O escritório de advocacia CLG Associados convida você para

O Baile Anual de Máscaras.

A ser realizado dia 16 de Dezembro de 2011, às 22h.

Traje obrigatoriamente formal.

– Você vai? – Angeles perguntou à Jackeline.

As duas estavam na sala de vidro, onde ficavam reunidas mais umas dez pessoas, cada uma com sua própria mesa. Angeles estava encostada em sua mesa e manuseava o convite preto escrito com letras prateadas. Jackeline estava em pé de braços cruzados e observando atentamente a amiga.

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– Mas é claro que sim, Angie. Todos os funcionários tem que ir – Angeles encarou-a.

– Eu não vou, Jackie.

– Angie, você tem que ir. Imagina o quanto o Matias e o Pablo ficarão chateados se você não for – Angeles bufou e olhou para o convite.

– Quem vai? – Jackeline encolheu os ombros.

– Todo mundo do escritório – Angeles olhou-a.

– Todo mundo? – Perguntou apreensiva e Jackeline assentiu.

Angeles suspirou e olhou através da parede de vidro. German caminhava até o elevador. Sempre com aquele jeito de ser superior a tudo e a todos. Ele encarou-a duramente e pressionou os dentes, em seguida entrou no elevador.

– Ele também vai – Jackeline disse, ao perceber o olhar de Angeles fixo em German. Angeles engoliu em seco e desviou o olhar.

– E eu com isso? – Jackeline arqueou uma sobrancelha.

– Só estou dizendo... Depois que você o pegou com uma vadia qualquer na sala dele passou a ficar nervosa quando ele está por perto, e aí eu pensei que... – Angeles olhou para a amiga.

– Pensou besteira, para variar, não é, Jackeline? – Interrompeu-a. Jackeline sorriu e encolheu os ombros – Ele é um cretino – Ela bufou – Eu não suporto esse homem.

– Ninguém suporta, só o Pablo e o LaFontaine conseguem e às vezes nem eles. Mas o fato de você não suportá-lo não quer dizer que não sinta nada – Angeles franziu o cenho.

– Não começa, Jackie – Angeles bufou e sentou-se na cadeira em frente a mesa.

– Tudo bem. Mas você vai ao baile, né? – Angeles encarou-a, suspirou e assentiu – Anime-se, garota. Será divertido.

**

Angeles terminou de arrumar-se e olhou-se no espelho. O vestido de gola alta, preto e longo de cetim caíra muito bem em seu corpo. O cabelo estava todo caído para um único lado e seus lábios estavam preenchidos por um batom vermelho bem vivo. Estava realmente belíssima. Ela ergueu a máscara preta toda trabalhada com detalhes prateados e amarrou-a de modo que a fita ficasse em baixo do cabelo. Desceu de elevador, embora morasse no primeiro andar. Joaquin Navarro esperava-a do lado de fora do carro e sorriu ao vê-la. Joaquin era um dos contadores do escritório e tornara-se um bom amigo de Angeles desde que ela entrara.

– Está linda, anjo – Angeles sorriu e abraçou-o.

– Você também, Joaco – Afastaram-se.

Em seguida, partiram. Exatamente 30 minutos depois, chegaram ao clube onde seria a festa. Joaquin embicou o carro na portaria do clube e mostrou o convite ao segurança, o qual fez um sinal para que o porteiro abrisse o portão. Joaquin agradeceu e entrou. Parou no estacionamento e ambos saíram do carro. Ele dobrou o braço para que Angeles pudesse apoiar o dela. Caminharam até o salão, o qual ficava próximo ao estacionamento. Subiram uma escada de mármore branco e depararam-se com o saguão de entrada. Um senhor recepcionava os convidados e indicava uma porta dupla entreaberta na direção em que eles estavam. Ambos sorriram para o senhor e aproximaram-se da porta.

– Está preparada? – Angeles suspirou.

– Eu já estou aqui, não é? Não faz muita diferença agora.

Os dois entraram. O salão estava com uma iluminação fraca, possuía algumas janelas, uma porta dupla do lado direito, a qual estava aberta, e um bar do lado esquerdo do salão. Estava razoavelmente cheio. Algumas pessoas andavam para lá e para cá, outras dançavam e algumas apenas observavam, paradas, a pista de dança.

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– Vamos procurar o pessoal! – Joaquin falou e Angeles assentiu. Começaram a caminhar pelo salão. Encontraram os outros perto da porta que parecia dar para algum jardim.

– Vocês demoraram! – Jackeline disse.

– Olá, Jackie, eu estou bem, obrigada por perguntar, e você? – Angeles brincou e Jackeline sorriu. As duas abraçaram-se, depois Angeles cumprimentou os outros e, por fim, parou ao lado de Jackeline, que observava a pista de dança.

– Como você está? – Jackeline perguntou.

– Eu já disse, estou bem. E você? – Angeles observava atenta e, de certa forma, apreensiva o espaço ao redor.

– Eu estou bem – Jackeline voltou a observar a pista de dança – Eu ainda não o vi, Angie – Angeles olhou-a.

– Não viu quem? – Jackeline encarou-a e sorriu.

– A pessoa que você ama odiar – Jackeline franziu o cenho e fingiu pensar por uns segundos – Ou seria: a pessoa que você odeia amar? – Angeles bufou e balançou a cabeça.

– Você sabe que eu odeio pessoas como ele.

– Você não odeia ninguém, Angie. Sério, você é a única pessoa que eu conheço que consegue enxergar algo de bom em todo tipo de ser humano. Você e, talvez um pouco, o Pablo – Angeles sorriu.

– Se eu não conhecesse o Pablo, diria que você só está dizendo isto porque o ama – Angeles disse amistosamente – Mas você tem razão, o Pablo é uma ótima pessoa. E o Matias também – Ela suspirou e voltou a olhar para a pista de dança – O que me admira é o fato dos dois conseguirem ser amigos do senhor Castillo – Ficou séria – Já faz quase um mês que estou no escritório e eu realmente sinto que estou evoluindo bastante, mas... – Olhou para o chão – Sei lá, eu... Por dentro, eu me sinto mal porque todo dia ele arruma um jeito para me humilhar – Angeles encarou a amiga – Eu nunca senti um ódio tão grande por alguém, o quanto eu sinto por ele.

– Ele está te afetando mesmo, não é? – Angeles encolheu os ombros.

– Nesse sentido, sim, mas de resto, eu acho que consigo suportar.

– Bom... Então, já que não é amor o que você sente por ele, eu posso continuar brincando com isso, não? – Angeles revirou os olhos.

– Brincando com o quê? – Pablo perguntou, ao chegar abraçando Jackeline por trás e depositando um beijo carinhoso na bochecha da namorada. Em seguida, olhou para Angeles e sorriu – Olá, Angie – Ela apenas sorriu de volta – E então, brincando com o quê? – Pablo afastou-se de Jackeline e olhou-a divertido.

– Angie está apaixonada pelo Castillo – Pablo ficou sério e olhou para Angeles.

– É sério? – Ela franziu o cenho.

– Claro que não, Pablo. Isto é coisa da cabeça da sua namorada, faça-a parar de pensar besteira e me encher o saco. Agora eu vou pegar um drink. Vocês querem? – Os dois negaram com a cabeça e Angeles retirou-se. Eles acompanharam-na com os olhos até que ela sumisse entre as pessoas. Em seguida, Jackeline olhou para Pablo e franziu o cenho.

– Qual é o problema, Pablo? – Ele encarou-a.

– Amor, não brinca com isso.

– Por quê?

– Porque mesmo que o German se apaixone pela Angie, ele negará até a morte. A última coisa que ele quer, na vida dele, é se apaixonar.

– É só uma brincadeira, amor, mas... você não acha que se apaixonar seria bom para ele? Quer dizer, talvez amoleceria aquele coração de pedra dele.

– Seria bom, se ele não tentasse resistir a isto – Pablo suspirou – Você acha mesmo que a Angie está sentindo algo por ele? – Jackeline encolheu os ombros.

– Ela diz que não e que a única coisa que sente por ele é ódio.

– E o que você acha?

– Eu acho que ela está tentando negar, para todo mundo e para ela mesma, que o Castillo mexe com ela como ninguém nunca fez antes.

– Então é bom não brincar com isso, amor – Pablo suspirou e olhou para a pista de dança – Quando o German está envolvido, não é bom brincar com essas coisas.

**

Angeles poderia ter conversado sobre qualquer assunto com qualquer pessoa mas acabara caindo justo no assunto que não queria nem lembrar. German Castillo tornara-se, para ela, uma pessoa repugnante, um carrasco, aquela pessoa destinada a fazer um inferno em sua vida. Lembrar-se dele em uma festa fora a pior ideia que, inconscientemente, tivera. Inconsciente sim, porque se lembrar dele transformara-se em algo rotineiro, ainda que ela não quisesse fazê-lo.

Após afastar-se de Pablo e Jackeline, entrara no meio da multidão e sumira por entre o mar de pessoas que haviam na festa. Afastara-se dos amigos com o único propósito de fugir daquele assunto, entretanto, não adiantara de nada. Sua cabeça estava tão avoada que, sem querer, ela esbarrou em um corpo grande e forte.

– Desculpa, senhor – Angeles disse rapidamente e sem encará-lo. Tentou desviar dele, mas o homem impediu-a com o corpo. Ela bufou e tentou desviar novamente, sem êxito.

The XX - Angels (HugLife Trap Remix)

Não bastasse todo o constrangimento, começou a tocar, bem neste momento, um remix de uma música lenta. Angeles respirou fundo e ergueu a cabeça, prestes a vociferar algumas palavras àquele senhor que não queria, de jeito nenhum, deixá-la ultrapassá-lo, mas, no momento em que o fez, esqueceu de toda raiva que estava sentindo. “Que homem é esse?”, Pensou. O homem misterioso de Angeles era o seu maior inimigo, se é que se podia considerá-lo assim. German estava impecavelmente vestido. O terno Gucci possuía um caimento perfeito para o seu corpo e a camisa e a gravata pretas deixavam-no ainda mais charmoso. Sua máscara era simples, completamente preta.

Os olhos de Angeles fixaram-se aos dele e ambos prenderam-se, mais uma vez, em uma intensa troca de olhares. Angeles respirou fundo e desviou o olhar. German colocou rapidamente a mão no rosto dela, apenas para que ela o olhasse.

– Eu quero ver seus olhos – Murmurou e desencostou a mão do rosto dela.

Ele não queria se permitir acariciar uma mulher, depois de anos sem fazê-lo, embora tivesse vontade de fazer isto com Angeles. German atraíra-se por Angeles, sem saber que era ela, de uma forma que há muito tempo não acontecia. Seus envolvimentos com qualquer mulher não ultrapassavam o sexual, mas agora... Agora, vendo aquela jovem, dos olhos verdes mais bonitos que já vira na vida, sentira vontade de acariciá-la, beijá-la, tocá-la intensamente e não apenas ter aquela coisa fria com a qual estava acostumado. Ele apenas sentira uma extrema vontade, que ele jamais seria capaz de admitir, de passar uma noite inteira com ela, mesmo que fosse apenas para ficar assistindo-a dormir.

Os dois aproximaram-se mais ainda um do outro, fazendo com que suas bocas ficassem a pouquíssimos centímetros uma da outra. Os olhos de German caminhavam dos olhos até a boca de Angeles, deixando muito claro a sua vontade naquele momento.

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– Quem é você? – Angeles sussurrou.

German engoliu em seco e balançou a cabeça.

– Eu não posso te responder – Disse quase que inaudível –, porque nem eu me conheço neste momento.

Embora ele tenha dito baixo, Angeles conseguiu notar uma certa tensão na voz de German e, instintivamente, levou as mãos ao rosto dele, para que talvez, com suas carícias, pudesse deixá-lo mais calmo. Ela iniciou um carinho lento e suave, fazendo-o fechar os olhos e relaxar.

– Por que apenas não aproveitamos o momento? – Ela sussurrou e German encarou-a.

Angeles foi encurtando, lentamente, a distância entre os dois. Quando quase não havia mais distância, ela fechou os olhos e capturou levemente o lábio inferior de German. Uma corrente elétrica percorreu por ambos os corpos. German não poderia resistir. Fechou os olhos e iniciou um beijo lento e suave, o qual pudessem, somente, aproveitar o roçar carinhoso de suas línguas. Ele acabou colocando a mão direita no rosto de Angeles, iniciando uma carícia, e a mão esquerda na cintura dela, trazendo-a mais para si. Finalizaram aquele beijo quase apaixonado após longos minutos e, ao fazerem, abriram os olhos como se estivessem acordando de um sonho.

Pronto. Ambos poderiam voltar para suas realidades duras e frias, sem nem ao menos saberem quem fora a pessoa que dera o melhor e mais intenso beijo de suas vidas.

Os dois não se afastaram, porém German passou a olhá-la séria e estranhamente, como se, ao acordar do “sonho”, tivesse voltado a si e pudesse sentir quem era a mulher que beijara.

– Você está bem? – Angeles murmurou e German apenas assentiu.

– Quem é você? – Ele sussurrou. Angeles abriu um sorriso e German sentiu uma palpitação estranha e incômoda no peito.

– Promete que se eu tirar a minha máscara, você também tira a sua? – German engoliu em seco e afastou-se um pouco de Angeles.

– Você pode se decepcionar – Murmurou.

– Por quê? – German respirou fundo.

– Porque sim – Respondeu duramente.

De alguma forma, ele já tinha uma suspeita de quem era ela e só precisava confirmar. German respirou fundo e levou as mãos até a máscara de Angeles. Engoliu em seco e rezou para que não fosse ela. Levantou vagarosamente a máscara e retirou-a. Em seguida, largou-a e afastou-se mais um pouco. Sem querer, seu coração deu mais uma disparada e ele passou a sentir-se em uma situação de vulnerabilidade, como se qualquer pessoa pudesse fazer qualquer coisa contra ele. E uma coisa que German odiava era ficar vulnerável diante de uma mulher. Ele não confiava em nenhuma delas.

Angeles franziu o cenho e tentou reaproximar-se dele, ao que German recuou.

– Está tudo bem? – Ela perguntou. Ele respirava descompassadamente e olhava-a seriamente – O que foi? – German respirou fundo e desviou o olhar.

Todos ao redor olhavam curiosos para os dois, como se eles fossem a atração mais interessante da festa. German balançou a cabeça e saiu rapidamente do salão, deixando Angeles com um ponto de interrogação estampado no rosto. Ela olhou ao redor e bufou. Pegou a máscara e colocou-a de novo. Em seguida, caminhou para junto dos amigos e sentou-se em uma cadeira. Jackeline sentou-se ao lado dela e ficou olhando-a seriamente.

– Angie, o que foi aquilo? – Jackeline perguntou.

– Eu não sei, Jackie. Eu não pensei muito bem na hora – Angeles suspirou e encarou a amiga – Você sabe que eu não saio beijando desconhecidos por aí, mas ele... – Jackeline ficara séria – Eu não sei, eu...

– Espera aí – Jackeline interveio – Você não o reconheceu? – Angeles negou com a cabeça.

– Eu deveria reconhecê-lo? – Angeles murmurou e Jackeline negou.

– E como foi o beijo? – Jackeline perguntou. Angeles suspirou.

– Intenso – Ela olhou distraidamente para o chão – Eu não sei explicar. Ele... Tem um beijo doce e carinhoso, mas... Depois ele ficou tão... Estranho, tão seco... – Angeles olhou para a amiga – Quer dizer, somos desconhecidos, eu não podia exigir que ele fosse carinhoso comigo, mas nós tínhamos acabado de nos beijar.

– Ele não disse nada sobre ele? – Angeles encolheu os ombros.

– Ele só disse que eu poderia me decepcionar se soubesse quem é ele.

– Talvez ele tenha razão – Jackeline falou seriamente e Angeles franziu o cenho.

– Não, ele não tem razão – Angeles suspirou e continuou, decepcionada: – Eu queria saber quem é ele.

– Talvez seja melhor assim, Angie.

– Jackie, qual é o problema? Você sabe quem é ele, não sabe? – Jackeline ficara apreensiva.

– É claro que não, Angie – Angeles desconfiou, mas logo decidiu esquecer o assunto. Olhou para a pista de dança e respirou fundo.

– Não importa. Foi só um beijo.

**

German chegou em casa junto com uma mulher qualquer que encontrara em um bar de rua. Ele caminhou até o pequeno bar que havia em um canto da sala de estar de seu apartamento e serviu-se de um whisky, depois sentou na poltrona e fez sinal para que a mulher sentasse em seu colo. Ela o fez e colocou uma perna para cada lado, começou a beijá-lo e mordiscá-lo de leve no pescoço e logo depois o beijou. Subitamente, uns olhos verdes invadiram a mente de German. Ele afastou-se da mulher e encarou-a. Por um curto período de tempo, German pôde jurar que a mulher à sua frente era Angeles. Fechou os olhos com força e chacoalhou a cabeça. Olhou-a novamente e suspirou aliviado ao não ver Angeles. Voltou a beijá-la ferozmente. E, mais uma vez, Angeles apareceu em sua mente, como se o seu subconsciente estivesse pedindo por ela. German separou-se da moça, tomou o resto do seu whisky, levantou-se com a mulher no colo e depois fê-la colocar os pés no chão.

– Vá embora – Murmurou friamente. A moça apenas franziu o cenho.

– Qual é o problema?

– Isto não é da sua conta – Gritou. Ela assustou-se e saiu rapidamente do apartamento.

German ficou olhando fixamente para a porta. Olhou para o copo vazio e, em um ímpeto de fúria, atacou-o contra a parede da porta, fazendo-o espatifar por todos os cantos. German ofegava e suas veias saltavam de raiva. Lembrava-se somente do que queria esquecer: o beijo daquela garota estúpida que tanto odiava. Lembrava-se da maciez dos lábios dela, do gosto doce de sua boca, da sua língua quente. Lembrava-se da sensação que sentira naquele momento, da palpitação estranha e desesperada em seu peito, do frio nas entranhas. Aquilo tudo estava atormentado-o. German retirou o paletó e afrouxou a gravata. Em seguida, caminhou até a sacada e apoiou as mãos na borda da mesma.

Após um bom tempo, German escutou o som de sua campainha. Ele fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo. Caminhou até a porta e abriu-a. Pressionou os dentes ao se deparar com seus dois amigos. German tentou fechar a porta novamente, mas foi impedido por Matias.

– O que vocês querem? – Perguntou secamente.

– Conversar sobre o que aconteceu – Pablo respondeu.

– Vão embora.

– Nós não vamos embora – Matias murmurou.

German olhou-o, engoliu em seco e caminhou até seu bar, deixando a porta aberta para que Pablo e Matias pudessem entrar. Os dois entraram e, rapidamente, notaram os cacos de vidro no chão. Entreolharam-se e depois encararam German, que estava preparando mais um copo de whisky.

– Você tem bebido demais, German – Pablo disse cautelosamente.

– Digam logo o que vocês querem – German disse rispidamente.

– O Pablo já disse – Matias retrucou da mesma forma. German olhou-o brevemente – Por que a beijou? – German engoliu em seco.

– Não é da sua conta – Respondeu impaciente. Os três ficaram quietos. German terminou de preparar o whisky e encarou-os – Vão embora.

– Você sabia que era ela, não sabia? – Matias perguntou calmamente.

German engoliu metade do whisky que havia no copo, repousou o copo no balcão de mármore do bar, encarou Matias e cruzou os braços. Estava tentando, ao máximo, manter o controle, mas sua vontade mesmo era de sair quebrando tudo.

– Não, eu não sabia – Falou o mais calmamente possível.

German respirava fundo e estava com os punhos fortemente cerrados, como uma forma de segurar a sua raiva.

– Diga a verdade, German – Matias insistiu. Mais um pouco e German, certamente, avançaria no próprio amigo. Ele apenas pressionou os dentes e engoliu em seco.

– Eu já disse que não sabia – German afirmou com mais rispidez. Ele respirou fundo e estreitou os olhos – Você acha mesmo que eu teria beijado aquela garota se soubesse quem era? – Perguntou com uma voz cortante. Matias negou com a cabeça – Certo. Então, vão embora e me deixem em paz.

– Sabe o que eu não entendo? – Matias suspirou – Você nunca fez isto numa festa, você nunca se permitiu ser humano diante dos funcionários do escritório, há muitos anos você não se deixa levar pela emoção – Matias encolheu os ombros – Por que justo hoje e justo com ela? – German respirou fundo e caminhou lentamente até Matias.

– Aquilo não significou nada, esqueça que aconteceu – Murmurou friamente.

– Se não significou nada, por que o seu jeito mudou no momento em que tirou a máscara dela? Por que saiu correndo da festa? Por que tem cacos de vidro esparramados pelo chão? – Matias murmurou e German pressionou os dentes – Nós vimos como tudo aconteceu. Todo mundo viu.

– Não me importa – German falou alteradamente e virou-se.

– Os funcionários não vão esquecer disto por um bom tem... – German virou-se furioso.

– Eu já disse que não me impor... – Gritou.

– Angie não vai esquecer isto – Matias cortou-o.

– O problema não é meu – Berrou – Entendeu? O problema não é meu se essa garota medíocre não consegue lidar com uma droga de um beijo idiota – E socou, com a lateral da mão, a parede ao seu lado direito.

– German, calma – Pablo interveio.

– Eu estou calmo – Virou-se, caminhou até o bar e engoliu o resto do whisky que havia no copo. Em seguida, encheu o copo novamente com whisky e bebeu-o quente mesmo. Repousou o copo no balcão, apoiou as mãos no balcão, inclinou um pouco o corpo e abaixou a cabeça.

– Você está transtornado por causa de um beijo, German – Matias falou calmamente – Foi só um beijo – German respirava angustiado. Ele fechou os olhos e engoliu em seco.

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– Vão embora – Ele murmurou.

– O que vai acontecer quando ela descobrir? – Matias perguntou calmamente. German endireitou-se e encarou-o.

– Eu não sei e não me importa – Respondeu secamente – Me deixem em paz – Matias balançou a cabeça em reprovação e respirou fundo.

– Não a faça sofrer, German. Ela não merece – German suspirou.

– Se você está tão preocupado com ela, pegue-a para você e cuide dela – Falou seriamente. Matias sorriu e negou com a cabeça.

– Só você ainda não notou o que está acontecendo – Murmurou e respirou fundo – Uma hora você vai perceber – Suspirou – Até segunda, German – Virou-se e caminhou até a porta.

– Se cuida, German – Pablo seguiu Matias e os dois partiram.

German permaneceu quieto, apenas olhando para a porta e respirando profundamente. Matias plantara uma semente em sua cabeça. O que estava acontecendo? Ele deu alguns passos para frente e sentou-se na poltrona da sala de estar. Apoiou os cotovelos nas pernas e fincou os dedos no cabelo. Não conseguia esquecer o maldito beijo e sentia-se angustiado.

A vida de German era preenchida por uma indiferença fora do normal, como se ele realmente fosse isento de qualquer sentimento. A verdade era que ele não era assim. Ora, ninguém consegue ser assim. German apenas conseguia controlar as coisas que estava sentindo, mas a questão é que agora ele estava vendo seu autocontrole desmoronar e isto jamais poderia acontecer. Ele tinha que dar um jeito e, se ele ainda seria obrigado a ver Angeles todos os dias e estar, de certa forma, perto dela todos os dias, a única forma de se proteger seria atacando.