Priscila chegou em casa meio deprimida. Não sabia por quê. Talvez fosse a conversa que tivera com Juliana, talvez fosse por causa da menina nova, ou ainda por causa de Eduardo. Não sabia ao certo. Só sentia.

Olhou na sala, foi até a cozinha, depois ao quarto da mãe. Vazios.

Seu pai estava viajando a trabalho; Robson, seu irmão menor, de nove anos, tinha ficado de almoçar na casa de um colega de escola; e a mãe, naturalmente, não devia ter chegado do trabalho ainda. Isso, se ela viesse almoçar. Já tinha perdido a conta de quantas vezes a mãe ficara direto no trabalho.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Estava mesmo sozinha. Foi para o seu quarto, jogou o material sobre a cama e deitou-se, deixando seu olhar parado no teto, o pensamento longe, pensando em nada. Só um vazio, uma incerteza, uma dor, uma coisa que não sabia explicar, nem definir, mas que de vez em quando vinha bater dentro do peito. Era sempre assim.

Levantou-se e foi até o espelho da penteadeira. Viu uma garota de quinze anos, faltando quatro meses para dezesseis, morena, cabelos lisos e compridos, olhos pequenos e pretos. Até que pela idade era um pouco alta, sim. Gostava de sua altura. O problema estava com o corpo. Não era esse corpo que queria. De jeito nenhum. Não gostava dele.

Priscila continuou olhando para o seu reflexo. Sentiu raiva. Tirou com força a sua camiseta e a calça jeans. Virou para um lado, para o outro e depois parou. Ficou olhando para a sua imagem, examinando-se, apenas de calcinha e sutiã.

Foi até a sua cama, onde tinha deixado a revista. Voltou com ela para a frente do espelho. Esticou o braço e olhou para a capa, mais de longe agora. Jogou os cabelos de um lado e de outro e procurou se posicionar do mesmo modo que a modelo. Ajeitou a coluna, encolheu a barriga e olhou para a sua imagem no espelho. Depois, para a revista.

– Droga! - Desmanchou sua pose e jogou a revista longe.

Priscila escutou um ruído na porta de entrada. Tratou logo de colocar uma roupa. Colocou outra camiseta e um short.

Quando estava terminando de se vestir, sua mãe abriu a porta.

– Tive um problema no escritório. Não pude sair na hora - ela foi explicando.

– Tudo bem.

– Vem almoçar, filha.

– Não tô com fome, mãe. Comi um lanche na cantina.

– Então vou ter que almoçar sozinha?

Priscila balançou os ombros. Não estava com vontade de fazer companhia para a mãe, apesar de não ter comido lanche nenhum na cantina. Ia aproveitar sua falta de apetite para seguir adiante com o regime. Depois, se sentisse fome, comeria alguma bobagem.

A mãe não insistiu. Fechou a porta e foi almoçar.