Ps: Dont Write

We only Say Goodbye with Words


Chapter Sixteen: We only Say Goodbye with Words

E eu preferia estar em qualquer lugar que não fosse ali. Talvez eu esteja precisando visitar um cemitério. Quero dizer, lá ninguém iria me incomodar. O silêncio iria abranger o espaço do cemitério e de minha alma, e estaria tudo calado o suficiente para ensurdecer meus pensamentos errôneos. O que mais me diverte a ponto de preferir aquele lugar era o fato de poder conversar o quanto eu quiser. Eu poderia falar, apesar de ninguém me responder.

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Eu achava que minhas visitas ao cemitério haviam acabado há anos, mas isso não me dá motivos para ir até lá sozinha de novo. Eu já não tenho mais 16 anos, e estava velha demais para qualquer coisa do tipo.

O barulho me incomodava – não o suficiente para impedir a conversa. Os carros conversavam em um engarrafamento na rua do lado, e apesar de detestar lugares muito movimentados, eu não tinha muita escolha.

Eu estava com Kakashi, Hatake Kakashi. Os cabelos brancos e grandes, excessivamente atrapalhados e a pele clara; uma combinação digna de ser relembrada.

“Eu e Sasuke somos amigos desde o colegial” Ele começou a conversa. Disse-me que precisava falar sobre o Uchiha, e explicar para mim algumas coisas. Contou-me sobre como se conheceram, e sobre Karin. Sobre como ela sempre foi uma pessoa boa antes de tudo, quando eles dois ainda eram amigos.

Mas o colegial é cruel – isso não me é novidade. A questão da popularidade deu proveito à Karin, que poderia se aproximar de Sasuke enquanto fosse amiga de Kakashi.

Começaram as brigas.

Karin mudou quando ficou com Sasuke, o garoto mais popular da escola. Eles não eram mais amigos – ela e Kakashi – e quando percebeu do erro cometido, o Hatake não poderia simplesmente voltar à ser amiga dela. Kakashi gostava da ruiva, e eu ri.

Então, começaram as guerras.

O que seria Sasuke? Amigo de Kakashi, ou namorado de Karin?

Agradeço todos os momentos de minha vida por ele ter escolhido Kakashi, e não ter se casado com a dramática. Por que casado, ele nunca iria ir em uma boate como fez aquele dia, e talvez, a única razão minha de ser nunca teria existido. Porém mais do que esse motivo, eu nunca iria querer que Sasuke fizesse decisões bobas como as minhas, e se arrepender amargamente por não poder ter quem realmente quer.

“Sasuke fez letras, e eu administração. Achamos que nunca mais fossemos nos ver” Ele disse sorrindo. Um sorriso de saudade, um sorriso que eu faria de tudo para não entender agora. Por que aquele sorriso de Kakashi era uma síntese dos meus últimos pensamentos desde a residência da senhora Uchiha.

Um sorriso de saudades significa mais que simplesmente saudades: significa dor, uma dor que não cabe em suas lágrimas, e escapa pelos sorrisos. Significa solidão, uma sensação de vazio, como se a pessoa que faz falta levasse um pedaço de suas razões.

“Então, eu o encontrei, e convenci em lançar seu primeiro livro. Foi um sucesso” Comentou, abrindo o sorriso, quase me fazendo enxergar os momentos saudosos. Contou sobre como Sasuke não queria fama, e inventou um nome qualquer para ser o autor. Contou sobre o segundo livro: “Então depois desse, começaram os problemas...”

“Você não precisa me contar tudo, se não quiser” Eu respondi, interrompendo sua narração. O dia estava mais frio que o formal.

“Eu nunca imaginei que fosse isso...” Ele começou a frase, e sua voz saiu tremida. Era o choro aprisionado no medo da realidade. A vontade de chorar estava ali, secando sua garganta e molhando seus olhos escuros, deixando sua voz doce. “... Eu nunca imaginei que ele estaria doente, e-“

“Está. Ele está doente” Eu completei, consertando a frase. Ele sorriu sem graça.

Tanto eu quando Kakashi sabíamos que aquela conversa não tem por que acontecer. Eu não precisava saber a relação de Karin com Sasuke ou de Sasuke com Kakashi; eles se conheciam, e isso era justificativa o suficiente. Era o suficiente para justificar a coincidência de nosso encontro e de meu carro ainda estar amassado no conserto. Para justificar a Karin ir pedir dinheiro a mim e não à Sasuke.

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Mas Kakashi estava ali.

Ele estava me contando tudo, se justificando, como se tentasse provar que sua existência não foi em vão.

Porém nós dois sabíamos que não era apenas isso. Aquela conversa tinha um propósito maior, o qual Kakashi ainda não havia comentado.

“Sim, está” Ele disse, o sorriso forçado quase quebrando seus dentes. “Por isso te chamei aqui”

Os cabelos brancos e atrapalhados tampavam um dos olhos de quem estava na minha frente se preparando para me contar algo. As palavras não saíram da minha boca.

Os seus olhos escuros me lembravam o do Sasuke, não pela cor em si, mas sim pelo desenho. O formato dos olhos, o designer que conseguia mostrar e esconder todas as coisas necessárias e supérfluas.

“Eu pensei que o nosso reencontro fosse algo do destino. Algo que comprovasse a nossa amizade, ou seja lá o que. Eu pensei que eu precisaria estar com Sasuke nos seus momentos de dificuldade.” Ele respirou, e olhou para o céu claro, vazio, branco e pesado. “Por que é isso que os amigos fazem, não é? Eles ajudam. Os amigos servem para apoiar”

“Os amigos, Kakashi, servem para serem amigos. Você não precisa servir de apoio, se não conseguir. Não acho que vocês dois seriam menos amigos por estarem se apoiando em coisas diferentes, se não um no outro.” Eu disse, terminando meu café.

“Eu percebi isso, no final. Eu não poderia ser sempre egoísta” Ele disse rindo, chamando a garçonete para pagar o seu cappuccino e o meu café comum com chantili. “E me resposta final foi você.”

“Eu?”

“Sasuke é uma pessoa bem simples, apesar do dinheiro. Ele nunca iria se envolver com você se você não fosse realmente especial.” Ele disse sorrindo e levantando, e eu acompanhei seus movimentos. Ele me estendeu a chave de seu carro, e o seu sorriso foi verdadeiro. “Acho que você precisa apoiar Sasuke por mim, digo, por nós”

E então, eu sorri.

Acho que no final, eu e Kakashi acabamos nos tornando amigos também. Por que ninguém além de Kakashi entenderia o que eu estava passando por Sasuke, e nós estávamos apoiando um no outro. Era como uma grande trança, e o terceiro laço, o do meio, estivessem se desfazendo aos poucos, sumindo de nossas mãos.

“Obrigada” Eu agradeci.

“Ele está saindo do hospital em meia hora, dá tempo de chegar lá.”

Peguei a chave do carro, e antes de sair, abracei Kakashi. Agradeci mentalmente por não ter transito, e andei as poucas ruas que me era necessário para chegar ao local combinado. Eu estava vinte minutos adiantados, mas não custa nada esperar por Sasuke.



Fiquei de frente ao banco,logo na entrada do hospital não tão cheio, já que era sábado. Eu não sei dizer quando foi que sua presença preencheu meu peito daquela maneira, e eu não sei dizer quando foi que meu sorriso montou-se alegre em meu rosto.

As palavras não foram necessárias quando nos encontramos. Ele estava sentado no banco em minha frente, depois de 15 minutos de atraso. Nos olhos conversaram perante o nosso silêncio, e o barulho da rua não parecia incomodar.

Estávamos juntos, de físico e alma. Nossos sorrisos se misturavam com o clima frio, e nossas roupas tampavam nossa pele arrepiada. Meus olhos não desviaram dos seus, e seus olhos declaravam as palavras que ele não soltava, desde quando chegou ali.

“Oi” Eu tentei começar. Eu sabia que ele estava nervoso, por que também estava nervosa. Eu não sabia direito o que falar, mas eu sabia que queria, e muito. Ele tentou tirar o sorriso bobo da face, olhando para cima – devo confessar que não deu muito certo.

“Achei que Kakashi iria vir me buscar”

Eu não respondi, apenas esperei em silêncio pela sua continuação.

Ele não levantou como eu pensei que faria, apenas continuou sentado em minha frente, com alguns passos de distancia. Suas pernas estavam cruzadas, e minhas mãos dentro da blusa, temendo o frio. Ele ainda olhava para cima de vez em quando.

Foi então, que eu olhei Sasuke. Ele estava pálido. Parecia mais frágil, menor. Parecia menos forte e as piadinhas pareciam ter saído do seu sorriso sacana – que também tinha sumido. E eu quis chorar.

Por que eu não consegui chorar na casa dos Uchihas como Kakashi e Mikoto fizeram. m Eles choraram de tristeza, e eu me calei de choque. Eu não consegui chorar em casa. Eu não consegui aceitar o fato. Mas ver Sasuke daquele jeito, me deixou com tanta vontade de gritar, que eu queria estar em um banho; uma chuva bem grossa.

Não choveu como eu quis, e eu não pude mesclar meus gritos com o barulho das gotas, ou minhas lágrimas com a água; porém, nevou.

A neve caiu pequena e única. Depois caíram mais duas ou três, antes de começarem a caracterizar o inverno.

“Está nevando como você queria.” Ele disse, deixando de dar atenção ao céu e voltar seu olhar para meu rosto indecifrável.

“Sim” E mesmo eu tendo tantas perguntas para fazer, tanta coisa para contar e falar, eu não conseguia soltar as palavras. Eu poderia falar, mas eu sabia que voz não iria sair como eu queria – a frase iria sair sem início e terminar no meio.

Continuamos em frente ao hospital, eu em pé de frente para ele, e ele sentado no banco, não sei dizer por quanto tempo.

“Acho que você já está sabendo da surpresinha” Ele disse, e eu cheguei um pouco mais perto. Eu não sentei, ele não levantou. Olhou para mim de baixo, e seus cabelos grandes se misturavam com suas palavras, ambas mostrando seu rosto doente. “Eu não sei o que te dizer...”

“Desculpe-me por ter sido tão egoísta” Eu pedi, chegando ainda mais perto. Nossas pernas encostavam uma na outra, apesar de ambos só sentirmos o calor da própria roupa. “Eu nunca imaginei que você... Eu realmente senti sua falta.”

Ele balançou a cabeça negativamente. “Eu que te peço desculpas, te envolvi nisso e você não sabia de um terço...”

Silêncio.

Cinco minutos de silêncio, e eu me senti envelhecer cinqüenta.

“Eu não achei que fosse te ver de novo. Você era tão... Diferente. Cheia de cores, jeitos. Você me chamou atenção na boate, mas eu não parecia ter chamado a sua”. Ele disse rindo, e eu corei. Ele havia me chamado atenção, mas de qualquer forma, isso não era relevante agora.

“Então, nós almoçamos. E você me fascinou tanto que eu... Eu não queria te incomodar, de verdade” Ele riu, e eu abri um sorriso. “Então, eu quis te ver de novo, e de novo, e eu queria cada vez saber mais e te descobrir mais, e...”

Silêncio.

Sete segundos de silêncio, e eu senti meu coração acelerar 10 vezes a mais que o normal.

“Eu não queria te envolver. Eu não queria te contar sobre meu trabalho, minha mãe, meus problemas, minha... Doença. Eu queria ter você, mas eu não queria que você soubesse disso.” Riu de novo. Eu continuei de pé, os cabelos curtos caindo na frente de meus olhos.

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“E então, eu não consegui te largar quando precisei. Céus, nós nem nos beijamos e eu precisava de você todos os dias, e eu percebi isso quando vi o quão maravilhoso era acordar do seu lado” Ele complementou, balançando suas pernas, uma depois a outra.

“Sasuke, eu-“

“Eu tentei te afastar de mim” Ele me interrompeu. Eu sabia que estava falando do cemitério antes, e de agora, do bilhete e de Kakashi. “Mas eu não consegui me afastar de você”

As lágrimas, agora contornavam minhas íris verdes. Eu queria dizer à Sasuke o quanto eu o amava, mas as palavras não saíam, e eu sabia que se falasse, iria engasgar.

“Eu estou morrendo, Sakura, mas eu estou feliz por ter te conhecido antes disso.” Ele segurou minha mão esquerda, e seu tato estava gélido, sua palma estava macia como os lençóis do hospital. “Desculpe-me por te amar na hora errada”

Então, como já era de se esperar, e me inclinei em sua direção, e meus olhos derramaram as lágrimas guardadas. “Eu te amo, Sasuke”

“É eu sei” Rimos com sua fala, e eu o beijei.

Foi um beijo parecido como o primeiro deles. E os seus lábios vieram os meus, e sua língua enlaçou a minha. Nossos dentes de início se esbarraram, quando ele me puxou para mais perto. Rimos de boca colada; Nossos lábios dançaram, nossas bocas se conheceram, e cada sensação foi gravada no peito, e com certeza, seria relembrada na memória.

A pequena diferença desse beijo e de nosso primeiro contato foi que minhas lágrimas molhavam nossos rostos, e eu senti mais o gosto amargo de remédio do que a neve.