Real world

Capítulo 36


Foi difícil ouvir a voz de Luke e não olhar para trás. Foi difícil, foi duro. Mas consegui resistir a tentação de voltar e abraçar ele. Eu só queria sentir seu abraço mais uma vez, só mais uma. Como uma despedida.

Mas eu não iria ter isso. Tinha de ser forte, como Nina disse. Nos primeiros dias seria um saco, mas passava. Tudo passa.

A aula de música foi a pior parte do dia. Eu tinha que olhar de vez em quando para ele e, quando fazia, lá estava ele me encarando de volta.

Hoje não ensaiamos em duplas. Cada um foi destinado a ficar em uma parte da sala, ensaiando alguma música sozinho, enquanto o professor ia de um em um para analisar quem tinha mais potencial. Na verdade, pelo o que ouvi de umas garotas, o professor estava fazendo isso por que algumas duplas tinham uma pessoa com muito potencial, enquanto que a outra servia como um tipo de peso-morto. Então ele estava fazendo isso para dividir novamente as duplas, deixando as pessoas com mais potencial fazendo par com alguém de mesmo nível.

Eu não tinha a mínima ideia do que ia cantar, então fiquei ouvindo o que ele dizia aos outros candidatos.

Quando Kaio parou de cantar e tocar ao violão, o professor disse que ele deveria treinar mais, porque a voz ficava dessincronizada com o toque. Se ele colocou defeito em Kaio que tocava e cantava divinamente bem, imagine em mim.

Observei enquanto ele passava de um em um. Estava ficando cada vez mais nervosa.

Olhei com atenção quando o professor se dirigiu até Luke. Ele parecia descontraído, mas vi seu maxilar se tencionar quando ele pegou o violão. Quase enlouqueci ao ouvir o dedilhar dos seus dedos tocarem a introdução de pillowtalk.

—I'm seeing the pain, seeing the pleasure (Eu estou vendo a dor, estou vendo o prazer)

Nobody but you, 'body but me (Ninguém além de você, ninguém se não eu)

'body but us (Ninguém, mas nós)

Bodies together (Corpos juntos)

I'd love to hold you close, tonight and always (Eu adoraria te abraçar, hoje e sempre)

I'd love to wake up next to you (Eu adoraria acordar ao lado de você)

I'd love to hold you close, tonight and always (Eu adoraria te abraçar, hoje e sempre)

I'd love to wake up next to you (Eu adoraria acordar ao lado de você)

Pode ter sido minha imaginação, mas quando ele cantava, ele lançava olhares para mim. E isso me deixou com raiva. Depois de tudo que havia feito, ele ainda achava que poderia me conquistar com uma droga de uma música sobre sexo?

O professor falou poucas coisas que Luke poderia melhorar. Disse que ele era o jovem mais promissor dali. Creio eu que ninguém estava ouvindo, já que ninguém disse nada. Somente eu estava ouvindo, e iria desbancar aquele sorrisinho que estava estampado na cara de Luke.

—Professor, eu estou pronta. –falei e ele se direcionou até mim.

—Mostre-me do que é capaz, Sophia. –ele disse, em tom de desafio.

—Não tenho nada para me acompanhar, então será somente minha voz. –expliquei e ele assentiu.

A primeira música que veio á minha cabeça foi One Wish, da banda Fifth Harmony. Não pensei duas vezes e comecei a cantá-la.

Woke up to the same old oh-oh (Acordei a mesma velha oh-oh)

Heart break 'cause it won't let go-oh (Coração partido porque ele não me deixa ir oh)

Six weeks and I still don't know (Seis semanas e eu ainda não sei)

Who or where we went wrong (Quem ou onde nós erramos)

Lovesick and I feel so oh-oh (Apaixonada e eu me sinto tão oh-oh)

That's it gotta let you go-oh (É isso aí, tem que deixa-lo ir oh)

All good but I still don't know (Tudo bem, mas eu ainda não sei)

Who or where we went wrong (Quem ou onde nós erramos)

One thousand hours (Mil horas)

Thirteen minutes (Treze minutos)

Twenty seconds (Vinte segundos)

I finally went and did it ( Eu finalmente fui e fiz isso)

It's about time (Trata-se de tempo)

I finally got over you (Eu finalmente superei você)

Oh, I wish (Oh, eu desejo)

I wish you the best you freaking useless (Desejo-lhe o melhor, você é inútil pra caramba)

If I only ever had one wish (Se eu tivesse apenas um desejo)

Just one wish, I wish I could (Só um desejo, eu desejaria que eu pudesse)

Go back (Voltar)

I'm so over everything we had (Eu estou tão cheia, tudo o que nós tínhamos)

But if I only ever had one wish (Mas se eu tivesse só um desejo)

Then I wish I've never met you at all (Então eu desejaria nunca ter te conhecido)

I wish I've never met you at all (Desejaria nunca ter te conhecido)

Quando terminei, o professor me encarava, boquiaberto. Algumas pessoas sorriam pra mim, como se elogiassem em silêncio. Kaio fez “joinha” pra mim.

—Muito bem, Sophia. Me surpreendeu, como já era de se esperar. –o professor disse e eu sorri.

—Obrigada.

—Só tem que aprender a tocar algum instrumento. Será uma artista completa com um violão.

—Tentarei aprender algo.

—Você é bastante promissora. Espero que não mude nunca.

Assenti e ele se direcionou á uma garota que estava do outro lado da sala.

Quando ele saiu da minha frente, vi que Luke me encarava, com um sorrisinho no rosto. Irritante, de fato.

Mandei um sorriso triunfante de volta e ele balançou a cabeça, sorrindo sarcasticamente.

Desviei o olhar. Seria muito mais fácil se eu fingisse que ele não existia.

—E aí, o que achou? –Kaio perguntou e se sentou ao meu lado.

—Não sei. Ele disse que sou bastante promissora e que tenho que aprender a tocar algo.

—O que acha de eu te ensinar a tocar violão?

—Bem, eu já sei algumas notas... –falei e ele sorriu.

—Mas em troca vou lhe cobrar um favor.

—Justo. –respondi. –Qual é?

—Você tem que me ajudar a conquistar uma certa pessoa... –ele disse e baixou a cabeça, envergonhado.

—Huum, quem é a sortuda? –perguntei, sorrindo.

—Na verdade, não é... –antes que Kaio pudesse concluir a frase, o professor bateu palmas no meio da sala, chamando nossa atenção.

—Atenção, alunos! –ele falou. –Já avaliei todos vocês e já decidi como serão as duplas de agora em diante. Aguardem apenas um momento, enquanto anoto os nomes em uma folha, que eu os direi em voz alta.

Kaio se virou pra mim, sorrindo nervosamente.

—Você acha que ainda continuaremos sendo uma dupla? –perguntou.

—Não sei. Tem pessoas muito melhores aqui pra você. –respondi e ele balançou a cabeça.

—É bem mais fácil você ter pessoas melhores do que eu. Você canta incrivelmente bem. Impressiona a todos com sua voz.

—Não seja tão exagerado... –falei e ele riu. –Então, o que você ia me dizer mais cedo?

—Bem, não é uma sortuda que eu quero conquistar, se é que me entende... –ele falou e desviou o olhar do meu, como se tivesse vergonha.

—Não tenha vergonha. –falei e levantei seu queixo com minha mão. –Ser homossexual não é motivo pra vergonha.

—É que muitas pessoas não entendem.

—Mas eu sim. E as pessoas que não entendem não passam de idiotas com cocô de passarinho na cabeça. Você é uma pessoa assim como o resto do mundo, a sua opção sexual não te faz diferente de ninguém. Agora, me diga quem é o sortudo.

—Eu soube de algumas pessoas que ele é bissexual e tal, então queria saber se tenho chance.

—Quem é? –insisti.

—Aquele zagueiro do time da escola. Nathan.

Fiquei surpresa. Nunca havia ouvido falar que Nathan, o ex namorado de Nina, fosse bissexual. Sério mesmo.

—Sophia? –Kaio chamou minha atenção.

—Desculpe. Não sabia que Nathan era bissexual. Na verdade, ele já namorou uma amiga minha e tal.

—Você acha que mentiram para mim?

—Não sei. Vou ver o que consigo descobrir. –o assegurei e ouvi o professor chamar a atenção de todos novamente.

—Assim que eu chamar os nomes, cada dupla vá para um local diferente para se conhecerem ou até baterem um papo. Tudo bem? Ok, vamos lá. –ele falou e pegou a folha. –July e Katie. Brandon e Cindy. Andrew e Kaio...

Kaio, que estava do meu lado, se levantou e foi para o local onde sua dupla estava. Eu estava apreensiva.

—Gaby e Nouah. Mary e Gustav. Samuel e Bob. John e Samantha. Bricya e Camilla. Gabriel e Lauren. Lucas e Sophia. –assim que saíram essas palavras da boca do professor, tive vontade de gritar o quão injusto era. Ah, qual é! Só podia ser brincadeira.

Me levantei e fui para o local mais afastado que eu havia achado. Luke chegou lá minutos depois.

—Parece que o destino insiste em nos unir, não é? –ele disse, brincando.

—Por isso que odeio esses negócios de destino e acaso. –falei e cruzei os braços, procurando prestar atenção em qualquer outra coisa, menos o fato de estar tão próxima de Luke.

—Você sabe que devemos deixar nossas desavenças para trás, se queremos ganhar esse show de talentos.

—Eu nem queria ganhar tanto assim...

—Mas eu quero. E se o professor nos colocou juntos, é por que acredita que somos bons candidatos. –ele falou e eu o encarei. Seus olhos eram realmente tão bonitos. E seu sorriso tão provocante. Droga. –Precisamos agir como uma equipe.

Fiquei em silêncio por uns instantes. não adiantava querer fugir de Luke agora. Eu tinha que aturá-lo, pelo menos até o show de talentos. Eu havia dito que não queria ganhar o concurso, mas na verdade eu queria. E muito. O prêmio era uma bolsa de estudos para uma faculdade de música em Boston, nos EUA. Eu tinha que ganhar.

—Não sei tocar nenhum instrumento. –falei, por fim.

—Se quiser, posso ensinar violão para você.

Só de pensar nas mãos dele perto das minhas, seus braços circundando meus ombros, me arrepiei. Não seria uma boa ideia.

—Kaio já irá me ajudar com isso. –respondi.

—Como quiser. –ele falou e pareceu desapontado. Problema dele, é claro. Ele que fez o que fez comigo. O motivo de eu estar tão fria com ele, foram seus atos.

Nos encaramos por cerca de 5 minutos, quase sem piscar. Eu gostava tanto dele. Tanto. Mas não podia me entregar novamente.

O sinal tocou, interrompendo nossa conexão.

Peguei minha bolsa e saí o mais rápido que pude da sala de música.

Na saída, acabei trombando com Brian. Meu ônibus não havia chegado, então decidi que poderia conversar com ele um pouco. Ao longe, avistei meus amigos (Rafa e Nina) quase se comendo em cima do capô do carro dela. Pelo que parece, hoje iria de carona (uhu!).

—Estive procurando por você o dia todo. –ele falou e me deu um beijo na bochecha. Ele pareceu tão feliz ao me ver que senti uma pontada em meu coração. Ele realmente gostava de mim, e eu não gostava nem um pouco dele.

Forcei um sorriso.

—Estive ocupada o dia inteiro. –“Chorando pelos cantos”, completei mentalmente.

—Entendo. Vamos sair hoje á noite?

—Não posso. –respondi rapidamente. –Tenho que cuidar dos meus irmãos.

—Mas hoje é o dia de folga meu e de Pietro. Ele não pode cuidar deles, pelo menos hoje?

Droga.

—Não. Pietro já cuidou ontem, não posso abusar. Além disso, ele tem coisas da faculdade pra resolver.

—Ah. Então no fim de semana...

—Brian... –o chamei e pressionei os lábios.

—Oi? –ele respondeu.

—Eu não sei se quero ter algo com alguém no momento. Você não tem a mínima ideia da bagunça que está dentro de mim agora. Eu não quero te usar. Não quero e nem posso. Você merece mais do que uma garota quebrada.

—Eu não ligo em te consertar, Soph. Você sabe que eu te quero, sempre quis. Não me importa se você está quebrada ou algo do tipo...

—Não importa se eu gosto de outro e que, se não for forte o bastante, corro para os braços dele novamente?

Brian ficou calado por um instante. Por fim disse:

—Com isso eu me importo.

—E é exatamente por isso que não quero me envolver com ninguém agora. Preciso estar totalmente limpa de Luke para conseguir me apaixonar por alguém novamente.

Ele assentiu, mas parecia profundamente magoado.

—Não quero que fique assim, Brian...-falei e tentei pegar no seu ombro, mas ele se esquivou.

—Então por que me convidou pra sair ontem? Por que me beijou?

—Impulso... Sei lá.

—Da próxima vez contenha seu impulso, Sophia. Assim você consegue machucar menos.

—Eu não queria que fosse assim...

—Ninguém nunca quer.

—Não acredito que ficaremos dessa forma novamente.

—Sempre acabaremos dessa forma. Sempre acabaremos por causa de Luke.

—Brian, eu só queria que conseguíssemos ser amigos, pra variar.

—Não me peça isso. Nunca conseguirei ser somente amigo seu, Sophia.

Assenti, mordendo os lábios.

Brian suspirou.

—Eu gosto demais de você, Soph. Espero que um dia consiga enxergar isso. E quando enxergar, saiba que estarei no mesmo lugar, esperando por você. Por que eu amo você, entende? Não sei como nem por quê, mas eu amo você.

Ele parou e eu assenti novamente. Ele soltou um sorriso triste e me deu um beijo na testa.

—Fica bem, tá? –falou e se afastou.

Não, não ficarei nem um pouco bem.

Continua...