Queen of the North

Capítulo 3 - Aço e Sangue (Parte 2)


Um incomodo tomou conta do peito de Alek. Seu coração acelerado roubava todas as suas forças, e para esquecer que estava sendo esmagada por todos os lados fechou os olhos. Escutava gritos, escutava grunhidos, e gemidos, e enquanto lutava para respirar escutou um som diferente, alto e estridente.

Alek gritou alto, parecendo mais um rugido do que um grito de uma garota. Tentou se mover de um lado para o outro, e em sua última tentativa usou todas as suas forças que sobravam, e acabou conseguindo empurrar o homem em sua frente, que antes apertava suas costas contra o rosto de Alek.
O homem se moveu um pouco para a frente, o que foi um grande alívio para a jovem. Mas ela ainda se sentia presa, se sentia impotente. Um desespero angustiante fazia seu sangue borbulhar, e criava uma vontade arrebatadora de gritar e sair correndo. Mas Alek não iria desperdiçar forças gritando, e era impossível sair correndo. Tentava de qualquer maneira dominar sua mente, dominar a agonia de estar espremida entre um bando de brutamontes.

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O mesmo som ecoou novamente, mas desta vez Alek reconheceu, era o som de uma trombeta de batalha. Imaginou se não seria Ramsay declarando sua vitória. Mas segundos depois ouviu sons de cavalos e homens gritando. O que céus está acontecendo?

Sentiu uma adrenalina invadir suas veias novamente, olhou para o céu nublado e cinzento esperando pelo que fosse acontecer. Seus olhos azuis gélidos focavam no alto quando ouviu sons de vitória, sentiu que a cada instante podia se movimentar mais. Alek ficou na ponta dos pés quando conseguiu se mexer, e viu que Cavaleiros do Vale estavam os ajudando a sair da parede de escudos, jogavam os cavalos em cima deles, dispersando os homens cada vez mais. Logo todos podiam se mexer perfeitamente, e Alek se colocava em movimento novamente. Andou alguns passos em frente, na direção do enorme amontoado de corpos, quando uma mão a puxou, e por instinto Alek levou a espada no mesmo movimento de seu olhar. Mas parou abruptamente quando viu o rosto de Jon Snow.

— Venha — Jon disse rapidamente. Seu rosto estava coberto de sangue, e seu olhar passou de surpreso para firme em questão de segundos.

Alek seguiu Jon, escalando o monte de corpos. Não ousando olhar para onde pisava, mas somente em frente. Jon encarava Ramsay ferozmente, e Alek o encarava com um sorrisinho vitorioso nos lábios. Logo Tormund e o gigante selvagem apareceram, e o olhar de Jon foi se tornando mais vivo. Ramsay pareceu perceber, e começou a galopar para dentro das muralhas de Winterfell.

Pularam o amontoado de corpos e passaram a correr o mais rápido que seus corpos cansados conseguiam. Alek não conseguia segurar as pequenas risadas que dava, seus olhos estavam divertidos. Seu sangue ainda borbulhava, mas de emoção, e suas veias ainda pulsavam com o bater da adrenalina que extasiava seu coração.

Correram para Winterfell, passando por vários pequenos montes de corpos, um em cima do outro, alguns homens ainda pareciam vivos. Alek corria ao lado de Jon, com Tormund sempre os alcançando. Chegaram a Winterfell, com seus portões já fechados, e o gigante começou a esbarrar a porta sem pestanejar. Então ele socou o portão, e sua mão atravessou para dentro. Os arqueiros de Ramsay passaram a disparar flechadas em suas direções, e principalmente na direção do gigante selvagem, mas ele socou novamente o portão, abrindo mais um buraco. Alek não conseguiu ver exatamente como aconteceu, mas o gigante empurrou novamente o portão, que se abriu em um baque, e passou correndo para dentro das muralhas de Winterfell. Foi quando Alek seguiu o comando de Jon e adentraram o lugar, atrás de vários soldados deles. O gigante estava de joelhos, recebendo flechadas. Alek sentiu pena daquela criatura que havia lhe conquistado o respeito. Literalmente, era um grande homem.

Alek parou ao lado do gigante, o alcançando logo depois de Jon. Ele estava repleto de flechadas em todo o corpo. Ainda vivo, e respirando. Alek sentiu vontade de poder ajudá-lo, e percebeu que Jon estava com o olhar mais pesado do que o seu enquanto encarava o gigante. Tormund os alcançou segundos depois.

Jon ainda encarava o gigante, quando o mesmo o olhou, ofegando de dor. Jon ergueu as mãos para alcança-lo, mas no mesmo instante uma flechada acertou o olho do gigante arrancando sua vida, e ele foi ao chão. Teria seu descanso.

Alek foi ao lado de Jon e encarou Ramsay com o arco nas mãos. Seu olhar se tornou ainda mais frio.

— Você sugeriu combate um a um, não? — Ramsay disse. Jon o encarava, enquanto Ramsay olhava ao seu arredor, com Winterfell tomada de novo pelos Starks.

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Todos os arqueiros miraram nele.

— Eu reconsiderei — Ramsay disse, ainda com aquele tom de voz debochado. Mas naquele instante, Alek não aguentou, e deu uma gargalhada. Todos a olharam, menos Jon Snow que estava ao seu lado. Alek tinha um senso de humor peculiar, e não muito tímido.

— Acho uma ótima ideia — Ramsay disse enquanto encaixava a flecha e mirava em Jon.

Alek deu um passo para trás, mas não se moveu mais dali. Jon jogou a espada e alcançou um escudo que estava no chão. A primeira flechada acertou o escudo, e então Jon deu mais alguns passos na direção de Ramsay. Mais uma flechada no escudo, mais próximo de Ramsay. E mais uma flechada, então Jon o alcançou, acertando Ramsay em cheio com o escudo, e indo para cima dele, que já estava caído no chão. Um soco atrás do outro, cada vez mais sangue cobrindo o rosto do maldito Bolton.

Alek olhou para Tormund com o olhar calmo, e recebeu um pequeno aceno de cabeça do selvagem. Jon não parava de deferir socos no rosto de Ramsay, ele iria mata-lo. Foi quando Alek percebeu Sansa ali parada, e então Jon a notou, e parou com os socos.

Alek poderia dizer que Sansa parecia perplexa, talvez um pouco assustada, mas não tinha certeza. Foi quando o olhar da jovem Stark se tornou mais firme. A garota estava amadurecendo cada vez mais. Talvez Sansa quisesse matar o Bolton, e Alek achou que ela deveria mesmo.

Jon saiu de cima de Ramsay, o encarou com desprezo, e então se afastou.

Os estandartes dos Starks substituíram o da Casa Bolton. E o grande lobo voltou para as suas muralhas.

—-

Logo todos estavam cheios de afazeres, mas Alek estava encostada na muralha de pedra, esperando por seu irmão aparecer. Suas espadas estavam no chão em sua frente, agora limpas, e a garota as encarava com um olhar distante. Seu corpo estava dolorido e cansado, e em suas mãos ainda podia sentir um pequeno formigamento, mas a adrenalina já havia se dissipado, e Alek sentia falta dela.

Alek estava começando a ficar preocupada, e um frio na barriga começava a surgir. Ela apertava mais os braços cruzados contra seu corpo, e tentava se concentrar só em suas espadas no chão. Seu irmão iria aparecer.

Pés se aproximaram da garota e pararam em sua frente, Alek ergueu os olhos esperançosos, mas não era Artur, e sim Jon Snow. Ele a encarava com seus olhos negros indecifráveis. Alek não gostava disso, de não conseguir ler aqueles olhos. Ele parecia querer dizer algo, mas foi interrompido quando Artur apareceu.

Os olhos da garota se avivaram, um sorriso enorme brotou em seus lábios. Artur acelerou o passo na direção de Alek, e abraçou a irmã com força.

— Por que demorou? — Alek deu um soquinho no peito do irmão.

— Estava te procurando — Artur abriu um pequeno sorriso, que logo se fechou. —Mas acabei encontrando Liza.

— Liza! — Alek se surpreendeu. Nem lembrava de que a garota viera junto. — Como ela está?

Liza era a irmã de uma antiga amiga sua, que havia falecido aos doze anos. Liza vinha treinando espadas com Alek, depois de ver a emboscada realizada aos soldados Bolton.

— Morta — quem respondeu foi Tobias, que surgiu ao lado de Artur.

Alek ficou em silêncio, enquanto assimilava o acontecido. Seu rosto se fechou, mas não houve lágrimas, nem grande demonstração de tristeza.

— Eu fico encarregada de avisar a mãe dela — Alek disse alcançando suas espadas no chão e embainhando-as. — Me leve ao corpo.

Tobias foi quem assentiu, e Alek o seguiu para fora de Winterfell.

— Obrigado, Artur — disse Jon.

— Eu que agradeço — Artur sorriu. — Sinto muito pelo seu irmão, eu sei como isso é difícil — Artur disse soando sincero, com os olhos tocados pelo sofrimento. Jon assentiu, pesaroso.

— Talvez não seja uma boa hora, mas sobre a aliança de casamento... — Artur iniciou.

— Eu vou cumprir — Jon disse — mas sua irmã não parece gostar muito da ideia, mesmo que ela se esforce para aceitar.

— Jon — Artur disse com um suspiro cansado — você não precisa fazer isso, imagino que saiba disso.

— Eu sei — Jon disse, com um pequeno balançar de cabeça.

Artur tocou seu ombro e o movimentou. Estava claramente cansado e dolorido, mas ainda mantinha uma pose firme e digna de um Lorde.

— Acho que todos estamos muito bem fodidos — Artur disse — vou checar meus homens. Lorde Snow — Artur fez uma pequena e informal mesura, e se retirou.

Artur era o terceiro filho de Eamus Towk, e havia ficado em Brottwind na época do Casamento Vermelho, por ordem de seu pai. Ele, assim como Alek, se culpava, talvez até mais que a irmã. Era o homem que não foi a batalha, impedido por seu pai.

Mas ele sabia que Eamus havia feito isso pensando no pior, que de fato havia acontecido. Pesava em seu coração ter de entregar sua irmã em casamento para Jon Snow. Alek, a menina que havia alegrado e enchido sua casa com uma alegria única. Imaginou que no casamento de sua irmã, seu pai e seus irmãos estariam lá para soltar pequenas indiretas ameaçadoras para o noivo. Mas só ele estaria lá, e ele quem tinha o dever de cumprir uma das vontades de seu pai.

Formar uma aliança duradoura e verdadeira com a família Stark, não só por um laço de respeito, mas de família e sangue. Uma esperança para o Norte.

—-

Alek estava deitada em uma cama muito aconchegante, em um aposento de visita dos Stark. Alek poderia iniciar viagem na mesma noite para casa, mas neste momento os homens deveriam estar festejando no pátio de Winterfell. Ela, por outro lado, já havia se banhado, e estava com uma camisa grande e branca, que era de seu pai, Alek a usava como vestes para dormir, já que batia perto do joelho.

Dentro do quarto a lareira estava acesa, e o clima não estava tão frio como deveria estar lá fora, claro. Estava bom. Seu cabelo louro escuro estava úmido, e seu corpo estava limpo, sem nenhuma mancha de sangue. Alek demorou para conseguir se lavar sozinha, é claro que não aceitaria alguém dando banho nela. Em sua casa isso nunca havia sido feito, mesmo que soubesse que a maioria dos nobres se banhavam com ajuda de serventes.

As paredes eram de pedras muito bem cortadas e feitas, havia uma mesa redonda onde estava uma lamparina acesa, uma cadeira, um tapete simples em frente da cama, e uma mesinha com outra lamparina ao lado da cama. O cômodo estava bem iluminado, e olhando para o teto Alek quase podia se sentir em casa.

Pensou em sua falecida mãe, que nunca teve tempo de conhecer, pois havia falecido em seu parto. Pensou em seu pai, que nunca teve tempo de dar um último abraço. Pensou em Beorn, seu irmão mais velho, que nunca mais a elogiaria com as espadas. Pensou em seu irmão Regg, que nunca mais ficaria até de madrugada rindo com ela. Pensou em Artur, que tinha um fardo pesado e difícil em suas costas, pensou no quanto poderia estar sendo difícil para ele deixar ir a sua única família, ela mesma. É bom que ele sinta isso bem profundamente, pensou Alek, se de fato, o casamento acontecer.

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E então se pegou pensando em Jon Snow, que havia perdido tudo que ela perderá, e agora, mais um irmão. Alek conhecia a dor que ele, e Sansa, sentiam.

E Liza, tão jovem, tão inocente. Sentia-se culpada pela morte da garota, assim como pela morte da irmã dela, Enora. Foi Alek quem ensinou Liza a lutar, foi Alek quem convidou Enora para brincar nas árvores.

— Eu não vou cair neste buraco — Alek disse enquanto fechava os olhos com força.

Alek não gostava de chorar, assim como não gostava de se sentir fraca. Sentia, duramente, dolorosamente, a dor da perda. Sentia seu coração cada vez mais gasto de tanto sofrimento, mas não aceitava, e não aceitaria, que este sentimento a dominasse.

Então quando estava quase adormecendo, ouviu batidas na porta. Se levantou a contragosto, puxando um lençol para se cobrir, já que mesmo que a camisa de seu pai ficasse enorme nela, ainda assim não gostaria de sair mostrando mais do que deveria para alguém que não conhecia.

Abriu a porta e viu Artur encostado. Ele estava limpo e com suas típicas roupas de couro escuro e blusa grossa de algodão. Estava cheirando a vinho, e ele parecia feliz, mas ainda não estava bêbado.

— Já sei que está vivo, então pode me deixar dormir — Alek disse sorrindo.

— Minha querida irmã — Artur abriu um sorriso traiçoeiro no rosto e lançou um olhar para o lado. Encostada na parede estava uma jovem de cabelos negros, era bonita, e estava envergonhada. Ela fez uma pequena mesura para Alek, e abaixou os olhos.

— Estou chocada — Alek disse indiferente, e com os olhos divertidos.

— Eu não vou demorar, só preciso falar com minha irmã — Artur disse para a garota de cabelos negros, que assentiu.

Artur entrou no quarto e Alek fechou a porta.

— O que é tão importante que faz você esperar para fornicar?— Alek disse fingindo ser séria, e se sentando na cadeira, enquanto Artur se sentava em sua cama. — Quer saber, sente você na cadeira.

Eles trocaram de lugar, e Artur a encarava com um olhar fraterno.

— Quero que você me diga que entende, Alek — Artur disse ficando sério. — Entende que entrego você em casamento a Jon Snow pelo bem de nossa casa, pelo...

— Artur — Alek chamou sua atenção, o interrompendo. — Por mais que eu queira te socar, te meter o dedo na cara, e dizer que você não pode me entregar, porque eu sou minha, e de mais ninguém. — Alek suspirou, e ergueu os olhos para o irmão. — Por mais que eu sinta uma raiva ingênua. Eu entendo.

— Bom — Artur disse parecendo mais aliviado — isso é bom. Eu acho.

— Agora pode ir, eu serei uma ótima lady — Alek disse sarcástica com um sorriso falso, enquanto apontava para a porta. Artur se levantou.

— Você lutou bem hoje — ele disse ainda sério. — Nosso pai teria orgulho de você, assim como nossos irmãos. E nossa mãe.

— Acho que você estava ocupado demais para me ver lutar.

— Eu vi. Tinha de checar se estava viva. — Ele sorriu. — E além disso, os homens estavam falando de como Alek, a Rainha do Norte, lutou bravamente. De como Alek, é a melhor espadachim que já viram. Entre outras coisas. — Artur riu.

— O quê? — Alek indagou, séria.

— Pensei que não ficaria surpresa... — Alek não estava surpresa, ela era um ótima espadachim, e tinha orgulho disso, mas...

— Rainha do Norte? — Alek indagou, se levantando. — Rainha do Norte? Todos já sabem do casamento? Eu...

— Você disse que entendia.

— Eu entendo! — Alek se exaltou um pouco. — Eu só pensei que... — Alek baixou o tom de voz — Eu não sei o que pensei.

— Quer saber? — Artur se levantou — Eu vou te dar um presente — ele sorriu. — Me dê um soco.

Alek começou a rir, se levantou e apontou para a porta.

— De verdade, eu acho que mereço, e eu ague...

O soco veio repentinamente, em cheio no rosto de Artur. O fazendo cuspir um pouco de sangue. Ele ergueu as mãos em rendição.

— Hey! — Artur disse. — Não precisava usar tanta força. — Alek sorriu.

Artur abraçou Alek, a fazendo se sentir nos braços do pai. A fazendo se sentir como uma criança novamente. Mas então se afastaram.

— Tente não assustar ninguém com seu senso de humor — Artur disse com um sorriso, enquanto se dirigia a porta.

— Eu assustei alguém? — Alek se perguntou, se perdendo em seus pensamentos.

Antes de ir embora, Artur enfiou a cabeça para dentro do quarto.

— Não vá mostrar suas pernas para mais ninguém além de Jon Snow — Ele disse rindo, e fechou a porta antes que Alek pudesse falar algo.

Alek nem havia percebido que deixara o lençol cair, talvez na hora em que socou seu irmão. Ela não tinha vergonha de sua família, era sua família. Mas seu rosto estava vermelho e queimando, por vergonha do que o irmão disserá por último. Se dependesse dela, Jon nunca veria suas pernas. Alek não era do tipo romântica, mas nas raras vezes em que se imaginou casando, era com alguém que ela amava. E Alek nunca amou ninguém.

Apagou as lamparinas e se deitou na cama. Puxando as cobertas até ao pescoço, estava muito mais quentinho e agradável agora.

Seus olhos estavam pesados, seu corpo ainda estava dolorido, assim como estava cansado. Mas antes de pegar no sono, se pegou imaginando os homens a chamarem de Rainha do Norte, deveria ser invenção de Artur para irrita-la. Seu irmão, apesar de ser o Lorde de Brottwind, as vezes ainda agia como o menino que era quando criança.

— Rainha do Norte, pff.