And we can build this dream together

Standing strong forever

Nothing's gonna stop us now— Nothing’s gonna stop us now (Starships)

Era difícil manter a concentração na organização da festa quando as coisas para Jumin Han ficavam cada vez piores.

Os poucos dias de convivência já haviam me mostrado o lado prático e objetivo de Jumin, então era perceptível o quanto ele mudara por conta dos problemas com o pai. Às vezes, Jumin me ligava apenas para desabafar, consternado por estar se preocupando com questões, aos seus olhos, tão triviais quando a companhia poderia sofrer pelos escândalos amorosos do Presidente Han.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A cereja do bolo foi a questão do casamento arranjado. Não bastava Jumin alegar que era contra aquela ideia; seu pai se mostrava irredutível em relação à união do seu herdeiro com a estudante da sua namorada. Por mais absurda que aquela realidade me parecesse, descobri que matrimônios arranjados eram bem comuns na Coreia. A pressão para formar uma família ficava maior quando se atingia uma certa idade – que, para a infelicidade de Jumin, era a sua faixa etária.

E não era à toa que Sarah, a tal noiva, já se sentisse parte da família, chegando ao ponto de invadir as reuniões da C&R International por causa do aval do Presidente Han. Para Jumin, não havia mais qualquer lugar onde sua privacidade pudesse ser respeitada – Sarah ocupava a sua casa, o seu trabalho, importunava a sua assistente e balançava o seu único laço familiar.

Eu só não esperava ser envolvida nessa história.

— Como assim a assistente dele quer que você vá visitá-lo?

Mel praticamente gritou do outro lado do Skype, o que me fez pensar se contatá-la ao invés de Jane foi minha melhor escolha. Elas não pareciam muito diferentes no sentido de se exaltarem.

— Visitando, oras. Ele precisa de um ombro amigo, e a gente tem se dado bem – dei de ombros, enquanto observava os olhos verdes de Melanie se arregalarem cada vez mais. — Não é como se eu fosse ser sequestrada ou aprisionada...

O que não me dava garantia nenhuma. Eu não conhecia ninguém da R.F.A de fato, embora todos se mostrassem extremamente amáveis e preocupados comigo. Porém, o que fazer quando eu já estava completamente envolvida naquela história?

Além do que, não dava para silenciar aquela voz que me dizia que sim, eu queria ver Jumin Han. Muito.

— Greta... – Mel suspirou, cansada. Observei seu rosto exausto do outro lado da tela, os cabelos loiros presos num coque mal feito. — Você não está se apaixonando, está?

Engoli em seco com aquela pergunta e, pega de surpresa como fui, não consegui formular qualquer resposta de imediato.

— Ah, Deus... – minha cunhada lamentou, levando a mão à fronte e massageando-a. — Que a Jane nunca, nunca sonhe que tivemos essa conversa.

— Não é bem isso – tentei me explicar, me enrolando cada vez mais com as palavras. — Só... Só rolou uma identificação. Ele me pediu para ler Orgulho e Preconceito para ele e...

— Não, não! – Mel me interrompeu, o que apenas aumentou minha sensação de ter entrado em um problema gigantesco. — Não precisa continuar. Nem tente se explicar, você já me respondeu depois dessa.

Abaixei a cabeça, sem saber mais o que falar, cada vez mais desconfortável com a proporção que aquilo ganhava.

— Só não se machuque, por favor – ela emendou, me fazendo voltar a atenção para o computador mais uma vez. — Você já teve problemas demais para abraçar mais um.

*

Ignorei minhas pernas trêmulas e minhas mãos suadas tão logo saí do carro enviado por Jaehee. Pigarreei duas vezes para limpar a garganta e respirei fundo, me dirigindo à entrada do prédio refinado onde Jumin morava. Em 28 anos, eu jamais estivera em um local tão suntuoso quanto a residência do diretor da C&R International. Me senti subitamente mal por ter ido tão simples até lá – vestida ainda com uma blusa de Seven e uma jardineira jeans, sem qualquer maquiagem no rosto e os cabelos presos em um rabo-de-cavalo. A dúvida continuava a me martelar:

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O que ele vai achar de mim?

Seguranças me acompanharam pelos corredores e andares da casa. Me mantive séria, com o olhar fixo em ponto nenhum, tentando não me sentir intimidada pela riqueza daquele prédio. Era muito fácil se sentir um peixe fora do aquário ali, uma peça errada no meio do quebra-cabeça que era a vida de um CEO. Por dentro, o coração martelava com violência, deixando minha respiração cada vez mais difícil.

E se ele não gostar de mim? E se eu não for o que ele esperava?

Parei em frente a uma grande porta, enquanto um dos seguranças entrava no cômodo para anunciar a minha chegada. Surreal. Com força, apertei a alça da bolsa, chegando ao ponto de sentir os nós dos dedos doerem. Identifiquei o medo se aproximar, me fazendo querer congelar o tempo, esticar os minutos que me separavam de conhecer o homem que, todas as noites, me fazia dormir um pouco melhor ao me ligar.

— Senhorita McGrath, pode entrar.

Olhei para o segurança sem saber o que responder, zonza pela ansiedade. Aquiesci, agradecendo-o pela cordialidade, e entrei no quarto de Jumin.

Então eu o vi. Parado no meio do aposento, com os braços cruzados, Jumin estava à minha espera. Seus olhos negros e amendoados logo se fixaram em mim, ansiosos pela minha figura, surpresos por me encontrarem ali. Forcei um sorriso, espantando o choque de ver como ele era ainda mais encantador pessoalmente, com seus cabelos escuros e lisos despenteados, com a camisa social branca dobrada à altura dos cotovelos e a pose oscilando entre tensão e segurança.

— Boa noite, Sr. Han – cumprimentei, diminuindo a distância que nos separava e mantendo meu bom humor. Por dentro, eu virava água. Meu mundo interno estava um completo caos.

— Eu não sabia que a Assistente Kang havia te enviado, Greta – ele piscou algumas vezes, com o rosto ainda sério me encarando. Sua grave e comedida voz ao vivo era ainda mais... sedutora. — Me desculpe. Estava olhando fixamente para os seus olhos.

Um tímido sorriso surgiu em seus lábios logo em seguida e acabei sorrindo também – dessa vez de verdade, sem forçar nada.

— Estou feliz por finalmente conhecê-lo – revelei.

— Nunca imaginei que você viesse à minha casa – outro sorriso que conseguiu me aquecer o coração. — Me sinto um pouco nervoso porque imaginei que só nos veríamos na festa e... – ele cerrou os olhos e assumiu novamente um semblante sério, que imaginei ser um traço bastante característico seu. — Não foi perigoso vir até aqui? Ainda não pegamos o hacker.

— Jaehee me trouxe em segurança – assegurei. — Foi ela quem me pediu para vir inclusive. Está bastante preocupada porque você tem faltado ao trabalho e não retorna as ligações.

— Compreendo.

Um instante silencioso. Jumin continuava me observando com atenção, como se quisesse se certificar de que eu não era uma miragem. Por outro lado, eu o encarava com um misto de encantamento e incredulidade.

— Me desculpe. Não consigo evitar de olhar para você – revelou, findando nosso momento em silêncio assim que mudei o foco da minha atenção.

— Correspondi às suas expectativas? – não consegui segurar a pergunta, por mais que temesse a resposta que viria a seguir. Não dava para decifrar o que Jumin pensava a meu respeito, e minhas doses de insegurança diárias me deixavam cada vez mais nervosa.

— Superou.

Minha respiração ficou suspensa por alguns segundos. Como se sustentar aquela troca de olhares fosse o desafio mais difícil do mundo mais uma vez, baixei a cabeça, passando a encarar meus tênis brancos. O sorriso no rosto, porém, não consegui evitar.

— Ainda não consigo acreditar que está aqui – Jumin falou. Ele se aproximou mais, a ponto de me fazer sentir seu perfume. Era levemente adocicado, com um toque cítrico que parecia combinar com sua figura séria. — O que a trouxe até mim, além da preocupação da Assistente Kang? Imagino que você poderia ter negado o favor.

— Estou preocupada com você.

Seus pequenos olhos se arregalaram ante à minha revelação.

— Comigo?

— E vim ter a certeza de que você está lendo Orgulho e Preconceito também. Já me disseram que faço muita gente ler o que gosto, então quis saber se funcionou com você também – brinquei, colocando as mãos na cintura e procurando disfarçar o meu nível de sinceridade. O sorriso que recebi me fez me sentir a pessoa mais engraçada do mundo, ainda que meu senso de humor fosse péssimo.

— Não é à toa que você é livreira.

Um miado triste mudou o foco da minha atenção. No lado direito do quarto de Jumin, havia uma bela gata branca de olhos límpidos, presa numa gaiola mediana.

— Ah, essa é a Elizabeth 3ª – explicou, ajoelhando-se ao lado do animal e colocando a mão entre as grades para lhe dar um afago. A gata miou baixinho novamente.

— Por que você a prendeu? – perguntei, indo para o seu lado. Os olhos azuis da gata me observaram com tristeza, como se implorassem para que a libertasse da clausura.

— Não posso arriscar deixá-la solta com aquelas duas mulheres por aqui. É perigoso.

— Você acha que elas seriam capazes de tanto?

— Quem não é capaz de tudo por dinheiro, Greta?

Percebi o tom de tristeza da voz de Jumin antes de olhar para Elizabeth 3ª novamente. A realidade de uma pessoa rica era algo distante de mim, e não eu não concebia muito bem como relações se firmavam em interesses e benefícios. Refleti sobre a frequência que aquele tipo de assédio acontecia a Jumin. Ele tinha suas razões para ser tão fechado em si mesmo.

— É para o bem dela – arrematou, com um tom de voz desanimado.

Assenti, sem ter muito o que dizer. Me senti pesarosa tanto pelo pobre animal quanto pelo seu preocupado dono.

— Ah, você já jantou? – perguntou, virando o rosto na minha direção. Não percebi o quão próximo estávamos até e encará-lo tão perto. Quase perdi o equilíbrio.

— Se eu disser que não, você vai cozinhar para mim? – sorri, tentando aliviar a estranha tensão que surgiu entre nós. Porém, apenas piorei as coisas.

— Providenciarei o que estiver ao meu alcance para deixá-la confortável, Greta – me assegurou, com um sorriso discreto. — Sinta-se em casa.

Naquele momento, parecia que não havia qualquer lugar melhor para mim.

*

— O que você faz para se divertir no seu tempo livre?

Jumin me olhou pelo canto de olho, enquanto caminhávamos pelo gigantesco jardim que existia no prédio. Observar as belas e diferentes espécies de flores que havia ali não me atraía tanto quanto analisar com mais atenção os traços do meu acompanhante, mas me forcei a admirar os arranjos. Não queria que ficássemos desconfortáveis.

— Além de ficar com Elizabeth 3ª? – questionou. Caminhávamos a passos moderados, sem pressa para encerrar o nosso passeio. Àquela altura, já havíamos nos servido da incrível refeição que os cozinheiros de Jumin prepararam especialmente para a ocasião e degustado dos melhores vinhos da sua adega. O corpo ainda estava aquecido pela bebida, e eu me sentia um pouco mais liberta do constrangimento.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Um pouco até demais, eu diria.

— Além.

— Bom, eu leio.

— Os seus divertidos livros de contabilidade e gerenciamento de empresa?

— Também – escutei sua risada discreta.

— E além de ler?

— Às vezes, ligo a TV e vejo programas aleatórios, mas não por muito tempo. Às vezes, trabalho no meu horário livre.

— Mas isso não é diversão, Sr. Han.

Jumin estancou a sua caminhada, e só parei de andar quando estava a alguns passos de distância. Ele me observava com os braços cruzados sobre o peito, a postura ereta. Seus olhos amendoados, porém, me encaravam com diversão.

— Há algo que você queira me sugerir, Greta?

Se Jane e Melanie me vissem naquele momento, provavelmente não reconheceriam a pessoa que, com as mãos nas costas, parecia não sofrer com uma severa timidez.

— Talvez.

Jumin não falou nada, esperando que eu continuasse o meu raciocínio.

— Reparei que sua casa é bem grande – expliquei. — E, bom... Possivelmente você vai me achar bem maluca com o que vou dizer agora.

— Ou talvez não.

Incentivada por aquele sorriso, perdi a vergonha de fazer a pergunta que não saíra da minha cabeça desde o momento em que cheguei ali:

— Você costuma andar de patins, Jumin?

Não consegui entender como, meia hora depois, dois pares de patins apareceram. Quando dei por mim, já estava em pé, sobre rodas, incontrolavelmente entusiasmada. Ao contrário de mim, Jumin não se sentia seguro dentro dos seus patins. Ele patinou até mim com dificuldade.

— Com certeza, essa ideia foi bem maluca, Greta – afirmou, ficando ao meu lado.

— Diversão, Sr. Han, não pode acontecer sem um pouco de loucura – falei, apoiando-me sobre meus joelhos e me preparando para pegar impulso. — Você sabe andar, não sabe?

— Talvez eu tenha desaprendido com o tempo.

Estendi a minha mão para ele.

— Não precisa ter medo – expliquei assim que seus olhos, confusos, se encontraram com os meus. — Estou aqui por você, não é?

De início, não reparei que não havia me referido apenas ao medo de andar de patins, mas Jumin compreendeu o sentido da minha afirmação antes mesmo que eu pudesse me dar conta. Sua mão – grande, suave e quente – tomou a minha com segurança, apertando-a com delicadeza. Era o nosso primeiro contato físico, e não estranhei o calafrio que percorreu o meu corpo ao sentir pele contra pele. Se eu não tivesse me forçado a arrancar, com tranquilidade e sem pressa para me aventurar, provavelmente teria continuado ali, inerte, sentindo a maciez dos dedos de Jumin contra a minha palma.

Não olhei para ele enquanto patinávamos pela cobertura, pegando velocidade conforme meu companheiro ganhava segurança. Escutei pela primeira vez a sua risada e percebi sinceridade ali, como se, naquele momento, Jumin houvesse se libertado da série de preocupações que lhe importunaram durante o dia. Não deixei de me perguntar se Jumin costumava rir tão sinceramente no seu dia-a-dia ou se aquele era um evento raro, que o forçava a externar até mesmo a mais básica das suas emoções. Mais do que o prazer que andar de patins me proporcionava, senti felicidade por vê-lo tão mais leve e tranquilo.

E mesmo eu, naquela virada louca que a viagem tomou, consegui me desprender dos pensamentos obsessivos, do que havia me levado à Coreia. Eu apenas ria enquanto fazia curvas e manobras em meus patins, tanto que já conseguia sentir minha barriga doer.

Não sei em qual momento Jumin tomou minhas duas mãos e começou a dançar comigo no meio do salão de música, ao som de uma banda de k-pop que vinha de algum ponto da cozinha. Envolvida como estava pela adrenalina do passeio, me deixei levar, ignorando a eletricidade que percorreu a espinha no instante em que o senti tão perto de mim. Nossos passos eram absurdamente ridículos e descoordenados, mas aquilo não importava. Nada mais importava.

*

Ficou tarde para voltar para casa. Por segurança, tanto Jumin quanto eu achamos melhor pernoitar na sua casa, embora a ideia me desse calafrios.

A decisão, por outro lado, alvoroçou os membros da R.F.A. Zen quase surtou quando soube que eu dormiria na cobertura e tentou, de todas as formas, me persuadir a desistir da ideia, enquanto atacava Jumin. Dizer que não me diverti com aquele excesso de cautela e precaução seria uma mentira, principalmente quando o estereótipo de donzela virginal passava bem longe de mim. E preciso admitir que o provoquei um pouco além da conta apenas para continuar me divertindo com suas reações explosivas e desesperadas.

Acabei me acomodando na suíte de Jumin, por mais que eu tenha o assegurado de que poderia dormir tranquilamente em um dos quartos de visita da sua casa. Ele, por outro lado, estava irredutível. Queria que o maior conforto fosse destinado a mim.

Eu não havia me preparado para pernoitar ali, o que fez Jumin me emprestar algumas roupas. Ao sair do seu banheiro, vestida com uma larga blusa social branca e uma calça de moletom cinza, me deparei com Jumin sentado na ponta da cama, segurando um velho livro.

— Cansada? – perguntou, abrindo um sorriso resplandecente para mim.

— Acho que não tenho mais o mesmo pique que tinha para andar de patins – falei, parando perto da sua cama.

— Ah, por favor – ele disse, levantando-se e apontando para o colchão macio. — Faço questão de que você descanse aqui.

— Não me sinto muito bem em invadir o seu espaço – sentei-me na cama timidamente, acomodando-me sobre os brancos lençóis.

— Você não está invadindo nada, Greta. É um prazer recepcioná-la.

Um instante de desconforto por causa da intimidade do momento pairou sobre nós. Tanto eu quanto Jumin parecíamos dois adolescentes que não sabiam o que fazer na presença do sexo oposto, ainda mais estando sozinhos em um quarto.

— Quer que eu desligue as luzes para você se sentir mais confortável? – perguntou, com uma ansiedade que não lhe parecia comum.

— Talvez seja uma boa ideia.

Mas não era. A relaxante luz da sua luminária apenas aumentou a tensão entre nós.

— Boa noite, Greta – Jumin falou, preparando-se para sair do aposento.

— Espera – exclamei mais alto do que gostaria. — Fique... fique um pouco aqui.

Ele assentiu, sentando-se ao meu lado. Eu me sentia inebriada – pelo seu perfume, pela nossa proximidade, pelo seu quarto.

— Se você estiver se sentindo desconfortável – começou, esforçando-se para manter a tranquilidade, — posso ler para você. Você se incomodaria?

Meu peito se encheu de ternura.

— De forma alguma.

Jumin pegou novamente o velho livro que segurava no momento em que saí do banheiro. À meia-luz, não consegui pegar direito os detalhes da capa, o título e o autor – apenas senti o suave e já conhecido cheiro de mofo que exalava das páginas gastas. Com uma espécie de adoração, escutei-o ler alguns trechos antes de vê-lo sorrir para mim e fechar a encadernação.

— Sobre o que esse livro é? – perguntei, curiosa.

— Não sei tudo sobre ele – revelou. — Eu deveria tê-lo terminado de ler há mais tempo para contar a história para uma amiga, mas... Ela não está mais nesse mundo.

Percebi que sua voz ficou pesarosa.

— Rika? – arrisquei, contendo a vontade de afagar os seus cabelos e trazer-lhe algum tipo de conforto.

— Sim – ele suspirou. — Desde que ela se foi, nunca mais peguei neste livro. Mas, nesse momento, senti vontade de lê-lo para você.

— Assim como eu senti vontade de ler para você um trecho do meu livro favorito?

— Acredito que sim – mais uma vez, aquele sorriso estava em seus lábios. — É incrível me sentir dessa maneira. Quando eu via V e Rika juntos, me sentia um pouco ansioso. Eles sabiam algo novo toda vez que eu os encontrava, algo que eu não sabia o que era. Ainda sinto essa ansiedade hoje.

— Gostaria de falar sobre isso?

— Talvez não hoje – sua mão encontrou a minha. — Obrigado por ter vindo, Greta. Você mudou o foco dos meus pensamentos para você e me sinto capaz de não pensar mais nos meus problemas. Muito obrigado por ter vindo.

Não consegui falar mais nada porque não havia o que dizer. Foi sentindo o retumbar dentro do meu coração que eu soube que havia abraçado mais um problema.

— Descanse agora, jovem dama.

Eu havia me apaixonado. Irremediavelmente.