Nova Iorque — 2013
(23 de Dezembro, 10:33)

O vapor do cappuccino entrou minhas narinas e sorri, deliciada. Meus dedos percorreram a asa de minha caneca favorita cujo o rosto de Jack, the King of Halloween estava lindamente estampada. A segurei e deixei o líquido fumegante e cremeso cair até perto da borda.

Depositei a chaleira em cima do fogão e a cobri com sua tampa. Com a mão direita ocupada que segurava a caneca de cappuccino, usei a esquerda para pegar o pratinho de cookies caseiros. —Não, eu não havia os feitos, mas sim minha boa e caridosa vizinha, Lady Fray

Me sentei no meu sofá, ou seja: na minha pequenina sala de estar. A fraca luz da manhã nublada iluminava o cômodo e as cores claras das paredes —cinza e azul— pareciam abraçar a luz. Depositei o prato de cookies na mesinha central e peguei o meu exemplar pequeno de 'O Código da Vinci' e continuei minha leitura na página 85—pois recentemente comecei a lê-lo.

"O susto que levou diante da solução do anagrama..." — Eu teria prosseguido com minha narração mental, porém não pude já que bateram na porta, quase hesitante. Permaneci ali quando outra batida soou, esta já era mais ousada e não havia hesitação...

Olha a hora que a peste chega! Pensei frustrada e deixei meu exemplar na mesinha central e com passos largos, caminhei até a porta e a abri rapidamente, recuando alguns passos, pronta para atacar se necessário, tal como um gatinho raivoso.

Eu já estava pronta para abrir a boca e gritar com a figura parada diante de minha porta, porém não o fiz. Afinal não era Porter parado em minha porta, havia apenas Olórin. Corei escarlate com a simples ideia de gritar com ele.

— Minha querida! — Ele sorriu e seus olhos escuros pareceram brilhar em alegria sincera. Vestia-se de branco, como de costume. Não vi nenhum vestígio mancha de sujeira em suas roupas elegantes. Seu longo cabelo branco havia sido preso por uma liga capilar.

— Olá, Olórin — Sorri timidamente, ajeitando meus grandes óculos de grau em meu rosto, pois as pestinhas estavam tortas. Olórin era meu tutor, há muitos anos atrás, em um rigoroso inverno em Moscou, encontrou-me mendigando pelas ruas do subúrbio e me adotou, juntamente com Lady Catherine. Lembro-me vagamente de me ver em alguns reflexos de vidraças e sinceramente digo que já fui uma criatura minúscula e digna de pena.

Sempre que me perdia lendo os apêndices de "O Silmarillion", tinha vontade rir, afinal Olórin também era o nome de Gandalf. Dei-lhe um espaço na porta, permitindo que passasse sem nem pedir.

—Ah! Aqui continua quente e agradável.— Comentou ele, retirando seu casaco e entregando-me e eu o guardei nos porta-casaco. —Que cheiro de biscoitos...

Já mencionei que ele tem um olfato assustadoramente bom?

— São cookies — Disse. Segurei sua grande mão cálida e o levei até a sala de estar. Olórin acomodou-se, já sentado no sofá. Seus olhos caíram na minha caneca original do Jack. —E cappuccino...

— Claro, bem, minha querida. Vim-lhe dá seus presentes — Sorriu ainda mais e retirou um envelope trabalhado a mão, dourado e branco nunca pareceram estar em incrível contraste. O envelope era originalmente branco e fora desenhado dourado vibrante. Quase pareceu ser ouro puro quando a luz matinal o tocou.

— Mas...

—Sem "mas", Gilraen Tasartir! — Olórin resmungou. Talvez se tivesse um cajado ali, me bateira com ele. Tal como Gandalf e Denethor, em O Retorno do Rei. —É o último natal que nos vermos, querida. — Disse, quase com pesar, porém seus olhos brilharam perversamente.

Entendi o que ele iria fazer, porém nada disse. Olórin iria partir com Lady Catherine, apesar de ambos não eram casados, apenas amigos, porém o amor de ambos era recíproco. Sem dizer nada, entregou-me o envelope.

—Não o abre, não agora.— Ele instruiu, com um tom cuidadoso. O olhei e ergui minha sobrancelha, desconfiada, mas nada falei.
—Saberá o momento certo.

Só eu que me sinto em um livro de mistério?

—Ok, né... — Dei de ombros e aceitei o envelope, hesitante por alguns momentos.

— Deus... — Ele olhou em volta, parecia ter esquecido de algo, ou algo do gênero. —Querida aranel, estou sedento. Pode me trazer uma caneca de cappuccino?

Sorri calmamente, enquanto depositava o envelope na mesinha central, caminhei (arrastei-me) até a cozinha e peguei uma outra caneca de porcelana gélida. Deixei o líquido cremoso e ainda quente cair até perto da borda, novamente guardei a panela em cima do fogão e a cobri. Me arrastei para a sala e lhe entreguei a caneca, sorrindo preguiçosamente.

—Então, como vai, querida?— Ele questinou, levando a caneca de porcelana aos lábios e em seguida fechou os olhos, aparentemente deliciado com a bebida. Sorriu levemente.

Beeeeeeem... — Comentei, comendo um pedaço do cookie caseiro e fresco. As gotas de chocolate pareceram derreter na minha língua como gelo derretia no sol, seu sabor era levemente amargo, porém ainda sim era saboroso.

Às vezes eu tenho que aprender a ser menos ridícula, pensei comigo mesma. Ainda mordiscando o cookie e com meus olhos fixos no exemplar escrito por Dan Brown. Sem perceber, acenei positivamente.

—Eu também estou ótimo! Obrigado por perguntar, aranel! — Ele disse, sorrindo ironicamente, após já ter abaixado a caneca a qual eu finalmente notei que era a do estandarte dos Starks, de Winterfell*. A cabeça do lobo havia sido desenhada em negro enquanto o fundo da caneca era branco, abaixo do estandarte havia o lema da família - Ou não -

"Café está vindo..."

Ri baixinho. Tomei uma outra golada de cappuccino e Olórin se levantou tão rapidamente que me assustou. Sua figura branca e pálida sumiu por entre os cômodos do apartamento minúsculo, tal como eu. Às vezes chegava até ser irônico o fato que todos meus amigos e meus colegas de trabalho eram literalmente gigantes, enquanto eu sou uma anã da obra de Tolkien

Infelizmente sou um ser humano "alto" demais para ser classificada como uma hobbit, então ser anã é a única opção. É um fato triste...

Quando Olórin retornou, alto, pálido, prateado e velho, segurava uma caixinha delicada em suas mãos cálidas e enrugadas pelo tempo. Entregou-me, porém parecia triste, mas ao mesmo tempo... Feliz?

Senti uma imensa vontade de pular do sofá, imitando um gatinho e gritar como uma esposa traída por seu marido, cujo o casamento foi arruinado:

ILUMINATI! ILUMINATI! EU SABIA! Fica longe de min, seu macumbeiro enviado por satanás! SAI EM NOME DE JESUS! Cai fora! EU NAO QUERO ESSA HORCUX!

Hesitante e com as mãozinha já trêmulas, peguei a caixinha em minhas mãos pequenas e pálidas...

— O lobo gigante é o estandarte da Casa Stark, cujo pertence à obra de R. R. Martin, As Crônicas de Fogo e Gelo. (Game of Thrones, sendo mais exata)

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.