Príncipe Légolas

Capítulo 14: A Mentira


– Quero que leiam o livro sobre a criação. – Swín dizia enquanto tomávamos lições sobre história.

– Só as humanas, não é? Quer dizer, as elfas estavam lá. – Sigrid brincou, mas foi desaprovada pela élfa.

– A senhorita irá recitar todo o livro aqui, na semana que vem por ser tão grosseira. – Swín ordenou.

– Injusto. Eu não sou grossa, Belle é! Por que ela nunca leva essas detenções? – Sigrid protestou.

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– Se quiser que eu recite a criação agora, posso muito bem fazer isso. – defendi-me. Eu sempre gostei de ler, e história não era nada demais para mim. Todas as lições que tomávamos, eu sabia quase de cór, e Swín me admirava por isso.

– E é por esse motivo que ela não recebe essas detenções. – Swín disse, deixando Sigrid com o olhar de poucos amigos.

O salão estava quieto naquele dia enquanto líamos lições. Sempre fazíamos isso, contando que se algum dia uma de nós fôssemos a princesa, saberíamos lidar com a situação.

O conhecimento era algo muito importante para mim. Como sempre quis explorar o mundo, era necessário que soubesse o que cada lugar representava. Suas histórias, culturas, população, e tudo mais. Eu era apaixonada pelo mundo sem ao menos sair do lugar, e sabia que os livros me proporcionariam conhecê-lo antes mesmo de poder vê-lo pessoalmente.

Mas as lições de etiqueta eu não era tão boa assim. Não que era ruim na matéria, mas quando precisava praticar trocava os pés pelas mãos e fazia tudo errado. Era mesmo grossa e bastante rude, falava demais e sem pensar, magoava os outros e me irritava facilmente.

Até mesmo o rei Thranduil já experimentou desse meu jeito totalmente irritado de ser. Mas, acho que ele de certa forma não se incomodava. Ou isso, ou tinha algo a mais que eu não sabia dizer exatamente.

Tinha as minhas dúvidas quanto a isso. Ninguém falava com o rei da maneira que eu falo, e ele ainda não pediu à Légolas para me expulsar por ser totalmente imprudente com ele.

Margareth chegou atrasada. Não havia tomado café conosco, e o príncipe também não. Temi o porquê daquilo, e desejei em meu íntimo que eles não tivessem feito algo de errado.

Chegou meia hora depois que a aula havia começado. Quase nunca as tínhamos, e Swín não gostava que atrasássemos. Mas Margareth parecia não se importar.

Entrou cantarolando e bem feliz pro meu gosto. Como eu quis empurrá-la da escada depois de vê-la com aquele enorme sorriso no rosto.

– Quero duas folhas de pergaminho contando como os elfos chegaram à terra, senhorita Margareth, por seu atraso. – Swín disse, e confesso que senti um enorme prazer ao ouvir.

Margareth deu de ombros, pareceu não se importar com a lição. O que quer que tenha acontecido, não foi suficiente apenas duas folhas de lição para tirá-la o sorriso.

– O que houve com você? – Katrin perguntou à elfa depois que Swín deixou-nos a sós.

Margareth sorriu, parecia estar muito mais orgulhosa de si do que nos últimos tempos.

– Légolas beijou-me. – a garota confessou com um sorriso ainda maior e suspirando alto.

As meninas pareciam chocadas. Então Légolas deu o primeiro beijo em alguém da Seleção. Quem se importa? Eu certamente não. Ele já deve ter beijado muitas em toda a sua vida, afinal era tão velho quanto a existência do sol e da lua.

– Ele beijou? – Sigrid perguntou, incrédula.

– Como é o beijo dele? – Hangar quis saber.

– Foi... beijo nos lábios mesmo? – Amber parecia curiosa.

–Acalmem-se, meninas. – Margareth disse com aquele olhar de superioridade que me dava náuseas. – Sim, nos beijamos. Foi incrível, e nos lábios sim. O beijo dele é... como um oceano de surpresas. Superficialmente calmo, mas muito molhado e profundo.

Légolas só podia estar de brincadeira. Como ele podia beijar logo Margareth? Ele não podia escolher aquela garota! Por mais que ela fosse uma elfa, ele tinha de ver que ela não era a esposa ideal para ele. Eu deveria alertá-lo.

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Falaria com Légolas depois. Eu não quero vê-lo com Margareth, e eu não permitiria ele fazer a escolha errada.

– Alguma de vocês já teve o prazer? – A elfa perguntou, sorrindo ao perceber que todas ficamos caladas. O sorriso de vitória dele não poderia ser pior, e senti que poderia esbofeteá-la por causa disso.

Margareth era desprezível. Nunca imaginei que existissem elfas como elas.

As garotas pareciam tristes. Nenhuma delas ainda haviam nem chegado perto de algo assim, e algumas só tiveram um encontro com o príncipe. O que era injusto, já que Margareth estava em seu terceiro.

– Eu já. – Respondi momentos depois. Mas menti. Nunca beijei Légolas, e no fundo eu duvidava que ela estivesse mentindo. Ou pelo menos eu tinha a esperança que estivesse.

– Como é? – Margareth perguntou, incrédula. – Impossível.

Todos os olhares voltaram-se para mim. E por mais que fosse mentira, eu não queria dar a vitória àquela garota, e fazer as outras sofrerem por isso. Eu queria tirar um pouco de sua vantagem, e de todas as garotas ali, eu era quem me encontrava mais com o príncipe.

– Foi há dois dias. – menti. – Ele foi até a sacada do meu quarto, me pegou em seus braços e me ajudou a descer por lá mesmo. Aconteceu. Mas eu prefiro não contar os detalhes.

As garotas sorriram. Contaria à elas depois que era mentira, mas naquele momento eu adoraria brincar um pouco com aquele elfa orgulhosa e muito chata.

– Não. Você disse que não se interessava por Legolas. Você nos traiu! – Margareth acusou-me. – Não podíamos mesmo confiar em você, sua traidora.

Fiz cara de tédio.

– Jura? – ironizei. – Não confie, eu não pedi isso. E eu ainda afirmo que não estou interessada pelo príncipe.

Cada vez que repetia aquilo, uma dúvida nascia dentro de mim. Mas eu levaria isso firme até não sobrar mais dúvidas. Encontraria a garota perfeita para ele, mas não seria Margareth.

A elfa calou-se enquanto me observava. Hangar sorria para mim, e senti certa simpatia por ela por causa disso.

– O beijo dele é mesmo como o oceano? – Hangar perguntou, e seus olhos quase me pediam para dizer que era mentira o que Margareth disse.

Sorri. A situação parecia muito divertida para mim.

– Não acho que seja como o oceano. Está mais para... o céu. Sabe? Não tem nada mais magnífico que o céu, com suas estrelas e toda a sua luz. O beijo de Legolas é surpreendentemente gostoso, calmo e romântico, como as luzes das estrelas. Seu gosto é como aqueles algodões doces que vagam lá em cima, e é molhado mais como a chuva quente de verão.

As meninas pareciam sonhar enquanto eu dizia. Mas por dentro, eu ria tanto que quase não agüentei permanecer com a mentira.

Parei um pouco para pensar em como seria o beijo dele, realmente. Seus lábios eram tão bonitos, e seu sorriso tão encantador que duvidei que não fosse maravilhoso como o que acabei de inventar.

Acorda Belle.

– Cada uma tem a definição que acha ser. Ainda prefiro a minha versão. – Margareth disse cheia de ciúmes pelas atenções que se voltaram para mim.

As garotas pareciam bem mais felizes depois que eu confessei aquilo. Mesmo sendo mentira, pediria ao príncipe que não revelasse a verdade mais tarde para Margareth por causa delas.

No almoço o príncipe não apareceu, pro meu alívio. Temi que Margareth o encontrasse antes de eu conseguir pedir à ele o que pretendia.

Esperei a tarde inteira na sacada do meu quarto por um sinal de Légolas. Ele voltou quase ao anoitecer, aparentemente estava caçando.

– Légolas. – Gritei da sacada do meu quarto. Precisava conversar com ele o quanto antes, mesmo que ele ainda estivesse com raiva de mim por causa da noite em que discutimos.

Ele olhou para mim e sorriu. Um sinal de que poderia me aproximar dele.

Desci pela sacada mesmo, como fizemos naquela noite. Era divertido, e um pouco arriscado, mas eu gostava da adrenalina.

– Aprendeu rápido. – Légolas disse enquanto eu chegava perto dele.

– Sou boa nessas coisas. - disse enquanto respirava um pouco para recuperar meu fôlego. – Preciso conversar com você, se não estiver ainda com raiva de mim.

O príncipe me encarou um pouco chateado. Não entendi o porquê dele ainda parecer magoado.

– Olha, me perdoa se eu te magoei. Eu realmente não entendi, mas peço perdão. – pedi. O que quer que fosse, assumi a culpa de uma vez.

Légolas desviou o olhar e inspirou um pouco de ar.

– Ainda to tentando encaixar umas coisas dentro de mim. E quando finalmente entender, eu vou te dizer... quer dizer, eu já tenho certeza, mas eu não sei. – Légolas parecia confuso - Quer dizer, eu sei...

Quanto mais ele tentava explicar, menos eu entendia. De qualquer forma, era melhor não tentar entender o que ele estava tentando dizer.

– Légolas, ta tudo bem, ok? Eu te perdôo também.

– Você ainda não entendeu.

– Vou entender quando estiver pronto pra dizer. Você não fala coisa por coisa. Enfim – precisava mudar de assunto pro que realmente interessava. – por favor, me diga que não beijou Margareth.

Légolas riu, e eu não gostei nada daquilo.

– Ela disse isso? – perguntou, e sua face exibia um sorriso tão cínico e tão parecido com o de Thranduil, que eu poderia dizer que era o mesmo.

– Ela disse pra todas as garotas.

– Bom... ela é bem bonita, não é? O pai dela é muito rico, e tem muitas terras. O povo dela é sofisticado... – Légolas parecia sarcástico. Se estava tentando fazer ciúmes em mim, estava perdendo tempo. Por que teria ciúmes dele?

– Não fuja do assunto. – pedi fazendo censura à ele. Podia guardar as vantagens de Margareth apenas para si.

– Por que está tão nervosa?

– Eu não estou. – respondi forçando um sorriso.

– Ótimo. Então, é isso. Preciso ver meu pai. – Légolas ia saindo. Como ele era inacreditável quando queria.

Peguei-o pelo braço, mas de leve, pois estava tentando guardar meus ataques de raiva o melhor que pudesse.

O príncipe me encarou. Pude passar para ele o sentimento de que algo não estava certo ainda, e que ele precisava me explicar.

– Não foi um beijo. Quer dizer, não um de verdade. – ele respondeu, e riu depois. Parecia se sentir ridículo por confessar aquilo. – Foi algo mais como encostar os lábios. Nada de... língua.

Não pude deixar de rir dele. Sua face mudou completamente ao dizer aquilo. Ele parecia ter vergonha, mas ainda assim queria esconder de mim.

– Légolas... – comecei, tentando guardar o riso, pois a pergunta era constrangedoramente séria. – Você já beijou alguém em toda a sua vida?

O príncipe abriu os olhos até não poder mais, assustado. Aquilo, pelo visto, foi demais de minha parte.

– Talvez. – respondeu momentos depois. – Se eu disser que não, você vai rir ainda mais. Afinal eu já tive uma vida tão longa que é quase impossível alguém dizer que eu nunca tive alguém.

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– Então você nunca mesmo? – perguntei não acreditando no que ouvia.

– Uma vez eu até tentei. Mas não deu certo. Ela ainda estava muito apaixonada por outro. Me senti ridículo depois disso, até achei que nunca mais fosse me interessar em outra garota... – Légolas dizia sem conseguir me olhar nos olhos. Achei aquilo absurdamente lindo da parte dele, mas era mesmo engraçado o fato de um elfo de dois mil anos nunca ter beijado alguém.

Lembrei do que eu queria dizer à ele desde o início. Se ele ainda não havia beijado alguém pra valer, deveria, no mínimo, inventar para Margareth que havia me beijado antes de encostar seus lábios nos dela.

– Ótimo, vossa alteza. Eu realmente peço desculpas por ter rido. Mas eu preciso que minta uma coisa para mim. – pedi, temendo a sua reação.

– E o que é?

– Bom... Como Margareth estava contando vantagem por ter sido a única que você já beijou, e estava sendo a garota mais orgulhosa e insuportável do mundo, eu disse que beijei você antes dela.

A boca de Légolas entreabriu-se no susto que foi minha confissão. Talvez aquela fosse a hora de rouba um beijo dele e fazer da minha mentira, verdade.

Controle-se.

– Por que disse isso? – o príncipe perguntou. Logo após riu pelo fato de eu estar quase fugindo dele por medo de sua reação.

– É que ela é muito chata. E as garotas ficaram realmente chateadas por você ter escolhido ela pra ser a primeira. Então, eu disse. E elas ficaram realmente muito aliviadas por isso, mesmo.

– Sei que Margareth não é a mais indicada para ser minha esposa, mas porque acham ela tão rude assim? Quer dizer, você também é e as garotas gostam de você?

– Não teve graça. Mas sim, elas preferem que eu seja a primeira do que ela. Acho que deveria ver como ela é na vida real. Pode se casar enganado.

– Não me casarei com ela. – Légolas disse, e me deixou completamente aliviada. – E direi que você foi a primeira, não se preocupe com isso.

– Ótimo.

– Se você me ensinar a dançar. – Légolas pediu, voltando ao assunto de dois dias atrás.

– Farei isso. – prometi. – Quando quiser, é só me procurar.

O príncipe beijou minha testa. Eu adorava quando ele fazia aquilo, era um gesto de cainho admirável.

– Preciso mesmo procurar meu pai. As aranhas estão voltando. – o príncipe disse, despedindo-se. – Até mais tarde.