— Ei, Bells, o que aconteceu? — Jimmy se materializou dentro da área restrita, bem ao meu lado.

Devo dizer que a área restrita da Academia Nicolau Glover é uma saleta bem discreta onde os alunos só podem entrar com a supervisão da bibliotecária.

E eu estava quebrando regras.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Nada. — Respondi, limpando minhas lágrimas com as mangas do meu casaco de tricô.

A sorte é que a saleta era totalmente escura e ele não podia me ver chorando. Podia apenas ouvir meus soluços e fungadas.

— Bom, você está chorando — sua voz estava diferente. Paterna. Compreensiva. — O que foi, Belatriz?

— Estou no meu período emocional. — Respondi, com a voz fanha.

— Qual é!? Eu não nasci ontem, droga! Que diabos está acontecendo?

Encolhi-me calada.

— Tudo bem — sua voz era delicada, e menos irritada.

Senti-o puxar meu braço bruscamente, para fora da saleta.

— Ei!

Pude ver seus olhos preocupados olharem os meus.

— Cale a boca, Belatriz. — Sua voz, que estava delicada, estava grossa, agora.

Saímos da saleta e fomos em direção da saída da escola.

— Sabia que você estava chorando — ele viu meu rosto avermelhado e meus olhos inchados — por quê? — Suas sobrancelhas se arquearam.

— Onde você vai me levar?

Ele me ignorou e continuou a me puxar para longe da escola. Andamos uns 500 metros e fomos parar em um parque com árvores em todo lado, com um imenso muro cercando tudo. Senti uma paz ao entrar lá. O silêncio, a tranquilidade e o vento que batia diretamente no meu rosto e jogava meu cabelo para trás eram fatores que fizeram eu me sentir bem. Como se eu não tivesse problemas, se é que você me entende.

Mas a verdade, é que eu estava muito apavorada. E com muito medo.

— Belo parque, Fields.

Ele me olhou. O vento também batia em seu rosto, deixando-o branco e fantasmagórico. Seu moletom largo e preto serpenteava por todo seu peito, que estava rígido.

— Isso não é um parque. — ele segurou meu braço delicadamente. — É um cemitério — um risinho abafado saiu de seus lábios finos.

Sorri.

— Me desculpe. — respondi, desajeitada.

Ele deu um sorrisinho no canto da boca.

Olhei para o lugar, as folhas caídas no chão, por causa da estação, deixavam um tanto mórbido o local. É incrível como o poder de interpretação do ser humano muda à medida em que a situação muda. Ou seja, aquelas folhas não iriam tornar o clima mais romântico, apenas melancólico e mórbido.

— Tudo bem. Quero te mostrar uma coisa.

Andamos pela relva baixa, passando por diversas lápides enfileiradas corretamente. Chegamos em um espaço mais alto, diferente de todos os outros lugares onde as lápides ficavam. No espaço mais alto, debaixo de uma árvore, havia uma única lápide, no qual eu podia deduzir quem estava enterrado ali.

“Jimmy James Fields.

Nascido em 22 de Junho de 1992.

Morto em 10 de Setembro de 2010.

Filho, amigo e irmão amado.”

Dezoito anos. Jimmy morreu com dezoito anos salvando minha irmã.

— Sinto muito. — Sentei-me no banco de concreto debaixo da árvore, que possuía uma sombra aconchegante.

Ele se sentou ao meu lado e continuou a olhar sua lápide, atormentado.

— Às vezes a vida nos surpreende, não é?

Ele me olhou de forma interrogativa.

— É verdade. — Respondeu ele. — Nunca pensei que fosse morrer tão novo e queimado — lamentou.

— Nessas horas que não sabemos como agir — olhei de soslaio para ele.

Tudo bem, tudo bem. É uma cena um tanto dramática, mas corta essa! Eu estava um caco por dentro e ele, a pior parte, ele estava morto. Não é hora para comemorações.

Ele agarrou meus braços com suas mãos, e me olhou, como se tivesse descoberto uma coisa inacreditável. Tudo bem, ok. Ele ia me perguntar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— O que aconteceu? — Sua voz era séria. — O que foi essa frase sobre a vida nos surpreender?

Droga.

— Nada. — Respondi, dando de ombros.

Ele trincou os dentes.

— Droga! Acha que fui capaz de cair na sua desculpa de hormônios? Acha que eu caio nas suas desculpinhas imbecis?

Encolhi-me.

— Eu fui ameaçada. — Respondi, olhando meus pés.

Ele apertou suas mãos nos meus ombros.

— No colégio. Eu estava com Louise, daí ele apareceu todo inofensivo, querendo pedir desculpas, mas disse que se eu disse alguma coisa sobre o que ele fez comigo ontem, me mata.

Jimmy riu.

— Não acredito. — Ele balançou a cabeça, negativamente.

Ergui meus pulsos que Harry havia apertado. E, adivinhe, estavam bem avermelhados.

— Não venha me dizer que gelo resolve, Jimmy Fields! Porque não resolve. Estou totalmente em frangalhos por causa dessas ameaças que ele me fez, estou morrendo de dor nos braços repletos de hematomas e a única pessoa com que posso contar para me ajudar não está levando essa conversa á sério e principalmente, não está acreditando em mim. — Hesitei. — Você se esqueceu que eu confiei em você?

— Belatriz...

— Ah, lembre-se que a vida da sua irmã está em jogo. E a minha também. Veja bem, ele disse que se eu não fizer tudo o que ele mandar, ele vai me matar, junto com meu pai, Ana e Louise. Acha que me senti bem ouvindo? Acha que me senti bem ouvindo você rir disso? Jimmy, isso é sério!

— Louise?

— É. — Afirmei. — Tenho que ficar calada, porque se não ficarei assim como você.

— O que mais? — Perguntou, quando viu que eu estava de boca aberta, pronta para falar.

— No sábado, ele quer me ver no Johnnie’s. E se eu não for... Cara! Estarei ferrada. Que droga. E quer saber, estou com muito medo.

Jimmy me fitou.

— O que eu faço, agora? Acredita em mim?

Ele deu um sorrisinho no canto dos lábios.

— Assim como você acreditou em mim, eu acredito em você.

Estranho, sabe, nós xingamos um ao outro, brigamos e adquirimos uma confiança tão rápida. Tipo, eu odiava ele, sério. Agora, um mês depois, eu até gosto de ter ele por perto. Nós conversamos e na maioria das vezes brigamos, mas fazer o quê? Eu tenho que confiar nele, já que ele é meu anjo da guarda. E, ele tem que confiar em mim, já que tem que me proteger.

— Olha, Bells, não fale disso para ninguém. Lembre-se que você tem a mim. E que, eu estarei sempre atrás de você.

— Certificando-se que estarei em segurança. — Continuei. Porque ele sempre fala isso. E eu decorei.

— Tudo bem, eu pedi para que você ficasse por perto quando Harry se aproximasse de mim. Mas, você sumiu. — Minha voz falhou.

Levantei-me e olhei as flores que estavam em sua lápide.

— Eu só achei que ele fosse um imbecil qualquer tentando dar uma de machão, mas não pensei que ele fosse fazer isso com você.

— Mas é! — Funguei.

Ele olhou para a sua lápide.

— Bells, meu corpo está aqui, bem abaixo de nossos pés. — Ele pausou, deliberadamente. — Mas eu fui concebido para te proteger. Se certifique apenas, que ficarei do seu lado. Agora, estou entendendo o verdadeiro sentido do meu dom.

Não parecia que aquelas palavras tinham saído da boca de Jimmy. Geralmente ele xinga, é grosso comigo, não é muito cavalheiro e não dá a mínima sobre seu dom e sobre me proteger. Mas ele estava entendendo, como disse. Parecia ser uma pessoa que se importava comigo. Uma pessoa diferente.

— Você irá ter que ficar perto de mim o tempo todo. Harry Blunt sabe todos os lugares no qual frequento. Ele me seguiu e disse que irá continuar me seguindo.

— Ficar perto de você, não é? — Ele sorriu de modo confortante e que aliviou minha tensão. — Bom, pelo menos existe um lado bom nisso tudo, não é? —Seus olhos brilharam radiantes, como estrelas.