RECONSTRUÇÃO

Colando os pedaços e as lembranças...


Um mês. Trinta dias. Quatro semanas. Setecentos e vinte horas. Regina não estava mais ali. Nenhum sinal, nenhuma pista e sempre as mesmas expressões de pesar, dos profissionais contratados para a investigação.

Era manhã e Vasco chega ao escritório, encontrando Killian verificando algumas anotações.

– Bom dia, companheiro! Como se sente hoje?

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– Mais vazio. Recebi o relatório da perícia sobre a avaliação do carro. – ele entrega um envelope ao amigo pirata. – Gostaria que visse...

Killian segura o envelope e habilmente consegue abri-lo.

– Com quem deixou as meninas?

– Killian, leia o relatório, por favor...

Os olhos do pirata viram-se para os papéis. Depois de um tempo, ele se senta e desenha uma expressão de desentendimento no rosto.

– Aqui diz que não houve pane no carro. Nenhum pneu estourado, motor intacto...nenhuma batida. O carro foi jogado propositalmente na água. – Killian encara Vasco e teme o que vai ouvir.

– Eu tenho coisas fortes para contar a você...e criei duas teorias: Regina e Vargas foram levadas de mim ou Regina me abandonou para viver com outro homem...

Erguendo a mão, Killian pede que Vasco pare de falar. Tudo estava confuso demais. Ele se levanta e apanha sua jaqueta, indicando a porta para que o amigo saia dali.

Momentos depois, os dois estão sentados na cabine do Jolly Rogers.

– Estamos seguros aqui. Não pretendo interromper com perguntas, então, pode começar a falar.

Vasco se mostra agitado e esfrega as mãos contra as coxas.

– Fomos para nossas férias a fim de fugirmos de problemas. Ocorre que Regina estava irritadiça e queria discutir por qualquer motivo. Numa das discussões, eu sai de casa e fui para um bar para beber absinto.

Killian tenta não demonstrar reação para não intimidar a fala do amigo.

– E foi a bebida quem atraiu uma pessoa para o meu lado. Ele me disse que se chamava Solon e ficamos conversando e bebendo até tarde. Eu me embriaguei e fui levado pelo homem para a casa dele. No dia seguinte, minha família foi buscar-me e iniciou uma amizade com ele e o irmão.

Ficando em silêncio por segundos, Vasco busca forças para continuar.

– Regina ficou encantada com Solon. Ele personificou o homem perfeito dos sonhos dela e isso a encorajou a pedir que ele participasse da fantasia mais perigosa dela.

– Está falando sobre aquele lance...de Regina querer que você...fosse para a cama com...

– Sim. Nós concretizamos.

Sem falar nada, Killian apenas fecha os olhos. Depois encara Vasco.

– Mas Solon se apaixonou por mim e por Regina. Ele ficou ensandecido quando eu o repudiei. Quis me agredir fisicamente e tive de afastá-lo. O irmão dele ficou amigo de minhas filhas.

– E ele tentou algo com elas?

– Não. Minhas filhas são desconfiadas demais. – Vasco coça o nariz e começa a andar pela cabine. – Elas já haviam feito a mutação, estando aqui nesta cidade.

Arqueando as sobrancelhas grossas e escuras, o pirata não diz nada, embora quisesse.

– Eu percebi que Yasemine estava dissimulando em seu corpo infantil. A mulher ainda estava lá dentro e a estava deixando infeliz. Incentivei que ela fizesse um truque lido num livro, quando viajávamos para nossa casa em Nova Iorque. Porém, Regina não sabia.

– E ela fez o mesmo com a irmã?

– Fez e as duas apreciaram. Elas cresciam fora daqui e voltavam a ser crianças, quando passávamos a fronteira da cidade. Nesta última viagem, contamos a verdade para Regina e ela ficou encantada e apreensiva com a presença constante de Yasemine adulta. Mas tudo ficou bem entre elas...

– Por que acredita que Regina tenha fugido com outro cara?

– Porque ela se encantou por Solon. Ocorre que somente há dois dias, eu soube de uma conversa que desconhecia. – ele se volta para Killian, com aqueles olhos de cachorrinho pedinte. – Paco, o irmão de Solon, é um habilidoso e conhecia o livro que Yasemine usou para obter os truques.

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A preocupação enche a alma do pirata.

– Que livro?

– Um livro pertencente à Cora Mills e protegido por Regina. Minha filha conseguiu tirar o livro da proteção e o leu. Chama-se Grande Grimório.

A boca de Killian abre-se em espanto.

– Cora já me falou sobre esse livro. E essa coisa horrenda estava na sua casa?

– Na biblioteca, especificamente, numa redoma de vidro. Paco disse às meninas que usava um bracelete que impedia suas habilidades e que camuflava a presença dele, de outros habilidosos. Alda me disse que Regina viu o mesmo bracelete em Solon, por isso apressou nossa saída de lá.

Killian se levanta e vai até uma mesa. Apanha uma garrafa com rum e dois copos. Enche-os e convida o amigo para beber.

– Podemos deduzir que este Solon e o irmão dele sabiam com quem estava lidando?

– Possivelmente, Killian. Eles devem ter sentido algo em mim e depois nas minhas três pérolas. Solomon me pareceu ser uma pessoa forte e segura demais...

– Espere um pouco! Como ele se chama mesmo?

– Solomon Kent.

Cobrindo os olhos com uma das mãos, Killian demonstra todo o seu desespero e desolação.

– Vasco, este Solomon Kent é um habilidoso! E dos mais fortes! Era o guardião do livro que Cora roubou! Eu pensei que jamais ouviria este nome outra vez!

– Então, ele sabia do livro? Por isso aproximou-se de nós?

Killian abre os braços e levanta as sobrancelhas.

– É obvio, companheiro! Vocês abriram as brechas em seu casamento e o inimigo entrou! E ele deve ter oferecido aquilo que Regina mais aprecia: poder! Ela abaixou a guarda e o reverendo atacou!

Várias expressões passam pelo rosto de Vasco. E nenhuma exibia a dor que rasgava seu peito.

– Eu lhe disse que você apenas conhecia Regina Mills, a prefeita. Não conheceu Regina Mills, a Rainha Má. Eu lhe disse que ela arrancou o coração do único humano que a amava e usou como ingrediente para criar a maldição dos vinte e oito anos. Ela matou o próprio pai! O reverendo Solomon Kent, captou a cerne de Regina e esse acidente pode ter sido apenas uma encenação. – Killian segura a mão do amigo. – Ela pode estar viva e experimentando novos conhecimentos. Pode ser que tenhamos uma nova Dark One.

Vasco sente ainda mais dor. Aquilo não era verdade. Caso Regina estivesse com Solomon, estaria a contragosto. Ela não era mais a Rainha Má...era apenas sua Regina, sua amada Regina.

Era noite. Yasemine e Alda estavam sentadas num dos sofás da sala principal, observando Mary colocar uma bandeja com canecas com chocolate para toda a família reunida na sala. Era um encontro para discutirem as impressões sobre o acidente e qual teoria iriam seguir.

– Solomon Kent era um reverendo, líder religioso de uma aldeia em terras ao norte do castelo de seus pais, Milady. – Killian começa a falar. – Ele perseguia pessoas habilidosas ou supostamente habilidosas, condenando-as à fogueira. Numa ocasião, meu navio foi aportar naquela aldeia e o reverendo quis contratar-me para encontrar um livro roubado. Anos mais tarde, eu soube que o livro era o Grande Grimório e quem roubara fora Cora Mills.

– E onde está esse livro maldito, agora? – Mary pergunta para Yasemine.

– Protegido. – a moça responde secamente.

– Solomon é forte, mas não é um Dark One, embora eu pense que é um sonho de consumo dele. O reverendo foi amaldiçoado, quando tentou tomar uma jovem à força, alegando amá-la. Ela era casada e depois de rejeitá-lo, ele a matou. Como punição, foi criado por uma irmandade, uma espécie de aura que impede o reverendo de ser amado. Soube que a aldeia foi engolida por um maremoto na região. Isso é um castigo e tanto. O que houve com ele, ninguém conheceu o destino.

– E você acredita que ele sabia da localização do tal livro, Killian? – pergunta Henry, segurando a mão de Alda.

O pirata concorda.

– Segundo Cora, toda vez que o livro é exigido, emana informações pelos ares e outros habilidosos podem saber onde ele está. Mas eu me refiro à nata de habilidosos das casas Griffinória, Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa.

O som de risos torna o ambiente mais ameno. Até os lábios de Vasco se movimentam num esboço que poderia ser identificado como sorriso.

– Então, Solon e Paco nos seguiram. – Yasemine exibe sua voz grave. – Eu usei o livro quando já estávamos na casa em Nova Iorque, na mesma tarde em que chegamos. E o usei inúmeras vezes enquanto estava aqui nesta casa.

– E saiu fazendo perversidades contra as outras pessoas. – alfineta Mary.

– Mas não matei a minha avó, tampouco a minha mãe.

Os olhos de Mary se estreitam na direção de Yasemine.

– Não fui eu quem usou por duas vezes a tal Vela Encantada. – a menina abaixa a cabeça, mas mantém seus olhos presos no rosto de Mary.

– Parem com isso, vocês duas! Precisamos ficar focados para sabermos por onde começar as buscas! – a voz de David é ouvida e sua autoridade é reconhecida. Pacato, quase não alterava a voz, mas quando fazia, provocava respeito. – Precisamos saber se esse reverendo conseguiu levar o livro. Caso ele esteja com Regina e com o livro, estará completo!

David se ajoelha diante de Yasemine e segura as mãozinhas dela.

– Você carregou o livro em suas bagagens que ficaram no rio?

– Quando Paco demonstrou interesse no livro, Yasemine e eu fomos procurar algo que se assemelhava à capa dele. Encontramos um pequeno Grimório, com receitas fracas, escritas por aprendizes. – Alda olha para a irmã de rosto furioso. – Mas Yasemine encontrou uma receita de camuflagem e envolveu o livro falso.

Os adultos entreolham-se.

– O livro que nós trouxemos na bagagem era o falso camuflado. O verdadeiro ficou em Nova Iorque, escondido.

– Solomon não perceberia isso? – Emma pergunta, manifestando-se pela primeira vez.

– Na confusão da fuga sob a água? Duvido. – Killian sorri. – Muitas vezes o meu amigo querido, idolatrado, amado, salve, salve, crocodilo também se confunde com as adagas verdadeiras e falsas.

Mary se levanta e afasta-se do grupo. Depois aproxima-se novamente.

– Penso que temos de conter os avanços de Yasemine. Está provocando problemas demais. Acendeu um farol no espaço e no tempo, a ponto de atrair a presença desse reverendo e talvez de outros mais...

– Com todo o respeito que devo ter à sua autoridade, princesa, não vou admitir que tente impor limites às minhas filhas. Elas são quem são e a senhora deve respeitá-las por isso. Segundo me consta, não há ninguém ilibado de crimes aqui nesta reunião. Sejam crimes grandes ou pequenos, todos são maculados. Sugiro que controle a sua fúria contra Yasemine ou teremos de determinar fronteiras entre nossas famílias.

– Estamos tentando ajudar, Vasco. – David é sereno.

Buscando forças para continuar sem exteriorizar sua fragilidade e sua dor, Vasco assume sua postura militar e se mantém altivo, quase arrogante.

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– Toda forma de ajuda é bem vinda, Alteza. Porém, eu repudiarei com força e raiva, qualquer forma de agressão às minhas filhas. Elas são minhas preciosidades, presenteadas pelo amor de minha vida, portanto, não aceitarei que passem por cima de minha autoridade de pai e as agridam. Posso ficar feio e cruel.

– Muito bem! Vou encontrar um meio de achar Regina, sem a ajuda de vocês. – Mary explode.

– Estas conjecturas são baseadas num rapto. E se minha mãe estiver realmente morta? E se Solon a matou como fez com Sara, por ter sido rejeitado?

Todos olham ao mesmo tempo na direção de Yasemine. O espanto é geral e a comoção diante daqueles olhos imensos repletos de lágrimas, provoca a reflexão sobre aquela hipótese até o momento, descartada. Nem todos os acontecimentos naquela cidade, poderiam ter finais felizes com interferência mágica. A vida tinha começo e fim.

Momentos depois, somente Mary ainda estava na casa. Os demais estavam aguardando sua vinda, do lado de fora dali, conversando com Vasco e Alda. Lá dentro, Mary procura Yasemine na cozinha e encontra a garota guardando as louças já limpas.

– Eu apenas gostaria de perguntar uma coisa, Mine.

A garota olha por cima do ombro. Depois se vira completamente para olhar a professora. Seu rosto estava inalterado e um véu de zanga cobria seus traços bonitos.

– Como soube sobre a Vela Encantada e sobre Cora?

– Não sei como eu sei. Mas sei que eu sei. – a garota ironiza e sorri.