- Acho que... armaram pra gente. - eu disse num tom bem baixo e olhei para Angie. Ela mantinha os olhos fixos no chão e parecia estar com vergonha. Uma mecha de cabelo cobria seu olho direito. Após alguns minutos em silêncio, Angie levantou o olhar e me encarou.

- Vamos.. comer? - ela finalmente questionou, mas com certo receio. Sorri assentindo e dei meia volta na mesa para puxar sua cadeira. Ela riu e se sentou. Eu realmente me surpreendi com a atitude da loira, pensei que ela sairia correndo ou algo do tipo. Mas não, ela permaneceu ali, ela QUIS ficar ali comigo. Isso era bom sinal.

Voltei ao meu lugar e me sentei. Ficamos em silêncio novamente, confesso que isso era estranho. Minhas mãos tremiam e suavam. Será que hoje as coisas entre nós finalmente mudariam? Era disso que eu tinha medo, não que eu não quisesse estar com Angie, é que eu tinha medo de não conseguir fazê-la feliz do jeito que ela merece.

Nenhum de nós sabia o que dizer, a respiração pesada deixava evidente o quanto estávamos nervosos. Acho que ambos já sabiam o quanto nos amávamos, é, talvez Angie já soubesse, pois eu já sabia. Não conseguir esquecê-la foi um tanto esquisito para mim. Sempre que tentei esquecer uma mulher, eu conseguia, mas com Angeles não. Meus pensamentos grudaram nela, meus sorrisos eram dependentes dos sorrisos dela, e meus lábios jamais esqueceram do toque dos dela. Não sei como achei que eu tinha conseguido esquecê-la quando eu comecei a namorar a Esmeralda. Porque na verdade, meus sentimentos por Angie nunca se foram, eles estavam apenas adormecidos.

- O que temos aqui? - perguntei calmo enquanto observava a comida que estava em cima da mesa. Macarrão. Olhei para Angie e sorri de lado quando a vejo encarando o chão. - Hey! - toco seu queixo com a intenção de que ela levante o olhar.

Sim, ela levantou o olhar e por uma fração de segundo seus olhos manteram contato com os meus, e até eu cheguei a sentir uma reviravolta de sentimentos. Nossa ligação era tão forte que até o olhar era capaz de dizer "eu te amo". Angeles rapidamente desviou o olhar para os lados.

- O que foi? - ela questionou.

- Olha pra mim? - meus dedos ainda estavam segurando seu queixo, de leve. Angeles suspirou e voltou a me olhar. Sorri. - It makes your lips, so kissable.. And your kiss, unmissable..
Your fingertips so touchable.
And your eyes... irresistible. - cantarolei e vi as bochechas dela rosarem e um sorriso brotar em seu rosto.

Mais silêncio. Aquilo estava começando a incomodar.

- Ai, Germán. - ela tirou meus dedos de seu queixo. - Para, por favor. - agora foi minha vez de suspirar.

- Parar com o quê? - me fiz desentendido. Meu olhar não desgrudou dela nem um milésimo de segundo.

Ela me olhou e viu que eu ainda mantinha os olhos em cima dela, desviou o olhar novamente e irritada com aquilo. Riu nervosa e respondeu:

- Para de me paquerar.

Foi minha vez de rir, mas não estava nervoso. Eu ri dela e de seu jeito de não saber reagir ao que eu estava fazendo.

- Ok, princesa, eu paro de te paquerar. - falei rindo e Angie soltou uma breve risada. - Está com fome? - ela assentiu com a cabeça. - então vamos comer, e... aproveitar o nosso jantar à luz de velas que alguém, para ser mais exato, a Violetta, preparou para nós.

- Han... ok, como amigos. - "amigos". Ô palavrinha maldita, hein. Cada vez que Angie a pronunciava era como um rasgo no meu coração.

Nos servimos e ficamos conversando, acho que Angie se sentiu mais acomodada pois ela parecia não estar mais tão nervosa. Falávamos sobre o outro, sobre a vida e histórias engraçadas do nosso passado.

- Aí o diretor abriu a porta e olhou para os lados e não nos viu, pois estávamos escondidos atrás do arbusto. Quando ele fechou a porta, nos aproximamos para tocar a campainha de novo, só que assim que chegamos pertinho, ele abre a porta com tudo e nós nos assustamos e saímos correndo. Ele veio atrás, gritando mil e um palavrões. - Angie riu alto da minha história. - Acabamos levando uma semana de suspensão. - agora rimos juntos. - Bons tempos...

- Uau! - ela continuava rindo. - É difícil imaginar que o certinho do Germán Castillo já foi o que mais aprontava na escola. - eu ri e a olhei. Eu estava tentando, juro que estava, mas era difícil não manter o olhar em cima dela. Angie estava mais maravilhosa que o normal, aquilo me atraía. - Teve uma vez que a Maria me perdeu no shopping. - Angie sorriu lembrando. - Estávamos apenas nós duas, escolhendo o presente de dia das mães para a nossa mãe. Maria devia ter uns dezessete anos e eu tinha sete. A gente tinha acabado de escolher a blusa perfeita e fomos no provador para provar em Maria, já que ela e mamãe usavam o mesmo tamanho de blusa. Enquanto Maria provava, eu fiquei lá fora sentada em um banquinho, a esperando. Quando eu vejo um garoto da minha sala de aula passando com a mãe dele e fui cumprimentá-lo. Nisto, Maria saiu do provador e foi embora da loja, e me esqueceu lá. No momento eu senti um desespero, mas hoje rio quando lembro. - nós rimos. Maria tinha sempre a cabeça na lua, mas esquecer-se da própria irmã foi demais da conta.

- Ai, meu Deus. - ri e terminei meu macarrão. Angie estava quase terminando também. Essas foram duas das muitas histórias que contamos.

Além disso, descobri que Angie cursou faculdade de estilista, e não de música! Ela disse que até que gostava de desenhar vestidos e outras roupas, mas quando descobriu seu talento no canto, mudou de profissão rapidinho. Já eu não tinha muitas coisas para contar, além de que minha família inteira faleceu em um acidente, na volta de uma viagem na qual eu, por sorte, não tinha ido. Eu tinha 20 anos na época. Angeles ficou meio em choque quando eu lhe contei, mas eu logo mudei de assunto antes que eu ficasse mal.

- E a Esmeralda? - Angie questionou com simplicidade após ficarmos em silêncio novamente. Ela já tinha acabado seu macarrão e agora nós dois estávamos comendo uma torta de morango que tinha em uma mesinha ao lado da mesa redonda.

- Ela está bem, eu acho. Se você quer saber como a nossa conversa pelo telefone terminou, não queira. Esmeralda não acreditou nas minhas desculpas e gritou comigo.

- Nossa, me desculpa, Germán, isso foi tudo culpa minha e..

- Não foi culpa sua, Angie, relaxa. - acariciei sua mão, que estava pousada sobre a mesa. Infelizmente ela a tirou imediatamente. - Por que eu não posso te tocar? - deixei a pergunta que tantou me incomodava escapar.

- Por quê? Bom, vamos listar os motivos. Primeiro: você..

- Angie! - a interrompi. - Estou falando sério.

- Eu também estou falando sério! - ela arqueou as sombrancelhas e eu abri um sorriso cafajeste. Aquela mulher me seduzia com cada gesto que fazia. - Ah, Germán... É que.. sabe, o ano passado foi cheio de mudanças nas nossas vidas. E eu, pela primeira vez, me apaixonei. - Angie suspirou. - Me apaixonei e eu tinha certeza que era recíproco, até chegar a Esmeralda. - ela me olhou e eu me senti mal por isso. - Ver vocês dois juntos me trouxe muita dor. Me trouxe tristeza. E a partir daí, comecei a achar que tudo aquilo que passou fora ilusão minha. Era como se você não suportasse a ideia de ficar sem ninguém, e por isso me usou, e eu não suportava a ideia de ficar sem você. Entende?

Fiquei sem fala. Como eu ia responder a isso? O que eu diria? Não sei. Eu me meto em cada uma que só Deus pra me aguentar.

- Angie... me desculpa. - foi a única coisa que consegui dizer. - Juro que não foi minha intenção, eu..

- Tudo bem, Germán. - ela sorriu triste. - Já passou.. ou não. - ela sussurrou essa últina frase para que só ela pudesse ouvir, mas eu consegui escutar. - Mas enfim, respondendo sua pergunta inicial, tenho medo que me toque porque eu não quero sofrer de novo. Não quero passar pela mesma situação onde eu chorava em meus travesseiro todas, literalmente todas as noites antes de pegar no sono.

Fiquei calado, eu não tinha o que responder. Os argumentos de Angie faziam total sentido, não havia como protestar. E isso me deixava pior, eu fiz o amor da minha vida passar por uma situação horrível.

- Podemos falar de outra coisa? - a voz dela era fraquinha. - Por favor. Esse assunto me incomoda.

- Claro! Er... e como vão as coisas no Studio?

- Vão ótimas. - ela sorriu. - Fiz um grande amigo lá, o Jeremias, é incrível como eu consigo confiar nele. - neste momento, um peso me invadiu. Agora mais do que nunca eu precisava acabar com essa história de Jeremias.

Ri tentando disfarçar a preocupação. Angie começou a contar piadas tão ruins que era até engraçado. Ficamos mais uns cinco minutos assim, rindo, enquanto eu admirava sua beleza sem que ela percebesse. Aquele vestido longo que ela estava usando a deixava incrivelmente mais atraente. Mais do que já é.

- E foi isso. - rimos e de repente o silêncio tomou conta de novo.

E do nada, eu me senti um imã pois eu comecei a aproximar o meu rosto do de Angie e não conseguia me impedir. Eu perdi o controle do meu próprio corpo. Isso era estranho, era como se eu sentisse necessidade de beijá-la, e o melhor era que ela também se aproximava.

Seu olhar era nervoso e inseguro, mas eu segurei seu rosto com minha mão direita e assim selei nossos lábios. Finalmente! Finalmente pude sentir de novo o gostinho saboroso de seus lábios! Ah, que saudade daquele beijo. Agora eu me pergunto, como eu consegui ficar seis meses sem esse beijo? COMO? Sim, seis meses sem aquele toque que me dava arrepios. Nos beijávamos com calma e carinho, meu coração palpitava forte, o calor invadia meu corpo e eu sentia frio na barriga. E garanto que Angie sentia o mesmo. Nossas línguas se entrelaçaram e pareciam que não queriam se soltar nunca mais. Era um beijo onde era trocado muito amor, seus lábios eram suaves e aquilo transmitia uma sensação desconhecida. Estava perfeito. Mágico.

Quando acabou, nos afastamos rápido. Angie estava com o semblante meio que assustado, mas satisfeito. E de repente, ela se levanta da cadeira, me levantei no segundo seguinte e segurei seu braço antes que ela pudesse tentar sair.

- Aonde você vai? - questionei.

- Por favor, Germán, me dá licença. Eu preciso sair. Tomar um ar. Por favor. - ela estava chorando! Por que ela estava chorando???

- Não, Angie. Eu sei que você vai fugir. Fica calma, não precisa ter medo, meu amor. - abracei. - Eu não vou te deixar, não desta vez. Me dá uma segunda chance?

- Eu não sei, Germán! Eu tô confusa, to perdida em meio de tantas emoções.. eu não sei lidar com isso, Germán! É demais pra mim. - ela chorava em meus braços. Angie tremia. - Me deixa sair. - se afastou.

- Não posso te deixar sair. Primeiro: não sabemos a saída deste lugar.

- Eu descubro rapidinho!

- Angie, é sério. Temos que conversar. Para de tentar fugir do inevitável. - falei e ela ficou me olhando com aquele olhar triste que me partia o coração ao ver. Dei-lhe um selinho para acalmá-la e pude vê-la arrepiar.

- Tá... - ela se sentou novamente e eu fiz o mesmo. Segurei suas mãos e beijei-as de leve.

- Tem algo que.. - enxuguei suas lágrimas. - você queira me contar? Me falar? Pode desabafar, Angie.

- Ai, Germán, é difícil... Eu sou muito sensível, e como eu já disse, tenho medo. Tenho medo do futuro, do que pode acontecer. Tenho medo de você me deixar, tenho medo de sofrer. Eu não quero sofrer, eu odeio sofrer. E.. eu só quero te dizer que é muito difícil para mim não te ligar, eu queria poder correr para você e eu espero que você saiba que toda vez que eu não vou, eu quase vou. Eu aposto que você pensa que eu mudei ou que te odeio porque cada vez que você tenta, não há resposta. Eu aposto que você nunca, jamais pensou que eu não te digo olá para não arriscar outro adeus. Nós fizemos uma grande bagunça, provavelmente é melhor desse jeito. E eu confesso que em meus sonhos você está tocando o meu rosto e me perguntando se eu gostaria de tentar de novo com você.. e.. eu quase aceito. - Angie chorava muito, ela chegava a soluçar.

- Meu amor, olha pra mim. - ela fungou e me olhou. - Não chora, por favor. Já ouviu dizer que tudo na vida não acontece por acaso? Acho que isso aconteceu para a gente fortalecer o nosso amor. Sabe, eu sinto sua falta. - sorri fraco. - E para todo sofrimento, há momentos bons. E acho que agora chegou a sua vez de ser feliz, Angie. E só podemos ser feliz um com o outro. Se você me deixar tentar novamente, eu prometo não te decepcionar.

As lágrimas pararam de sair de seu rosto, mas Angie permaneceu quieta. Até que finalmente, um sorriso cheio de alegria se forma em seus lábios. Um sorriso radiante. Um sorriso que coloriu meu mundo novamente.

- When I look at you, I see forgiveness, I see the truth. You love me for who I am. Like the stars hold the moon. Right there where they belong and I know... I'm not alone. - Angie cantarolou com um sorriso maior ainda. E isso me fez sorrir junto, apertei mais suas mãos. - Sim, eu te dou uma chance. Mas você tem que terminar com a Esmeralda primeiro.

- Pode deixar! - rimos e eu a abracei com a maior força que podia. Acho que agora, finalmente, poderemos ser felizes. Um com o outro.

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