplesmente esqueço.

—Só queria ser igualzinho a você.

—Não, nem teria graça. Cada um tem suas particularidades, Lucas. A sua é... –ele fingiu pensar.

—Você é muito otário. –falei e nós rimos. –Então, já que você não guarda rancor, vamos para a casa de Nina.

—Eu não guardo rancor dela. Apenas não me sinto bem no mesmo lugar em que o atual dela e ela vão estar. Digamos que eu ainda gosto dela um pouquinho. Não queira que eu passe por isso.

—Tudo bem. –falei e o deixei em casa, antes de me dirigir até a casa de Nina.

Assim que cheguei lá e fui até o andar de seu prédio, senti um gelo no estômago. Caramba, eu estava muito nervoso.

Apertei a campainha e quem veio atender foi Rafa.

—Cara, a Sophia não quer vir para cá de jeito nenhum. Ela está dando mil desculpas, mas tenho certeza que tem a ver com Brian. Ou eles vão sair hoje, ou o fato dele ter dito umas coisas para ela a deixou confusa. –ele falou enquanto eu jogava as coisas em cima do sofá.

—Diga pra a Nina inventar que... sei lá! Vocês brigaram e ela precisa da ajuda dela.

—Hey! É uma ótima ideia. –o rosto de Rafa se iluminou. –Amor, tive uma ideia! –ele falou e entrou dentro de um cômodo que eu previ que seria o quarto dela.

Minutos depois, Nina apareceu na sala toda sorridente.

—Ela vem. –anunciou. –Disse que chega daqui a meia hora. Então vamos começar a arrumar.

Eu e Rafa pegamos os balões e começamos a encher de gás hélio. Nina despedaçou algumas pétalas e colocou no chão, como se fosse uma trilha.

—Assim que ela entrar e ver isso, ela vai seguir até meu quarto, onde você vai estar. Beleza? –ela instruiu. –Coloquem os balões lá.

Assentimos e colocamos os balões dentro do quarto dela, que começaram a flutuar.

—A trilha está feita. Vou dar uma arrumada aqui no meu quarto. Cadê o ursinho?

—Dentro da sacola. Achei um pequenininho lá no supermercado.

—Dá certo. É apenas simbólico. –Nina parecia mais nervosa do que eu.

—Os chocolates?

—Estão lá dentro também.

—E o buquê?

Arregalei os olhos. Esqueci o principal.

—Você só pode estar brincando! –ela gritou, irritada. –O buquê é o principal, caramba!

—Calma, tem uma floricultura aqui perto. –falei e corri para fora do apartamento dela.

Entrei no meu carro á mil por hora. Chegaria algumas multas para meu pai pagar, mas não ligava.

E, para azar meu, não havia floricultura por ali.

—Que merda de rua é essa que não tem uma floricultura? –exclamei, totalmente irritado.

Então lembrei de uma que tinha perto da escola. Botei o pé no acelerador e atravessei todos os sinais vermelhos possíveis.

Por sorte, ainda estava aberto.

Por azar, começou a chover. Forte.

Saí do carro me protegendo da chuva e torcendo para que ainda estivesse realmente aberto. E estava.

—Faça um buquê das flores mais bonitas que tiverem aqui, por favor. –pedi a balconista, que sorriu e pôs as mãos á obra.

Olhei no meu relógio de pulso e vi que Sophia chegaria em menos de 10 minutos na casa de Nina, caso não chegasse antes.

—Merda. –xinguei baixinho.

O buquê ficou pronto mais rápido do que eu pensava.

Paguei e corri para o meu carro. A chuva só havia aumentado, fazendo com que a rua estivesse cheia de poças de água.

Ao chegar de frente á minha escola, meu carro parou abruptamente.

—Ah não, não, não. –xinguei e tentei liga-lo novamente, sem sucesso. O motor havia morrido.

Dei alguns socos no volante, de frustação. Sempre que eu tento ser romântico, algo dá errado.

Peguei meu celular e disquei o número de Nina.

LIGAÇÃO ON

O maldito carro morreu de frente á escola. –informei, minha voz tremendo de raiva.

Não adianta mais você vir. Ela falou que não vem mais.—ela disse e senti um aperto no coração. –Sinto muito, Luke. Fiz tudo o que pude. Ela falou que vai estudar.

—Tudo bem. Eu entendo. –falei e ela suspirou.

Eu vi que você realmente queria algo. É só tentar outro dia... Se quiser, guardo as coisas.

—Faça isso então, por favor. –pedi e ela desligou.

LIGAÇÃO OFF

MERDA. MERDA. MERDA.

O pior de tudo é que eu sentia que ela estava com Brian. Eu a perdi.

Ao longe, vi relâmpagos rasgarem o céu. Como a rua estava muito deserta, decidi entrar na escola. Afinal, hoje era dia de um curso lá, e eu não ficaria sozinho até o guincho vir pegar o carro.

Desci do carro, levando as flores. Iria jogá-las no primeiro lixo que eu visse pela frente, uma vez que elas murchariam daqui para amanhã e não as daria para Sophia todas murchas.

Entrei na escola, dizendo que iria ensaiar na sala de música e por lá fiquei. Liguei para o guincho, que disse que por conta da chuva, chegaria apenas daqui a uma hora.

As flores, depois de um pouco de chuva, começaram a meio que se despedaçar. Elas estavam refletindo meu humor.

Olhei de relance para o canto da sala e vi um violão. O peguei e comecei a tocar acordes aleatórios, de diferentes músicas.

Uma me veio á cabeça, a preferida de Sophia, e decidi tocar ela. Não sabia muito bem a letra decorada, mas sabia improvisar.

Como havia uma pasta com a cifra dela, comecei a dedilhar o início dela.

Cantei os primeiros versos até direitinho, e ao chegar no refrão, não pude deixar de lembrar do meu primeiro beijo com Sophia. Por conta de puro impulso, beijei-a debaixo de uma intensa chuva, assim como a de hoje, e desde aquele dia não a esqueci. Beijava outras bocas, mas sempre lembrava dela. Tudo remetia a ela. Eu, que sempre prezei liberdade, estava louco para me prender á uma só garota. Ela entrou, bagunçou tudo dentro de mim e agora queria sair de fininho, como se nada tivesse acontecido.

—Droga, Sophia! –falei, frustrado.

—O que eu fiz? –uma voz perguntou atrás de mim e, ao me virar, me deparei com Sophia, toda encharcada por conta da chuva.

Engoli em seco. A noite inteira queria estar de frente a ela e dizer o quanto a queria. E agora que meu desejo foi realizado, não sabia o que dizer.

Ela parecia ansiosa e ao mesmo tempo parecia querer chorar.

Engoli em seco.

Era agora ou nunca.

Continua...