Na manhã seguinte, Emma levantou primeiro que Davi. Acordou primeiro que seu despertador porque havia acordado no susto, devido a um pesadelo que tivera. Tomou uma ducha para esquecer e se despertar. Em seguida, vestiu sua calça jeans de estilo boyfriend, colocou uma camiseta básica branca e seu blazer preto. Estava com tanta fome que foi direto para a cozinha preparar sua refeição. Enquanto comia, olhou o celular para checar a hora e as noticias da manhã. Entrou no site de noticias do jornal que trabalhava.

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Quase se deixou engasgar com um pedaço de torrada quando viu uma foto de Anna Rossi aparecer na manchete principal. Na foto, Anna parecia ter sido pega desprevenida quando a fotografaram, pois sua face e seu sorriso pareciam tímidos demais. Emma parou para observar a foto durante alguns segundos e se perguntava o que houve naquela noite.

Lembrou-se do pesadelo que teve.

Um flash do sonho veio em sua mente – se passava numa praia, era noite e alguém estava pedindo ajuda no mar adentro. Emma estava na beira da praia e não conseguia enxergar a pessoa que gritava distante. Mesmo assim, tentou fazer alguma coisa. Nadou até onde ouviu a voz. Quando se aproximou da pessoa, já desacordada, notou que ela era a Anna. Então a puxou até a areia e fez imediatamente tudo para reanima-la, mas não conseguiu.

Anna não acordou.

E é muito surreal quando, durante o sono, você realmente sente uma coisa física do que se passa durante os sonhos ou pesadelos. Emma acordou porque sentiu uma dor no peito imensa. Uma terrível agonia.

Chacoalhou a cabeça a fim de esquecer tudo isso e foi em busca do seu pente e maquiagem, pois tinha que se arrumar para o longo dia no trabalho.

***

Dep. de Policia

Na mesma manhã

Jane Goffman trabalhava como detetive há cinco anos e durante todos esses anos já viu muitos casos, aparentemente, fáceis de achar solução. E com certeza recentemente colocou mais um para sua lista: o homicídio passional que ocorreu em um dos bairros mais nobres da cidade. A suspeita: uma jovem na casa dos vinte anos da qual foi vista entrar e sair de uma casa dentro do horário possivel em que o rapaz foi morto.

Essa manhã, Jane iria para o laboratório o qual foi encaminhado o corpo para pericia. Conversaria com a legista responsável Tania Bolton.

– Ele foi morto pelos tiros, certo? – Jane observava as marcas dos tiros no corpo pálido e gélido da vitima. Os tiros eram localizados um na posição no centro da testa, no ombro e outro na coxa.

– Aparentemente, Jane. – Assentiu Tania

– Claro Tania. – Jane sorriu.

As duas estavam paradas em frente a uma maca de metal que carregava o corpo do jovem.

– Fiz uns testes toxicológicos e os resultados não demorarão a sair. – Disse Tania, séria.

Jane esperou ela continuar.

– Existem aqui – apontou para o braço esquerdo – muitos pontos de injeção. E são aleatórios...

– O que quer dizer que possivelmente ele injetava drogas – continuou Jane.

– Só para ter certeza, pedi os exames.

– Mas isso realmente vai nos ajudar em alguma coisa? Digo, pois, já temos nossa principal suspeita. E foragida.

– É isso que vamos descobrir.

– Tenho uma garota para pegar e a arma do crime. Fizemos buscas na casa da Rossi e nada foi encontrado. Pelo menos, nada que a incrimine - fez uma careta – porém sabemos que levou alguns documentos importantes e algumas roupas, como uma boa fugitiva apressada faria.

Foi interrompida por seu celular. O sentiu vibrar no bolso. A chamada identificava seu parceiro, Toddy Walters. Logo atendeu. Fez uma careta quando ele disse que a imprensa começou fazer um cerco em frente a delegacia em busca de novas informações do caso.

Parecia que não ia ser nada fácil o caminho até a prisão de Anna Rossi, lamentava Jane.

***

Emma passou a maior parte do dia escrevendo matérias para a internet sobre o que acontecia na cidade aquele dia. De vez ou outra se distraia mais uma vez com o homicídio envolvendo, supostamente, Anna Rossi. Infelizmente, não era encarregada de cobrir o caso e só lhe sobrava acompanhar através dos cochichos na sala de redação, de seus colegas comentando ou pelos televisores espalhados na grande sala. Pode notar em como a imprensa no geral está adorando tudo isso. Claro, é de se chamar a atenção uma garota que vem de família classe média alta, tem um diploma da faculdade e de repente se encontrar como principal suspeita de um crime. Um doce para a boca da mídia faminta. Apesar de Emma fazer parte dessas mídia, revirava os olhos para algumas coisas que diziam de modo sensacionalista e desnecessário.

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A essa altura, três ex-colegas de Anna da faculdade já deram entrevista dizendo que ela sempre foi uma garota engraçada e boa pessoa, nunca imaginariam ela fazer tamanha barbaridade. Teve um que disse que apesar de tudo espera que ela pague pelo o que cometeu.

Os pais de Anna estavam em São Francisco e chegariam naquela semana para acompanhar o caso de perto, com a ajuda de um advogado da família.

E até o momento nenhum rastro do paradeiro de Anna Rossi.

Emma se perguntava onde você foi parar?

No final da tarde, quando voltava para casa, havia enfrentado um grande engarrafamento. A lentidão era terrível. Um acidente com um motociclista fez parar todo o trânsito. Emma respirou fundo e tentou não se estressar. Pegou seu celular, conferiu algumas mensagens, alguns e-mails e seu facebook. Aconchegou-se um pouco mais na poltrona do carro e percorria a timeline da rede social para ver se tinha algo interessante.

Não havia nada.

Colocou a mão no volante para andar dois metros e voltou a pegar seu celular. Ainda estava no facebook. Continuou deslizando até olhar a foto de uma conhecida sua que parecia feliz do lado no namorado e atrás dela havia uma linda praia. Com isso, Emma voltou seus pensamentos a Anna Rossi e aquele dia na praia. Já não conseguia negar para si que estava um pouco obcecada por Anna. Com isso, subiu a página do facebook e clicou no botão "pesquisar" e digitou o nome da garota.

Por incrível que pareça, Anna Rossi foi a primeira da lista porque tinha alguns amigos em comum com Emma, da época da escola.

Emma começou a ficar nervosa e clicou rapidamente no perfil da garota. Na foto de perfil dela, estava com um grande sorriso olhando diretamente na tela. Seus cabelos estavam pretos e bastante curtos. Emma clicou na foto para saber de que data pertencia. Era de 2011. Queria poder ver mais coisas sobre ela, porém seu perfil estava restrito a amigos. Só pôde ver as fotos antigas de perfil.

Sua atenção foi quebrada devido a buzinas direcionadas a ela. Andou com seu carro. Quando voltou a parar, continuou a vasculhar o perfil de Anna.

Ficou irritada em não descobrir nada em relação a ela. Até que por impulso clicou na caixa de mensagens e escreveu:

Anna, tá lembrada de mim? Estudamos juntas no esino médio. Não sei por que, mas acho que você não matou aquele cara. Beijos.

Emma riu do que tinha feito. Que bobagem escrever isso. Clicou em enviar sabendo que aquilo não iria dar em nada. Totalmente em vão. Só fez isso mesmo porque tinha certeza que Anna estaria muito ocupada fugindo, nunca que ia parar e ler mensagens de rede social e muito menos respondê-las.

O tédio no trânsito estava gritante.

O relógio marcava 22:47 da noite. Emma havia acabado de por algumas roupas para lavar. Em seguida voltou a deitar em seu sofá, pôs em algum programa qualquer e pegou seu celular. Discou para Davi que no segundo toque a atendeu. Perguntou como ele estava e como foi seu dia. Conversaram durante longos vinte minutos. Ao término, Emma pegou seu notebook para acessar o site do jornal onde trabalhava. Enquanto carregava a página, percebeu que passava um programa de noticias local da qual a pauta principal era Anna Rossi. Emma se atentou a mulher de cabelos ruivos curtos que dizia que receberia uma psicóloga especialista criminal para entrevista a fim de discutirem o que pode ter acontecido a Anna para que ela pudesse matar alguém tão brutalmente.

Emma aumentou o volume da TV.

Uma senhora que parecia aparentar pouco mais de cinquenta anos começou a falar.

"Pelo o que vem sendo mostrado na mídia, a jovem parece não ter nenhum histórico de qualquer tipo de agressão ou alguma doença mental. Claro que, por mais que se colete dados do que foi ou é Anna Rossi nunca saberemos de fato quem ela é sem termos nenhum contato com ela. No caso eu precisaria no mínimo vê-la em ação, e não apenas tirar conclusões de histórias e fotos. Trabalho observando casos assim a mais de vinte anos e concordo que há alguma coisa estranha no meio disso tudo. Geralmente, a família o pai, a mãe são agentes motivadores para o comportamento dos filhos. E para tirar a vida de um homem, que até então sabemos que esse homem mantinha relacionamento com ela, há de se pensar o que ele poderia ter provocado a Anna da qual o seu limite se viu estourado e fizesse o que, parece, que fez."

Emma gostou que por mais que a repórter tentava "derrubar" Anna, a Psicóloga sempre tinha argumentos precisos que de vez ou outra plantava a dúvida se Anna Rossi poderia ter mesmo cometido o crime.

Voltou a sua atenção ao computador. Checou algumas noticias, umas eram novas, mas a maioria ela já estava por dentro. Abriu uma nova aba e digitou facebook. Havia algumas notificações e três mensagens novas. Clicou nessas.

Uma mensagem era de sua tia Margot, que a convidava para um final de semana em seu chalé que ficava na Serra da Nevada. Emma não sabia se poderia ir, então deixou para respondê-la mais tarde.

A outra mensagem era resposta de um colega seu que mandava o link para inscrição de uma palestra com um dos jornalistas mais populares da televisão americana. Emma clicou no link que abriu em outra página.

Enquanto carregava, resolveu visualizar a última mensagem. Essa era de uma tal de Amy R, não havia foto no perfil.

– Quem é Amy? – perguntou para si.

A mensagem continha: "Precisamos nos ajudar. Sei onde está Anna."

Emma sentiu um calafrio pelo corpo, seu coração começou a acelerar. Anna? Seria a... Mas, como? Ficou confusa com a mensagem, viu que foi mandada há 27 minutos atrás. Clicou no perfil da tal Amy e não viu nada. Só havia o nome. Percebeu que o perfil era fake, anônimo.

Ajeitou-se melhor no sofá e respirou fundo, digitou para responder.

"Como assim? Quem é você?"

Mordeu os lábios tensa, lendo e relendo a mensagem que tinha recebido. Pensou se seria alguma fonte que de fato sabia onde estaria Rossi. Claro, só poderia ser sobre Anna Rossi. Que outra Anna seria? Mas isso não fazia sentido, já que ela não estava encarregada de informar sobre esse caso.

Passou alguns minutos até ela obter a resposta da Amy R.

"Não posso dar muitas informações mas sei onde ela está. Precisamos nos encontrar, se você estiver com carro estacione em frente ao principal Mc Donalds do centro, que fica na praça Albert Norris. Pisque 3 vezes o farol do carro às 01:24. Estarei lá. Não conte a ninguém sobre essa conversa, e exclua! Confie em mim."

O estômago de Emma começou a doer depois de ler aquilo. Quem seria? Porque justo ela foi escolhida para possuir essa informação tão cara?

O tique nervoso que dominava suas pernas começou a piorar. Foi na cozinha tomar um copo de água e refletir melhor sobre esse convite misterioso. O nome, o rosto de Anna Rossi não saia de sua mente. Pensou em falar com John, seu colega, e contar-lhe sobre a mensagem, talvez ele a ajudasse a pensar melhor. Mas lembrou que a mensagem pedia à ela não contar a ninguém. Mas sentia que tudo isso era uma área escura da qual não fazia ideia do que estaria escondido nela. Não tinha um porquê de Emma ter sido escolhida para ter essa informação.

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Voltou ao sofá e pegou o notebook. Releu mais uma vez as mensagens da tal Amy. O medo e a aflição tomaram conta de Emma que a fez hesitar em responder.

Depois de dois minutos, respondeu um "OK". Entendeu que não era obrigada a comparecer, podia ter concordado de ir com a mensagem, porém outra coisa diferente seria realmente ir ao lugar.

Excluiu as mensagens em seguida e o seu histórico do computador. Pressentiu que isso era o importante de se fazer.

Emma estava agitada por dentro, seu corpo estava tremendo, começou a sentir náuseas. Nunca havia passado por um momento tão tenso na sua profissão de jornalista desde que se formara há quatro anos. Olhou o relógio, marcava 23:32. Faltava menos de 2 horas para o encontro que nem sabia se iria. Decidiu que a melhor coisa que poderia fazer naquele momento seria tomar um belo banho a fim de relaxar o corpo e com sorte a mente também.

***

Olhando para o teto de seu quarto, que estava na penumbra com um abajur acesso, ficou pensando nas consequências de ir encontrar Amy. Será que é um tipo de trote? Uma armadilha? Irei... Morrer? Pensamentos negativos invadiram a mente da mulher. Emma era bastante insegura, as vezes se odiava por ser assim. Virou para o lado e fechou os olhos tentando limpar a mente. Sentiu o perfume de seus cabelos curtos pregados em seu rosto, que ainda se encontravam úmidos, e tentou não pensar em completamente nada.

Porém uma fala de seu professor da faculdade lhe ocorreu: Vocês precisam gostar do perigo. Ser jornalista é preciso saber enfrentar, questionar e principalmente arriscar-se. Nenhuma informação vem por si própria, nós que estamos lá para fazer a ponte entre o emissor e o receptor. Não tenham medo, vamos lá!

Suas pernas voltaram a se mexer de nervoso. Abriu os olhos e pensou que um momento como esse não poderia ser desperdiçado por puro medo e insegurança que lhe tomavam. Isso tudo era uma grande coisa sobre uma grande pauta que todo mundo está de olho agora. Se o convite tiver sido feito de má intenção, ela levará isso como lição.

O relógio marcava 00:43. Emma levantou da cama, abriu seu guarda roupa para escolher qual roupa usar. Iria sair daqui a pouco para encontrar alguém.

***

A música One da banda U2 tocava em baixo volume e tomou conta do carro. A medida que se aproximava do local do encontro, Emma sentia sua barriga revirar mais e mais. Quando avistou o lugar, percebeu que apesar do horário bastante tarde, ainda havia um grande número de pessoas circulando a praça. A maioria jovem, com seus grupos de amigos que se reuniam para comerem no MC Donalds e depois sentarem no gramado para passarem o resto do tempo. Emma já fizera isso com os amigos tantas vezes na época de ensino médio, que bateu até nostalgia. Sentia falta da época em que sua única preocupação era brigar com sua mãe por ter chegado tarde em casa.

Agora se encontrava num grande redemoinho totalmente escuro do qual não sabia o que encontrar como jornalista. E como pessoa. Sempre se imaginou num momento como esse em sua profissão, desde que foi caloura na universidade. Agora que isso estava realmente acontecendo, estava em pânico. Respirou fundo e estava decidida em não recuar. Começou a olhar as pessoas lá fora e tentou notar alguém com "cara" de informante. Iria pensar mais tarde sobre o que faria com a informação do paradeiro de Rossi. Só sabia que algo ela teria que ganhar com todo esse sufoco psicológico da qual não pensava que iria passar naquela noite.

Olhou para o relógio que marcava 01:19.

Emma desistiu de procurar algum rosto suspeito. Relaxou sua coluna na cadeira do carro e esperou ansiosamente o relógio marcar 01:24. Desligou o som.

01:22.

Desligou a rádio. Pegou rapidamente um batom de cor rosa leve, olhou no retrovisor e o passou pelos lábios. Soltou o cabelo do rabo de cavalo e ajeitou alguns frizz. Colocou para frente seus cabelos curtos para não demonstrar totalmente o cansaço no seu rosto. Respirou fundo. Mentalizou que daria tudo certo, que iria sobreviver. Estava naquela profissão e teria que lidar com situações como aquela. Seu coração bateu rápido, respirou fundo novamente de forma devagar.

01:24.

Tremeu. Sabia o que fazer e sem hesitar, piscou o farol uma, duas e três vezes. Olhou para todos os lados em busca de alguém suspeito. O número de pessoas havia diminuído um pouco desde que chegou ali. Mas ainda havia muita gente dispersa na praça.

Ouviu um relâmpago. O susto a fez pular na cadeira e com isso disse vários palavrões. Havia se passado três minutos e nenhum sinal da pessoa. Emma roia as unhas na expectativa. Fechou os olhos por um momento para tentar se acalmar.

No segundo seguinte, o barulho da porta do carro abrindo e a pegou de surpresa.

– Mas que porra... – disse Emma chocada.

Uma mulher de cabelos longos platinados entrou no carro rapidamente. Quando esta virou para Emma a fim de encara-la, Emma ficou petrificada. Reconheceu o rosto pálido com sardas de imediato. O rosto que estava em todos os lugares durante os últimos dias.

O rosto de Anna Rossi.