Dona Cigana

As aulas de sexta já tinham acabado, mas nós ainda tínhamos a oficina de redação, onde, embora nós fizéssemos bastante coisa, ainda assim nós tínhamos um tempo bom para conversar com Yasmin

— Nós podemos pegar umas conchinhas pro seu altar... — sugeriu Jake

— Oi?? Como assim? — perguntei sem entender

Jake abriu um sorriso

— Pro seu altar de Iemanjá! Não acha uma boa ideia?

Fiquei abobalhado

— Não, é uma ideia incrível, mas como você sabe disso?

— Spencer, eu não sou burro! Eu sei quem é Iemanjá, e também, eu andei dando umas pesquisadinhas sobre sua religião... — disse Jake se gabando

— Jura? — perguntei alegre

— Eu tenho que conhecer pelo menos o básico, né? Afinal, se um dia você quiser casar comigo no religioso...

— Jake, você sabe que religião eu levo muito a serio, tipo, eu não vou levar ninguém pro altar ao menos que seja pela vida toda! Eu não iria me sentir bem fazendo uma promessa perante a Deus e não cumprindo-a

Jake bufou, fazendo seus cabelinhos loiros da franja esvoaçarem.

— Ok, amor. — respondeu ele — Eu não vou te forçar a isso, mas só quero que saiba que, se você quiser, eu tenho interesse em assumir esse compromisso com você até o fim. Assim, só pra você saber

Gargalhei

— Anotado! — respondi

— Gente, vocês já estão pensando em casamento? — perguntou a professora Yasmin

— Na verdade não. No momento nós estamos discutindo qual será a faculdade que nosso filho irá cursar — brinquei

Jake começou a massagear meus ombros

— Eu não tenho um namorado perfeito? — falei para Yasmin

Yasmin riu

— No começo todos são assim! — alertou ela

— Eu vou ser assim sempre — jurou Jake

— Acho bom! — falei em tom esnobe

— Nossa, você está tenso, Spencer! — comentou Yasmin

— Eu tenho um jeito de deixar ele bem relaxado... — disse Jake com malícia

Dei um tapa na mão de Jake e me afastei. Yasmin e Lana começaram a rir.

— Jake! — chamei a atenção — Te enquadra!

— Gente, é tão incrível! Vocês foram feitos um para o outro, e ainda se encontraram por ação do destino! É muita sorte! — disse Lana

— Não é assim, moça! — respondeu Yasmin — Sabe, as vezes, quando as estrelas se alinham, as almas gêmeas se encontram.

Embora Jake e eu nos desentendêssemos de vez em quando era mais do que óbvio que ele era só meu e eu dele.

— Então nós somos os sortudos da vez, amor! — disse Jake voltando a massagear meus ombros e deu um beijinho em meu pescoço

— As malas já estão prontas? — perguntou Yasmin

— Ah, sim. — respondi — Na verdade, daqui eu já vou direto pra casa de Jake

— E da minha casa nós já vamos pegar a estrada — completou Jake

Eu não sabia que nós viajaríamos tão logo assim, mas de qualquer jeito nós só chegaríamos lá a noite.

— Tomem cuidado. — disse Yasmin

— Com o que? — perguntou Jake

— Ela tá querendo dizer que não é pra vocês ficarem se pegando na praia, e que também não é uma boa vocês transarem sem camisinha — respondeu Lana

Como Yasmin não respondeu eu logo deduzi que a mensagem que ela queria passar era bem parecida com essa

— Nós não vamos transar, Lana! A mãe e a irmã de Jake vão estar na casa com a gente!

— Mas eu tenho um quarto só meu lá... — Jake insinuou

Hummm...isso seria muito útil para nós

— De qualquer forma, eu não gosto de falar de sexo! — respondi

Lana e Jake riram, e para minha surpresa Yasmin também

— Qual é professora, até você tá de deboche? — falei

— Não é isso, Spencer! — respondeu ela recuperando o folego — Mas é que você é muito engraçado!

Cade a graça? Liga pra ela porque ela ainda não chegou

— Ah sim, uma caixinha de humor — respondi irônico

O sinal tocou. Hora de Jake e eu irmos para a casa dele. Jake agora estava com mania de só andar comigo de mãos dadas

— A casa é longe da praia? — perguntei

— Tão perto que por pouco minha mãe não paga taxa pra marinha. Em noite de lua cheia o mar fica mais perto ainda.

— Bem, já que é perto nós não vamos usar o carro, certo?

— Sim, Spencer. Mas por que isso? — perguntou Jake

— Porque eu não quero tirar a camisa...

Jake começou a rir

— Que ridículo! — disse ele — Só vai dar você de roupa na praia

— Mas eu não quero mostrar a barriga, ué

— Quer uma burca também? — brincou Jake

— Sem graça!

— Olha, eu só vou permitir se você estiver fazendo isso pra outra pessoa, porque você sabe muito bem que eu gosto do seu corpo do jeito que é

Corei

— Obrigado

Era bom finalmente encontrar alguém que não me cobrasse nada em relação a aparência

— E não faça nunca mais aquele negócio depois de comer. Iemanjá chora quando você faz isso — pediu ele fazendo eu me sentir envergonhado por já ter feito isso um dia

— Vamos mudar de assunto! — ordenei

Chegamos à casa de Jake, e a mãe dele já estava surtando

— Onde vocês estavam perguntou ela?

— Hoje é dia de oficina de redação, ficamos até mais tarde, lembra? — respondi

Sandra fez cara de paisagem e se desconcertou

— Desculpa, eu havia me esquecido completamente. — respondeu ela retomando a postura — Mas vamos, eu não gosto de pegar trânsito

Fui até o quarto de Jake para pegar nossas malas, mas a primeira coisa que eu vi foram o buquê de flores que eu dei para ele e o retrato com nossa foto. Sorri ao vê-las

— O que foi? — perguntou Jake — Tá pesado?

— Não! — respondi levantando minha mala — Quer que eu leve a sua?

Jake sorriu

— Humm, machão — brincou ele

Carregamos o carro com as malas e logo já pegamos a estrada. Renata e Sandra estavam nos bancos da frente e Jake e eu atrás

— Como foi a escola hoje? — perguntou Sandra

— Ótimo! — respondeu Jake puxando o cinto de segurança

— E as notas? — perguntou Renata

— Bem, as provas começaram agora, mas... — interrompi minha resposta

Tinha algo subindo minhas pernas! Eram os dedinhos de Jake traçando um caminho em minha coxa em direção ao meu...bem você sabe! Fiquei tenso

— Ma-mas nós estamos indo bem! — retomei o raciocínio e fiquei com medo que elas percebessem o que estava acontecendo

— Nós estamos indo muito bem! — respondeu Jake dando uma piscadinha maldosa para mim

Sua mão continuava subindo, fazendo meu corpo se esquentar como se uma centelha do Sol tivesse beijado-o por dentro. Me senti enfeitiçado, o olhar de Jake era simplesmente lindo.

— Para! — sussurrei

Jake desceu sua mão para apertar meu joelho com força e então deu um sorrisinho sexy com o canto da boca para mim.

"Eu te amo!", ele fez esses movimentos com a boca, mas sem soltar som. Jake e eu conversávamos sobre a sua festa de aniversário, que, por ele ser pisciano, seria em março.

Passou pouco mais de meia hora.

— Falta muito? — perguntei

— Bem, não é tão perto assim. — respondeu Renata ajeitando os seus longos cabelos negros.

— Nossa, eu to com tanto sono! — comentei

— Dorme um pouco! — sugeriu Sandra

— É, vem cá! — disse Jake abrindo os seus braços

Olhei para Sandra envergonhado

— O que foi? — perguntou ela — Tá achando que eu vou brigar?

— Desculpe — respondi sem jeito

— Pode vir, Spence! — disse Jake ainda de braços abertos

Me aconcheguei nos braços de Jake e ele me envolveu em um abraço. Tombei minha cabeça em seu peito, onde eu finalmente pude relaxar e me sentir seguro. Jake me deu um beijinho na cabeça e eu senti o cheirinho gostoso de seu perfume, aos poucos e gradativamente acabei dormindo.

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— Boa noite, moço! — disse uma voz feminina

Eu estava em um lugar que eu já conhecia, o mar estava com a maré cheia e a noite estava muito estrelada, era uma praia que tinha perto da praia da sereia. Virei me para a beira-mar onde eu avistei a dona daquela voz

— Você está me seguindo? — perguntei a ela

Aquela mulher que eu havia encontrado naquela festa cigana estava novamente a minha frente, e com o mesmo vestido laranja. Aquela moça começou a gargalhar

— Não moço, eu não estou te seguindo! — respondeu ela — Mas eu tenho muitos assuntos a tratar, e você está no meio deles...

— É o anel que você quer, né? Eu te devolvo! É que você deixou no chão! — respondi assumindo a culpa

Tentei buscar os anéis que eu tinha achado, mas me toquei que minha mochila não estava comigo. A moça deu uma gargalhada em direção ao chão, como se estivesse trabalhando com aquela energia que liberava.

— Os anéis eram pra você mesmo, e você sabe o que fazer com eles! — respondeu ela se divertindo com aquela situação.

— Você acertou em tudo o que você me disse da última vez! — falei destemido

A moça girou sua saia rodada laranja e fez barulho com suas muitas pulseiras.

— Nós sabemos mais de vocês do que vocês mesmos! — respondeu ela

— Quem é você? Qual o seu nome? — saí disparando perguntas — Quais são seus planos? Por que eu estou envolvido? Onde está o Jake?

— Não vou responder nenhuma dessas perguntas, mas saberá as respostas quando for a hora.

Algo naquela mulher me enfeitiçava, talvez o seu jeito corajoso, ou as chamas apaixonadas que ardiam em seus olhos.

— Então por que você está aqui? — perguntei

— Primeiro porque me foi permitido! Segundo porque eu tenho saudade

— Eu nem te conheço, sua louca!

A moça tornou a rir

— Nós nos conhecemos sim, Spencer. Há muito tempo que nós nos conhecemos! — disse ela alegre — Mas em breve nós estaremos juntos novamente.

— Eu vou chamar a polícia! — ameacei

A mulher veio em minha direção, senti meus dedos congelarem, meu coração saltava, quando ela finalmente estava frente a frente comigo abriu um sorriso alegre e selvagem. E então,....ela me abraçou? Os braços daquela mulher me envolveram em um abraço doce e que acalmou meu coração, ela então deu uma gargalhada ao pé do meu ouvido que parecia ter espantado todo o mal.

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— Spencer, você está muito frio! — disse Jake me fazendo acordar

Ao abrir os olhos percebi que Renata estava me encarando e Sandra me olhava pelo espelho do carro. Eu estava bem agarradinho com Jake, quase em posição fetal. Tomei a posição e me sentei com a coluna ereta, mas ainda assim eu estava coladinho com Jake

— Nossa, que estranho! — falei

— Estranho mesmo! — respondeu Renata — Hoje tá um calor danado

— Algum espirito te visitou — disse Sandra

Fiquei tenso!

— É brincadeira! — completou Sandra sorrindo

Suspirei aliviado

— Com o que você sonhou? — perguntou Jake puxando minha cabeça em direção ao seu peitoral.

— E-eu não me lembro! — respondi